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Saúde em dia

RFI

Entrevistas e reportagens com especialistas sobre as novas pesquisas e descobertas na área da saúde, controle de epidemias e políticas sanitárias.

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Paris, France

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RFI

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Entrevistas e reportagens com especialistas sobre as novas pesquisas e descobertas na área da saúde, controle de epidemias e políticas sanitárias.

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Galician

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116, Avenue du Président Kennedy Paris, France 1 5640 1212 / 2907


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Como a Ciência do Esporte atua para melhorar o desempenho dos atletas paralímpicos brasileiros

9/3/2024
O Brasil é uma potência paralímpica e chegou a Paris 2024 com várias chances de medalhas, com 280 atletas em 20 modalidades nos Jogos Paralímpicos, que terminam dia 8 de setembro. Por trás desse time, uma equipe de profissionais de várias áreas trabalha para aperfeiçoar o desempenho dos campeões. Um deles é Thiago Lourenço, coordenador do Departamento de Ciência do Esporte do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), que acompanha os atletas e conversou com a RFI na sua chegada à capital francesa. Taíssa Stivanin, da RFI em Paris Doutor em Biodinâmica do Movimento Humano e Esporte pela Universidade de Campinas, Thiago Lourenço foi convidado para ser fisiologista da equipe paralímpica de Atletismo em 2014. Depois das Olimpíadas de 2016, no Rio, ele se tornou cientista do Esporte e coordena o departamento do CPB desde 2020. Segundo ele, um dos maiores desafios no dia a dia é transformar os dados obtidos no monitoramento dos movimentos dos atletas em "medidas práticas". O objetivo é utilizar essas informações para ajudar os campeões e os treinadores a definir a carga de treinamento adequada e diminuir o risco de lesões. Hoje, o Departamento de Ciência do Esporte do Comitê Paralímpico Brasileiro conta com sete profissionais. “Transformamos dados em informações e as informações em atitudes práticas. O número precisa ser transformado em uma ação, que poderá ser implementada por médicos, treinadores, fisioterapeutas ou nutricionistas da equipe. As avaliações que fazemos acabam sendo o fio condutor do treinador, para que ele possa estipular a carga de treino e seus efeitos”, explica. A meta final é validar o treinamento e, se for necessário, modificá-lo. “Diariamente coletamos informações de várias formas para municiá-los neste sentido. Os atletas de alto rendimento, principalmente no movimento paralímpico, têm individualidades mais “refinadas”. Os ajustes e as avaliações precisam guiar os treinadores”. Como os dados são coletados? Os cientistas do esporte coletam esses dados de várias maneiras, através de questionários, análises de sangue, exames de imagens ou monitoramento com sensores subaquáticos, por exemplo. “Usamos análises de sangue que não são corriqueiras”, frisa Thiago Lourenço. “São ferramentas utilizadas nas UTIs e dentro do hospital, aplicadas com um conceito bioquímico específico para o exercício e o treinamento esportivo”. “Temos análises de imagens, usadas em ajustes técnicos, dois biomecânicos especializados e também utilizamos o GPS, ou acelerômetro, aquele colete que os jogadores de futebol colocam embaixo da camiseta. Nós o usamos em várias modalidades paralímpicas, o que também é uma inovação”. Os cientistas do esporte estão em contato diário com os atletas e têm reuniões semanais com a equipe de profissionais da saúde que acompanha os campeões. “Essa troca de informações é contínua e diária. Não dá para esperar dez minutos, senão o atleta vai para o treino, se lesiona, e a gente perde a medalha por falta de comunicação”. O trabalho é individual e visa identificar os pontos que precisam ser desenvolvidos ou modificados em cada atleta, como ganho ou perda de massa muscular, por exemplo. “Baseando-se nisso, a gente traça um planejamento físico, técnico, tático e mental”, detalha o cientista do esporte. Saúde mental Cada modalidade tem sua complexidade. “O atleta paraolímpico ou o atleta olímpico são atletas. E por serem atletas, levam seu corpo ao limite, independentemente da modalidade. Para mim todas são difíceis e fascinantes porque precisamos descobrir como levar o atleta ao seu máximo”. Em algumas modalidades, lembra, há uma incidência maior de lesões. É o caso da natação paralímpica, devido ao uso intenso de determinadas articulações. Ele também cita o atletismo, triatlo, ciclismo, judô e futebol, onde há muitos choques entre os atletas cegos. Assim como em outros países, a saúde mental dos campeões olímpicos e paralímpicos também ganhou destaque nos últimos anos no Brasil. Atualmente, o Comitê...

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"Saúde mental é caminho para o alto desempenho", avalia psicóloga de atletas do Time Brasil em Paris

8/13/2024
O Brasil encerrou a sua participação nos Jogos de Paris com 20 medalhas. Por trás de muitas delas, há o trabalho de psicólogas e psicólogos que ajudam a cuidar da saúde mental dos atletas. Como Aline Arias Wolff, que atua junto ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB) há mais de uma década, e esteve na capital francesa dando suporte a alguns esportistas do Brasil, como Rebeca Andrade. Renan Tolentino, da RFI Em entrevista à RFI, Aline explicou como é o trabalho com os atletas, que tiveram acompanhamento psicológico durante os jogos. Ela avalia que é importante manter este trabalho contínuo junto a eles, não só ao longo das competições, mas também antes e depois, independentemente do resultado. “Na minha visão, a saúde mental é o caminho para o alto desempenho. Quando a gente tem um atleta que está inteiro, que está feliz, que se cuida e se observa, ele tem muito mais chances de alcançar um altíssimo nível. Então, não é uma coisa ou outra, essas duas coisas precisam andar juntas. Saúde mental precisa andar junta com o alto desempenho. Porque aí a gente realmente consegue ter um desempenho ainda melhor”. Aline acredita que estas foram as “Olimpíadas da saúde mental”, por conta da relevância que o assunto tomou nos últimos anos também no âmbito desportivo, com alguns atletas “reforçando e reconhecendo o quanto isso é importante”. Como as próprias Rebeca Andrade e Lorrane Oliveira, entre as ginastas brasileiras. Ainda na ginástica artística, outra que reforça esse discurso é a norte-americana Simone Biles, estrela da modalidade, que em 2021 desistiu de disputar os Jogos de Tóquio justamente para tratar do seu bem-estar psicológico. “Esse é um ponto muito importante (...) cuidar da saúde mental não é ‘mimimi’. Essa pessoa (atleta) tem que estar bem cuidada, tem que estar inteira e não tem como fazer isso sem cuidar da saúde mental”, reforça a psicóloga. Não existe receita pronta Uma das atletas do Time Brasil acompanhadas por Aline Arias Wolff é Rebeca Andrade, que em Paris se tornou a atleta brasileira com mais medalhas em Olimpíadas e não esconde o quanto o acompanhamento psicológico ajuda na sua vida. Durante uma entrevista, por exemplo, questionada sobre o que pensa antes de competir, a ginasta surpreendeu e disse que às vezes pensa nas “receitas que vou fazer quando voltar para o Brasil”. Aline explica que Rebeca tem essa capacidade de “ligar e desligar o foco” quando necessário, sendo uma maneira natural que a atleta encontra de aliviar uma eventual pressão antes das provas. “É uma resposta inusitada e muito autêntica. Ela é bem assim. Todo mundo fica muito curioso sobre isso. É uma estratégia? É intencional? Na verdade, não. É algo natural dela. Porque as pessoas tendem a achar que para fazer algo tão difícil, como um salto que ela executa, o atleta precisa estar ali focado o tempo inteiro, mas, na verdade, ele precisa estar focado no momento da execução da tarefa. Antes, aquela espera, que é longa, é supersaudável inclusive que o atleta vá e pense em outras coisas, desde que ele consiga focar na hora que realmente importa", explica. "E aí, naquele momento, a mente dela (Rebeca) foi para coisas que ela estava querendo experimentar nas receitas quando ela voltasse para o Brasil. Ela funciona assim, ela tem uma facilidade de desligar o foco e voltar o foco”, detalha Aline. Mas a psicóloga esclarece que não existe uma fórmula ou receita pronta para todo mundo. Cada atleta pode se comportar de maneira diferente para lidar com a ansiedade antes de competir. O importante nessas horas é conhecer bem a si mesmo. “As pessoas são diferentes. Gosto sempre de dizer que não existe uma fórmula. É muito importante que o atleta consiga se entender, entender o que funciona para ele. O que o ajuda e o que não o ajuda. Varia de atleta para atleta”, conclui. Leia também“Estou muito feliz de voltar com o ouro que os brasileiros mereciam”, diz Rebeca Andrade após vitória no solo em Paris

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Nadar no Sena durante a Olimpíada pode ser má ideia, diz infectologista; risco é pegar leptospirose

