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Artes - O legado da obra de Christo, genio da arte contemporanea mundial

RFI

Um dia por semana, em média, veja aqui os nossos destaques no mundo da cultura e das artes. Excepcionalmente, em função da actualidade, esta rubrica pode ter vários destaques.

Location:

Paris, France

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RFI

Description:

Um dia por semana, em média, veja aqui os nossos destaques no mundo da cultura e das artes. Excepcionalmente, em função da actualidade, esta rubrica pode ter vários destaques.

Language:

Portuguese


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Documentário francês conta história e bastidores da “Revolução dos Cravos”

4/15/2024
O documentário “La Révolution des Œillets” [“A Revolução dos Cravos”], de Bruno Lorvão e Paul Le Grouyer, conta a história e os bastidores da “Revolução dos Cravos”, recorrendo inteiramente a imagens de arquivo. O filme sai no mês em que se celebram os 50 anos do 25 de Abril de 1974 e faz um retrato de Portugal sob a ditadura, recorda a conspiração do Movimento dos Capitães e mostra como foi o dia do golpe militar que derrubou 48 anos de ditadura. O filme “La Révolution des Œillets” [“A Revolução dos Cravos”], de Bruno Lorvão e Paul Le Grouyer, é exibido, esta segunda-feira, em Sciences-Po, o Instituto de Estudos Políticos de Paris, seguido de um debate com o historiador francês Yves Léonard a propósito dos 50 anos do 25 de Abril. O documentário, de 52 minutos, da produtora francesa Cinétévé e com o apoio da France Télévisions, já foi difundido, este sábado, no canal belga RTBF, e vai passar, em Abril, no canal francês France 5 e no canal português História. Em entrevista à RFI, Bruno Lorvão sublinha que “o 25 de Abril é um momento bonito e é um legado universal”, por isso, “é uma história muito bonita que vale a pena ser contada, não só na Europa, mas fora do continente”. RFI: Qual é o ângulo deste filme, em poucas linhas. Bruno Lorvão, Realizador: "Em poucas linhas, fala da conspiração, de como é que essa conspiração aconteceu e por que razões é que os capitães decidiram derrubar o regime de Estado Novo." Porque é que decidiu fazer este documentário? "Como franco-português, tenho-me esforçado ultimamente em utilizar os meios franceses de produção audiovisual para contar histórias portuguesas, sabendo que em Portugal é mais complicado. Filmes de História, feitos a cem por cento de arquivos, são filmes que custam, que são complicados a montar e, por essa razão, chegando os 50 anos do 25 de Abril, não havia outra opção senão escrever e financiar a história." No ano passado também já realizou um documentário sobre Salazar e a Segunda Guerra Mundial… "Exacto e é uma história desconhecida de muitos, da maior parte dos portugueses, saber o que aconteceu exactamente durante meses." Dos portugueses ou dos franceses? "Dos franceses e portugueses, não conhecem a história de Portugal durante a Segunda Guerra Mundial, do que aconteceu exactamente. O discurso oficial é dizer que Salazar nos salvou. A questão do filme é saber se ele se salvou a si próprio ou ao povo português." Relativamente a este filme, “Revolução dos Cravos”, o filme conta, antes de mais, como era Portugal antes do golpe militar que derrubou a ditadura. Como é que era esse Portugal que reconstituem no documentário? "Portugal era um país pobre. Não era um país livre, simplesmente. Era um país pobre, com pouca formação, pouca educação..." Vocês dizem que um português em cada três não sabia ler. "Sim. Exacto. E Portugal era realmente o último país implicado numa guerra colonial." Falam do último grande império colonial também. Como é que era esse império? Vocês falam do lado real e do lado da propaganda… "Segundo a propaganda, sem as colónias, Portugal não podia sobreviver e Portugal não podia ser uma nação forte. Na realidade, o Império era feito com pouco mais de 150 mil soldados. Não havia muitos portugueses nas colónias e o Império português gastava mais do que rendia." Além do dia da Revolução dos Cravos, o filme reconstitui, como dizíamos, o que era viver em Portugal e nas antigas colónias. Fala das guerras de libertação, dos bairros de lata em Lisboa, do analfabetismo, da emigração em massa, de como era viver na ditadura. Tudo isto é contado com imagens da altura e há imagens que espantam porque parece que nunca as vimos ou muito pouco. De onde é que saem estas imagens? "Saem da Cinemateca Portuguesa, algumas da RTP e saem também de media estrangeiros, da televisão belga. Encontrámos coisas na televisão belga, particularmente no que toca a combates militares. As imagens de violência da guerra são imagens do estrangeiro e depois os testemunhos e...

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Soprano Ana Vieira Leite e ópera "Medeia" estreiam-se em Paris

4/10/2024
A cantora lírica Ana Vieira Leite estreia-se esta quarta-feira, 10 de Abril, na Ópera de Paris na adaptação de “Medeia” de Marc-Antoine Charpentier, sob a direcção musical de William Christie. A encenação é de David McVicar que transporta a acção para o período da II Guerra Mundial. A soprano portuguesa interpreta o papel de Creusa, numa ópera em cinco actos. "Medeia" foi escrita em 1693 e chega pela primeira vez ao palco do Palácio Garnier. RFI: Para resumir esta história que atravessou mais de três séculos, Medeia é filha do rei Eetes, do reino da Cólquida, será também a filha da deusa Hécate. Medeia tem poderes mágicos, um dia apaixona-se por Jasão, que tem como missão recuperar o velo de ouro do pai de Medeia. Medeia trai o pai, mata o irmão e foge com Jasão para a Grécia. Aqui começa a ópera de Medeia de Charpentier. Como é que descreveria a história? Ana Vieira Leite: É uma história muito dramática, é verdade. Aqui começamos com a chegada de Jasão e Medeia à Grécia, onde encontram o rei e a Creusa, o Créuse. Aí Jasão apaixona-se pela princesa, pela jovem princesa. É aí que começa a grande trama da história, porque Medeia sente-se extremamente traída, enganada, enfurecida e planeia toda uma vingança. Começa com um envenenamento de um vestido que acaba por dar à morte da princesa. Entre esta história surge uma personagem que é o Oronte, que é alguém que tem interesses políticos com o rei, que tenta casar com Creusa, mas ela está perdidamente apaixonada por Jasão. O amor ali é completamente cego, acaba com ela morta. Jasão, extremamente triste com isto tudo, perdido. Para agravar mais esta história, Medeia acaba por matar os seus próprios filhos e foge para Atenas, enquanto deixa Jasão extremamente miserável e sem nada. Medeia mata o irmão, mata o pai de Creusa, os filhos, mata a amante de Jasão, Creusa, papel que interpreta. Como é que apesar disto tudo, sentimos empatia com esta personagem? Acho que é muito humano. Medeia tem muitas fases. Nós temos todos muitas fases e nós conseguimos sentir esta empatia de que nem sempre está tudo bem e nós estamos sempre a ser enganados constantemente. Como é que nós podemos lidar com essa traição, com o facto de sermos de parte; eu acho que é isso. É a nossa parte humana, a nossa parte de nós queremos sempre vingar-nos por tudo e nunca sabemos até que ponto é que podemos lidar com a desilusão, com a traição. Por muito que que a minha personagem seja bastante.... Inocente? Eu acho que ela é inocente, mas neste caso ela está extremamente apaixonada e não consegue ver nada. Ela não consegue ver nada, o que ela quer é o que ela vê. Então tudo o que está ao lado Medeia, ela não repara. Ela é uma criança, tem 16 anos, por isso é o primeiro amor. .. é tudo. Ela não consegue sequer reparar que existe uma mulher e que existe uma família por trás. E isso acontece todos os dias, não é, infelizmente. Esta ópera de Medeia tem uma narrativa movida por emoções. Todas as personagens se movem, cantam, actuam com emoções que são levadas até à exaustão? O libreto é riquíssimo e é incrível... O libreto Thomas Corneille É incrível; está muito bem escrito. As emoções estão todas muito bem descritas, mas a música, que neste caso não é uma música comum francesa porque normalmente estamos habituados a um Rameau, Lully que têm uma forma muito mais normal, entre aspas, de expor uma ópera. Charpentier pega numa tragédia musical e tenta exprimir ao máximo as emoções que estão em libreto sem floreados, sem nada de mais, simplesmente há uma cama musical a todas estas emoções, todos estes sentimentos. Um texto rico, uma música que não se sobrepõe ao texto, mas que só ajuda... Completa-se... Completa-se, sem dúvida. Isso acontece na escrita musical de Charpentier porque Charpentier sempre foi renegado pelo rei Luís XIV que gostava muito do seu compositor Lully, o seu compositor favorito. Charpentier acaba por escrever Medéia sete anos depois da morte de Lully. Eu acho que a música de Charpentier difere...

