Saúde em dia
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Entrevistas e reportagens com especialistas sobre as novas pesquisas e descobertas na área da saúde, controle de epidemias e políticas sanitárias.
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Entrevistas e reportagens com especialistas sobre as novas pesquisas e descobertas na área da saúde, controle de epidemias e políticas sanitárias.
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Episodes
Quando suspeitar de insuficiência cardíaca e consultar um cardiologista
11/12/2024
A insuficiência cardíaca crônica atinge cerca de 64 milhões de pessoas no mundo, segundo estimativas da OMS (Organização Mundial da Saúde). A doença é uma das maiores causas de internação no Brasil, de acordo com dados do Ministério da Saúde. A incidência é maior entre adultos com mais de 45 anos, mas o problema também afeta pacientes mais jovens.
Taíssa Stivanin, da RFI em Paris
A insuficiência cardíaca faz com que o coração não seja mais capaz de bombear sangue suficiente para suprir as necessidades orgânicas e provoca diversos sintomas, explica a cardiologista brasileira Lídia Moura, da Sociedade Brasileira de Cardiologia. O primeiro deles é a falta de ar, que chega ao ponto de o paciente, por exemplo, não conseguir mais ficar deitado.
“Normalmente o paciente começa a sentir falta de ar durante o esforço. Em geral, essa dificuldade para respirar é progressiva e se agrava em esforços menores. Nessa fase, o paciente terá dificuldade para se deitar. Ele se sente bem sentado e, quando se deita, a falta de ar piora”, explica a especialista brasileira, que lamenta a falta de informação em torno da patologia.
A gaúcha Katia Arruda, 63 anos, descobriu que tinha o problema cardíaco em 2020, durante a epidemia de Covid-19. A brasileira, que se diz “conectada nos 200 volts”, passou a sentir um cansaço fora do normal, que mudou completamente sua rotina. Katia, que também tem lúpus, uma doença autoimune, sentiu falta de ar, cansaço e suores, que a levaram a consultar um clínico-geral.
Depois de realizar um eletrocardiograma, ela buscou a opinião de dois cardiologistas. O primeiro especialista minimizou o problema e atrasou o diagnóstico. “Ele olhou para meu eletrocardiograma e disse: você está gorda, vai procurar uma nutricionista”, conta a brasileira. “Mas eu já estava com insuficiência cardíaca e cardiomiopatia grau 3”, o que equivale a um estágio bem avançado da doença, comenta Katia.
O diagnóstico foi confirmado após a consulta com o segundo profissional, que pediu um ecocardiograma - exame que utiliza ondas sonoras para obter imagens do coração. “Não sei se estaria aqui hoje se não fosse ele. O médico falou que eu poderia ter morte súbita a qualquer momento”, comenta a brasileira, que chama o cardiologista de "anjo".
Apesar das dificuldades, Katia foi medicada, aos poucos foi melhorando e hoje convive com a doença. A brasileira também administra um grupo no Facebook de 8 mil pessoas que têm insuficiência cardíaca e podem trocar experiências. Mas a brasileira ainda se lembra de como seu cotidiano mudou de maneira repentina quando os sintomas apareceram. “Fiquei dois anos sem varrer uma casa, sem limpar um banheiro, sem nada. Foi muito difícil”.
Esse cansaço extremo que Katia sentiu quando a doença se manifestou decorre do aumento de líquido no pulmão e é característico da insuficiência cardíaca. “Em pé, esse líquido fica mais acumulado na base do pulmão. Ao se deitar, ele se espalha automaticamente, gerando desconforto no paciente, que precisa mudar de posição. Ele tenta ficar mais ereto”, explica a cardiologista.
A evolução da doença provoca o aparecimento de inchaço nas pernas, que é bilateral e ocorre com mais frequência no final do dia, explica. Com o passar do tempo, de maneira progressiva, o paciente já acorda com braços ou pernas inchados.
O que causa a doença?
Há diversos fatores que podem desencadear a insuficiência cardíaca. De acordo com a especialista brasileira, a condição equivale à fase terminal das doenças do coração e no passado a taxa de sobrevida era baixa. Mas, como os tratamentos evoluíram muito ao longo dos anos, os pacientes vivem mais tempo e com mais qualidade de vida.
“Temos várias etiologias que causam a insuficiência cardíaca, como a Doença Valvar (NR: o grupo de deficiências ou anomalias nas valvas do coração – aórtica, mitral, pulmonar e tricúspide) ou a hipertensão. Outra causa comum no Brasil e outros países desenvolvidos é a doença coronariana. Os doentes hoje têm vários infartos e cada...
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Como é a estratégia de vacinação contra a gripe e a Covid-19 na França?
11/5/2024
A campanha de vacinação contra a gripe e a Covid-19 começou no dia 15 de outubro na França. O país propõe a imunização em dose dupla para facilitar a vida dos pacientes, que podem tomar as duas injeções ao mesmo tempo.
Taíssa Stivanin, da RFI em Paris
Além de não trazer riscos para a saúde, a dupla vacinação incita à realização das doses de reforço, que muitas vezes são deixadas de lado simplesmente por falta de tempo, mostram dados da Seguridade Social francesa.
Mas, apesar do incentivo das autoridades de saúde do país, que propõem as duas vacinas gratuitamente para boa parte da população, a taxa de cobertura ainda é baixa.
Na campanha que começou em outubro, a França utiliza a nova vacina da Pfizer adaptada à variante JN.1, que atualmente é dominante no país e no resto do mundo.
Segundo dados do Ministério da Saúde francês, apenas 47% da população de mais de 65 anos com fatores de risco se imunizou contra a gripe durante a campanha de 2023-2024.
Em relação à Covid-19, a situação é ainda mais preocupante. Somente 30% dos maiores de 65 fizeram a dose de reforço no ano passado, de acordo com a Santé Publique France, a agência de saúde pública francesa.
Os pacientes com comorbidades são um dos principais alvos da campanha de vacinação, explica o pneumologista Laurent Ngueyn, da Associação Santé Respiratoire France, que implementa ações no país para melhorar a qualidade de vida das pessoas que sofrem de doenças respiratórias.
“É preciso proteger as pessoas mais vulneráveis, as mais frágeis, para evitar que elas desenvolvam uma forma grave das duas doenças e o risco de complicações e de hospitalização”, lembra.
Segundo o especialista, as pessoas que convivem com esses pacientes também devem se vacinar. A chamada proteção indireta, diz, infelizmente é levada pouco a sério no país.
“A taxa de cobertura vacinal ainda é muito baixa na França, mas não pode ser considerada insignificante, porque muitas pessoas se vacinam. O problema é a dose de reforço”, destaca. "Globalmente a taxa de vacinação é correta, mas sempre podemos melhorar", avalia.
Baixa adesão
O desafio das autoridades francesas é ainda maior quando se trata da Covid-19. O pneumologista reconhece que existe um “cansaço” geral após a epidemia. “Acho que as pessoas simplesmente não querem mais ouvir falar dessa doença que, na minha opinião, traumatizou todo mundo”.
Embora aos poucos esse trauma coletivo esteja sendo deixado para trás, os riscos existem e o vírus da Covid-19 pode provocar, além das formas graves, diferentes sequelas, mesmo em pacientes sem comorbidades ou fatores de risco. As vacinas protegem, ressalta Laurent Ngueyn, e o reforço deve ser um reflexo natural quando chega o inverno.
“No verão, ao ar livre, o risco de contaminação como sabemos é mais baixo. Mas quando chega outono e o inverno e as temperaturas caem, ficamos mais dentro de casa e o risco de contaminação é maior. Infelizmente temos dados que mostram que a Covid-19 está voltando aos poucos”, alerta.
Há consenso de que a vacina contra a gripe deve ser feita anualmente, mas no caso da Covid-19, a regularidade das doses de reforço pode variar de uma pessoa para outra, explica o especialista francês.
“O paciente deve procurar seu médico e se informar. Ele conhece seu modo de vida, seu histórico, suas doenças, e suas reações às injeções anteriores. Nos pacientes com fatores de risco, na França, é aconselhável fazer o reforço a cada seis meses após a última dose da vacina ou infecção. Entre os imunossuprimidos e idosos com mais de 80 anos, nós aconselhamos uma dose a cada três meses”.
Os fatores de risco englobam pacientes com doenças crônicas respiratórias, cardiovasculares, hepáticas, renais e metabólicas, como o diabetes ou a obesidade. Pacientes que recebem certos tratamentos contra o câncer, por exemplo, também podem desenvolver uma forma grave da Covid-19.
Traumatismo
O pneumologista francês, que atende na cidade Bordeaux, no sul do país, lembra que a epidemia, que começou em...
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Neurocientista francês alerta sobre fake news que envolvem Ciências Cognitivas
10/29/2024
Nossas emoções, comportamento e a maneira como aprendemos são o resultado de uma série de mecanismos cerebrais. Compreendê-los é o papel da Neurociência, uma área que desperta o interesse de um número cada vez maior de pesquisadores, mas também do público em geral.
Essa busca pela compreensão do funcionamento cognitivo e emocional não é exatamente nova, explica o psicólogo e doutor em Neurociências, Albert Moukheiber, autor do livro Neuromania, le vrai du faux sur notre cerveau (Neuromania, como discernir o que é verdade?”, em tradução livre) publicado na França.
Ele destaca que o problema é que o fluxo contínuo de informações sobre os mecanismos cerebrais, muitas vezes mal interpretado, pode ser nocivo e ter um impacto real.