7/30/2024
Cerca de 15 milhões de pessoas são esperadas na região parisiense durante a Olimpíada e os Jogos Paralímpicos, que terminam em 8 de setembro. A alta densidade populacional, mesmo temporária, facilita a circulação de várias doenças. É o caso da leptospirose, transmitida pela urina dos ratos. Segundo Pierre Tattevin, presidente da Sociedade Francesa de Infectologia, o risco é alto para quem se aventurar a nadar no rio Sena, já que os roedores estão em toda a parte na capital. Taíssa Stivanin, da RFI em Paris “As autoridades forçaram para poder organizar as competições aquáticas no rio Sena”, alerta o infectologista francês. Não há dados verificados sobre o número de ratos que vivem em Paris, mas, segundo estimativas, há cerca de 1,5 para cada morador. É por essa razão que as contaminações por leptospirose no Sena não estão descartadas, mesmo que a quantidade de coliformes fecais no rio esteja dentro das normas exigidas. “O rato é quem carrega a bactéria da leptospirose. O rio pode até ter ser sido bem higienizado, mas isso não bloqueia a transmissão, que é totalmente possível”, reitera o especialista. A Leptospira, a bactéria que provoca a doença, é encontrada na urina dos ratos e pode contaminar a água, terra e alimentos. Após o contágio, causa sintomas parecidos com os de uma gripe forte: febre alta, dores no corpo e mal-estar. Eles podem demorar entre três dias e três semanas para se manifestar, lembra Pierre Tattevin. “Quem tiver sintomas depois de nadar no rio Sena alguns dias depois deve lembrar de se testar”, diz. "Eles vão depender da quantidade de água ingerida durante o mergulho", explica, citando o rio Sena. Segundo dados da Santé Publique France, a agência sanitária francesa, em 2022 foram diagnosticados cerca de 600 casos de leptospirose no país, mas esse número é provavelmente dez vezes maior, afirma o infectologista francês. "A leptospirose é sensível a praticamente todos os antibióticos. A pessoa pode ter febre, tomar Amoxicilina, ficar boa, e na realidade ter pego a leptospirose sem saber.” Se não for tratada, a doença pode, em alguns casos, provocar uma insuficiência renal grave e levar à morte. De acordo com ele, a tendência é que as contaminações aumentem com o aquecimento global. “É uma bactéria que vive mais em águas quentes. Martinica, Guadalupe e Ilha da Reunião são os territórios franceses onde ela está mais presente. Agora, como a temperatura está subindo na França, vai favorecer a transmissão”, diz. A declaração da doença é obrigatória na França e o teste diagnóstico deve ser feito preferencialmente no hospital, para que o resultado seja obtido instantaneamente. “Não é uma doença grave se for tratada rapidamente. Por isso é importante prestar atenção”, reitera o infectologista. Paris investiu na propaganda em torno da qualidade da água do rio e a própria prefeita de Paris, Anne Hidalgo, deu um mergulho no mês de julho para tranquilizar os mais céticos. Com a chuva, os níveis de poluição no Sena mudam com frequência. Isso faz com que, em alguns dias, ele não seja considerado próprio para banho, como foi o caso nesta segunda (29) e terça-feiras (30). Covid e Sífilis Eventos como os Jogos Olímpicos, que reúnem milhares de pessoas, também são propícios à propagação do vírus da Covid-19, que continua presente no território francês. "Em termos de risco sanitário, a Covid não é uma grande preocupação. O maior risco é para os atletas, que se ficarem doentes não poderão disputar uma medalha", diz Pierre Tattevin. Segundo ele, isso se explica pela imunidade adquirida pela população ao longo dos anos da pandemia e a evolução do vírus. As infecções agora geram menos casos graves, sem superlotar os hospitais, como foi o caso no início da pandemia, em 2020, e durante algumas ondas da doença. Outro risco apontado pelo infectologista é a propagação de doenças sexualmente transmissíveis, como a sífilis. A Olímpiada, que recebe principalmente um público jovem, que se encontra nas baladas e nos eventos,...

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Startup francesa faz sucesso ao criar objetos sob medida contra doenças ligadas ao trabalho

7/16/2024
Baseada em Plescop, uma pequena cidade na Bretanha, a equipe da start-up francesa Ergotech, formada por fisioterapeutas, osteopatas e outros profissionais da saúde, cria objetos sob medida para evitar os problemas de saúde relacionados ao trabalho. Ela é dirigida pelo empresário francês Kévin Le Texier, que entrou no ramo por acaso, após um estágio em uma empresa que fabricava equipamentos médicos. “Um médico do Trabalho me ligou para saber se podíamos criar produtos para pessoas que tinham dores nas costas enquanto dirigiam. Na época não havia nada assim no mercado, e esse continua sendo o caso hoje”, explicou Le Texier à RFI. Para a criação do seu primeiro projeto, ele seguiu um plano específico e foi assessorado por um médico do Trabalho. Le Texier analisou quais eram as limitações e as dificuldades que um motorista profissional, que se queixava de dores nas costas, enfrentava quando estava dirigindo. Em seguida, a empresa criou vários protótipos, até chegar a uma solução que finalmente resolveu o problema do paciente. “Como esse não era o público-alvo da empresa onde eu fazia o estágio, eles me perguntaram se eu estaria interessado em atender a esse tipo de demanda", conta. Como a ideia deu certo, Kévin foi solicitado para outros projetos dentro da mesma empresa para aliviar tendinites – uma das mais comuns é síndrome do canal cárpico, que comprime o nervo mediano que passa no túnel desse canal, no pulso, diminuindo a vascularização. A doença provoca dormência das mãos e dos dedos, que piora à noite, além da perda de força no polegar, dificultando os movimentos no dia a dia, como o uso do mouse. Este é um mercado em plena expansão com o envelhecimento dos assalariados que continuam na ativa. Segundo dados do Instituto de Estatística e Estudos Econômicos, atualmente 15 milhões de franceses têm mais de 60 anos. Em 2030, a expectativa é que eles sejam 20 milhões e que cheguem a 24 milhões em 2060. As reformas da Previdência adotadas em diferentes países do mundo, incluindo o Brasil, fazem com que os maiores de 60 anos devam trabalhar cada vez mais tempo antes de se aposentar. Na França, a idade mínima para ter o benefício recentemente passou para 64 anos para quem nasceu a partir de janeiro de 1968. Estatisticamente, quanto mais a população envelhece e continua trabalhando, mais ela adoece. Catálogo de produtos testados Após essa primeira experiência, o empresário francês passou a se interessar cada vez mais pela SMT (Síndrome da Miosite Tensional), que pode ocorrer quando o paciente passa, por exemplo, muitas horas sentado em frente ao computador no escritório. A inflamação pode causar dor, desconforto, fraqueza e dificuldade na realização de alguns movimentos que dependem do músculo afetado. Em alguns casos, pode até mesmo gerar manifestações em outros órgãos. Em 2012, a empresa em que o francês trabalhava faliu e ele decidiu adquiri-la. Foi assim que nasceu a Ergotech. “Tudo aconteceu um pouco por acaso”, conta Hoje a start-up é referência na fabricação de material para prevenir essas doenças. Muitos dos objetos concebidos e testados individualmente para os pacientes agora integram um catálogo de equipamentos para prevenir e tratar os problemas. Kévin Le Texier ressalta que as soluções não estão totalmente relacionadas ao conceito de ergonomia. Segundo ele, nesse caso é o ambiente de trabalho que se adapta ao paciente, sem personalização do espaço em função de suas patologias. Por hora, os produtos da empresa estão apenas disponíveis na França, mas a ideia é expandir o mercado na Europa e, em um futuro próximo, outros países.

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Como preservar a saúde mental dos atletas olímpicos, propensos à depressão ao longo da carreira?

7/9/2024
Expostos à pressão constante pelo desempenho, a nova geração de campeões olímpicos também enfrenta outros desafios, como a exposição nas redes sociais. A questão foi abordada em um seminário organizado pela Academia Nacional de Medicina da França, que reuniu especialistas para discutir temas relacionados à saúde dos atletas. O evento ocorreu na sede instituição em Paris, a poucas semanas do início dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos, que começam em 26 de julho. Taíssa Stivanin, da RFI Segundo Sébastien Le Garrec, chefe do departamento médico do Insep, o Instituto Nacional do Esporte na França, dados divulgados pelo COI (Comitê Olímpico Internacional) mostram que entre 50% e 65% dos atletas têm problemas de sono e até 68% relataram terem vivido episódios depressivos. Cansaço anormal, excesso de preocupação, falta de concentração e perda de motivação são alguns dos sintomas que devem alertar os campeões. Na França, desde 2006, os atletas de alto nível passam por uma avaliação psicológica anual, que é obrigatória. Desde 2016, os menores devem realizá-la duas vezes por ano. As dificuldades geradas pelo tempo passado no treinamento e as dúvidas que envolvem os projetos pessoais e profissionais dos atletas de alto nível também são fatores de risco para a saúde mental, diz Sébastien Le Garrec, que acompanha a equipe francesa de Natação. Os centros de treinamento, como o Insep, possuem atualmente uma equipe dedicada à saúde mental dos atletas, formada por quatro psicólogas, que detectam eventuais problemas psíquicos e a necessidade de um tratamento médico. Apesar de alguns medicamentos serem incompatíveis com a prática esportiva, lembra Le Garrec, existem alternativas. Existem etapas na vida do atleta, lembra, que são particularmente arriscadas e merecem mais atenção. Uma delas é a chegada a um centro de treinamento de alto nível, o que faz naturalmente com que os treinos aumentem em tempo e intensidade. “O grupo em geral também não é o mesmo e os atletas são ou do mesmo nível ou de um nível superior. A pressão aumenta, necessariamente”. O luto do fim da carreira A distância da família também pode ser vivenciada com dificuldade. “Não temos necessariamente com quem dividir todas as emoções do dia a dia, e isso também pode gerar distúrbios”, avalia. Outra etapa perigosa para a saúde mental é o fim da carreira, que gera uma mudança brusca no ritmo de vida - um atleta de alto nível treina em média entre 4 e 6 horas por dia. “É necessário lidar com o luto da carreira esportiva. Não é fácil vivenciar isso”, frisa. A aposentadoria das competições também marca o início de novos projetos, o que pode ser uma fonte de ansiedade, e gerar a sensação de “perda de identidade”, observa. Ele cita como exemplo o nadador francês Camille Lacourt, cinco vezes campeão mundial que há alguns meses revelou ter sucumbido à depressão após o fim da carreira, em 2017. Em uma entrevista transmitida pelo canal France 2, ele fez um desabafo sobre sua doença, que chamou de “descida ao inferno”. As contusões e a interrupção dos treinos também podem desencadear os distúrbios mentais. É comum, lembra o especialista francês, que os patrocinadores encerrem contratos sem ter perspectiva do retorno do atleta à ativa. Isso representa, na prática, menos dinheiro no bolso e mais ansiedade. A atleta americana Simone Biles, uma das maiores ginastas de todos os tempos, deixou a competição individual e por equipe nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2021, ao revelar sua depressão. Em 2018, Biles havia declarado ter sido uma das vítimas de abuso sexual do ex- médico da equipe americana, Larry Nassar. Mas, depois da fase difícil, a atleta de 27 anos se superou e foi qualificada para os Jogos Olímpicos de Paris no último dia 30 de junho. O treinamento excessivo também pode induzir a um desequilíbrio emocional. “O cansaço faz parte do cotidiano de um atleta, se o atleta não está cansado tem alguma coisa errada. Mas a recuperação é indispensável, é uma condição sine qua non...