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"Presentes!" os afroportuenses pela lente de José Sérgio

4/3/2024
“Presentes! Africanos e Afrodescendentes no Porto”, partiu da desconstrução do Porto como uma cidade branca, mostrou-se pela primeira vez numa exposição realizada em 2020 no Mira Fórum, em Campanhã, no Porto, saltou e multiplicou-se agora para as páginas de um livro. “Presentes!” do fotojornalista moçambicano José Sérgio é o registo de pessoas de diferentes latitudes, portuenses provenientes de vários países africanos, Brasil e Cuba. Da invisibilidade das ruas às paredes do Mira Fórum e agora em suporte livro. “Presentes! Africanos e Afrodescendentes no Porto”, partiu da desconstrução do Porto como uma cidade branca, mostrou-se pela primeira vez numa exposição realizada em 2020 no Mira Fórum, em Campanhã, no Porto, saltou e multiplicou-se agora para as páginas de um livro. “Presentes!” do fotojornalista moçambicano José Sérgio é o registo de pessoas de diferentes latitudes, portuenses provenientes de vários países africanos, Brasil e Cuba. Era um sonho para dar visibilidade a esta comunidade, à qual também pertenço, e para não ficar no esquecimento, era digno de merecer um registo, porque, na verdade, não há estudos nem estatísticos, não há nada à volta deste tema. Acho que trazer essa visibilidade registada em livro, é também uma maneira “forçada” de não cair neste esquecimento. São africanos e afrodescendentes de Portugal. Aos retratos, José Sérgio acrescentou os contextos, ampliou o universo e contou com a escrita da jornalista Mariana Duarte para pintar as histórias destes rostos e corpos. Ao assumir o Presentes! significa o presente do presente, mas também presentes de afirmação. Aqui, [no livro] porque fui acompanhando estas vidas, já não fazia muito sentido no que queria mostrar, continuar com a pose. “Presentes!” contrasta com a ausência de registos qualitativos e quantitativos sobre estas comunidades, por isso mesmo José Sérgio defende que, por exemplo, nos Censos deveria existir uma questão sobre a origem étnico racial.

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Mayra Andrade de regresso a Paris com "Reencanto" na bagagem

3/26/2024
"Reencanto" é um espectáculo de Mayra Andrade, onde a cantora cabo-verdiana divide o palco apenas com seu guitarrista Djodje Almeida, em torno de músicas que ela compôs ao longo dos cinco álbuns que já tem no activo. Ela passou a 23 de Março pelo Festival Chorus, em Boulogne Billancourt, no recinto de "La Seine Musicale", muito perto de Paris. A oportunidade para voltar a uma cidade onde viveu ao longo de 14 anos, agora, após a sua primeira experiência da maternidade. Mayra Andrade está baseada há oito anos em Portugal, após uma infância passada entre Cabo Verde, mas também Senegal, Angola e Alemanha. Aos 17 anos veio para França estudar canto e resididu em Paris ao longo de 14 anos. Temas de sobra para conversarmos com Mayra Andrade, que, embora nascida na Havana, muito tem cantado Cabo Verde mundo fora. Estive aqui há menos de dez anos, também já a promover o "Manga", que foi o meu último disco de estúdio. Fizemos um concerto no palco lá fora, portanto, mais uma vez, voltar a esta casa é um prazer muito grande para já. Sempre cantar em Paris, que é uma cidade que foi casa para mim durante 14 anos. E este projecto é muito especial, porque eu apresento me ao meu público de uma forma extremamente despida e extremamente íntima para apresentar-lhes estas canções que são todas da minha autoria ou que eu escrevi sozinha e compus, ou em parceria com alguém. Mas são todas canções que nasceram de mim e que, no fundo, ao longo dos anos, vêm contando a minha história, histórias que me tocaram. E acho que é muito diferente as pessoas ouvirem um disco com os arranjos e verem num palco com banda e de repente dizer "Ok, mas há canções que eu ouço há 20 anos ! Mas o que é que é esta canção?" Portanto, este espectáculo oferece um pouco a génese, a essência de cada música, da forma como elas nasceram, que é eu e o meu violão. Acompanha-me um exímio guitarrista que se chama Jorge Almeida, que é meu conterrâneo e que é um músico incrível e que a cada espetáculo cresce cada vez mais. Portanto, estou muito, muito feliz de continuar a partilhar o palco com ele. Eu vi alguns dos concertos na fase em que você estava grávida e de repente foi mãe. Todos nós sabemos e nos lembramos, por exemplo, do que tinha escrito para a sua mãe e a relação filial que tem com ela. Imagino que esta maternidade possa também trazer aí muita inspiração pela frente. Se calhar para um sexto álbum ? Acho que você acredita e acredita bem. Não posso dizer que já se tenha traduzido numa música ou em várias, mas já se traduz às vezes em momentos de inspiração, em que eu pego no meu telefone e gravo uma melodia em que falo da minha filha. Eu fico sempre muito emocionada em dizer minha filha, porque eu fui mãe aos 38 anos. Sonhei com ela durante muitos anos e o que eu posso dizer é que eu ainda estou no olho do furacão ! A maternidade é uma experiência completamente revolucionária, uma experiência que deixa... tudo se movimenta, tudo muda de lugar. Eu acho que é talvez a maior transformação que um ser humano viva. E muitas vezes é uma transformação silenciosa. As pessoas não se dão conta, ou seja, há aquela parte mais superficial, mais fácil de se observar. Mas só quem é muito atento, muito sensível e muito aberto à empatia é que percebe o que uma mulher vive quando se torna mãe e o que é aprender a ser mãe e como é que isto movimenta as nossas crenças, os nossos medos. Quando digo que eu estou no olho do furacão é que eu ainda estou a tentar, digamos, estar de pé. é um tsunami. É um , é um tsunami diário que acontece: ser uma mulher que está na estrada e que cria e que trabalha, não é ? Lidando com tudo isto: vivo longe da minha família também. E dizem "It takes a village to raise a child" [É precisa uma aldeia para criar uma criança]. E eu realmente hoje percebo muito bem isso e pronto. E tento recriar lá onde eu vivo, uma aldeia de amigos, de pessoas que me possam criar esta rede de apoio e de amor à minha volta e à volta da minha filha. O Manga foi bastante...