A promessa de melhorar a capacidade mental tornou-se o ganha-pão de muitos coachs de desenvolvimento pessoal, por exemplo, aponta o especialista francês. Essa é uma das áreas que tirou proveito da vulgarização científica em torno do tema para se transformar em um grande negócio.
“Há duas razões principais para essa popularidade. Uma delas é o desenvolvimento pessoal, que ganha espaço no mais alto nível, e que gera muito lucro e dinheiro. Há promessas de como ser um líder melhor, ganhar mais, ser mais criativo, ter uma memória mais eficaz, ser mais inteligente ou aumentar o QI, por exemplo", diz.
"Outra razão é ideológica: explicar alguns fenômenos sociais como a crença nas fake news, ou o imobilismo diante do clima. Nesse caso, haverá uma tentativa de analisar essas situações utilizando um “verniz científico”, e, para isso as Ciências Cognitivas. Raramente é pertinente”, ressalta.
Conhecimento é limitado
O especialista lembra que o conhecimento sobre os mecanismos cerebrais é limitado e que utilizar as Ciências Cognitivas para explicar como agimos, pensamos e nos sentimos pode ser um erro. “Como não sabemos direito como o cérebro funciona, podemos projetar todo tipo de fantasia ou explicação na Neurociência. Como nessas reportagens que mostram seu cérebro quando está apaixonado, seu cérebro se você é de esquerda, de direita, enfim... qualquer coisa”.
Segundo ele, o excesso de simplificação em torno dos mecanismos cognitivos, e o uso indevido de informações sobre o funcionamento cerebral, infelizmente acabam influenciando decisões que podem ter efeitos diretos na vida das pessoas. O neurocientista francês concorda que o conhecimento do cérebro representou um grande avanço, mas lembra que ele é “diferente dos outros órgãos”.
“(O cérebro) é um órgão que chamamos de dependente do contexto. Se nós estivéssemos tendo essa conversa fora do estúdio, não estaríamos conversando da mesma maneira. As palavras que utilizaríamos seria diferente, a eloquência também assim como o tom da nossa voz”, detalha Albert Moukheiber.
Para o neurocientista, essa contextualização é essencial. “É como se eu estudasse o cérebro dentro de uma máquina de ressonância magnética dentro de um hospital para entender o amor. Não sei como resolveremos esse problema, não temos como criar uma ciência da subjetividade”.
Os chamados testes de personalidade, muito usados no meio corporativo, são outro exemplo, lembra o especialista francês. “Os resultados desses testes são escritos para que todas as pessoas se identifiquem com eles de alguma maneira. O problema é que você talvez não consiga o emprego porque o teste vai mostrar que você não tem o perfil. Perder uma vaga por conta de um teste que não é, em hipótese alguma, confiável, é absurdo. Eles não têm nada a ver com testes que usamos na nossa prática clínica, por outras razões, como a realização de diagnósticos diferenciais”, critica o especialista.
É nesses momentos, diz o neurologista, que as consequências negativas da desinformação em torno das ciências cognitivas são palpáveis. “Você será deixado de lado, não porque fez algo errado, mas porque não tem a personalidade adequada”, e isso, reitera, por conta de um teste que não tem nenhum valor científico.
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Por que a UE não aprovou o uso dos novos medicamentos contra o Mal de Alzheimer?
10/22/2024
A doença que afeta principalmente pessoas com mais de 65 anos seria responsável por até 70% dos casos de demência. Duas novas moléculas trazem esperança para os pacientes e suas famílias, mas a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) questiona o custo-benefício dos remédios, que geram muitos efeitos colaterais.
Taíssa Stivanin, da RFI em Paris
O donanemab é uma imunoterapia que visa reduzir a quantidade de depósitos de proteínas beta-amilóides no cérebro. O lecanemab tem essa mesma função e ambos prometem diminuir os sintomas da doença, apesar de não impedirem sua progressão. Associações de pacientes e profissionais franceses entraram com um recurso junto à Agência Europeia de Medicamentos para pedir uma nova avaliação dos produtos e aguardam as conclusões.
As duas moléculas são fruto de um grande avanço na compreensão da doença, explica o neurologista francês Bruno Dubois, professor da universidade Sorbonne e ex-chefe do setor no hospital Pitié Salpetrière, em Paris.
Há cerca de dois anos, estudos científicos comprovaram que os sintomas são uma consequência das lesões cerebrais, o que até então era apenas uma hipótese. A validação possibilitou o surgimento do donanemab e do lecanemab, explicou o cientista.
Aprovados para uso nos EUA pela FDA, a Agência Americana de medicamentos, mas também em vários outros países, os medicamentos ainda geram reticências na Europa, lamenta o neurologista francês.
“Os especialistas da Agência Europeia de Medicamentos, que não são especializados no Mal de Alzheimer para evitar conflito de interesses, constataram que o benefício gerado pelos remédios é modesto e os efeitos colaterais não podem ser ignorados. Nessas condições e levando em conta o custo, eles não serão autorizados”, explicou.
Na França, onde os medicamentos são gratuitos, na falta do aval da agência o donanemab e o lecanemab não poderão ser reembolsados pela Seguridade Social. Para o neurologista francês, essa decisão cabe ao paciente, após ele estar ciente das eventuais reações adversas.
“Sim, há efeitos colaterais. Mas esse é um dos interesses na utilização desse remédio. Pouco a pouco, vamos conhecer melhor as indicações e prevenir as eventuais reações, observando por exemplo por que alguns pacientes desenvolveram mais reações em relações a outros”, defende Bruno Dubois. “Já constatamos algumas contra-indicações e é assim que vamos avançar. Mas excluir os países europeus e a França dessa reflexão é uma pena, para os pacientes e para nós, profissionais".
Diagnóstico precoce
A Ciência ainda não sabe como interromper a progressão da doença de Alzheimer. Ela se manifesta raramente antes dos 60 anos, mas é comum depois dos 80 e atinge mais mulheres.
A perda da memória progressiva provocada pela patologia torna o doente incapaz de gerenciar gestos básicos da vida cotidiana. Na fase mais avançada, a doença causa perda de autonomia e de identidade, desestabilizando o paciente e a sua família.
O diagnóstico precoce é essencial para controlar sua evolução e melhorar a qualidade de vida. Os novos medicamentos intervêm justamente no momento em aparecem os primeiros sintomas de perda de memória. “Eles demonstraram sua maior eficácia no início dos sintomas e da demência”, explica o especialista.
Segundo ele, os remédios “limpam” os depósitos dos peptídeos beta-amilóides no cérebro e, desta forma, desaceleram a evolução da doença. “O resultado é mínimo, não devemos nos iludir. Mas mesmo assim ele é considerável, porque valida todos os modelos que sustentam nossas reflexões há cerca de 20 anos”.
Na França, o Mal de Alzheimer atinge cerca de 1 milhão de pessoas. Em todo o mundo, cerca de 50 milhões de pessoas convivem com a doença, de acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde). Para Bruno Dubois, esse aumento se explica pelo envelhecimento da população, da esperança de vida e do progresso da Medicina. Mas, em contrapartida, crescem também os casos de doenças cerebrais degenerativas e de cânceres.
Quando consultar?
Entre 60 e...
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Radioterapia para tratar câncer de mama que já atingiu gânglios será mais curta, explica oncologista que dirigiu estudo
10/15/2024
A radioterapia para tratar tumores do seio que já atingiram os gânglios linfáticos agora terá três semanas em vez de cinco, segundo um estudo dirigido pela oncologista e radioterapeuta Sofia Rivera, do instituto francês Gustave Roussy. Os resultados foram divulgados em setembro, durante o congresso da ESMO, a Sociedade Europeia de Oncologia, que todos os anos apresenta os últimos avanços na luta contra a doença.
Taíssa Stivanin, da RFI em Paris
A pesquisa mostrou que a eficácia da radioterapia de 15 sessões em três semanas, com doses um pouco mais fortes de radiações, é similar a 25 sessões de cinco semanas.
A descoberta foi anunciada após a fase 3 do estudo, chamado de HypoG-01. Os resultados apresentados modificarão o protocolo de tratamento radioterápico aplicado em pacientes do mundo todo, segundo a oncologista francesa.
Os testes clínicos aconteceram em 29 estabelecimentos franceses, entre setembro de 2016 e março de 2020. A idade média das 1 265 pacientes era 58 anos e todas haviam sido operadas de um câncer do seio locorregional, ou seja, que atingiram os gânglios.
O estudo vai facilitar a vida das pacientes, explicou a oncologista e radioterapeuta Sofia Rivera. “O HypoG-01, apresentado em uma sessão da Sociedade Europeia de Oncologia Médica, é o primeiro estudo a demonstrar que quando tratamos um câncer com um volume maior, podemos fazer uma radioterapia mais curta e passar de cinco para três semanas de tratamento”, explicou à RFI.
A radioterapia é a última etapa do tratamento contra o câncer de mama. Duas semanas a menos é um verdadeiro “alívio” para as pacientes, mas também para o já sobrecarregado sistema de saúde francês, que tem cada vez mais dificuldade em atender a demanda.
“Esse tempo mais curto também representa uma redução de custos e menos idas e vindas das pacientes aos hospitais” diz a oncologista. A redução do tempo da radioterapia também libera vagas nas máquinas para atender outras mulheres mais rapidamente e aumenta em alguns casos as chances de sobrevida e de cura.
Na França, cerca de 90% dos cânceres de mama são descobertos no estágio inicial ou já atingiram os gânglios, sem metástases em outros órgãos.