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Casos de queimaduras graves crescem no Brasil durante período de festas juninas

6/25/2024
Acidentes com fogos de artifício e fogueiras são comuns durante as festas de São João, alerta a cirurgiã Suzy Vieira, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Segundo dados do Governo do Estado de São Paulo, o número de acidentes relacionados ao período vem crescendo e subiu cerca de 63% em 2023. O período de festas juninas é propício para os acidentes com combustíveis, usados para acender as fogueiras. Mas há também os incidentes que ocorrem na hora de soltar os fogos. “As queimaduras causadas pelos fogos de artifício são provocadas pelas chamas ou pela pólvora. Elas aumentam durante as festas juninas e queimam não apenas quem está soltando os fogos, mas também outros que estão em volta. As pessoas que estão próximas também acabam sendo atingidas pela explosão”, ressalta a cirurgiã. A incidência cresce em todo o país no mês de junho, destaca a especialista. “Nessa época, o número de atendimentos aumenta bastante. Existe, inclusive, em alguns hospitais, centros de tratamento de queimaduras reservados para os casos mais graves, que atingem mais de 30% do corpo e demandam cuidados especiais”. De acordo com Suzy Vieira, é comum os pacientes vítimas de queimaduras graves precisarem ficar internados e se submeterem a várias cirurgias. Muitas vezes, os curativos também precisam ser realizados e trocados em um centro cirúrgico, em função da dor do paciente. Nas queimaduras que ocorrem durante as festas juninas, as partes do corpo mais atingidas são, em geral, o rosto e os membros inferiores e superiores. “Elas atingem a roupa e podem se tornar ainda mais profundas e graves. Nesse caso, o ferimento se espalha e queima outras partes que inicialmente não haviam sido atingidas”, diz. “Por isso é importante despir a pessoa que esteja com a queimadura. Por exemplo, se ela é atingida por um líquido quente ou por um ácido, e se ele fica na roupa, terá um contato mais prolongado com a pele e a queimadura será ainda mais profunda e grave”, alerta. Projeto de lei quer proibir fogos que façam barulho As vítimas, diz, são de diferentes faixas etárias. “Já atendi famílias inteiras que chegam queimadas porque uma pessoa foi soltar o rojão, o rojão queimou, atingiu quem estava do lado, a mãe foi ajudar e estava de meia calça e queimou também”, descreve. A Lei de Crimes Ambientais no Brasil, de 1998, proíbe a fabricação, venda e uso dos balões de ar, usados antigamente nas festas juninas, que provocavam incêndios e geravam muitos acidentes. O desrespeito à norma é passível de um a três anos de prisão ou multa. Em relação aos fogos de artifício, alguns Estados e municípios adotam a proibição de fogos com estampido que façam barulho. Um projeto de lei de 2022 que tramita na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado prevê que essa proibição se estenda a todo o território nacional. “Existe também uma legislação que exige que as lojas sejam afastadas e sejam dotadas dos equipamentos para controle do fogo. Mas, infelizmente, essa legislação não é cumprida como deveria”, lamenta a cirurgiã brasileira.

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Cogumelos "mágicos" podem tratar alcoolismo e reduzir consumo pela metade, revela estudo francês

6/18/2024
Uma pesquisa feita pela equipe do neurocientista francês Mickael Naassila, presidente da Sociedade Francesa de Estudos sobre o Alcoolismo e professor da Universidade da Picardia, no norte da França, mostrou que o uso de cogumelos que contêm a psilocibina, uma substância alucinógena, pode tratar o alcoolismo. Taíssa Stivanin, da RFI Os resultados do estudo, feito com camundongos, foram publicados no mês passado na revista científica britânica Brain. O neurocientista francês e sua equipe observaram que a molécula inibe um dos receptores cerebrais envolvidos no alcoolismo. A descoberta, que agora deverá ser testada em humanos, poderá viabilizar rapidamente novos tratamentos, disse Mickael Naassila em entrevista à RFI Brasil. Nosso cérebro tem dois hemisférios e, na base de cada um deles, existe uma estrutura chamada núcleo accumbens - um conjunto de neurônios que têm um papel central no chamado circuito da recompensa. Esse sistema é ativado quando sentimos prazer, liberando a dopamina, um neurotransmissor que emite e recebe sinais das células nervosas. Elas se comunicam através de reações químicas complexas. No caso do abuso de drogas, como o álcool, o circuito da recompensa é ativado com frequência, o que leva à busca incessante pelo produto. “Na dependência química do humano ao álcool, à maconha ou à cocaína, sabemos que há uma diminuição de um receptor da dopamina chamado D2. Isso também é observado nos animais. Quando usamos a psilocibina em um tratamento, restauramos a atividade, ou o nível de expressão, do receptor D2 da dopamina”, explica o neurocientista. Outros estudos já haviam mostrado como a substância pode ajudar a evitar as recaídas. Durante a pesquisa, o cientista francês e sua equipe também constataram que o cogumelo agia de maneira diferente nos dois hemisférios cerebrais. O neurocientista então descobriu que se a psilocibina fosse injetada diretamente no núcleo accumbens do lado esquerdo, o consumo de álcool diminuiria pela metade, o que não ocorria do lado direito. Essa “lateralização” do efeito do cogumelo no cérebro pegou os cientistas de surpresa. “Testamos a psilocibina alucinógena em camundongos que não eram alcóolatras. A conclusão é que o consumo do alucinógeno, mesmo por alguém que não é dependente do álcool, vai provocar modificações no funcionamento cerebral e alterar a expressão nos genes no cérebro. E notamos diferenças à esquerda ou à direita.” Testes com humanos As próximas etapas agora serão analisar a ação da substância em testes clínicos com humanos e realizar uma cartografia da ação da psilocibina no lado esquerdo do cérebro, utilizando técnicas de imagem cerebral, como a ressonância magnética. O objetivo é propor novos tratamentos contra o alcoolismo, que ainda geram cerca de três milhões de mortes por ano no mundo, segundo dados da Organização Pan-Americana da Saúde. Segundo o neurocientista, a psilocibina e o LSD, as duas moléculas mais estudadas no contexto da dependência química, recriam uma série de novas conexões entre diferentes estruturas cerebrais, atuando na sua plasticidade ao modificar estados de consciência. Estudos mostram que, por essa razão, as moléculas poderiam ser aliadas pontuais no tratamento contras as dependências químicas, associadas a uma psicoterapia. “Temos efeitos positivos a longo prazo. Entre nove e doze meses depois do início do tratamento constatamos uma diminuição do consumo de álcool, depois dessas sessões que incluíram a psilocibina e o LSD. Isso é mágico!”, ressalta Naassila. No entanto, a obtenção das autorizações para o uso científico das moléculas pode levar tempo, antes do início dos testes clínicos com humanos. “Para esses testes precisamos de moléculas certificadas, que possam ser administradas nos humanos. Essas moléculas custam caro.” Ele lembra que a sensibilidade aos efeitos da substância também pode influenciar o tratamento – os fatores individuais serão determinantes para sua eficácia. Hoje, de acordo com o neurocientista francês,...

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Professora da Unicamp explica como prevenir e tratar doenças que podem levar à cegueira infantil

6/11/2024
A professora titular de Oftalmologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (FCM/UNICAMP), Keila Monteiro de Carvalho, alerta para importância do “teste do olhinho”, nome popular do teste do reflexo vermelho, que deve ser realizado logo após o nascimento. A detecção precoce de patologias visuais, como a catarata infantil, também é essencial para evitar o comprometimento ou até mesmo a perda da visão no futuro. Taíssa Stivanin, da RFI "Nas primeiras horas de vida do bebê, o pediatra pega um oftalmoscópio e ilumina seus olhos para ver se tem um reflexo vermelho. Se a luz não está entrando e saindo, a pupila fica esbranquiçada", diz a especialista. "Os dois olhos também têm que ser simétricos e um não pode ser mais vermelho do que o outro”, especifica. O teste do reflexo vermelho, explica, deve ser mencionado na caderneta do recém-nascido e repetido pelo menos três vezes, até os dois anos de idade, pelo pediatra. Em caso de dúvida, a criança deve ser examinada por um oftalmologista. “Neste caso, será obrigatório dilatar a pupila e verificar a necessidade do uso de óculos". O exame para checar a acuidade visual não depende da adesão da criança e permite obter resultados objetivos, explica Keila Monteiro de Carvalho. A oftalmologista utiliza em seu consultório um auto refrator manual e realiza o exame do fundo do olho, para verificar outras alterações. O teste de visão pode ser feito a partir de três meses, já que antes dessa idade a criança ainda não enxerga direito. “Neste caso, fazemos um exame chamado olhar preferencial. Temos um cartão com riscos de um lado e cinza do outro. O bebê olha para esses risquinhos, que vão diminuindo. Mostramos um após o outro. Quando a criança para de olhar, é porque não enxergou e está confundindo com o fundo”, explica. A Sociedade Brasileira de Oftalmologia pediátrica recomenda que as crianças, em geral, realizem o primeiro exame por volta dos seis meses de idade, o segundo por volta dos dois ou três anos e o terceiro durante a fase escolar. "O exame oftalmológico completo engloba o teste da visão, de verificação do grau dos óculos e do fundo de olho, além de um eventual estrabismo", reitera a oftalmologista brasileira. Catarata infantil e outras patologias Algumas doenças pediátricas que afetam a vista podem ser de origem congênita, como a catarata infantil. "A maior parte das cataratas é genética. Existem vários tipos, incluindo as dominantes e recessivas. Algumas estão associadas às infecções congênitas, como o Zika ou a Toxoplasmose". A doença é caracterizada pela pupila branca, que faz com que o olho afetado não detecte a luz. Na criança, a catarata será operada apenas se estiver atrapalhando a visão. “Se a pupila estiver branca e a catarata for total, a luz não entra, e a operação é necessária. Tem que ser uma cirurgia bastante precoce. Mas se a catarata for menor e não estiver no eixo visual, mas localizada mais no canto, e a criança estiver enxergando, ela não é operada tão cedo”. Segundo a médica, uma das complicações que envolve a cirurgia é o glaucoma, que pode levar à perda da visão. As de origem genética têm evolução mais lenta e as infecciosas podem piorar de maneira repentina. Durante a operação, uma lente permanente é colocada no olho afetado, mas deverá ser trocada em função do crescimento da criança. Os óculos são uma alternativa, mas devem ser espessos, o que gera incômodo e outros problemas. Durante a operação, a retirada da cápsula do cristalino é feita com laser, mas a substância branca deve ser aspirada manualmente. Outras doenças oculares podem atingir as crianças, como a retinopatia da prematuridade. “A retinopatia da prematuridade aumentou muito no mundo todo, porque as crianças prematuras agora sobrevivem e ficaram mais tempo expostas ao oxigênio. A retina, imatura, que não se desenvolveu completamente, vai acarretando o problema”. A deficiência visual cerebral, que pode ser decorrente de uma lesão neurológica e ter...