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Paris acolhe em Novembro grande espectáculo internacional de magia

3/20/2024
Paris e o teatro Folies Bergère acolhem de 7 de Novembro a 1 de Dezembro o espectáculo "Luís de Matos IMPOSSIBLE Sur Scène". Uma referência ao mágico português Luís de Matos que concebeu um grande programa de magia, na companhia de quatro outros mágicos de notoriedade mundial, oriundos da França, Bélgica, Coreia do Sul e Estados Unidos. A apresentação à imprensa ocorreu na semana passada. Luís de Matos levanta-nos o véu sobre como será o espectáculo, começando por se referir à relação que mantém com Moçambique, onde nasceu e onde viveu os primeiros anos de vida. Eu vim para a metrópole de então, vim celebrar os meus quatro anos de idade. Eu acredito recordar-me de imensas coisas de Lourenço Marques, hoje Maputo. Acredito, porém, há uma incerteza. Porque eu não sei se me recordo realmente dessas coisas ou se algumas dessas coisas me foram avivadas pelo facto do meu pai fazer filmes comigo. E, portanto, há todo um ambiente da nossa vida lá que se me reaviva na memória cada vez que esses filmes me passam pela frente. Em todo o caso, já voltei três ou quatro vezes a Moçambique, a Maputo, quer em viagens pessoais, quer para fazer espetáculos. E é sempre uma alegria imensa ! E é uma energia incrível eu regressar ao local que me viu nascer, visitar aquela incrível igreja da Polana, andar por aquelas ruas. E depois, a somar a tudo isto que uma primeira vez que fui nem sequer caí em mim. Não esperava ! Mas como lá também se acompanha há muitos anos as emissões da RTP [Rádio e Televisão de Portugal], de repente eu tinha pessoas na rua que me conheciam e que sabiam exatamente isso, Sabiam quem eu era profissionalmente, mas também sabiam que eu tinha lá nascido e que estava lá. E, portanto, tudo isso dá reações redobradas, carinho redobrado que tornaram todas as minhas viagens a Moçambique um prazer imenso e, portanto, na primeira oportunidade eu sou daqueles que dirá sempre: "Sim, ok, vamos então, amanhã !" Porque é uma cidade inacreditável, altamente inspiradora, onde eu gosto de quase tudo ! Só não gosto quando vejo nas notícias que há pessoas a sofrer e que às vezes, enfim, o dia-a-dia dos que lá vivem não é necessariamente o mais agradável. A minha relação com Maputo é de absoluta paixão, como é evidente. Vi que já aos 16 anos tinha conseguido alcançar um prémio. Como é que de repente, a magia surgiu de forma tão precoce na sua vida? Eu acho que a magia surge de forma precoce na vida de quase todos os miúdos. Ou seja, quando somos miúdos, há um dia em que queremos ser astronauta, noutro dia médico, depois bombeiro, depois jogador de futebol, depois mágico. Ora bem, alguma destas coisas há de ficar e fica. Há miúdos que sonham ser bombeiros e acabam a ser bombeiros e que sonham ser médicos e acabam ser médicos e astronautas e o que quer que seja. No meu caso, esse gosto foi ficando durante mais tempo. Converteu se num hobby, numa obsessão. Foi algo que eu fui mantendo, sempre em simultâneo com os meus estudos, e com a minha progressão académica. De repente, começou a ficar mais sério e há uma altura em que me obriga a fazer uma escolha. Mas nasceu pela paixão e nasceu pelo facto de ser um hobby muito presente na minha vida, de forma continuada e reiterada. Para si, a magia era uma evasão da realidade ? Não, Eu acho que a magia permite, como permitem todas as formas de arte, permite criar mundos paralelos onde a fantasia pode acontecer, onde o impossível acontece, onde nós podemos sonhar e conhecer mundos que nem sequer existem. Porém, a magia tem um lado absolutamente fascinante que torna mais facilmente consumível essa fantasia e esse transpor para tal realidade paralela do que qualquer outra forma de arte. Porquê? Porque vamos ver, por exemplo, a literatura. A literatura que nos transporta para outros mundos. Há uma barreira. O livro tem que estar escrito numa língua que eu entenda ou a música... depois eu tenho que perceber a letra ou a dança contemporânea. Se eu nunca tivesse sido exposto à dança contemporânea,...

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Português Valério Romão com novas obras no mercado francês

3/12/2024
Valério Romão, embora nascido em França, vive desde criança em Portugal. Tem-se ilustrado na literatura com uma série de obras que têm vindo a singrar também no mercado francês. O lançamento da tradução francesa de "Dez razões para aspirar a ser gato", publicado em Portugal em 2015 pela editora Mariposa azual, e que agora chega ao mercado francês através da editora Chandeigne, foi um dos pretextos para voltarmos a falar com o autor. Valério Romão aqui em "Dix raisons de vouloir être chat" volta a ser traduzido por João Viegas, uma colaboração à qual o autor começa por se referir. Valério Romão: É sempre um prazer trabalhar com o João, porque ele é um tradutor exímio, muito interessado naquilo que faz e em perceber o que é que está diante dele. Não só em termos de linguagem, ou de semântica, ou gramatical, mas também em termos de estilo. Ele dá muita atenção à musicalidade e ao ritmo dos textos. E depois isso é muito fácil, porque há duas ou três dúvidas que surgem e rapidamente são dirimidas. E pronto, é um prazer ! Que relação é que você tem ou teve com os felinos para optar pela escrita desta obra, nomeadamente ? Sou grande fã de gatos e tudo o que tenha a ver com gatos e achei que era uma forma engraçada e interessante de homenageá los literariamente, como tantos escritores já o fizeram. Pedir lhe ia para ter a amabilidade de nos ler um excerto. Você evoca dez razões, não é? Para efectivamente aspirarmos a ser gatos ! Com prazer. Vou ler a primeira razão do primeiro conto deste livro: A gata passeia a sua indiferença elegante por entre as pernas dos convivas. A gata abre e fecha a bocarra de sono, recosta-se na almofada e avia, em silêncio, mais 06h00 de merecido repouso. Às vezes gostava de ser aquela gata distraída. Às vezes gostava que o meu único sobressalto ocasional adviesse de um cio incontrolável, um cio que me fizesse miar noites a fio, um desassossego de bicho, um cio que devolvesse aos donos a vontade secreta de um espancamento nocturno. Muito obrigado. Então nós evocamos aqui dez razões para aspirarmos a ser gato. Quer sintetizar-nos algumas delas ? Há uma razão oftalmológica, psicológica... Sim, basicamente o livro, embora, embora seja centrado nos gatos, o gato não está sempre em primeiro plano. O gato é um ponto de aplicação do desejo ou da frustração, ou da vontade de o humano de aspirar a uma vida mais simples ou com mais sentido. É uma espécie de espelho no qual o humano se vê e percebe que, embora seja aparentemente o ser mais completo ou mais avançado neste planeta, essa completude ou essa evolução não lhe traz a tranquilidade que os gatos têm, por exemplo. Nota-se, de facto, aqui a sua postura ligado à filosofia. Você é formado em Filosofia, tornou-se informático, chegou à escrita e dedica-se à escrita a tempo inteiro, enntão, desde 2017, como é que foi o encadeamento de circunstâncias para se chegar a este patamar da sua trajectória? Fui-me ajeitando com aquilo com que me deparando, não é? Eu tiro filosofia sabendo que não vou propriamente trabalhar em filosofia, acabo por ir parar ao mundo da informática por ter algumas competências de sistemas e tendo sempre no horizonte a vontade e a possibilidade de um dia dedicar-me só àquilo que gostava mesmo de fazer, que é a escrita. E quando isso aconteceu, embora tenha perdido alguma segurança e conforto financeiro, não posso dizer que esteja arrependido, porque fiz a única escolha que me pareceu possível. Não nos esgotamos neste livro "Dix raisons de vouloir être chat", a tradução para francês pela Chandeigne de "Dez razões para aspirar a ser gato" porque ao mercado francês chegou agora uma obra já traduzida do francês para português no passado. Refiro-me ao "Autismo", que estreou em 2012 em Portugal, mas em 2016 em França e que chegou agora ao formato de bolso, não é ? Em relação ao "Autismo", porque, eu sei, este livro tem muito de autobiográfico. É também, de alguma forma, o retrato da implosão de uma família. Um casal, o Rogério, a Marta,...