Efeitos colaterais
Para ser validado e garantir a segurança das pacientes, o estudo se concentrou nos eventuais efeitos colaterais que poderiam surgir por conta da maior intensidade das radiações. “Quando irradiamos os gânglios, irradiamos também mais tecidos normais. Temos o coração, e atrás dos gânglios, embaixo da clavícula, o pulmão, além dos vasos e nervos dos braços", descreve Sofia Rivera.
"Um dos temores era que as pacientes tivessem mais efeitos colaterais e linfedemas, ou seja, braços inchados. É um risco que aparece após a cirurgia e a radioterapia dos gânglios. Mas o estudo mostrou que as pacientes não tinham mais reações adversas. Pelo contrário, tinham até menos, porque sentiam menos cansaço. Nossa conclusão é que só há benefícios para elas”, resume.
Além do tratamento em si, não é apenas o caminho de casa até o hospital que cansa as pacientes. Há também a adaptação aos horários das consultas e a expectativa na sala de espera, muitas vezes ao lado de outras mulheres tratadas por cânceres mais graves. “Isso pode ser psicologicamente difícil”, destaca a oncologista.
Vantagem em zonas de guerra
Desde a apresentação do estudo no congresso europeu, vários centros de tratamento adotaram o novo protocolo e a oncologista francesa foi procurada por profissionais de vários países, inclusive da Ucrânia.
"Felizmente as radioterapias continuaram no país apesar da guerra e diminuir os deslocamentos das pacientes é um benefício incontestável", lembra. “Vamos organizar um workshop online para ajudar as equipes e formá-las para adotar esse novo tratamento”.
Ela lembra que o diagnóstico precoce continua sendo um dos maiores aliados das pacientes e, neste caso, as chances de cura podem chegar a 100%, lembra Sofia Rivera. Ela lamenta que na França muitas mulheres simplesmente não façam a...
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França tem alta de inscrições em clubes esportivos após Jogos Olímpicos de Paris
10/8/2024
As competições dos Jogos Olímpicos motivaram crianças, jovens e adultos franceses, que se empolgaram com o desempenho de alguns campeões e decidiram praticar uma atividade esportiva. É o que explica o especialista francês Jean-Marc Sène, médico do Esporte e autor do livro Le Sport: je me lance (Como iniciar uma atividade física em tradução livre).
Em setembro, início do ano letivo na França, muitos clubes de natação, por exemplo, registraram um aumento das inscrições após a proeza do nadador francês Léon Marchand, que levou quatro medalhas de ouro na Olimpíada. “Quando um atleta ganha uma medalha em uma modalidade, há um aumento imediato nas inscrições das federações esportivas”, afirma Jean-Marc Sène.
Mas, apesar dos benefícios incontestáveis da prática esportiva, que reduz o estresse, melhora a qualidade do sono e ajuda no controle do peso, há maneiras de começar ou retomar uma atividade física e mantê-la ao longo do tempo.
O ideal, principalmente para crianças e adolescentes, é testar três ou quatro atividades diferentes. “Escolher uma atividade apropriada ao seu físico e estado de espírito é um aspecto importante. E também se colocar algumas questões: qual é a minha preferência? Um esporte individual ou em grupo? Ao ar livre ou indoor?”
A atividade física, lembra, não faz bem apenas para o corpo, mas também para a alma. “A prática esportiva aumenta a autoconfiança e favorece a sociabilidade”, frisa.
O esporte também gera uma sensação de bem-estar graças a efeitos fisiológicos ativados pela secreção de hormônios como a endorfina, a serotonina e a dopamina, que ativam o chamado sistema de recompensa.
Evitando contusões
Para que esses efeitos sejam duradouros, é importante ter uma prática adequada à própria capacidade. Um esporte como o futebol, por exemplo, pode provocar contusões graves com o avanço da idade.
“Os tendões, a partir de uma certa idade, são menos vascularizados, menos sólidos, e têm uma capacidade menor para se fortalecer, justamente porque são menos vascularizados", explica o especialista.
"Com a idade, a massa muscular também diminui e se apoia nesse tendão. Esse desequilíbrio ocorre geralmente em torno dos 35 ou 40 anos, porque continuamos a arcar com nossa massa muscular. Mas os tendões enfraquecem”.
Esse tipo de contusão é comum entre atletas profissionais. A solução, em todos os casos, é reforçar os tendões em sessões de fisioterapia específicas. Esportes de impacto costumam ser mais agressivos para o corpo e por isso o médico do Esporte francês recomenda atividades como a natação, por exemplo.
É preciso também ter cuidado ao retomar ou iniciar uma prática esportiva. O programa físico deve ser adaptado em função do caso, e poderá incluir mais alongamentos e menos musculação.
Uma das primeiras precauções é consultar um médico para se certificar da ausência de problemas cardiovasculares ou outras doenças crônicas que exigem adaptações, como o Diabetes, por exemplo. A alimentação, claro, também é um ponto essencial.
Na ausência de fatores de risco, o retorno deve ser progressivo. “São necessárias algumas semanas ou meses para retomar a forma”. A ginástica, como sabemos, também é uma aliada importante para manter o peso, mas Jean-Marc Sène lembra mais uma vez que as atividades de impacto são desaconselhadas.
Para quem busca perder barriga ou melhorar a flacidez, por exemplo, o ideal é apostar em exercícios que trabalhem os músculos transversos do abdômen, para tonificá-los.
De uma maneira geral, Jean Marc Sène recomenda uma atividade física moderada e adaptada a cada indivíduo.
“Cerca de 30 minutos, cinco dias por semana, além de evitar o sedentarismo, como ficar sentado mais de uma hora e meia seguida durante o dia. A cada 90 minutos é bom se levantar, mexer um pouco, tomar um copo de água ou se movimentar um pouco. Esse é o meu conselho”.
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Como é o tratamento do Transtorno do Déficit de Atenção na França?
10/1/2024
A prevalência da TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade), também conhecido como DDA, é de 5% em nível mundial e o número de casos vem crescendo, de acordo com dados da Alta Autoridade de Saúde da França (HAS), vinculada ao Ministério da Saúde. O órgão, que emite recomendações sobre práticas médicas, publicou em setembro um guia para melhorar o diagnóstico e o tratamento das crianças e adolescentes que convivem com o Déficit de Atenção.
Taíssa Stivanin, da RFI em Paris
O transtorno neurológico é provocado por diferenças na estrutura e no funcionamento cerebral da região frontal, explicou o psiquiatra francês Olivier Bonnot, que liderou a equipe responsável pela elaboração do documento que, segundo ele, encerra o trabalho realizado pelo órgão em torno da questão.
“A ideia em torno dessas recomendações é que elas sejam uma base, um guia para que os profissionais possam fazer o diagnóstico e as intervenções terapêuticas necessárias nas crianças e adolescentes que têm um TDAH. Isso inclui os clínicos-gerais”, explica.
Na França, os pacientes são obrigatoriamente acompanhados por um clínico-geral. De acordo com o psiquiatra, a ideia é também propor formações reconhecidas para capacitar esses profissionais a detectar o transtorno.
“Um dos objetivos dessas recomendações é colocar à disposição dos profissionais uma espécie de guia prático para realizar o exame psiquiátrico e clínico dos pacientes, e assim detectar os sinais do TDAH, que são a falta de atenção, o excesso de distração, e impulsividade”, explica. Os sintomas também podem incluir a desregulação emocional e a hiperatividade, que não está sempre presente.
O diagnóstico é complexo, já que outras doenças mentais, como a Depressão ou a Ansiedade, podem estar associadas ou apresentar características similares. A insônia, lembra, também provoca sintomas parecidos com o do Déficit de Atenção. Por isso é importante fazer o diagnóstico diferencial e detectar outras comorbidades psiquiátricas.
Em termos biológicos, estudos mostram que o funcionamento dos cérebros das crianças e adultos que têm TDAH é diferente. “ A conectividade de algumas áreas cerebrais, como a frontal, não funciona direito. É mais um problema de conectividade do que de um neurotransmissor, como a dopamina, em particular”, diz.
Ele lembra que os mecanismos das doenças psiquiátricas são alvo de diversas pesquisas e há avanços na compreensão do transtorno. Estudos com imagens mostram diferenças nos cérebros dos indivíduos que convivem com o TDAH, e as neurociências cognitivas trouxeram algumas respostas sobre as origens da doença, que surgem na infância, a partir de anomalias no desenvolvimento cerebral. Não existe, entretanto, um marcador biológico para detectar o Déficit de Atenção.
Defeito na função executiva
Todos nós lidamos com diversas informações ao mesmo tempo no cotidiano e nosso cérebro deve ser capaz de selecionar aquelas que são importantes para atingir as metas estabelecidas. O sistema cerebral encarregado dessa tarefa é a função executiva, que fará a triagem das informações, hierarquizá-las e produzir uma ação dirigida. Esse mecanismo não funciona direito em quem tem Déficit de Atenção.
As recomendações do órgão francês englobam vários aspectos. Entre elas, a detecção precoce em consultas com a criança, os pais, mas também adultos que convivem com elas na escola ou outras atividades.
Em seguida, é preciso adaptar o ambiente escolar e em casa – os professores e pais devem aprender a lidar com as dificuldades em função das características individuais da criança. O tratamento é principalmente baseado no acompanhamento psicoterápico e a medicação, como a ritalina, por exemplo, só é recomendada em casos mais complexos.
O psiquiatra francês Gérard Macqueron, autor do livro “Psicologia da Atenção”, lembra que, nas crianças, o transtorno pode desaparecer na vida adulta, mas persiste em até 60% dos casos. Entre os adultos, cerca de 5% convive a doença sem diagnóstico,...