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Especialistas na França explicam como abordar a sexualidade com crianças e adolescentes

6/4/2024
O Ministério da Educação francês publicou em março deste ano um projeto de educação à vida afetiva e sexual. O programa poderá ser implantado de forma gradual nas escolas francesas, da pré-escola ao ensino médio, a partir de setembro de 2024, que marca o início do ano letivo no país. A representante do Ministério da Educação francês, Caroline Moreau-Fauvarque, integra o grupo de elaboração do novo projeto. O objetivo do documento de 60 páginas, que ela e sua equipe concluíram em março, é fornecer aos alunos informações científicas sobre a reprodução e a sexualidade humana, ajudá-los a construir a própria personalidade, com relações baseadas no respeito mútuo, e dar um panorama sobre os aspectos sociais e legais envolvendo a sexualidade. Com a oficialização desse programa, diz, será mais menos trabalhoso para os professores colocarem em prática suas aulas, já que tema será abordado de maneira multidisciplinar. Na prática, a educação sexual é obrigatória na França. Mas, em muitos estabelecimentos as três aulas anuais previstas no currículo por lei (artigo L312-16), desde 2001, da Educação Infantil ao Ensino Médio, acabam sendo deixadas de lado. “Propomos, por exemplo, que a comunidade educativa, antes do início do ano letivo, organize e planeje essas sessões para conseguir abordar o conjunto desses objetivos nas aulas de educação à sexualidade”. Mas, antes de ser colocado em prática, o projeto deverá passar por uma fase de consulta, ressalta. Acesso a conteúdo pornô explode entre menores Dados divulgados pela Arcom, autoridade francesa que regula a comunicação audiovisual e digital, mostram que mais de 2,3 milhões de crianças consultam sites pornográficos pelo menos uma vez por mês. Segundo a especialista em saúde sexual francesa Charline Vermont, autora do livro “Corps, amour, sexualité” ("Corpo, amor e Sexualidade", em tradução livre), esse assunto é dificilmente compartilhado entre pais e filhos. Seu livro, destinado ao público infantil e adolescente, foi escrito sob a supervisão de psicólogos e pedopsiquiatras, visa promover essa transmissão familiar. De acordo com Charline, os adultos de hoje, de maneira geral, são herdeiros da “geração do silêncio”, ainda que alguns países sejam mais avançados na questão do que outros. “O Canadá e os países nórdicos, além dos países anglo-saxões, são um pouco mais avançados do que nós, que ainda seguimos uma tradição latina”, compara. Ginecologista "influencer" A ginecologista francesa Judith Abric virou influencer no Instagram com a conta "Dr Juju", que tem mais de 65 mil fãs. Em seus posts, ela busca ajudar crianças e adolescentes a respeitar o próprio corpo e entender a noção do consentimento e da sexualidade solitária e compartilhada. “Na escola de Medicina, e eu espero que isso mude, aprendemos muitos conceitos científicos, mas não aprendemos a falar sobre esses assuntos com crianças ou adultos no fim", diz. "É surpreendente como as pessoas não conhecem o próprio corpo, independentemente do gênero. Sem conhecer o próprio corpo, não é possível ter uma sexualidade compartilhada e satisfatória, porque essa é a base. Não somos nós, os ginecologistas, que vamos ensinar isso. Deve começar muito antes", ressalta. Para ela, os meninos devem ser aliados das mulheres. "É importante termos parceiros no futuro que não repitam mais frases do tipo: “ela está irritada, deve estar menstruada." Ninguém mais suporta ouvir isso", diz. "Meu livro aborda essas questões. Se minha colega de classe está menstruada, por exemplo, o que eu posso fazer? Carregar a mochila dela, por exemplo. Às vezes ela pode sentir dores que irradiam até as costas”, diz. Protegendo as crianças O aprendizado da sexualidade também protege as crianças mais jovens contra os predadores sexuais. Sem falar obviamente de sexo propriamente dito, os pais devem ensiná-las a reconhecer suas partes íntimas e lembrar que ninguém tem o direito de tocá-las. Se isso acontece, é preciso contar imediatamente para um adulto,...

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Paris 2024: quem são os profissionais da saúde que preparam os atletas para as competições

5/28/2024
Esporte é saúde, mas praticado profissionalmente exige, além de treinamento, resistência física e mental. A menos de dois meses do início das Olimpíadas, como os atletas fazem para se recuperar e manter o ritmo intenso das competições e prevenir as lesões? Os campeões olímpicos têm à disposição uma equipe de preparadores físicos e médicos que criam programas específicos. Eles incluem, além dos exercícios e da alimentação, a gestão psicológica do stress e até a adaptação ao fuso horário. Segundo o médico do Esporte francês Jean-Marc Sène, que trabalhou com a equipe francesa de judô, os atletas se preparam o ano todo, mas participar das Olimpíadas exige um treinamento “sob medida”. “Existem exigências específicas, como ter mais assiduidade, por exemplo. Talvez os atletas precisem ser ainda mais assíduos ou se concentrar mais nas competições. Esses são dois parâmetros que entram em jogo.” A preparadora física Anne-Laure Morigny atua no Instituto Nacional do Esporte francês (INSEP) desde 2009. Seu trabalho no dia a dia consiste em ajudar os atletas a ultrapassarem seus próprios limites, levando em consideração o risco de lesões ou seu gerenciamento, quando elas já existem. “A preparação física é transversal e complexa. Para se ter um bom desempenho, o atleta deve ser capaz de repetir esse desempenho. Isso requer manter a integridade física e limitar o risco de contusões, que podem interromper a carreira de um atleta”, explica. Exercícios diários Incluir no cotidiano a prática de exercícios para atingir esse objetivo é essencial, diz a preparadora física francesa, e garantirá um bom desempenho no dia da competição. “O papel do médico do Esporte é muito importante, além dos fisioterapeutas e dos osteopatas”, completa. “Juntos, a equipe e o atleta vão identificar o que deve ser trabalhado, quais são os pontos fortes e fracos, e incluir no cotidiano uma rotina preventiva para limitar o risco de contusão o máximo possível”, reitera. A preparadora física francesa compara o trabalho realizado com os atletas olímpicos à alta costura: ele deve ser feito “sob medida”, com testes individualizados. O limite é estabelecido pelo médico, observa Jean Marc-Sène. Em caso de problema, e após a realização de exames, a questão que se coloca, explica, é como lidar com o prognóstico do atleta. “A primeira pergunta que o treinador deve fazer é por quanto tempo o atleta deve parar e como as coisas deverão ser adaptadas. É um trabalho contínuo e o médico tem o papel de coordenador entre o fisioterapeuta, os treinadores e outros profissionais. Esse é um trabalho diário”, afirma. Para a preparadora física, o trabalho feito em torno do atleta hoje é muito mais estruturado do que há 15 anos, quando ela iniciou sua carreira no INSEP. “Temos ‘preparadores mentais’, nutricionistas, temos realmente muitas pessoas em torno dos atletas”, explica. Saúde física e mental O judoca francês Walide Khyar, classificado na categoria de menos de 66 quilos nos Jogos Olímpicos de Paris, competirá no dia 28 de julho. Ele se descreve como uma “criança que sempre foi hiperativa e pensava em muitas coisas ao mesmo tempo”, o que teve incidência na sua prática. Desde 2017 ele tem um preparador mental, com quem o atleta estabeleceu uma série de objetivos para aprender a focar no "que realmente interessa". “Eu tinha tendência a pensar em tudo ao mesmo tempo e me concentrar em coisas sem importância. Aprendi a priorizar e colocar o judô no centro de tudo”, conta. A dieta, que é extremamente importante para os judocas, também é um ponto de vigilância constante para que Walide possa se manter no peso da sua categoria. Por isso o judoca francês é acompanhado por uma nutricionista que, com o apoio de exames que medem a massa muscular, vai adaptar sua alimentação. Ele come o que tem vontade apenas uma refeição por semana. O Instituto francês conta hoje com um setor de psicologia do Esporte para ajudar os atletas. “Isso é essencial. Muitas vezes a preparação mental é vista...