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“Simbiose” de Anésio Manhiça e Bruno Gomes alia fotografia à questão climática

2/28/2024
“Simbiose” é o nome da mais recente exposição de Anésio Manhiça e Bruno Gomes. Dois fotógrafos moçambicanos que aliam a fotografia à questão climática. A exposição abre ao público esta quarta-feira, 28 de Fevereiro e ficará patente no espaço cultural 16Neto, em Maputo, durante 30 dias. “Simbiose” é o nome da mais recente exposição de Anésio Manhiça e Bruno Gomes. Dois fotógrafos moçambicanos que aliam a fotografia à questão climática. A exposição confronta o Greenwashing e a crise ambiental. Catorze fotografias capturadas na cidade e província de Maputo que mostram os efeitos da poluição por plástico e vidro e as pegadas ambientais deixadas pela indústria. O olhar de Bruno Gomes e Anésio Manhiça questiona a ineficácia governamental, apela à necessidade de acção climática e à transparência corporativa em prol de um futuro sustentável. Em entrevista à RFI, Bruno Gomes explica que “Simbiose” é uma “exploração visual e crítica da tensão entre a beleza inerente à nossa natureza, ao nosso meio ambiente e a crescente poluição ambiental”. Anésio Manhiça acrescenta que “a exposição pretende ressaltar a desigualdade económica entre as multinacionais que, de alguma forma, são os que acabam promovendo esta poluição e a população que, de alguma forma, é tida como quem vai ajudar no processo de reciclagem, no processo de reciclagem, na redução da pegada ambiental, mas através de actividades do qual não garante grande sustento ou rendimento”. A ideia de uma exposição a duas objectivas surgiu de uma conversa entre os dois fotografos: “Eu e Bruno fomo-nos questionando sobre como é que o poder, o capitalismo e a ineficiência do Estado nos leva a adoptar práticas não sustentáveis? O capital tem o poder de moldar o consumo”, sublinhou Anésio Manhiça. A exposição “Simbiose” dos fotógrafos moçambicanos Anésio Manhiça e Bruno Gomes abre ao público esta quarta-feira, 28 de Fevereiro e ficará patente no espaço cultural 16Neto, em Maputo, durante 30 dias. Um convite à reflexão ambiental que pode ser visitado de forma gratuita.

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Revolução e fim da Guerra Colonial em "Liberdade - Portugal, lugar de encontros"

2/21/2024
No ano em que se assinalam 50 anos da revolução de 25 de Abril de 1974, "Liberdade - Portugal, lugar de encontros" é a exposição que reúne o trabalho de 28 artistas contemporâneos oriundos dos países de língua oficial portuguesa. A exposição tem curadoria de João Pinharanda e está patente na sede da União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA) e no Centro Cultural de Cabo Verde, em Lisboa. A exposição reflecte a multiplicidade de encontros só possíveis com o derrube da ditadura em Portugal e o fim da Guerra Colonial. Pintura, fotografia, escultura, serigrafia, azulejo e tapeçaria são as técnicas utilizadas para a produção de obras que partem de uma circunstância histórica concreta mas que se tornam universais. Lista de artistas expostos: Abraão Vicente Alexandre Farto aka Vhils Alfredo Cunha Ana Marchand Ângela Ferreira António Ole Carlos Noronha Feio Cristina Ataíde Emília Nadal Eugénia Mussa Fidel Évora Francisco Vidal Gonçalo Mabunda Graça Morais Graça Pereira Coutinho Herberto Smith Joana Vasconcelos José de Guimarães Keyezua Manuel Botelho Mário Macilau Nú Barreto Oleandro Pires Garcia Pedro Chorão Pedro Valdez Cardoso René Tavares Vasco Araújo Yonamine Moradas: UCCLA - Avenida da Índia, n.º 110 - Lisboa CCCV - Rua de São Bento, n.º 640 - Lisboa Horários: UCCLA - 8 de fevereiro a 10 de maio de 2024 Segunda a sexta-feira, das 10 às 18 horas

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Projecto português que mostra laços entre as mulheres e o mar quer chegar a Cabo Verde e ao Brasil

2/14/2024
O projecto "Mulheres do Mar" quer mostrar a ligação profunda entre as mulheres e o mar, dando origem inicialmente a curtos documentários em que diferentes mulheres falam sobre os seus laços com os oceanos, e agora a uma rede de mulheres que trabalham, vivem e pensam o mar um pouco por todo o Mundo. Entre o receio e o respeito, na história contemporânea, as mulheres foram sempre afastadas do mar, sendo muitas vezes postas em segundo plano face a intrépidos conquistadores, pescadores, pesquisadores ou desportistas masculinos. A ONG portuguesa Help Images, através do documentário "Mulheres do Mar", quer mudar esta ideia pré-concebida e dar a conhecer a relação profunda entre as mulheres e o mar. "Se calhar o mar nunca foi um assunto só de homens, mas as mulheres não falavam da sua relação com o mar. Não era algo promovido nem era bem visto as mulheres irem ao mar, por exemplo, mas o nosso projecto centrou-se em falar com mulheres que tinham uma paixão pelo mar, independentemente do seu trabalho", explicou Raquel Martins, fundadora e dinamizadora deste projecto, em entrevista à RFI. Assim, entre as 600 mulheres já entrevistadas para este documentário estão biólogas marinhas, investigadoras oceanográficas, pescadoras, surfistas, peixeiras, mas também tradutoras, políticas, professoras ou jornalistas. Para já, este projecto inclui apenas mulheres portuguesas - cerca de 600 -, mas Raquel Martins quer expandir esta rede de mulheres a Cabo Verde, Brasil ou Canadá e, sobretudo, pôr em contacto todas as mulheres que querem falar do mar. "Já temos uma parceria com a UNESCO, temos também no Canadá, já falámos com a literacia oceânica daqui e de Cabo Verde e, portanto, também estão interessados em participar. Nós estávamos com dificuldade porque não tínhamos financiamento para ter um CRM [ferramenta de comunicação entre todas as mulheres entrevistadas] e a Secretaria de Estado para a Igualdade de Portugal deu-nos o financiamento para podermos continuar a desenvolver essa ferramenta", explicou. A RFI entrevistou Raquel Martins na UNESCO, em Paris, onde esta activista veio falar sobre o projecto Mulheres do Mar, no contexto da importância da igualdade de género no combate às alterações climáticas e onde afirmou que o lugar das mulheres na preservação do oceanos é essencial. "As mulheres são cuidadoras e quando vemos em risco aquilo que nós amamos, quer seja a nossa família, a nossa comunidade ou o nosso oceano, nós trabalhamos afincadamente e com toda a nossa criatividade para protege-lo", concluiu.