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Cientistas franceses identificam linfócitos envolvidos no aparecimento de cânceres
9/24/2024
Um grupo de pesquisadores franceses descobriu que a presença de um subtipo do linfócito Th17, uma das células que compõem nosso sistema de defesa, pode contribuir em alguns casos ao desenvolvimento de certos tipos de tumores, como os do intestino, fígado ou pâncreas.
Taíssa Stivanin, da RFI em Paris
O estudo foi realizado durante quatro anos por especialistas do CNRS (Centro Nacional de Pesquisa Científica da França), do Inserm (Instituto de Pesquisas Médicas da França), da universidade Claude-Bernard Lyon 1 e do Centro de Pesquisa Oncológica de Lyon.
Os cientistas franceses identificaram um dos mecanismos do processo inflamatório presente em algumas doenças crônicas que levaria ao surgimento de certos cânceres, disse à RFI Brasil o imunologista francês Julien Marie, que participou da pesquisa, publicada no final de julho na revista científica Nature Immunology.
Para entender como os pesquisadores chegaram a essa conclusão, é necessário compreender o papel dos glóbulos vermelhos ou brancos, os linfócitos, em nosso organismo. “Os glóbulos vermelhos são responsáveis pelo transporte do oxigênio no sangue e os brancos combatem os agentes infecciosos e as células defeituosas”, explicou o cientista francês.
Os glóbulos brancos são divididos em dois grandes grupos, formados pelos linfócitos B, que produzem os anticorpos, e os linfócitos T. A função deles é destruir células defeituosas ou que foram contaminadas por um vírus ou uma bactéria, por exemplo. Para isso, libera moléculas como as citocinas, que vão criar a inflamação e favorecer a cicatrização e a cura.
O problema é que esse processo às vezes pode sofrer alterações e gerar doenças ou agravar infecções – um exemplo é a forma grave da Covid-19. A equipe francesa descobriu que o linfócito Th17, presente na Doença de Crohn, uma patologia crônica intestinal, poderia atuar no aparecimento de células cancerígenas.
Muitos tumores, lembra Julien Marie, surgem a partir de uma inflamação crônica. Quando ela atinge uma parte específica do intestino, como é o caso dos pacientes que têm Crohn, as células vão se modificar e se tornar cancerígenas exatamente na porção inflamada. “No nosso estudo, tentamos entender quais eram as células do sistema imunológico na origem dessa inflamação que vai gerar o câncer. São etapas extremamente precoces do desenvolvimento da doença”.
Esse mecanismo localizado ajudou a equipe a “cercar” a área onde ocorre todas as modificações celulares. Os cientistas então constataram que um subtipo dos linfócitos Th17 estava na origem de alguns tumores. “Hoje temos técnicas que permitem analisar uma célula de cada vez. Percebemos que as células Th17 tinham oito subtipos, e um deles podia desencadear o câncer através da inflamação criada por ela mesma”, explica.
Citocina bloqueia aparecimento do câncer
O estudo analisou os linfócitos invitro, no laboratório, as células das biópsias de pacientes que tinham a Doença de Crohn. Eles têm, em geral, quase seis vezes mais chances de desenvolver um câncer colorretal que um indivíduo normal, explicou o cientista francês, e entender o porquê era um dos objetivos da equipe.
Durante o estudo, os pesquisadores conseguiram provar que o linfócito Th17 estava presente nos pacientes que desenvolveram os tumores. “No nosso artigo científico caracterizamos os linfócitos que geram o câncer, fazemos uma descrição deles e definimos um certo número de marcadores que propomos para defini-los", explicou. "Fomos ainda mais longe, porque toda a questão por trás da nossa pesquisa era saber se podíamos bloquear o aparecimento do câncer”, acrescenta.
Foi justamente essa uma das grandes descobertas da pesquisa. “O desenvolvimento das células cancerígenas pode ser bloqueado pela presença de uma citocina, TGF–β (TGFBETA)”. Se o nível dessa citocina diminui no intestino, por exemplo, favorecerá o aparecimento do câncer, reitera Julien Marie.
A descoberta pode ajudar no desenvolvimento de novas terapias contra o câncer e também na prevenção,...
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Sentir falta de ar é sinal de que você pode ter asma, alerta pneumologista
9/17/2024
A asma é uma doença crônica comum e vem crescendo em todo o mundo, inclusive no Brasil. A estimativa é que entre 10% e 20% da população brasileira conviva com os sintomas da doença, que provoca um estreitamento das vias aéreas.
Taíssa Stivanin, da RFI
Os sintomas da asma em geral são leves ou moderados, mas podem levar à insuficiência respiratória nos casos mais extremos. A brasileira Vivian Toneloto, 39 anos, levou um susto quando era adolescente. Ela sempre teve falta de ar, mas nunca tinha procurado um médico. Aos 16 anos, começou a fumar e os sintomas pioraram.
Foi só então que Vivian descobriu que tinha a doença e iniciou um tratamento. O problema é que ela não seguiu as recomendações médicas à risca e acabou parando de usar o medicamento. “Foi aí que tive meu primeiro desmaio, com 18 anos. Uma falta de ar muito forte. Minha família entrou em desespero”.
A crise aconteceu de madrugada. Vivian não tinha um nebulizador em casa e sua mãe foi até uma farmácia buscar um remédio de alívio imediato para controlar a crise. Quando chegou, viu a filha desmaiada. Ela então teve o reflexo de espirrar o produto na boca de Vivian, que acordou. “Acho que se ela tivesse demorado mais uns 15 minutos não sei se estaria aqui”, conta a brasileira.
A asma costuma aparecer nos primeiros anos de vida, explica o pneumologista Rodrigo Athanazio, professor colaborador da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo). O diagnóstico é confirmado através de testes da função pulmonar. O exame avalia a quantidade de ar que entra e sai dos pulmões, conforme o paciente respira.
De acordo com o pneumologista, o quadro alérgico que desencadeia as crises geralmente dura até a adolescência e desaparece na vida adulta. Mas, uma série de fatores pode acarretar o retorno dos sintomas. “O motivo pode ser uma infecção viral, exposição no trabalho ou o tabagismo, por exemplo”, explicou à RFI.
Ambientes de trabalho com muitos produtos químicos, feno, farinha de trigo, látex presente na pintura dos móveis ou mofo também podem desencadear crises, assim como as mudanças bruscas de temperatura e umidade – o tempo mais seco piora a asma.
“É importante lembrar que os brônquios, além de levar o ar para dentro do pulmão, têm uma função muito importante: condicionar o ar que estamos respirando. Dentro do nosso pulmão, o ambiente é quente e úmido. Quanto mais seco e frio lá fora, mais o brônquio precisa se esforçar para o ar chegar bem condicionado dentro dos pulmões”, frisa o pneumologista.
Apesar de ser uma doença crônica, que se for diagnosticada deverá ser controlada pelo resto da vida, Rodrigo Athanazio lembra que a asma é reversível. “Se tratada adequadamente, a pessoa terá os brônquios e o pulmão de alguém totalmente normal. Isso é importante, porque pode haver remissão, por tratamento ou espontaneamente”.
Foi o caso de Vivian, citada no começo desta reportagem. Apesar do susto e de outros dois desmaios, ela só parou de fumar há cerca de dez anos, quando passou a levar a sério o tratamento e usar o anti-inflamatório, além do remédio de alívio imediato. Hoje, a doença está controlada. “Praticamente não uso a bombinha, faço só o tratamento”, conta aliviada. Ela também incluiu a atividade física em sua rotina e pratica natação.
Predisposição
Existe predisposição para a asma? Sim, mas esse mecanismo genético ainda não foi totalmente explicado pela Ciência. De acordo com Rodrigo Athanazio, a doença é multifatorial e depende também de parâmetros ambientais. A alergia, diz, tem um papel essencial.
“A alergia é um processo inflamatório gerado pelo nosso próprio corpo. Ele cria uma resposta exagerada contra um agente externo, que não necessariamente está causando um problema para o corpo. Temos que lembrar que nosso sistema imunológico é um sistema de proteção”, diz.
“Quando estamos inalando um vírus, ou uma bactéria, é muito importante que o sistema imunológico ataque para nos defender. Só que na infância, ele precisa distinguir o que pertence ou não...
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Virologista francês do Instituto Pasteur esclarece dúvidas sobrenova variante da Mpox
9/10/2024
A OMS (Organização Mundial de Saúde) declarou a Mpox como Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII) em agosto e os países agora se preparam para a chegada da nova variante da doença, o clado 1b. Ele foi identificado em julho na República do Congo e está se propagando rapidamente.
Taíssa Stivanin, da RFI em Paris
Cerca de um milhão de doses da vacina Jynneo, desenvolvida pelo laboratório dinamarquês Bavarian Nordic, devem ser encaminhadas em breve para conter o surto na região. Em todo o continente africano, já foram oficialmente diagnosticados cerca de 5 mil casos, de acordo com as últimas estimativas - 20 mil se os dados consideram as infecções "prováveis".
Até o momento, o Brasil ainda não registrou contaminações com o novo subtipo, mas desde o início do ano, foram registradas mais de 800 infecções da outra variante, a clado-2, que se espalhou em 2022.
Por que a nova linhagem é considerada mais preocupante pela OMS e qual a diferença entre os dois subtipos? A RFI Brasil conversou sobre o novo surto de Mpox com o virologista Olivier Schwartz, diretor do Departamento de Vírus e Imunologia do Instituto Pasteur, em Paris.