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Como surge o câncer? Dados moleculares revelam mutações precoces que podem prevenir e tratar a doença

5/21/2024
A cientista francesa Elsa Bernard é chefe da equipe de oncologia computacional do instituto francês Gustave Roussy, um dos maiores centros de combate ao câncer no mundo, situado em Villejuif, nos arredores de Paris. Ela é uma das autoras de um estudo recente, publicado na revista científica Cell, que busca entender os mecanismos individuais e ambientais que estão na origem do aparecimento de diferentes tipos de cânceres. Taíssa Stivanin, da RFI Desde o início de sua carreira, a pesquisadora francesa focou seus estudos na análise de dados moleculares, uma das áreas da Biologia Matemática aplicada à Cancerologia. Após uma temporada nos Estados Unidos e no Reino Unido, onde concluiu seu pós-doutorado, ela voltou para Paris e desde setembro de 2023 integra a equipe do instituto francês Gustave Roussy. O trabalho realizado pela cientista permite acompanhar em detalhes as mutações celulares individuais antes mesmo do aparecimento da doença. “O câncer atinge todo mundo e os estudos em Oncologia estão em plena transformação. Os dados, principalmente moleculares, são cada vez mais importantes para entender e tratar clinicamente a doença. Eles são gerados cada vez mais e de forma sistemática", explicou a cientista à RFI. "Estamos na era da Medicina de precisão. Podemos utilizar esses dados e explorá-los o máximo possível para prever e entender a evolução da doença em certos casos”, acrescenta. O estudo publicado na revista científica Cell reúne o trabalho de pesquisadores de diversos países, que identificaram fatores biológicos que podem influenciar no desenvolvimento de um tumor. Essa lista é chamada pelos cientistas de clouds de complexité (nuvens de complexidade, em tradução livre), que são os diferentes parâmetros de interação entre um paciente e seu câncer. Entre eles, está análise do papel das células que sofreram mutações antes e depois de se transformarem em tumores, além das razões individuais e ambientais que levam ao surgimento do câncer. Elsa Bernard lembra que nem todas as células que mutam serão cancerígenas e entender por que isso acontece é primordial para prevenir e tratar a doença. “Já sabemos há cerca de 50 anos quais são os gatilhos de transformação de uma célula em cancerígena. Isso ocorre, geralmente, a partir de uma instabilidade no genoma e da sua capacidade de escape imunológico. Esse conjunto de processos é indispensável para essa transformação. Mas ainda sabemos pouco sobre a relação entre o indivíduo e seu tumor”, observa. A evolução da doença ainda depende de outros fatores mais complexos. Entre eles, a interação com células em torno do tumor e outros órgãos, que permitirá aos cientistas entender melhor como os cânceres se manifestam e desta forma preveni-los e até mesmo curá-los, explica a pesquisadora francesa. Entendendo as mutações Mas o aparecimento da doença ainda possa ser, em muitos casos, aleatório. “Apesar do câncer ser uma doença genética, relacionada, na maior parte dos casos, à uma mutação do DNA, sabemos que essas mutações hoje não são suficientes para desencadear a doença. "Existem células normais, que nunca se tornarão cancerígenas, e que têm mutações no DNA. "Também há outros elementos, ambientais ou próprios ao indivíduo, que fazem com que a célula que sofreu essa mutação se torne cancerígena." A cientista francesa cita como exemplo infecções virais ou uma inflamação, que podem ter repercussões celulares que levem ao aparecimento do câncer. O tabagismo, o consumo de álcool e o sedentarismo são alguns dos fatores de risco ambientais conhecidos e alvo de recomendações oficiais. Estudos também apontam que a poluição tem um papel preponderante no desenvolvimento de um câncer. O ritmo circadiano, o relógio biológico que coordena as funções fisiológicas quando dormimos ou estamos acordados, também atua na comunicação entre as células, inclusive cancerígenas. "No futuro, será essencial para a prevenção saber quais são os fatores de risco individuais, ligados ao seu DNA e à sua...

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Cientistas franceses descobrem nova molécula que provoca alergias respiratórias

5/14/2024
O pesquisador francês Jean-Philippe Girard, diretor de pesquisa do CNRS (Centro Nacional de Pesquisa da França), e sua equipe identificaram uma molécula que atua no processo inflamatório que causa doenças como a rinite alérgica e a asma, por exemplo. Batizada de TL1A, ela é liberada pelo epitélio respiratório alguns minutos após a exposição a uma substância alérgica e integra a família das alarminas. Taíssa Stivanin, da RFI Liberadas em grande quantidade, as alarminas podem iniciar a inflamação, estimular a atividade das células imunológicas e desencadear uma série de reações no corpo, como as alergias. O estudo foi publicado em abril na revista científica Journal of Experimental Medicine. “Nas alergias, um dos fatores mais importantes é o meio ambiente, além das substâncias alérgicas presentes nele e no ar que respiramos em ambientes fechados ou do lado de fora. Ao ar livre, o pólen e alguns tipos de fungos são os que provocam mais reações”, explicou o cientista francês à RFI. Um desses fungos é o Alternaria alternata, que está relacionado a crises de alergia e de asma severa, principalmente quando o tempo está úmido, favorecendo sua dispersão no meio ambiente. A alergia respiratória é a quarta doença crônica mais comum no mundo, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), e deve atingir a metade da população mundial até 2050. Só na França, a estimativa é que 17 milhões de pessoas sejam alérgicas e 4 milhões sofram de asma. Entre 200 e 400 mil desenvolvem a forma severa da doença e podem ter crises graves, que provocam dezenas de mortes no país. Um dos principais objetivos do estudo, segundo Jean-Philippe Girard, foi justamente encontrar um tratamento alternativo para evitar esses óbitos. A equipe do cientista francês estuda há mais de uma década o efeito do fungo alternata no organismo dos alérgicos. Durante a pesquisa, eles perceberam que 15 minutos após o contato com a substância, todas as células que formam o epitélio pulmonar liberaram um sinal de alarme para as defesas do organismo. "Essas alarminas, presentes no tecido, dialogam com nosso sistema imunológico, explica o cientista. “São esses sinais de alarme que chamamos de alarminas. Elas alertam nossas defesas naturais, nesse caso, contra uma substância alérgica. Essas alarminas presentes no pulmão, brônquios e alvéolos pulmonares também avisam quando há um vírus, como o da gripe ou do resfriado”, exemplifica. Alerta para os glóbulos brancos Uma das funções da molécula é alertar os glóbulos brancos, presentes nos pulmões, da presença de um corpo estranho. Eles vão, dessa forma, produzir mediadores da reação alérgica, entre eles uma proteína responsável pela produção de muco, que obstruirá os brônquios e causará a inflamação. “Ao bloquearmos as alarminas, que dão início a essa cadeia de reações, reduzimos a inflamação. Se agimos no meio do processo, há outros mecanismos que podem compensar essa ação, mas agindo desde o começo, bloqueamos tudo. Esse é o conceito das alarminas, e é isso que é importante” frisa Jean Philippe Girard. Com a nova descoberta, já são três as alarminas identificadas até agora pela Ciência. Uma delas já havia sido detectada há mais de 20 anos pela equipe do cientista francês e em breve beneficiará pacientes que sofrem de patologias como a BPCO, a doença pulmonar obstrutiva crônica. Segundo ele, os pacientes integram seis estudos de fase 3 conduzidos por grandes laboratórios e recebem anticorpos que bloqueiam a molécula. Os resultados devem ser divulgados em 2025 e, se tudo correr bem, um novo medicamento chegará às prateleiras. O objetivo agora é que a nova alarmina, que acaba de ser identificada, também possa ser testada em larga escala. “Nossa nova descoberta virá reforçar o arsenal terapêutico e as possibilidades de tratamento para os pacientes.” Para isso, é preciso investimento para colocar em práticas os testes clínicos necessários para validar o estudo em humanos e obter um medicamento contra a asma severa. Em seu...

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Mosquito da dengue prolifera na França e poderá provocar epidemias nas próximas décadas