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Museu do Homem mostra como descoberta de pinturas e gravuras rupestres abalou o século XX

2/7/2024
O Museu do Homem, em Paris, mostra como a descoberta de pinturas e gravuras rupestres abalou o início do século XX não só no âmbito da Ciência, mas também nas Artes e, sobretudo, na maneira como os homens primitivos eram vistos. A comissária da exposição, Egídia Souto, fez uma visita guiada, em exclusivo, para a RFI. Até ao século XX nada se sabia no Mundo Ocidental sobre a faceta artística dos nossos antepassados. Graças a figuras como Henri Breuil ou Leo Frobenius, e às suas investigações no terreno, a sociedade dos anos 30 começou a interrogar-se sobre não só o que faziam, mas quem eram, o que sentiam e o que interpretavam artisticamente os primeiros homens que desenhavam nas cavernas. Esta mediatização das pinturas e gravuras rupestres e o frenesim que provocou na época está patente no Museu do Homem, em Paris, através da exposição Pre-Histomania que pode ser vista até ao dia 20 de Maio. A comissária da exposição. Egídia Souto, professora de literatura e historia da arte africana na Sorbonne, faz-nos a visita guiada a um passado mais próximo do que imaginamos. "É uma exposição que retrato o percurso humano, de homens e mulheres, que acompanharam um etnólogo alemão, Leo Frobenius, que realizou 12 missões no início do século XX e que o acompanharam para fazer os levantamentos, fazer cópias, de grutas ou paredes rochosas onde havia pinturas da Pré-História. Copiaram-nas em tamanho real e trouxeram-nas para a Europa. Desde muito cedo, essas repoduções foram mostradas em mais de 30 cidades", explicou. Na primeira sala, as paredes estão cobertas de grandes desenhos na Vertical e horizontal. É a escala das diferentes grutas exploradas pela equipa de Leo Frobenius. Egídia Souto falou-nos das mais significativas encontradas nas missões ao Zimbabwe, África do Sul e Lesotho. "As grutas viajam muito mal. Até ao início do século XX, a pré-história resumia-se a cilex ou a pedras, então Leo Frobenius pediu às equipas para copiarem e era a primeira vez que se via o que havia nessas paredes", disse a académica. Assim, depois de localizar as gravuras ou pinturas, a equipa tinha a tarefa de lá chegar. Muitas destas mulheres e homens, a maior parte muito jovem, tinham de aceder a grutas ou penhascos escalando ou caminhando longos período na floresta ou no deserto. Estas reproduções efetuadas na maior parte das vezes em condições adversas, são hoje o único registo do que existia nessas paredes, já que muitos destes lugares hoje já não existem. Se muitas missões levaram a equipa de Leo Frobenius ou de Henri Breuil para longe, outras fizeram-se na Europa. Uma das mais significativas foi à gruta de Alta-Mira, em Espanha, com os contemporâneos destes académicos a não acreditarem à primeira que os homens primitivos eram capazes de produzir arte com tanto detalhe e delicadeza. Egídia Souto explicou quem era afinal Leo Frobenius e qual o impacto das suas descobertas na Ciência, mas também nas artes e na percepção em geral do início da Humanidade. "Leo Frobenius não era um especialista da pré-história, ele vai para África para fazer uma recolha de mitos e, desde logo, ele tem consciência que estes lugares [cavernas e/ou paredes com pinturas e gravuras] têm de ser copiados e preservados porque estão destinados a desaparecer", contou. Um pioneiro, mas também um alemão, algo muito importante temporalmente já que em 1933 Adolf Hitler sobe ao poder e seis anos mais tarde começa a Segunda Guerra Mundial. O estudo do homem primitivo e a anatomia comparada serviram de arma ao regime nacional socialista em Berlim para manipular a opinião pública alemã e comprovar, através de teorias enviesadas, a supremacia da raça ariana. Mesmo se Leo Frobenius foi dos primeiros estudiosos a falar sobre as civilizações africanas, mapeando os usos, costumes, mitos e arte de diferentes povos no continente, de forma a garantir a transparência sobre quem foi este homem e a sua proximidade ou não ao regime alemão, os comissários da exposição pediram uma avaliação...

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"Natália Correia dialoga, reage e subverte a censura salazarista"

1/31/2024
O livro "O Vestíbulo do Impossível" de Natália Guerellus já se encontra nas livrarias francesas e percorre a obra de Natália Correia num plano social e político de uma mulher que escreve na segunda metade do século XX , cuja escrita vai emancipar o universo feminino. "Natália Correia foi a escritora mais censurada do regime salazarista", lembra a autora. Poetisa, activista política e defensora dos direitos das mulheres, Natália Correia foi tudo isto e muito mais. Nasceu em 1923 na ilha de São Miguel, nos Açores, marcou a segunda metade do século XX por ser carismática e combativa, por não ter medo de assumir posições que abalaram preconceitos enraizados e desafiaram as convenções. Natália Correia nasceu nos Açores em 1923, aos 11 anos vai viver para Lisboa. Foi jornalista na Rádio Clube Português e colaborou no jornal Sol. Activista política: apoiou a candidatura de Humberto Delgado; assumiu publicamente divergências com o Estado Novo e foi condenada a prisão com pena suspensa em 1966, pela "Antologia da Poesia Portuguesa Erótica e Satírica". Foi publicado pela editora francesa Poisson volant o livro "O Vestíbulo do Impossível" sobre o género, a literatura e a política na vida ena obra da poetisa portuguesa Natália Correia. O título do livro inspira-se numa estrofe do poema "A defesa do Poeta", no qual Natália Correia escreve:"Sou um vestíbulo do impossível um lápis de armazenado espanto e por fim com a paciência dos versos espero viver dentro de mim". A escritora Natália Guerellus percorre a obra de Natália Correia e levanta a questão: o que significa escrever num regime autoritário? "Natália Correia foi a escritora mais censurada do regime salazarista. Ela não só escreve sob o regime autoritário, mas não deixa de escrever como muitos outros autores e autoras vão fazer. Ela dialoga, reage e tenta subverter essa censura e a perseguição. É uma resistente", descreve a autora brasileira. Há três preocupações que vão acompanhar Natália Correia ao longo da vida, o género, a literatura e a política. "Esta foi uma das formas que ela encontrou para confrontar a ditadura. Talvez tenha sido a forma mais utilizada por Natália Correia até aos anos 70, através das provocações em torno das questões de género. Não só no que diz respeito à mulher, como à sexualidade e ao erotismo. São temas que vão tocar outras correntes como o surrealismo", explica. A escritora lembra que Natália Correia foi uma pioneira na literatura feminina pelo facto de abrir "caminhos para a literatura feminina em Portugal, principalmente no contexto político fechado". "A Natália Correia é um objecto infinito e este trabalho foi um pontapé para que se interessem nela no contexto francês. Não é um trabalho exaustivo, pelo contrário dá uma ideia do que [ainda] pode ser feito. A literatura dela é prolífera, o que pode ser feito e estudado sobre a escrita e a vida de Natália Correia é infinito", acrescenta Natália Guerellus. A Natália Correia é lembrada como uma figura polémica. "Existe um momento na transição da ditadura para a democracia em que ela se engaja politicamente e passa a ter uma presença dentro da Assembleia, mas também foi criticada pela extrema-esquerda, tornando-se uma figura ambígua e foi esquecida. Volta a ser lembrada no século XXI, o espólio dela vai para os Açores e ainda há muito por se dizer sobre a Natália Correia. Ela deixou um marco na história de Portugal, deixou a luta pela liberdade, que é uma marca da escrita dela", concluiu.