Segundo ele, poucos casos de infecções do subtipo clado 1b, que já chegou à Europa, foram descritos pela comunidade científica. Na Suécia, uma pessoa que voltava da República do Congo foi testada positiva em agosto. Desde então, os pesquisadores do país analisam o caso para dividir as informações em nível europeu, explica o virologista francês.
“O paciente foi atendido e as amostras analisadas e sequenciadas. Os pesquisadores suecos agora estão tentando 'ampliar' o vírus para poder estudá-lo, analisar suas características e dividir os dados com outros laboratórios, entre eles o Instituto Pasteur", detalhou o especialista.
Na França, as autoridades reforçaram os diagnósticos e preparam a campanha de vacinação. O Instituto Pasteur é um dos cerca de 200 centros preparados para aplicar as doses, e poderá também realizar o teste PCR que confirma a infecção.
Segundo o cientista, apesar do sistema de saúde francês estar em alerta e preparado desde o primeiro surto de Mpox em 2022, a expectativa é que não haja uma explosão do número de casos, devido à imunidade adquirida pela população.
Antes de 1980 a vacinação contra a varíola, um vírus da mesma família do Mpox, era obrigatória. Além disso, parte da população considerada a risco na época foi imunizada em 2022. Uma das questões agora é estabelecer a eficácia do imunizante, que contém um vírus vivo atenuado, ou seja, enfraquecido, contra a infecção pelo novo subtipo.
“Sabemos que a vacina é eficaz contra o clado 1 em testes com animais, feitos em laboratório, e em testes celulares. Mas por enquanto, a eficácia contra o novo subtipo ainda é desconhecida. Mas, sabendo como o imunizante funciona e conhecendo o sequenciamento do vírus clado 1, esperamos que a vacina possa combatê-lo. Os estudos mostram uma eficácia de 70% a 90% de redução de infecções graves após duas doses”.
Clado x Variante
Qual a diferença entre um clado e uma variante? De acordo com Olivier Schwartz, o clado é um grupo de vírus e uma variante é uma “cepa em particular”. Segundo ele, “no caso do Mpox, esses grupos são definidos por análises de sequências genômicas. Percebemos, ao reconstituir a árvore filogenética, ou seja, a árvore genealógica dos vírus que circulavam, que existiam dois ramos principais: o grupo ou clado 1 e o grupo ou clado 2. Eles são próximos”.
Segundo o virologista do Instituto Pasteur, também não há grandes diferenças entre os dois clados em termos de mortalidade, apesar do clado 1 ser um pouco mais virulento. O cientista lembra que é difícil saber em que proporção as condições sanitárias ou ambientais contribuem para o aumento do número de formas graves da doença.
Transmissão
O vírus Mpox é transmitido principalmente através do contato próximo e prolongado com pessoas doentes que tenham bolhas, feridas, erupções cutâneas, crostas e fluidos,...
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Como a Ciência do Esporte atua para melhorar o desempenho dos atletas paralímpicos brasileiros
9/3/2024
O Brasil é uma potência paralímpica e chegou a Paris 2024 com várias chances de medalhas, com 280 atletas em 20 modalidades nos Jogos Paralímpicos, que terminam dia 8 de setembro. Por trás desse time, uma equipe de profissionais de várias áreas trabalha para aperfeiçoar o desempenho dos campeões. Um deles é Thiago Lourenço, coordenador do Departamento de Ciência do Esporte do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), que acompanha os atletas e conversou com a RFI na sua chegada à capital francesa.
Taíssa Stivanin, da RFI em Paris
Doutor em Biodinâmica do Movimento Humano e Esporte pela Universidade de Campinas, Thiago Lourenço foi convidado para ser fisiologista da equipe paralímpica de Atletismo em 2014. Depois das Olimpíadas de 2016, no Rio, ele se tornou cientista do Esporte e coordena o departamento do CPB desde 2020.
Segundo ele, um dos maiores desafios no dia a dia é transformar os dados obtidos no monitoramento dos movimentos dos atletas em "medidas práticas". O objetivo é utilizar essas informações para ajudar os campeões e os treinadores a definir a carga de treinamento adequada e diminuir o risco de lesões.
Hoje, o Departamento de Ciência do Esporte do Comitê Paralímpico Brasileiro conta com sete profissionais. “Transformamos dados em informações e as informações em atitudes práticas. O número precisa ser transformado em uma ação, que poderá ser implementada por médicos, treinadores, fisioterapeutas ou nutricionistas da equipe. As avaliações que fazemos acabam sendo o fio condutor do treinador, para que ele possa estipular a carga de treino e seus efeitos”, explica.
A meta final é validar o treinamento e, se for necessário, modificá-lo. “Diariamente coletamos informações de várias formas para municiá-los neste sentido. Os atletas de alto rendimento, principalmente no movimento paralímpico, têm individualidades mais “refinadas”. Os ajustes e as avaliações precisam guiar os treinadores”.
Como os dados são coletados?
Os cientistas do esporte coletam esses dados de várias maneiras, através de questionários, análises de sangue, exames de imagens ou monitoramento com sensores subaquáticos, por exemplo. “Usamos análises de sangue que não são corriqueiras”, frisa Thiago Lourenço. “São ferramentas utilizadas nas UTIs e dentro do hospital, aplicadas com um conceito bioquímico específico para o exercício e o treinamento esportivo”.
“Temos análises de imagens, usadas em ajustes técnicos, dois biomecânicos especializados e também utilizamos o GPS, ou acelerômetro, aquele colete que os jogadores de futebol colocam embaixo da camiseta. Nós o usamos em várias modalidades paralímpicas, o que também é uma inovação”.
Os cientistas do esporte estão em contato diário com os atletas e têm reuniões semanais com a equipe de profissionais da saúde que acompanha os campeões. “Essa troca de informações é contínua e diária. Não dá para esperar dez minutos, senão o atleta vai para o treino, se lesiona, e a gente perde a medalha por falta de comunicação”.
O trabalho é individual e visa identificar os pontos que precisam ser desenvolvidos ou modificados em cada atleta, como ganho ou perda de massa muscular, por exemplo. “Baseando-se nisso, a gente traça um planejamento físico, técnico, tático e mental”, detalha o cientista do esporte.
Saúde mental
Cada modalidade tem sua complexidade. “O atleta paraolímpico ou o atleta olímpico são atletas. E por serem atletas, levam seu corpo ao limite, independentemente da modalidade. Para mim todas são difíceis e fascinantes porque precisamos descobrir como levar o atleta ao seu máximo”.
Em algumas modalidades, lembra, há uma incidência maior de lesões. É o caso da natação paralímpica, devido ao uso intenso de determinadas articulações. Ele também cita o atletismo, triatlo, ciclismo, judô e futebol, onde há muitos choques entre os atletas cegos.
Assim como em outros países, a saúde mental dos campeões olímpicos e paralímpicos também ganhou destaque nos últimos anos no Brasil. Atualmente, o Comitê...
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"Saúde mental é caminho para o alto desempenho", avalia psicóloga de atletas do Time Brasil em Paris
8/13/2024
O Brasil encerrou a sua participação nos Jogos de Paris com 20 medalhas. Por trás de muitas delas, há o trabalho de psicólogas e psicólogos que ajudam a cuidar da saúde mental dos atletas. Como Aline Arias Wolff, que atua junto ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB) há mais de uma década, e esteve na capital francesa dando suporte a alguns esportistas do Brasil, como Rebeca Andrade.
Renan Tolentino, da RFI
Em entrevista à RFI, Aline explicou como é o trabalho com os atletas, que tiveram acompanhamento psicológico durante os jogos. Ela avalia que é importante manter este trabalho contínuo junto a eles, não só ao longo das competições, mas também antes e depois, independentemente do resultado.
“Na minha visão, a saúde mental é o caminho para o alto desempenho. Quando a gente tem um atleta que está inteiro, que está feliz, que se cuida e se observa, ele tem muito mais chances de alcançar um altíssimo nível. Então, não é uma coisa ou outra, essas duas coisas precisam andar juntas. Saúde mental precisa andar junta com o alto desempenho. Porque aí a gente realmente consegue ter um desempenho ainda melhor”.
Aline acredita que estas foram as “Olimpíadas da saúde mental”, por conta da relevância que o assunto tomou nos últimos anos também no âmbito desportivo, com alguns atletas “reforçando e reconhecendo o quanto isso é importante”. Como as próprias Rebeca Andrade e Lorrane Oliveira, entre as ginastas brasileiras.
Ainda na ginástica artística, outra que reforça esse discurso é a norte-americana Simone Biles, estrela da modalidade, que em 2021 desistiu de disputar os Jogos de Tóquio justamente para tratar do seu bem-estar psicológico.
“Esse é um ponto muito importante (...) cuidar da saúde mental não é ‘mimimi’. Essa pessoa (atleta) tem que estar bem cuidada, tem que estar inteira e não tem como fazer isso sem cuidar da saúde mental”, reforça a psicóloga.
Não existe receita pronta
Uma das atletas do Time Brasil acompanhadas por Aline Arias Wolff é Rebeca Andrade, que em Paris se tornou a atleta brasileira com mais medalhas em Olimpíadas e não esconde o quanto o acompanhamento psicológico ajuda na sua vida.
Durante uma entrevista, por exemplo, questionada sobre o que pensa antes de competir, a ginasta surpreendeu e disse que às vezes pensa nas “receitas que vou fazer quando voltar para o Brasil”. Aline explica que Rebeca tem essa capacidade de “ligar e desligar o foco” quando necessário, sendo uma maneira natural que a atleta encontra de aliviar uma eventual pressão antes das provas.