4/30/2024
Vários países enfrentam atualmente uma epidemia de dengue e este é o caso do Brasil, da Guiana Francesa e do Burkina Faso. De acordo com estimativas da OMS, em 2023 a doença pode ter contaminado entre 50 e 100 milhões de pessoas no mundo. A dengue pode ser transmitida pelos mosquitos Aedes aegypti, o mais comum no Brasil e na Guaiana, por exemplo, e pelo Aedes albopicus, conhecido como mosquito Tigre, presente na América do Norte e na Europa, incluindo a França. O país já registra casos autóctones, ou seja, que não foram importados. “O mosquito Tigre chegou na Europa em 1990 e em 2004 na França. Vinte anos depois, ele está presente em todas as regiões do país e não vai desaparecer. Sua própria biologia o obriga a se manter no território para sobreviver”, explicou Anna-Bella Failloux, diretora responsável da Unidade arbovírus e insetos vetores do Insituto Pasteur em Paris, ao programa Priorité Santé, da RFI. Segundo ela, o Aedes aegypti e o albopicus são espécies invasivas. “Os ovos do mosquito Tigre são capazes de suportar as secas e as baixas temperaturas no inverno. Ele espera as boas condições climáticas para que os ovos eclodam e se transformem em larvas adultas, que são responsáveis pela transmissão de certos vírus.” A Europa então poderá enfrentar epidemias da dengue nas próximas décadas, como o Brasil? Para a especialista do Instituto Pasteur, o mosquito Tigre continuará colonizando o continente, o que favorecerá a circulação do vírus e gerará cada vez mais casos autóctones, ou seja, contaminações que ocorrem quando duas pessoas adoeceram dentro do próprio território. Segundo Anna-Bella Failloux, outro problema é que a população europeia está menos preparada para lutar contra o mosquito da dengue e ignora certos reflexos já adquiridos em outros países, como não deixar água parada dentro de um recipiente, por exemplo. Mudanças climáticas e atividade humana Como e por que os vetores estão se espalhando tão rapidamente por todo o planeta? O aquecimento global, mas também a atividade humana, explicam em parte a situação, diz a cientista do Instituto Pasteur. “As atividades humanas são a primeira causa da proliferação dos mosquitos e dos vírus transmitidos por esses mosquitos. Esses insetos vivem onde há pessoas. Então, a partir do momento em que moramos no térreo, nas cidades, e mantemos locais propícios para que esses mosquitos reproduzam e piquem os humanos, criamos um coquetel explosivo que vai gerar surgimento de casos urbanos”, diz. O crescimento demográfico, ressalta, cria também um ambiente favorável à doença. A metade da população mundial, observa Anna-Bella Failloux, vive nas cidades e muitas vezes está exposta à precariedade. Os problemas de estocagem, evacuação e abastecimento de água potável também são fatores que facilitam a reprodução do mosquito. Há ainda o aquecimento global, que altera a mobilidade do inseto, fazendo com que ele colonize cada vez mais regiões do hemisfério norte. Quatro tipos de vírus Existem quatro tipos de vírus da dengue, que utilizam os mosquitos como vetores. “Eles se comportam de maneira diferente em relação ao inseto, que não vai transmitir com a mesma eficácia os quatro patógenos. Isso faz que algumas combinações, dependendo do tipo do vírus e do mosquito, sejam mais eficazes”, explica Anna-Bella Failloux. Algumas infecções evoluem para formas mais graves, como a hemorrágica, e podem gerar complicações. Os sinais de alerta são edemas em todo o corpo e sangramentos. Mas, apesar desses riscos, essas situações são relativamente raras e a mortalidade relacionada à doença é baixa, representando menos de 5% dos casos. O infectologista francês Paul Le Turnier atua no Centro Hospitalar de Caiena Andrée Rosemon, na Guiana Francesa. Ele lembra que a vacina Qdenga, já usada no Brasil, deve em breve estar disponível também na Guiana, o que será uma maneira eficaz de lutar contra a epidemia. Além da vacinação, a única maneira de lutar contra o mosquito é mecânica, frisa Le...

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Cientistas franceses criam lentes espirais que melhoram nitidez na correção de distúrbios visuais

4/16/2024
Quem precisa de óculos para corrigir miopia, astigmatismo, hipermetropia e presbiopia conhece os limites e a dificuldade no uso das lentes de contato. Já os óculos multifocais, apesar de confortáveis, exigem adaptação e a correção nem sempre é perfeita. Mas, um novo tipo de lente de contato poderá resolver esse problema. Ela foi inventada pelo optometrista francês Laurent Galinier, com a colaboração do Centro Nacional de Pesquisas Científicas da França (CNRS). Taíssa Stivanin, da RFI No início, a ideia de Galinier era ajudar os pacientes que sofrem de uma doença genética chamada Queratocone, que altera a forma da córnea, a enxergar melhor. O especialista francês então inventou uma lente espiral: os feixes de luz giram dentro da lente e criam um vórtice ótico, o que proporciona um foco preciso, independentemente da distância e da claridade. Para aperfeiçoar sua invenção, em 2018 Galinier procurou dois cientistas do CNRS para esclarecer dúvidas em Óptica, a área da Física que estuda os fenômenos associados à luz. Para chegar ao resultado final, a equipe realizou um trabalho de modelização matemática para observar como a luz se propagava, explica Bertrand Simon, que atua no laboratório de Fotônica, Digitalização e Nanociências do CNRS. Esse estudo prévio foi publicado neste ano na revista científica internacional Optica. O protótipo digital das lentes foi produzido por uma empresa especializada, que se associou ao inventor na produção. “Para quem tem presbiopia, e esse é meu caso, usamos lentes multifocais. Dependendo da parte da lente, e da direção do olhar, a correção não será a mesma. Os óculos funcionam, mas há pequenos problemas relacionados à deformação da imagem capturada pela visão”, detalha Bertrand Simon. Durante dois anos, Laurent Galinier e os pesquisadores aprimoraram as lentes espirais. Testadas em 2020, elas criam pontos focais diferentes no campo de visão. Lente multifocais geram deformações O cientista francês explica que a maneira como as lentes multifocais são construídas hoje gera deformações. “Nosso problema é que o olho tem um diafragma, a pupila, que vai abrir e fechar em função da luminosidade. E quando ela abre, ou fecha principalmente, vamos perder a correção do lado externo da lente de contato”, explica. Isso pode ser observado quando a pessoa que usa óculos multifocais olha para o lado ou para cima, por exemplo. O resultado é o surgimento de distorções que podem gerar problemas para dirigir, entre outras dificuldades. “A vantagem da lente que estamos propondo é que criamos uma nova maneira de obter o foco. Isso fará com que todas as zonas de correção, inclusive a externa, sejam capturadas pela lente, independentemente da abertura da pupila. Essa é a grande vantagem. As lentes espirais também podem ser usadas para implantes intraoculares, como é o caso de pacientes que foram operados de catarata e têm um implante no lugar do cristalino”, diz. A invenção já foi patenteada e a previsão é que chegue ao mercado em maio, mas ainda não há detalhes sobre a comercialização. Por hora, os cientistas franceses continuam trabalhando com Laurent Galinier para entender melhor alguns aspectos observados durante os testes com pacientes, explica Bertrand Simon. Um dos efeitos, por exemplo, é a hiperacuidade, ou seja, uma visão superpotente. A correção obtida com as lentes espirais melhora a vista em um nível bem mais elevado do que o proporcionado pelas lentes e óculos comuns. “Gostaríamos de entender isso e temos pistas sobre os elementos físicos que estariam na origem dessa hiperacuidade, mas isso requer bastante trabalho para caracterizar e medir. Está relacionado à Física do vórtice”, explica o cientista francês, que testou o produto. Segundo ele, pelo menos 10 pacientes já testaram o acessório durante o estudo, mas vários voluntários já procuraram a equipe para testar as lentes. O uso do vórtice ótico, lembra, abre várias possibilidades, que incluem o aperfeiçoamento das técnicas de cirurgia...

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“Covid-19 não é uma doença sazonal e continua grave”, diz epidemiologista do Instituto Pasteur

4/9/2024
Quatro anos depois do início de uma das piores epidemias da história da humanidade, pesquisadores em todo o mundo continuam analisando a evolução das variantes e outros dados obtidos durante o surto de Covid-19. O objetivo é prevenir e preparar a comunidade internacional no caso do surgimento de uma nova pandemia. Desde o aparecimento do vírus SARS-CoV-2 em dezembro de 2019 até janeiro de 2024, a estimativa é que mais de 360 milhões de pessoas tenham contraído a doença, provocando, oficialmente, cerca de 7 milhões de mortes, segundo a OMS. Mas, na realidade, dados mostram que a Covid-19 matou cerca de 25 milhões de pessoas, isso sem contar os efeitos indiretos da epidemia. Entre eles, o aumento do número de casos de depressão, por exemplo, ou o impacto econômico gerado pelas medidas de lockdown e distanciamento social, no auge da crise. Além disso, a probabilidade da emergência de um novo vírus dessa gravidade aumenta com as mudanças no meio ambiente, provocadas pelo aquecimento global. Neste contexto, a coordenação internacional e científica é essencial, ressalta Arnaud Fontanet, chefe da unidade de epidemiologia das doenças emergentes do Instituto Pasteur. “Progredimos muito e em muitos aspectos. O planeta conheceu uma crise que não ocorria há muito tempo. Os pesquisadores se mobilizaram em todo o mundo e o avanço mais extraordinário foi a descoberta da vacina a base de RNA mensageiro, uma pesquisa que já existia, mas nunca tinha ido para a frente”, disse o cientista em entrevista ao programa Priorité Santé, da RFI. O especialista lembra também que o aparecimento de antivirais como o Paxlovid, que reduz a gravidade dos sintomas e o risco de complicações, representou outro avanço. O medicamento é recomendado para pessoas com mais de 65 anos e outras patologias. “É preciso consultar rapidamente, porque ele deve ser prescrito cinco dias após o início dos sintomas. Nesse caso, o risco de complicação diminui em cerca de 80%”, ressalta. Ele lembra que a Covid-19 não é uma doença benigna, e que, graças às vacinas e aos tratamentos, milhões de vidas foram salvas. Rapidez na propagação O que diferencia a Covid-19 de outras epidemias no passado? A rapidez da propagação do SARS-CoV-2 foi sem dúvida um aspecto inédito, lembra Clotilde Biard, especialista em ecologia evolutiva da universidade Sorbonne e pesquisadora do CNRS (Centro Nacional de Pesquisa Científica da França). Outros vírus, lembra, se espalham atualmente em silêncio, com potencial epidêmico similar ao do SARS-CoV-2. “Há novos vírus e doenças transmissíveis que estão surgindo, relacionadas à atividade humana e ao impacto dessa atividade nos ecossistemas”, diz. Os vírus respiratórios, ressalta, são mais monitorados pelos cientistas porque se propagam mais rapidamente e têm mais potencial epidêmico para “parar o mundo”, como foi o caso do SARS-CoV-2. Risco hipotético Para o especialista do Instituto Pasteur, após a Covid a comunidade científica compreendeu as graves consequências que uma pandemia poderia trazer para o planeta em pleno século 21. Esse risco era, até então, hipotético, observa. “Para mim, antes da epidemia, esse era um exercício acadêmico: saber como lidar com o perfil hipotético de um vírus “vilão”, que provavelmente nunca veria na minha vida”, diz. Mas, esse cenário se tornou real e obrigou a comunidade científica a se organizar melhor, ressalta o pesquisador do Instituto Pasteur. Ele lembra que os cientistas, as autoridades e os profissionais da saúde nos hospitais tiveram que enfrentar uma crise inédita. Dinamarca teve a melhor gestão Quatro anos depois, Arnaud Fontanet afirma que o país europeu que melhor gerenciou a epidemia foi a Dinamarca. O governo "fechou" todo o país antes que os hospitais ficassem lotados. Os dinamarqueses também fizeram uma campanha massiva de vacinação e só relaxaram as medidas de distanciamento com a chegada da variante ômicron, em 2021. Neste momento, a população já estava mais imunizada e preparada para lidar...