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Fado Camões, o novo trabalho de Lina Rodrigues

1/24/2024
Lina Rodrigues está de volta. Fado Camões é o novo trabalho da fadista, um álbum que, tal como o nome indica, explora a poesia de Luís Vaz de Camões e que conta com a colaboração do produtor e músico britânico Justin Adams. Há três anos, Lina Rodrigues e o produtor e músico Raül Refree apresentaram ao mundo uma nova forma de “sentir” e tocar o fado, na altura um [trabalho] em torno do repertório de Amália. A 13 de Janeiro, o jornal Le Monde nomeava Lina Rodrigues como uma das 12 personalidades a não perder em 2024. Nesse mesmo artigo sublinhava a intensidade arrebatadora do fado da artista portuguesa que "empresta a sua voz ao poeta Luís de Camões", “o príncipe dos poetas”, como lhe chamou o Télérama, que acrescenta que o "seu fado é encantador". Este álbum será apresentado a 30 de Janeiro, no Teatro da Trindade, em Lisboa. Posteriormente, há uma digressão e essa digressão passará por França, por Paris, pelo Studio de l'Ermitage, a 15 de Março. Começo, precisamente, por lhe pedir para me descrever Fado Camões. Este álbum reúne a lírica de Camões com os fados tradicionais. A lírica de Camões, não são propriamente 'Os Lusíadas', mas também os sonetos. Os sonetos são versos que Camões fez, que tem, a meu ver, a estrutura ideal para os fados tradicionais e, por isso, decidi juntá-los não só pela sua estrutura, mas também pela temática que o Camões utilizou nos seus poemas, que estão completamente ligados à ao fado. Os amores e desamores de Camões… Os amores e os desamores e as questões sobre sobre o mundo. O questionar-se a si próprio, os amores de infância, os amores de criação, todos esses sentimentos que são actuais. Porquê Luís Vaz de Camões? Já havia esse interesse? Como é que surgiu este olhar diferente para a poesia de Camões? Surgiu ainda em concertos com o Raül Refree. Eu termino um trabalho e começo logo a pensar no que é que poderei fazer a seguir. Queria, sempre quis, que os meus álbuns tivessem um conceito que não fosse só gravar músicas avulso, mas que houvesse um fio condutor que fizesse ligação entre as músicas. No fundo, uma obra e não apenas um disco de música. Quando me deparei com a biografia da Amália Rodrigues, li que Amália considerava Camões o maior fadista que existe e que Camões não era para estar fechado numa gaveta, nem numa estante. Essa ideia ficou aí a ser “cozinhada”? Ficou a ser cozinhada. Fui pesquisar um bocadinho mais sobre a lírica de Camões e percebi que, de facto, tem toda a ligação com com o fado tradicional e com a temática do fado tradicional. O que é que foi necessário para esta adaptação das letras de Camões, dos poemas a esta composição? Vi que tinha trabalhado com a Amélia Muge neste processo. Sim, a Amélia Muge foi o meu braço direito, o meu apoio neste trabalho. Fico feliz por ela pertencer ao meu universo e a este universo da música, que me tem apoiado bastante e acima de tudo, que me tem incentivado a não desistir. Houve momentos em que pensei: se calhar, não consigo fazer isto, não consigo fazer isto sozinha. E a verdade é que houve alguns momentos em que eu consegui fazer sozinha. Um trabalho de introspecção e de sentir ao mergulhar na lírica de Camões. Eu emocionei-me ao ler os versos do Camões e se essa emoção existe no presente, porque não trazer a tradição e o passado dos versos do Camões para o futuro? Em relação à forma, como é que foi feito todo o processo, qual é que foi o critério? Foi, no fundo, um trabalho estrutural de juntar versus de quintilhas, sextilhas, quadras, sonetos… folhear um livro da lírica de Camões e - como sou conhecedora dos fados tradicionais - cantá-los, à medida que vou lendo os versos, assim percebia se havia musicalidade ou não. A forma como os versos encaixavam na estrutura do fado tradicional? Exatamente. Uma das novidades deste álbum é a colaboração com o produtor e músico britânico Justin Adams. O que é que o Justin Adams traz a este disco? Ele traz, também, esta sonoridade da música árabe, porque ele viveu a infância com...

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Guiné-Bissau: Escola de música de Nino Galissa para universalizar a Kora

1/16/2024
O músico guineense Nino Galissa quer universalizar o instrumento musical guineense Kora através da escola de música que criou. Com vista a salvaguardar esta herança cultural, o músico tradicional tem vindo a ensinar o instrumento às crianças e jovens do Bairro Militar, em Bissau. Nino Galissa "sonhou" com o projecto de criar uma escola de música de Kora nos últimos anos para garantir a continuidade e a transmissão deste instrumento guineense. Tradicionalmente, o ensino de Kora acontece por transmissão no seio da família, mas a tradição começou a perder-se e Nino Galissa resolveu criar uma escola de Kora e dedica-se à construção do instrumento tradicional guineense. Foi no antigo Império de Gabú que nasceu o instrumento típico da Guiné-Bissau. A Kora existe há mais de 300 anos e na altura os que tocavam as cordas tinham por missão preservar as tradições, iluminar a história, glorificar a realeza do povo. No passado mês de Dezembro, o espaço em construção da escola de música de Nino Galissa estreou com um concerto que juntou no palco jazz português e música tradicional guineense, no bairro militar de Bissau. "Um encontro natural" que juntou a formação artística de Nina Galissa e quatro músicos portugueses de jazz. Nino Galissa nunca imaginou poder inaugurar o espaço da escola de música em construção tão cedo, conta-nos o músico. A Kora é formada por 21 cordas, tem uma caixa de ressonância feita de cabaça e as cordas eram originalmente feitas de pele de antílope. O instrumentista usa apenas o polegar e o indicador para dedilhar as cordas da Kora, enquanto os outros dedos seguram o instrumento.

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Espectáculo “Bate Fado” liberta o fado dos tempos da ditadura