“É uma resposta inusitada e muito autêntica. Ela é bem assim. Todo mundo fica muito curioso sobre isso. É uma estratégia? É intencional? Na verdade, não. É algo natural dela. Porque as pessoas tendem a achar que para fazer algo tão difícil, como um salto que ela executa, o atleta precisa estar ali focado o tempo inteiro, mas, na verdade, ele precisa estar focado no momento da execução da tarefa. Antes, aquela espera, que é longa, é supersaudável inclusive que o atleta vá e pense em outras coisas, desde que ele consiga focar na hora que realmente importa", explica.
"E aí, naquele momento, a mente dela (Rebeca) foi para coisas que ela estava querendo experimentar nas receitas quando ela voltasse para o Brasil. Ela funciona assim, ela tem uma facilidade de desligar o foco e voltar o foco”, detalha Aline.
Mas a psicóloga esclarece que não existe uma fórmula ou receita pronta para todo mundo. Cada atleta pode se comportar de maneira diferente para lidar com a ansiedade antes de competir. O importante nessas horas é conhecer bem a si mesmo.
“As pessoas são diferentes. Gosto sempre de dizer que não existe uma fórmula. É muito importante que o atleta consiga se entender, entender o que funciona para ele. O que o ajuda e o que não o ajuda. Varia de atleta para atleta”, conclui.
Leia também“Estou muito feliz de voltar com o ouro que os brasileiros mereciam”, diz Rebeca Andrade após vitória no solo em Paris
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Nadar no Sena durante a Olimpíada pode ser má ideia, diz infectologista; risco é pegar leptospirose
7/30/2024
Cerca de 15 milhões de pessoas são esperadas na região parisiense durante a Olimpíada e os Jogos Paralímpicos, que terminam em 8 de setembro. A alta densidade populacional, mesmo temporária, facilita a circulação de várias doenças. É o caso da leptospirose, transmitida pela urina dos ratos. Segundo Pierre Tattevin, presidente da Sociedade Francesa de Infectologia, o risco é alto para quem se aventurar a nadar no rio Sena, já que os roedores estão em toda a parte na capital.
Taíssa Stivanin, da RFI em Paris
“As autoridades forçaram para poder organizar as competições aquáticas no rio Sena”, alerta o infectologista francês. Não há dados verificados sobre o número de ratos que vivem em Paris, mas, segundo estimativas, há cerca de 1,5 para cada morador.
É por essa razão que as contaminações por leptospirose no Sena não estão descartadas, mesmo que a quantidade de coliformes fecais no rio esteja dentro das normas exigidas. “O rato é quem carrega a bactéria da leptospirose. O rio pode até ter ser sido bem higienizado, mas isso não bloqueia a transmissão, que é totalmente possível”, reitera o especialista.
A Leptospira, a bactéria que provoca a doença, é encontrada na urina dos ratos e pode contaminar a água, terra e alimentos. Após o contágio, causa sintomas parecidos com os de uma gripe forte: febre alta, dores no corpo e mal-estar. Eles podem demorar entre três dias e três semanas para se manifestar, lembra Pierre Tattevin.
“Quem tiver sintomas depois de nadar no rio Sena alguns dias depois deve lembrar de se testar”, diz. "Eles vão depender da quantidade de água ingerida durante o mergulho", explica, citando o rio Sena.
Segundo dados da Santé Publique France, a agência sanitária francesa, em 2022 foram diagnosticados cerca de 600 casos de leptospirose no país, mas esse número é provavelmente dez vezes maior, afirma o infectologista francês. "A leptospirose é sensível a praticamente todos os antibióticos. A pessoa pode ter febre, tomar Amoxicilina, ficar boa, e na realidade ter pego a leptospirose sem saber.”
Se não for tratada, a doença pode, em alguns casos, provocar uma insuficiência renal grave e levar à morte.
De acordo com ele, a tendência é que as contaminações aumentem com o aquecimento global. “É uma bactéria que vive mais em águas quentes. Martinica, Guadalupe e Ilha da Reunião são os territórios franceses onde ela está mais presente. Agora, como a temperatura está subindo na França, vai favorecer a transmissão”, diz.
A declaração da doença é obrigatória na França e o teste diagnóstico deve ser feito preferencialmente no hospital, para que o resultado seja obtido instantaneamente. “Não é uma doença grave se for tratada rapidamente. Por isso é importante prestar atenção”, reitera o infectologista.
Paris investiu na propaganda em torno da qualidade da água do rio e a própria prefeita de Paris, Anne Hidalgo, deu um mergulho no mês de julho para tranquilizar os mais céticos. Com a chuva, os níveis de poluição no Sena mudam com frequência. Isso faz com que, em alguns dias, ele não seja considerado próprio para banho, como foi o caso nesta segunda (29) e terça-feiras (30).
Covid e Sífilis
Eventos como os Jogos Olímpicos, que reúnem milhares de pessoas, também são propícios à propagação do vírus da Covid-19, que continua presente no território francês. "Em termos de risco sanitário, a Covid não é uma grande preocupação. O maior risco é para os atletas, que se ficarem doentes não poderão disputar uma medalha", diz Pierre Tattevin.
Segundo ele, isso se explica pela imunidade adquirida pela população ao longo dos anos da pandemia e a evolução do vírus. As infecções agora geram menos casos graves, sem superlotar os hospitais, como foi o caso no início da pandemia, em 2020, e durante algumas ondas da doença.
Outro risco apontado pelo infectologista é a propagação de doenças sexualmente transmissíveis, como a sífilis. A Olímpiada, que recebe principalmente um público jovem, que se encontra nas baladas e nos eventos,...
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Startup francesa faz sucesso ao criar objetos sob medida contra doenças ligadas ao trabalho
7/16/2024
Baseada em Plescop, uma pequena cidade na Bretanha, a equipe da start-up francesa Ergotech, formada por fisioterapeutas, osteopatas e outros profissionais da saúde, cria objetos sob medida para evitar os problemas de saúde relacionados ao trabalho. Ela é dirigida pelo empresário francês Kévin Le Texier, que entrou no ramo por acaso, após um estágio em uma empresa que fabricava equipamentos médicos.
“Um médico do Trabalho me ligou para saber se podíamos criar produtos para pessoas que tinham dores nas costas enquanto dirigiam. Na época não havia nada assim no mercado, e esse continua sendo o caso hoje”, explicou Le Texier à RFI.
Para a criação do seu primeiro projeto, ele seguiu um plano específico e foi assessorado por um médico do Trabalho. Le Texier analisou quais eram as limitações e as dificuldades que um motorista profissional, que se queixava de dores nas costas, enfrentava quando estava dirigindo.
Em seguida, a empresa criou vários protótipos, até chegar a uma solução que finalmente resolveu o problema do paciente. “Como esse não era o público-alvo da empresa onde eu fazia o estágio, eles me perguntaram se eu estaria interessado em atender a esse tipo de demanda", conta.
Como a ideia deu certo, Kévin foi solicitado para outros projetos dentro da mesma empresa para aliviar tendinites – uma das mais comuns é síndrome do canal cárpico, que comprime o nervo mediano que passa no túnel desse canal, no pulso, diminuindo a vascularização.
A doença provoca dormência das mãos e dos dedos, que piora à noite, além da perda de força no polegar, dificultando os movimentos no dia a dia, como o uso do mouse.
Este é um mercado em plena expansão com o envelhecimento dos assalariados que continuam na ativa. Segundo dados do Instituto de Estatística e Estudos Econômicos, atualmente 15 milhões de franceses têm mais de 60 anos. Em 2030, a expectativa é que eles sejam 20 milhões e que cheguem a 24 milhões em 2060.
As reformas da Previdência adotadas em diferentes países do mundo, incluindo o Brasil, fazem com que os maiores de 60 anos devam trabalhar cada vez mais tempo antes de se aposentar. Na França, a idade mínima para ter o benefício recentemente passou para 64 anos para quem nasceu a partir de janeiro de 1968. Estatisticamente, quanto mais a população envelhece e continua trabalhando, mais ela adoece.
Catálogo de produtos testados
Após essa primeira experiência, o empresário francês passou a se interessar cada vez mais pela SMT (Síndrome da Miosite Tensional), que pode ocorrer quando o paciente passa, por exemplo, muitas horas sentado em frente ao computador no escritório.
A inflamação pode causar dor, desconforto, fraqueza e dificuldade na realização de alguns movimentos que dependem do músculo afetado. Em alguns casos, pode até mesmo gerar manifestações em outros órgãos.
Em 2012, a empresa em que o francês trabalhava faliu e ele decidiu adquiri-la. Foi assim que nasceu a Ergotech. “Tudo aconteceu um pouco por acaso”, conta
Hoje a start-up é referência na fabricação de material para prevenir essas doenças. Muitos dos objetos concebidos e testados individualmente para os pacientes agora integram um catálogo de equipamentos para prevenir e tratar os problemas.
Kévin Le Texier ressalta que as soluções não estão totalmente relacionadas ao conceito de ergonomia. Segundo ele, nesse caso é o ambiente de trabalho que se adapta ao paciente, sem personalização do espaço em função de suas patologias.
Por hora, os produtos da empresa estão apenas disponíveis na França, mas a ideia é expandir o mercado na Europa e, em um futuro próximo, outros países.
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Como preservar a saúde mental dos atletas olímpicos, propensos à depressão ao longo da carreira?