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Cientista explica como doping genético é possível; atletas poderão ser testados nos Jogos de Paris

4/2/2024
A poucos meses dos Jogos Olímpicos de Paris, o doping genético se tornou uma preocupação concreta dos organizadores, apesar de, até hoje, nenhum caso ter sido oficialmente detectado. A RFI Brasil esteve no laboratório do pesquisador francês Bruno Pitard, em Nantes, no oeste da França, que explicou como as técnicas de manipulação genética tornam essa prática possível. Taíssa Stivanin, da RFI Em abril do ano passado, o Parlamento da França adotou um projeto de lei que autoriza o Laboratório Francês de Antidoping, na região parisiense, a recolher amostras de sangue e realizar testes genéticos mais sofisticados, que poderiam detectar mutações naturais ou outras manipulações genéticas em atletas. Elas incluem as técnicas do uso RNA mensageiro, um tipo de ácido nucleico que sintetiza proteínas e leva a informação para o citoplasma – uma região da célula localizada entre o núcleo e a membrana plasmática. O RNA mensageiro funciona como um manual de instruções que vai ensinar à célula como as sequências de proteínas devem se organizar para exercer uma determinada função orgânica. O termo se tornou conhecido do público durante a epidemia de Covid-19 e o advento das vacinas da Pfizer ou da Moderna, que usam esse modelo para gerar a resposta imunitária em seus imunizantes. Mas, neste contexto, como o doping genético é possível? O engenheiro e biologista francês Bruno Pitard, diretor do CNRS (Centro Nacional de Pesquisas Científicas da França), estuda vetores sintéticos para terapias gênicas e as técnicas de RNA mensageiro há mais de 30 anos. Segundo ele, os avanços dessa tecnologia durante a epidemia, que acelerou pesquisas em todo o mundo, tornaram possível a produção natural do EPO, ou eritropoetina. O EPO é um hormônio formado na medula óssea e produzido principalmente nos rins, em resposta à detecção de baixos níveis de oxigênio no sangue. Como ele oxigena os tecidos, poderia, desta forma, também melhorar o desempenho dos atletas. A molécula isolada de EPO sintética é comercializada há anos e usada principalmente para tratar pacientes com insuficiência renal e anemia, aumentando a taxa de glóbulos vermelhos no sangue. Segundo o especialista francês, a diferença é que, agora, há maneiras de ensinar ao próprio corpo como produzir naturalmente essa substância, graças às novas técnicas de RNA mensageiro, sem necessidade de tomar um medicamento. Mas, esse uso ainda é teórico, já que nunca foram feitos testes clínicos validados em humanos, lembra o cientista francês. Ainda não se sabe também quais seriam os efeitos colaterais no organismo de um atleta que tivesse acesso às ferramentas em laboratório para produzir o EPO utilizando a terapia gênica ou outras técnicas. Experiência em laboratório Há 15 anos, Bruno Pitard conseguiu fazer com que camundongos passassem a produzir naturalmente o hormônio em seu laboratório na Universidade de Nantes, injetando diretamente o gene do EPO no músculo dos animais. Na época, ele recebeu e-mails do mundo todo interessados na pesquisa, inclusive de uma equipe de ciclistas, “interessados”, na experiência. “Pegamos a sequência de aminoácidos do EPO, fabricamos o RNA correspondente e administramos em animais, injetando-o no tecido muscular”, explica. “Ele começou então a produzir o hormônio, que foi secretado pela fibra e entrou em seguida na corrente sanguínea, chegando à medula óssea e atuando no aumento da produção de glóbulos vermelhos", acrescenta. Acesso difícil Concretamente, como as experiências são restritas aos laboratórios, seria difícil para os atletas ter acesso a essa tecnologia. Uma possibilidade, diz o cientista francês, seria tentar utilizar a mesma plataforma de RNA mensageiro produzida para fabricar as vacinas da Covid-19 para produzir EPO. Mas, neste caso, os atletas colocariam a própria saúde em risco. Um deles seria o desenvolvimento de uma anemia autoimune, por exemplo, já que as vacinas à base de RNA mensageiro foram produzidas para gerar uma reação do sistema...

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Leucemia pode ser silenciosa; saiba quando suspeitar da doença

3/12/2024
Neste ano, cerca de 11 mil novos casos de leucemia serão registrados no Brasil. Pesquisas mostram que o número de doentes cresceu entre 2007 e 2016. Um dos motivos, apontam os especialistas, é a dificuldade em realizar diagnósticos precoces. Taíssa Stivanin, da RFI O cardiologista Eurico Correia, de 67 anos, levou um susto quando descobriu que tinha uma forma de leucemia crônica, em 2011. Sem sintomas, ele só procurou um médico porque percebeu que havia uma pequena alteração em seu hemograma. Ele repetiu o exame, mas só houve consenso sobre o diagnóstico meses depois. “Fiz exames hematológicos, cardiovasculares e um PET-CT, que é uma tomografia do corpo todo para determinar o grau de disseminação de uma doença ou infecção. Demorei entre um mês e meio e dois para concluir todos esses exames e é óbvio que fiquei emocionalmente desgastado. Mas continuei trabalhando normalmente. Afinal, não sentia nada”, contou o médico à RFI. Após todos os exames, o cardiologista descobriu que tinha leucemia linfocítica crônica. Ele conta que foi difícil aceitar o diagnóstico, mas isso nunca o impediu de levar uma vida normal. Após vários anos de convivência "pacífica" com a doença, Eurico Correia teve sintomas como anemia e aumento do baço, controlados com quimioterapia e tratamento oral. Doença silenciosa Como aparece a leucemia? Tudo começa dentro da medula óssea, o tecido que fica dentro do osso. Ali nascem as células do sangue, originárias das células-tronco, que vão se dividindo e se especializando em glóbulos vermelhos, brancos e plaquetas. Quando a leucemia se manifesta, é porque as células imaturas, que ainda não se especializaram, já substituíram as "normais" dentro da medula, do sangue e do sistema linfático. Existem vários tipos de leucemia e a incidência da doença difere de acordo com o tipo e subtipo, explicou o hematologista brasileiro Jayr Schmidt Filho, que atua no hospital A.C. Camargo, em São Paulo. “As leucemias agudas se originam de células imaturas dentro da medula óssea e são doenças mais agressivas. Há, também, as leucemias crônicas, que se originam de elementos de células já amadurecidas da medula óssea no nosso sangue e evoluem de maneira mais lenta”, diz. A classificação também engloba as leucemias mieloides, que se originam de células que produzem globulos brancos, vermelhos e plaquetas, detalha o especialista. Já as leucemias linfoides se originam nos linfócitos – um tipo de glóbulo branco. As combinações ainda incluem outros subtipos e formas da doença menos frequentes, lembra. A leucemia pode atingir crianças, adultos e idosos e cada tipo da doença é mais propício em uma determinada faixa etária. A leucemia mieloide aguda é a que está mais associada à predisposição genética. Tratamento O tratamento depende da forma de leucemia, mas envolve quimioterapia e, às vezes, necessidade de transplante de medula óssea. “A indicação do transplante vai depender da característica e da gravidade da doença, considerando que já se sabe que ela não se resolverá com a quimioterapia e o transplante pode ser necessário. Ele é feito idealmente após a quimioterapia, obtendo a remissão da doença”, explica. O hematologista também lembra que novos remédios revolucionaram o tratamento, como os inibidores de tirosinoquinase. A terapia gênica também é utilizada para tratar algumas formas da doença, como a leucemia linfoblástica aguda. “Temos que prestar atenção aos sintomas de fraqueza e cansaço, e identificar a anemia. Uma anemia não vira uma leucemia, mas é um indicativo de doenças hematológicas, ou de doenças com fatores de risco para leucemia”, conclui.

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Cirurgiã vascular explica por que quem tem varizes deve continuar a fazer exercícios