1/12/2024
A peça “Bate Fado”, da dupla Jonas & Lander, é apresentada na Maison de la Danse de Lyon, no âmbito do lançamento, em França, das comemorações dos 50 anos da “Revolução dos Cravos”. Em palco, nove intérpretes - entre bailarinos, músicos e um fadista coreógrafo - resgatam a dança que o fado perdeu no século XIX para a devolver ao universo coreográfico do século XXI. Jonas & Lander abanam a catedral do fado conservador e deixam as portas escancaradas a uma festa pagã, onde todos são convidados. RFI: Cinquenta anos depois do 25 de Abril, “Bate Fado” é muito libertador. O que é que representa simbolicamente este espectáculo, quando o fado ficou tão agarrado à imagem da ditadura de "fado, futebol e Fátima"? Lander Patrick: Eu acho que o fado sofreu de uma grande questão que foi ser instrumentalizado pelo regime. Ele tinha uma certa vitalidade que foi transformada para ir de uma maneira mais alinhavada com os ideais ou com o que se tentava perpetuar pelo regime – e por António Ferro que era o principal responsável pela maquinaria cultural e pela propaganda cultural do Salazar. Mas claro que não foi só a partir daí que o fado sofreu alterações. Ele tem vindo a sofrer, mas ficou mais evidente no período em que houve certas características, como ter que se aprovar que letra é que se vai cantar, ter que se cantar de preto, uma série de características que aí ficaram muito vincadas. Mas ele já tinha vindo a sofrer alterações, tanto que a gente deixa de ver registos sobre a dança de fado a partir, mais ou menos de 1910, portanto, muito antes da ditadura. É um período em que estamos ali a entrar na queda da monarquia, gripe espanhola, primeira guerra mundial. Ou seja, se pensarmos que aquilo era uma manifestação praticada nas periferias, em lugares perigosos, uma possibilidade é que simplesmente se tenha dissolvido. Jonas Lopes: Este projecto fez-nos entrar num mundo de danças proibidas e perseguidas pelo sistema, o que acontecia muito recorrentemente nesta época, principalmente com as danças que tinham algum cariz afro e de escravos. No Brasil, ainda há um grupo que dança uma música chamada fado e essa dança é dançada em cruz, com sapateado e palmas, tal como nos registos, para se poder dançar nos dias festivos e nos dias religiosos. Supostamente os tambores também foram proibidos e o sapateado veio marcar o ritmo porque já não estavam de pé descalço, estavam com um tacão. Na ditadura, o que aconteceu foi que eles perceberam que não ia dar para extinguir o fado e realmente instrumentalizaram-no de uma forma muito subtil, como fizeram também com o folclore. Por exemplo, os fadistas e os guitarristas para poderem tocar em público, eles tinham que ter uma carteira de fadista profissional, ou seja, isto já ajudava o regime a ter as rédeas nas coisas porque as letras tinham que ser declaradas ao início da noite; a questão do preto tinha muito que ver com a elegância porque nos bairros problemáticos, onde havia fado, eles não se vestiam de preto, vestiam-se com cores e padrões e patilhas. Na ditadura, o que aconteceu foi mais isto: a instrumentalização do fado e do folclore e teres que ter uma carteira profissional de um júri do Estado que dava as carteiras profissionais. O fado que nos chega hoje é um bocadinho a herança disso. O facto de vocês, de certa forma, devolverem o carácter subversivo ao fado, 50 anos depois do 25 de Abril e cerca de 100 anos depois de ele ter perdido esse carácter festivo, significa também que vocês são, de certa forma, os filhos da “Revolução dos Cravos”? Lander Patrick: Eu acho que todas as pessoas que usufruem da democracia, como a temos agora, são filhos de uma luta, não é? Mas há a liberdade de criar e há a liberdade de ser subversivo e de devolver o lado, se calhar, mais pagão a coisas que até agora eram quase santificadas, como o fado... Jonas Lopes: Exacto e essa pergunta que fazes vem muito de acordo com quando nós estávamos a criar, eu sentia mesmo que estava a criar com outra entidade que não o...

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Associação de Cinema de Cabo Verde entrega prémios a universitários

1/9/2024
A Associação de Cinema Audiovisual de Cabo Verde entregou esta terça-feira, 09 de Janeiro, os prémios monetários aos vencedores do concurso de filmes universitários. Em entrevista à RFI, Júlio Silvão Tavares, o presidente da Associação de Cinema Audiovisual de Cabo Verde sublinhou a importância dos prémios agora atribuídos e de ter no mesmo palco “a geração dos iniciados” e a “geração dos consagrados”, de forma a influenciar os mais novos para a área do cinema e audiovisual. A Associação de Cinema Audiovisual de Cabo Verde entregou esta terça-feira, 09 de Janeiro, os prémios monetários aos vencedores do concurso de filmes universitários referentes ao ano lectivo de 2022/23. Na mesma cerimónia, a ACACV distinguiu os realizadores e produtores Yuri Ceunick, Natasha Craveiro e Samira Vera-Cruz pelos feitos a nível internacional em diferentes festivais. Em entrevista à RFI, Júlio Silvão Tavares, o presidente da Associação de Cinema Audiovisual de Cabo Verde sublinhou a importância dos prémios agora atribuídos e de ter no mesmo palco “a geração dos iniciados” e a “geração dos consagrados”, de forma a influenciar os mais novos para a área do cinema e audiovisual. Desde há oito anos que a Associação de Cinema Audiovisual de Cabo Verde aposta na formação de jovens para a realização de filmes com telemóveis. Pretendemos a democratização do cinema e do audiovisual no país através do telemóvel, tendo em conta as dificuldades em adquirir equipamentos de melhor qualidade. Na formação de 18 horas damos a noção geral de como se desenvolve uma ideia, como se faz um roteiro, como se faz um guião, como desenvolver o guião, como construir planos de filmagens, como gravar som, tudo com telemóvel. Questionado sobre o estado do cinema cabo-verdiano, Júlio Silvão Tavares responde que o financiamento continua a ser o “calcanhar de Aquiles”. O nosso cinema, ainda, continua a dar os primeiros passos. Nós, hoje em dia, já temos a regulamentação do mercado, com a lei do cinema. Mas a nossa produção ainda é incipiente porque ainda temos dificuldades de financiamento que é o "calcanhar de Aquiles" no nosso país. Apesar da importância do cinema e do audiovisual em todo o processo de desenvolvimento do país e do homem, ainda não se vislumbra a possibilidade de ter, pelo menos, um carinho maior por parte dos decisores.

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Reconstruir a história de Angola através da música

1/2/2024
A Orquestra Sinfónica de Angola quer recuperar instrumentos tradicionais e resgatar a herança musical do país. Já estão identificados mais de 20 instrumentos, e agora são precisos apoios para superar o desafio. A Orquestra sinfónica de Angola, a OSIA, é o primeiro projecto de orquestra que se dedica à música angolana a partir dos finais do século XV. O grande objectivo é criar música para todos e unir o pais através da cultura e da arte. Neste momento, há também a vontade de promover a reconstituição da história de Angola através da música, com a recuperação de instrumentos tradicionais e com o resgate da herança musical do país. Já estão identificados mais de 20 instrumentos e agora são precisos apoios para superar o desafio. Para conhecer a orquestra, a RFI falou com Flávio Fonseca, um dos mentores do projecto. "A sinfonia é um género musical de Angola. Mas não era considerado património imaterial angolano. Por isso é que tivemos a necessidade de desdobrar a OSIA, que é a orquestra sinfónica que se dedica à música clássica ocidental, com a OSINA, uma orquestra que se dedica à música erudita angolana, africana e de ascendência africana". "O aluno mais pequeno tem dois anos. Nós trabalhamos com as crianças, preferencialmente, a nível da Academia. Elas aprendem tudo lentamente e depois escolhem um instrumento. Trabalhamos com jovens adolescentes e com músicos que chegam das igrejas e das comunidades. Vamos ao encontro de quem quer aprender música, e quem quer aperfeiçoar-se numa filosofia de integração social inclusiva vem ter connosco. Nós partimos do princípio de que o método do ensino artístico tem que ser profissionalizante". "Angola é a terra da marimba, mas nós nunca valorizámos a marimba como aconteceu em vários países. Na Guatemala é o instrumento nacional. Aqui também é um instrumento nacional e o nosso interesse é nas partituras de composições para este instrumento". Ouça aqui a conversa.