7/9/2024
Expostos à pressão constante pelo desempenho, a nova geração de campeões olímpicos também enfrenta outros desafios, como a exposição nas redes sociais. A questão foi abordada em um seminário organizado pela Academia Nacional de Medicina da França, que reuniu especialistas para discutir temas relacionados à saúde dos atletas. O evento ocorreu na sede instituição em Paris, a poucas semanas do início dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos, que começam em 26 de julho.
Taíssa Stivanin, da RFI
Segundo Sébastien Le Garrec, chefe do departamento médico do Insep, o Instituto Nacional do Esporte na França, dados divulgados pelo COI (Comitê Olímpico Internacional) mostram que entre 50% e 65% dos atletas têm problemas de sono e até 68% relataram terem vivido episódios depressivos.
Cansaço anormal, excesso de preocupação, falta de concentração e perda de motivação são alguns dos sintomas que devem alertar os campeões. Na França, desde 2006, os atletas de alto nível passam por uma avaliação psicológica anual, que é obrigatória. Desde 2016, os menores devem realizá-la duas vezes por ano.
As dificuldades geradas pelo tempo passado no treinamento e as dúvidas que envolvem os projetos pessoais e profissionais dos atletas de alto nível também são fatores de risco para a saúde mental, diz Sébastien Le Garrec, que acompanha a equipe francesa de Natação.
Os centros de treinamento, como o Insep, possuem atualmente uma equipe dedicada à saúde mental dos atletas, formada por quatro psicólogas, que detectam eventuais problemas psíquicos e a necessidade de um tratamento médico. Apesar de alguns medicamentos serem incompatíveis com a prática esportiva, lembra Le Garrec, existem alternativas.
Existem etapas na vida do atleta, lembra, que são particularmente arriscadas e merecem mais atenção. Uma delas é a chegada a um centro de treinamento de alto nível, o que faz naturalmente com que os treinos aumentem em tempo e intensidade. “O grupo em geral também não é o mesmo e os atletas são ou do mesmo nível ou de um nível superior. A pressão aumenta, necessariamente”.
O luto do fim da carreira
A distância da família também pode ser vivenciada com dificuldade. “Não temos necessariamente com quem dividir todas as emoções do dia a dia, e isso também pode gerar distúrbios”, avalia.
Outra etapa perigosa para a saúde mental é o fim da carreira, que gera uma mudança brusca no ritmo de vida - um atleta de alto nível treina em média entre 4 e 6 horas por dia. “É necessário lidar com o luto da carreira esportiva. Não é fácil vivenciar isso”, frisa. A aposentadoria das competições também marca o início de novos projetos, o que pode ser uma fonte de ansiedade, e gerar a sensação de “perda de identidade”, observa.
Ele cita como exemplo o nadador francês Camille Lacourt, cinco vezes campeão mundial que há alguns meses revelou ter sucumbido à depressão após o fim da carreira, em 2017. Em uma entrevista transmitida pelo canal France 2, ele fez um desabafo sobre sua doença, que chamou de “descida ao inferno”.
As contusões e a interrupção dos treinos também podem desencadear os distúrbios mentais. É comum, lembra o especialista francês, que os patrocinadores encerrem contratos sem ter perspectiva do retorno do atleta à ativa. Isso representa, na prática, menos dinheiro no bolso e mais ansiedade.
A atleta americana Simone Biles, uma das maiores ginastas de todos os tempos, deixou a competição individual e por equipe nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2021, ao revelar sua depressão. Em 2018, Biles havia declarado ter sido uma das vítimas de abuso sexual do ex- médico da equipe americana, Larry Nassar. Mas, depois da fase difícil, a atleta de 27 anos se superou e foi qualificada para os Jogos Olímpicos de Paris no último dia 30 de junho.
O treinamento excessivo também pode induzir a um desequilíbrio emocional. “O cansaço faz parte do cotidiano de um atleta, se o atleta não está cansado tem alguma coisa errada. Mas a recuperação é indispensável, é uma condição sine qua non...
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Casos de queimaduras graves crescem no Brasil durante período de festas juninas
6/25/2024
Acidentes com fogos de artifício e fogueiras são comuns durante as festas de São João, alerta a cirurgiã Suzy Vieira, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Segundo dados do Governo do Estado de São Paulo, o número de acidentes relacionados ao período vem crescendo e subiu cerca de 63% em 2023.
O período de festas juninas é propício para os acidentes com combustíveis, usados para acender as fogueiras. Mas há também os incidentes que ocorrem na hora de soltar os fogos. “As queimaduras causadas pelos fogos de artifício são provocadas pelas chamas ou pela pólvora. Elas aumentam durante as festas juninas e queimam não apenas quem está soltando os fogos, mas também outros que estão em volta. As pessoas que estão próximas também acabam sendo atingidas pela explosão”, ressalta a cirurgiã.
A incidência cresce em todo o país no mês de junho, destaca a especialista. “Nessa época, o número de atendimentos aumenta bastante. Existe, inclusive, em alguns hospitais, centros de tratamento de queimaduras reservados para os casos mais graves, que atingem mais de 30% do corpo e demandam cuidados especiais”.
De acordo com Suzy Vieira, é comum os pacientes vítimas de queimaduras graves precisarem ficar internados e se submeterem a várias cirurgias. Muitas vezes, os curativos também precisam ser realizados e trocados em um centro cirúrgico, em função da dor do paciente.
Nas queimaduras que ocorrem durante as festas juninas, as partes do corpo mais atingidas são, em geral, o rosto e os membros inferiores e superiores. “Elas atingem a roupa e podem se tornar ainda mais profundas e graves. Nesse caso, o ferimento se espalha e queima outras partes que inicialmente não haviam sido atingidas”, diz.
“Por isso é importante despir a pessoa que esteja com a queimadura. Por exemplo, se ela é atingida por um líquido quente ou por um ácido, e se ele fica na roupa, terá um contato mais prolongado com a pele e a queimadura será ainda mais profunda e grave”, alerta.
Projeto de lei quer proibir fogos que façam barulho
As vítimas, diz, são de diferentes faixas etárias. “Já atendi famílias inteiras que chegam queimadas porque uma pessoa foi soltar o rojão, o rojão queimou, atingiu quem estava do lado, a mãe foi ajudar e estava de meia calça e queimou também”, descreve.
A Lei de Crimes Ambientais no Brasil, de 1998, proíbe a fabricação, venda e uso dos balões de ar, usados antigamente nas festas juninas, que provocavam incêndios e geravam muitos acidentes. O desrespeito à norma é passível de um a três anos de prisão ou multa. Em relação aos fogos de artifício, alguns Estados e municípios adotam a proibição de fogos com estampido que façam barulho.
Um projeto de lei de 2022 que tramita na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado prevê que essa proibição se estenda a todo o território nacional. “Existe também uma legislação que exige que as lojas sejam afastadas e sejam dotadas dos equipamentos para controle do fogo. Mas, infelizmente, essa legislação não é cumprida como deveria”, lamenta a cirurgiã brasileira.
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Cogumelos "mágicos" podem tratar alcoolismo e reduzir consumo pela metade, revela estudo francês
6/18/2024
Uma pesquisa feita pela equipe do neurocientista francês Mickael Naassila, presidente da Sociedade Francesa de Estudos sobre o Alcoolismo e professor da Universidade da Picardia, no norte da França, mostrou que o uso de cogumelos que contêm a psilocibina, uma substância alucinógena, pode tratar o alcoolismo.
Taíssa Stivanin, da RFI
Os resultados do estudo, feito com camundongos, foram publicados no mês passado na revista científica britânica Brain. O neurocientista francês e sua equipe observaram que a molécula inibe um dos receptores cerebrais envolvidos no alcoolismo. A descoberta, que agora deverá ser testada em humanos, poderá viabilizar rapidamente novos tratamentos, disse Mickael Naassila em entrevista à RFI Brasil.
Nosso cérebro tem dois hemisférios e, na base de cada um deles, existe uma estrutura chamada núcleo accumbens - um conjunto de neurônios que têm um papel central no chamado circuito da recompensa.
Esse sistema é ativado quando sentimos prazer, liberando a dopamina, um neurotransmissor que emite e recebe sinais das células nervosas. Elas se comunicam através de reações químicas complexas. No caso do abuso de drogas, como o álcool, o circuito da recompensa é ativado com frequência, o que leva à busca incessante pelo produto.
“Na dependência química do humano ao álcool, à maconha ou à cocaína, sabemos que há uma diminuição de um receptor da dopamina chamado D2. Isso também é observado nos animais. Quando usamos a psilocibina em um tratamento, restauramos a atividade, ou o nível de expressão, do receptor D2 da dopamina”, explica o neurocientista.
Outros estudos já haviam mostrado como a substância pode ajudar a evitar as recaídas. Durante a pesquisa, o cientista francês e sua equipe também constataram que o cogumelo agia de maneira diferente nos dois hemisférios cerebrais. O neurocientista então descobriu que se a psilocibina fosse injetada diretamente no núcleo accumbens do lado esquerdo, o consumo de álcool diminuiria pela metade, o que não ocorria do lado direito.
Essa “lateralização” do efeito do cogumelo no cérebro pegou os cientistas de surpresa. “Testamos a psilocibina alucinógena em camundongos que não eram alcóolatras. A conclusão é que o consumo do alucinógeno, mesmo por alguém que não é dependente do álcool, vai provocar modificações no funcionamento cerebral e alterar a expressão nos genes no cérebro. E notamos diferenças à esquerda ou à direita.”