3/5/2024
Ter varizes não é um impedimento para fazer exercícios, explica a cirurgiã vascular Nathassia Domingues, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular. Pelo contrário: a atividade física é uma aliada dos pacientes e deve ser praticada com regularidade, explicou em entrevista à RFI. Taíssa Stivanin, da RFI “Existe um mito de que a atividade física pode piorar as varizes e dilatar as veias, mas é o contrário. Quanto mais a gente faz atividade física, mas trabalha a bomba muscular da perna e melhora nossa circulação”, diz Nathassia. As varizes são veias dilatadas que podem prejudicar a circulação e, sem tratamento, causar problemas sérios para a saúde. “O sangue dentro da veia circula do pé para o coração, ou seja, de baixo para cima e contra a força da gravidade. Ela então tem que fazer esse esforço, principalmente quando trabalhamos sentados ou em pé, para o sangue voltar para o pulmão e continuar circulando pelo coração”, detalha. É por essa razão que medidas simples, como colocar as pernas para cima alivia alguns sintomas relacionados à doença. Entre eles está aquela sensação de inchaço e peso que algumas pessoas sentem depois de passar o dia todo sentadas, por exemplo. “A gente até brinca dizendo que o nosso segundo coração do corpo é a panturrilha. Então quanto mais essa musculatura for trabalhada, melhor será para a circulação”. A musculação é indicada em todos os casos, justamente para reforçar os músculos das pernas, diz. “Para quem tem varizes já instaladas em um estado avançado, atividades de impacto podem piorar a situação. Por isso é importante consultar um médico para avaliar qual será o tipo de exercício mais adequado. Mas, de uma foram geral, todas as atividades estão liberadas e não só podem como devem ser feitas por todo mundo, especialmente pessoas com varizes”, lembra. Graus de gravidade Existem seis níveis de gravidade das varizes, que começam com pequenos vasos visíveis na perna e depois podem se transformar em feridas que cicatrizam dificilmente. “Começam com vasinhos e depois as veias vão ficando mais saltadas e visíveis. No terceiro grau, a perna vai inchando. No quarto grau, já há complicações como a dermatite ocre. A pressão na veia e no pé é muito alta e há a dificuldade para o sangue retornar para o coração”, explica a cirurgiã. “São manchas amarronzadas de cicatrização difícil e um indício de comprometimento importante na cicatrização da perna. No quinto grau, o paciente teve a ferida e cicatrizou, e o sexto grau é uma ferida aberta, um estágio que obviamente a gente não quer que chegue”, completa. Existe uma predisposição genética que, associada a fatores ambientais, pode desencadear a doença. Entre eles estão o tabagismo, sedentarismo ou sobrepeso. As mulheres também têm mais propensão por conta das oscilações hormonais que ocorrem na gravidez, explica a médica. Além disso, o uso da pílula também favorecer o aparecimento das varizes e até de trombose. O tratamento é feito com anticoagulantes que vão deixar o sangue mais fluido e visa evitar situações graves, como a embolia pulmonar. “As varizes aumentam o risco de trombose, e a medicação, como dizemos de maneira popular, “afina” o sangue. Com o tempo o organismo vai dissolvendo aquele coágulo. A medicação é para a trombose não agravar e para evitar a embolia pulmonar, que é quando esse coágulo que está dentro da veia desprende, corre na circulação e vai para o pulmão. Dependendo do caso, pode ser fatal, e é a complicação que a gente mais teme da trombose”, conclui.

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Crianças superdotadas também podem ter dificuldades de aprendizado, dizem especialistas

2/20/2024
Quantos mitos você já ouviu sobre as crianças superdotadas? A imagem do bom aluno, que tira 10 em tudo, ou que tem um talento extraordinário em algumas áreas, é apenas um dos muitos clichês que cercam as chamadas pessoas com altas habilidades ou inteligência considerada superior – ou seja, acima de cerca de 98% da população mundial. Na vida real, a situação é bem diferente. Os superdotados que passaram por testes elaborados e validados cientificamente, de fato se destacam pelas suas capacidades cognitivas excepcionais. Uma delas é a memória de trabalho, que permite o armazenamento temporário de informações a curto prazo. Mas essa diferença também pode, em alguns casos, ser acompanhada de outras patologias, como o Distúrbio do Déficit de Atenção, por exemplo, com ou sem hiperatividade, além de outros problemas. Essa combinação "explosiva" pode gerar diversas dificuldades, inclusive na escola. Este é o caso do francês Gelis, 12 anos, que apesar das suas capacidades intelectuais brilhantes, também sofre de dislexia e de um distúrbio neurovisual - um desequilíbrio na capacidade de adaptação à luz pelo cérebro que pode provocar distorções na hora de ler um texto, por exemplo. Ele conta que, aos seis anos, consultou uma psicóloga porque “não conseguia ficar parado na carteira." Diante das queixas dos professores, que reclamavam da falta de concentração de Gelis e do fato que ele “nunca terminava o que começava”, os pais chegaram à conclusão de que era necessária uma avaliação médica. Ele então fez um teste de inteligência e a família do garoto descobriu que Gelis, na verdade, tinha altas habilidades, termo que na França é traduzido literalmente como “alto potencial intelectual”. “É uma inteligência diferente da dos outros e não pensamos da mesma maneira que todo mundo. Não sabia o que isso queria dizer e achava simplesmente que eu é que não era normal”, diz o adolescente. Ele tem consciência da sua facilidade de aprendizado, mas isso nunca foi exatamente uma vantagem na escola, onde os dias pareciam longos demais. “A gente aprende devagar e repete sempre a mesma coisa”, reclama. Na quinta série do Ensino Fundamental, Gelis começou a ter sintomas depressivos e começou a se recusar a ir para a escola. Até mesmo a Matemática, que até então era sua matéria preferida, não despertava mais seu interesse. A fobia escolar levou o menino a abandonar os estudos e ele e sua família agora estão em busca de outras soluções. Cérebro diferente A neurobiologista francesa Béatrice Millêtre é autora do livro “A criança precoce no dia a dia: conselhos para simplificar a vida na escola e no cotidiano”, em tradução livre. Ela lembra que, em geral, a superdotação não está necessariamente associada a outras patologias. Pelo contrário: a maioria dos estudos científicos mostra que os distúrbios mentais são mais comuns na população que tem uma capacidade cognitiva normal. “As pessoas com altas capacidades cognitivas integram aquilo que hoje qualificamos de neurodiversidade. Ou seja, eles utilizam um raciocínio diferente para chegar ao mesmo resultado, utilizando um outro caminho”, explica. Segundo a especialista, uma característica comum a praticamente todos os superdotados é a memória privilegiada. “Sabemos que, em média, uma criança precisa de oito a dez repetições para memorizar um conceito – esse é um exemplo que utilizo com frequência porque ele ilustra bem a situação. Já uma criança superdotada, quando ela ouve, e se a questão interessa, uma ou duas repetições são suficientes”, exemplifica. Essa comparação demonstra como pode ser difícil para uma criança com capacidades cognitivas brilhantes se adequar ao ritmo da escola. Mas, para a neurobiologista, o segredo para facilitar a adaptação está em “usar” a empatia acima da média, que é comum a esse perfil. Explicar, por exemplo, que, para que todos os alunos possam entender o que foi dito, são necessárias muitas repetições sobre um mesmo conteúdo. Esse é um argumento que pode bastar para que...

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Robôs inteligentes chegam ao mercado para ajudar idosos em casa e pacientes nos hospitais

2/13/2024
A era dos chamados robôs de serviço está apenas no início, mas em plena expansão: com o desenvolvimento acelerado da Inteligência Artificial, a estimativa é de que esse mercado atinja cerca de US$ 40 bilhões até 2028. A demanda cresce em vários setores, incluindo o da saúde. Na França e outros países, falta mão de obra nos hospitais e estabelecimentos que atendem idosos. Taíssa Stivanin, da RFI Jason Poiblaud é diretor técnico da AI Robotics, uma empresa francesa situada em Marselha, no sul do país, onde trabalham cerca de 30 pessoas, a maior parte engenheiros especializados em diferentes áreas da Inteligência Artificial. Há cerca de três anos, ela fabrica dois robôs inteligentes: Robby e Stellar. Eles foram criados para assessorar os profissionais da saúde em hospitais e casas de repouso para idosos e também ajudar aqueles que buscam viver por mais tempo sozinhos em casa, com mais autonomia. Robby deve estar disponível no mercado até o final do ano e atualmente está sendo testado em uma clínica particular de Toulouse, no sul da França, onde os profissionais estão sendo treinados para utilizá-lo. “Constatamos a falta de mão de obra no meio hospitalar e decidimos desenvolver um robô chamado Robby, concebido não para substituir as enfermeiras ou outros profissionais, mas para assessorá-los”, explicou Jason Poiblaud à RFI Brasil. O robô é dotado de um sistema de Inteligência Artificial e de navegação autônoma, com o mapa do hospital. Isso faz com que ele seja capaz de se movimentar dentro de um estabelecimento e cumprir sozinho as missões para as quais ele foi programado. Entre elas, a entrega automatica de refeições e de medicamentos, graças a dois compartimentos refrigerados. O robô garante que os remédios sejam administrados no horário correto e monitora as interações medicamentosas, evitando erros médicos. Robby também tem uma interface que permite se conectar ao serviço de gestão do hospital e alerta, por exemplo, se está faltando algum material no quarto. “Também criamos para esse robô um sistema que o torna capaz de se conectar a uma maca, ou uma cama, e transportar os pacientes de um setor para o outro", descreve o executivo francês. "Com esse sistema, ele também pode se conectar diretamente ao elevador. Por exemplo, podemos enviar um pedido diretamente para ele transportar um paciente do quarto 203 para o serviço de radiologia. O robô será capaz de ir até o quarto, se conectar à cama, e transportá-lo”, diz. Robô doméstico Robby tem um “irmão”, chamado Stellar, direcionado para outro público. Trata-se de um robô doméstico que tem funções parecidas, mas está sendo adaptado para ajudar pessoas idosas a viverem mais tempo e com autonomia em casa, evitando ao máximo a internação em clínicas para idosos. Stellar se parece com um humanóide e ajudará, por exemplo, os pacientes a seguirem à risca a receita médica - o que se torna um problema com o declínio das funções cognitivas. Ele também ajudará o idoso a manter o contato com a família. Stellar poderá chegar às prateleiras no início de 2025. Para isso, ele ainda depende de ajustes que envolvem normas de segurança. “E um robô doméstico que poderá medir parâmetros médicos como pressão arterial, batimentos cardíacos, e ajudar uma pessoa se ela caiu, por exemplo. Ele será capaz de ligar para os bombeiros ou para a polícia e se conectar aos sistemas das futuras casas inteligentes, gerenciando as persianas e a entrada de luz no ambiente.” O executivo francês esteve em janeiro deste ano no CES, o maior evento de tecnologia do mundo, e pôde constatar o crescimento do mercado de robôs criados com as novas ferramentas de Inteligência Artificial. Mas, segundo ele, poucos são direcionados para o setor da saúde. “Existem robôs cirurgiões, ou que limpam os hospitais, mas não há um progresso real no desenvolvimento de robôs assistentes”, observa. A empresa francesa busca agora expandir seus negócios nos EUA e na América Central. “Nosso objetivo no CES era posicionar a França...

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