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José Eduardo Agualusa escreve biografia de Chivukuvuku para "compreender melhor Angola"

12/21/2023
"Vidas e mortes de Abel Chivukuvuku" é o título da primeira biografia escrita por José Eduardo Agualusa e é também a biografia de um dos políticos mais influentes de Angola. Entrarmos na biografia de Abel Chivukuvuku, ex-militante da UNITA e fundador da CASA-CE, é como abrirmos a porta para uma melhor compreensão da história de Angola, da Angola de hoje. Durante três anos, José Eduardo Agualusa entrevistou e investigou, para escrever a biografia do homem que sobreviveu a duas quedas de avião, um atentado, uma tentativa de linchamento. O livro foi publicado recentemente em Portugal. Na entrevista que concedeu à RFI, em Lisboa, José Eduardo Agualusa aborda temas como os desafios que enfrentou para a concretização da obra (editada pela Quetzal), as revelações que se encontram no livro, as reacções à publicação e as próximas eleições Angola.

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Guiné-Bissau: Alfa Cante nomeado estilista do ano dos países da lusofonia

12/20/2023
O estilista guineense, Alfa Cante, de 43 anos, foi nomeado estilista do ano dos Países de Língua Portuguesa, na quarta edição da Gala de Globos de Moda 2023, que se realizou em Lisboa, no final do mês passado, e que distinguiu pessoas de várias categorias. Em entrevista à RFI, Alfa Cante contou-nos um pouco do seu percurso no mundo da moda, ele que que ingressou nesta área em tenra idade e mostrou-se feliz com este reconhecimento que para si é mais uma "vitória". Alfa Cante nasceu na cidade de Bula, na região de Cacheu, no norte da Guiné-Bissau, e já passou por vários países, caso da Dinamarca ou de Portugal, onde continuou a aprofundar os seus conhecimentos profissionais. Em 2014, abriu a sua primeira loja na Guiné-Bissau, denominada Fashion Canté. Veja aqui a página de Alfa Cante, bem como as suas criações.

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O universo da escritora Djaimilia Pereira de Almeida analisado num estudo

12/12/2023
Recentemente, a editora da Universidade do Minho publicou "Djaimilia Pereira de Almeida: Tecelã de Mundos Passados e Presentes", uma obra disponível on-line coordenada por duas investigadoras, Sandra Sousa e Sheila Khan, socióloga ligada à Escola de Ciências Humanas e Sociais da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, que é a nossa convidada neste programa em que vamos debruçar-nos sobre o universo literário de Djaimilia Pereira de Almeida. Desde 2015, ano em que publicou o seu primeiro livro intitulado "Esse Cabelo", esta escritora portuguesa de origem angolana nascida em 1982 em Luanda explora na sua literatura a questão da identidade dos afro-descendentes de Portugal, do racismo e da narrativa em torno do passado colonial de Portugal. Na obra colectiva "Djaimilia Pereira de Almeida: Tecelã de Mundos Passados e Presentes", investigadores da área da literatura, dos estudos culturais e da sociologia estabelecidos em Portugal mas também fora, analisam as obras da escritora, nomeadamente "Luanda, Lisboa, Paraíso" ou ainda "Maremoto", um livro sobre o percurso de Boa Morte da Silva, arrumador de carros em Lisboa que, no passado, foi combatente dos comandos guineenses sob a bandeira portuguesa durante a guerra de libertação. Foi sobre este livro que a investigadora Sheila Khan reflectiu e escreveu na obra dedicada à escrita de Djaimilia Pereira de Almeida. Para a socióloga,"a sua literatura não é apenas escrever. É sim um método de análise, um método de investigar, mapear as várias realidades de várias personagens que mostram bem o que são as nossas sociedades europeias pós-coloniais". Ao situar a obra de Djaimilia Pereira de Almeida num contexto em que outras vozes como a de Luísa Semedo, Patrícia Moreira, Paulo Faria, Joaquim Arena e também Lídia Jorge, também enunciam as realidades descritas pela jovem escritora, Sheila Khan considera que a sua obra aponta as omissões e as ausências da sociedade portuguesa para com a sua população afro-descendente. "É a grande ironia e a grande contradição do projecto pós-colonial da sociedade portuguesa foi de não ter conseguido ainda integrar muitos dos seus sujeitos da experiência colonial que depois vêm para Portugal, numa experiência já pós-colonial, e essencialmente não terem conseguido integrar aqueles que são a experiência da segunda geração que são os 'afro-peus', os afro-descendentes, que muitas vezes ainda não são tidos e considerados como cidadãos europeus e, neste caso, cidadãos portugueses, e são colocados numa situação de limbo", considera Sheila Khan. Na óptica da estudiosa que dá conta de alguma ausência de bases de compreensão das jovens gerações relativamente à sua história e ao seu presente, "as múltiplas Djaimilias do nosso tempo são necessárias para darem aos nossos jovens, à nossa geração actual, um olhar atento, um olhar inteiro e um olhar instrutivo, informativo, para perceber o que foi o 'antes', o que é o agora e o que está por vir (...) Djaimilia Pereira de Almeida tem em si uma cidadania literária. É através da literatura e da ficção que ela constrói este sentido de uma cidadania de todos e para todos".

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Pianista Máximo Francisco apresenta os seus "Greatest Hits" em Paris

12/10/2023
O pianista e compositor português Máximo Francisco actuou na terça-feira, 28 de Novembro, no Sunset, em Paris. Fomos descobrir o seu disco de estreia intitulado "Greatest Hits", reúne composições que o pianista escreveu entre os 9 e 19 anos. Máximo Francisco, 20 anos, acaba de publicar o primeiro álbum "Greatest Hits". Um disco que engloba 12 títulos que escreveu entre os 9 e 19 anos. São dez anos da vida do pianista e músicas que compôs como reflexo que ia acontecendo à sua volta. "Passados tantos anos de estar a compô-las, percebi que gostava de as mostrar ao mundo e originou este primeiro álbum", explicou-nos Máximo. Ao longo dos últimos anos, "houve músicas que se perderam", que não ficaram na memória de Máximo Francisco. Este primeiro álbum "acaba por ser uma selecção natural", explica o pianista, acrescentando que "houve músicas que não ficaram na memória, significa que não gostei tanto delas, mas guardei outras músicas para lançar no futuro". A primeira música do álbum, "mártires", foi composta aos nove anos. Neste álbum "nota-se o progresso entre esta primeira música, que compus aos nove anos e as que compus depois, aos 19. Dez anos é metade da minha vida e acaba por ser os 'Greatest Hits' da minha carreia, que está a começar", explica. Máximo Francisco estudou piano clássico e composição no Conservatório de Lisboa até aos 18 anos. Nos últimos dois anos está a estudar composição de jazz, em Roterdão. O pianista descreve que o jazz foi sempre algo que foi aprendendo sozinho em casa; "É uma paixão que tenho desde muito cedo. Gosto de jazz e de música clássica, mas gosto de muitos outros géneros de música. Este álbum tem todas essas influências e passados estes anos percebo as diferentes influências". "Quando estou a compor, estou sozinho, estou mais focado e concentrado. Quando estou a fazer um concerto trata-se de mostrar, de ter um momento com o público e de partilhar um momento íntimo. Nos meus concertos gosto de improvisar. É uma espécie de híbrido entre a composição, a performance e a interpretação. Está tudo misturado", descreve. A maneira como Máximo Francisco compõe é, como nos conta, "muito natural" porque acredita que a criação é uma coisa que se faz por reflexo; "Ia experimentando, não gostava do que estava a ouvir. Ia tocando e mudando até pensar 'é isto que estou a sentir'". Até ao final deste ano, Máximo Francisco vai lançar dois singles; o tema "Verdes Anos" e "Malha". Em 2024, o pianista e compositor português vai lançar um novo EP, ainda em processo criativo, um álbum dedicado ao planeta terra e às questões climáticas.

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