Testes com humanos
As próximas etapas agora serão analisar a ação da substância em testes clínicos com humanos e realizar uma cartografia da ação da psilocibina no lado esquerdo do cérebro, utilizando técnicas de imagem cerebral, como a ressonância magnética.
O objetivo é propor novos tratamentos contra o alcoolismo, que ainda geram cerca de três milhões de mortes por ano no mundo, segundo dados da Organização Pan-Americana da Saúde.
Segundo o neurocientista, a psilocibina e o LSD, as duas moléculas mais estudadas no contexto da dependência química, recriam uma série de novas conexões entre diferentes estruturas cerebrais, atuando na sua plasticidade ao modificar estados de consciência. Estudos mostram que, por essa razão, as moléculas poderiam ser aliadas pontuais no tratamento contras as dependências químicas, associadas a uma psicoterapia.
“Temos efeitos positivos a longo prazo. Entre nove e doze meses depois do início do tratamento constatamos uma diminuição do consumo de álcool, depois dessas sessões que incluíram a psilocibina e o LSD. Isso é mágico!”, ressalta Naassila.
No entanto, a obtenção das autorizações para o uso científico das moléculas pode levar tempo, antes do início dos testes clínicos com humanos. “Para esses testes precisamos de moléculas certificadas, que possam ser administradas nos humanos. Essas moléculas custam caro.”
Ele lembra que a sensibilidade aos efeitos da substância também pode influenciar o tratamento – os fatores individuais serão determinantes para sua eficácia. Hoje, de acordo com o neurocientista francês,...
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Professora da Unicamp explica como prevenir e tratar doenças que podem levar à cegueira infantil
6/11/2024
A professora titular de Oftalmologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (FCM/UNICAMP), Keila Monteiro de Carvalho, alerta para importância do “teste do olhinho”, nome popular do teste do reflexo vermelho, que deve ser realizado logo após o nascimento. A detecção precoce de patologias visuais, como a catarata infantil, também é essencial para evitar o comprometimento ou até mesmo a perda da visão no futuro.
Taíssa Stivanin, da RFI
"Nas primeiras horas de vida do bebê, o pediatra pega um oftalmoscópio e ilumina seus olhos para ver se tem um reflexo vermelho. Se a luz não está entrando e saindo, a pupila fica esbranquiçada", diz a especialista. "Os dois olhos também têm que ser simétricos e um não pode ser mais vermelho do que o outro”, especifica.
O teste do reflexo vermelho, explica, deve ser mencionado na caderneta do recém-nascido e repetido pelo menos três vezes, até os dois anos de idade, pelo pediatra. Em caso de dúvida, a criança deve ser examinada por um oftalmologista. “Neste caso, será obrigatório dilatar a pupila e verificar a necessidade do uso de óculos".
O exame para checar a acuidade visual não depende da adesão da criança e permite obter resultados objetivos, explica Keila Monteiro de Carvalho. A oftalmologista utiliza em seu consultório um auto refrator manual e realiza o exame do fundo do olho, para verificar outras alterações.
O teste de visão pode ser feito a partir de três meses, já que antes dessa idade a criança ainda não enxerga direito. “Neste caso, fazemos um exame chamado olhar preferencial. Temos um cartão com riscos de um lado e cinza do outro. O bebê olha para esses risquinhos, que vão diminuindo. Mostramos um após o outro. Quando a criança para de olhar, é porque não enxergou e está confundindo com o fundo”, explica.
A Sociedade Brasileira de Oftalmologia pediátrica recomenda que as crianças, em geral, realizem o primeiro exame por volta dos seis meses de idade, o segundo por volta dos dois ou três anos e o terceiro durante a fase escolar. "O exame oftalmológico completo engloba o teste da visão, de verificação do grau dos óculos e do fundo de olho, além de um eventual estrabismo", reitera a oftalmologista brasileira.
Catarata infantil e outras patologias
Algumas doenças pediátricas que afetam a vista podem ser de origem congênita, como a catarata infantil. "A maior parte das cataratas é genética. Existem vários tipos, incluindo as dominantes e recessivas. Algumas estão associadas às infecções congênitas, como o Zika ou a Toxoplasmose".
A doença é caracterizada pela pupila branca, que faz com que o olho afetado não detecte a luz. Na criança, a catarata será operada apenas se estiver atrapalhando a visão. “Se a pupila estiver branca e a catarata for total, a luz não entra, e a operação é necessária. Tem que ser uma cirurgia bastante precoce. Mas se a catarata for menor e não estiver no eixo visual, mas localizada mais no canto, e a criança estiver enxergando, ela não é operada tão cedo”.
Segundo a médica, uma das complicações que envolve a cirurgia é o glaucoma, que pode levar à perda da visão. As de origem genética têm evolução mais lenta e as infecciosas podem piorar de maneira repentina.
Durante a operação, uma lente permanente é colocada no olho afetado, mas deverá ser trocada em função do crescimento da criança. Os óculos são uma alternativa, mas devem ser espessos, o que gera incômodo e outros problemas. Durante a operação, a retirada da cápsula do cristalino é feita com laser, mas a substância branca deve ser aspirada manualmente.
Outras doenças oculares podem atingir as crianças, como a retinopatia da prematuridade. “A retinopatia da prematuridade aumentou muito no mundo todo, porque as crianças prematuras agora sobrevivem e ficaram mais tempo expostas ao oxigênio. A retina, imatura, que não se desenvolveu completamente, vai acarretando o problema”.
A deficiência visual cerebral, que pode ser decorrente de uma lesão neurológica e ter...
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Especialistas na França explicam como abordar a sexualidade com crianças e adolescentes
6/4/2024
O Ministério da Educação francês publicou em março deste ano um projeto de educação à vida afetiva e sexual. O programa poderá ser implantado de forma gradual nas escolas francesas, da pré-escola ao ensino médio, a partir de setembro de 2024, que marca o início do ano letivo no país.
A representante do Ministério da Educação francês, Caroline Moreau-Fauvarque, integra o grupo de elaboração do novo projeto. O objetivo do documento de 60 páginas, que ela e sua equipe concluíram em março, é fornecer aos alunos informações científicas sobre a reprodução e a sexualidade humana, ajudá-los a construir a própria personalidade, com relações baseadas no respeito mútuo, e dar um panorama sobre os aspectos sociais e legais envolvendo a sexualidade.
Com a oficialização desse programa, diz, será mais menos trabalhoso para os professores colocarem em prática suas aulas, já que tema será abordado de maneira multidisciplinar.
Na prática, a educação sexual é obrigatória na França. Mas, em muitos estabelecimentos as três aulas anuais previstas no currículo por lei (artigo L312-16), desde 2001, da Educação Infantil ao Ensino Médio, acabam sendo deixadas de lado.
“Propomos, por exemplo, que a comunidade educativa, antes do início do ano letivo, organize e planeje essas sessões para conseguir abordar o conjunto desses objetivos nas aulas de educação à sexualidade”. Mas, antes de ser colocado em prática, o projeto deverá passar por uma fase de consulta, ressalta.
Acesso a conteúdo pornô explode entre menores
Dados divulgados pela Arcom, autoridade francesa que regula a comunicação audiovisual e digital, mostram que mais de 2,3 milhões de crianças consultam sites pornográficos pelo menos uma vez por mês.
Segundo a especialista em saúde sexual francesa Charline Vermont, autora do livro “Corps, amour, sexualité” ("Corpo, amor e Sexualidade", em tradução livre), esse assunto é dificilmente compartilhado entre pais e filhos.
Seu livro, destinado ao público infantil e adolescente, foi escrito sob a supervisão de psicólogos e pedopsiquiatras, visa promover essa transmissão familiar. De acordo com Charline, os adultos de hoje, de maneira geral, são herdeiros da “geração do silêncio”, ainda que alguns países sejam mais avançados na questão do que outros.
“O Canadá e os países nórdicos, além dos países anglo-saxões, são um pouco mais avançados do que nós, que ainda seguimos uma tradição latina”, compara.
Ginecologista "influencer"
A ginecologista francesa Judith Abric virou influencer no Instagram com a conta "Dr Juju", que tem mais de 65 mil fãs. Em seus posts, ela busca ajudar crianças e adolescentes a respeitar o próprio corpo e entender a noção do consentimento e da sexualidade solitária e compartilhada.
“Na escola de Medicina, e eu espero que isso mude, aprendemos muitos conceitos científicos, mas não aprendemos a falar sobre esses assuntos com crianças ou adultos no fim", diz.
"É surpreendente como as pessoas não conhecem o próprio corpo, independentemente do gênero. Sem conhecer o próprio corpo, não é possível ter uma sexualidade compartilhada e satisfatória, porque essa é a base. Não somos nós, os ginecologistas, que vamos ensinar isso. Deve começar muito antes", ressalta.
Para ela, os meninos devem ser aliados das mulheres. "É importante termos parceiros no futuro que não repitam mais frases do tipo: “ela está irritada, deve estar menstruada." Ninguém mais suporta ouvir isso", diz. "Meu livro aborda essas questões. Se minha colega de classe está menstruada, por exemplo, o que eu posso fazer? Carregar a mochila dela, por exemplo. Às vezes ela pode sentir dores que irradiam até as costas”, diz.
Protegendo as crianças
O aprendizado da sexualidade também protege as crianças mais jovens contra os predadores sexuais. Sem falar obviamente de sexo propriamente dito, os pais devem ensiná-las a reconhecer suas partes íntimas e lembrar que ninguém tem o direito de tocá-las. Se isso acontece, é preciso contar imediatamente para um adulto,...
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Paris 2024: quem são os profissionais da saúde que preparam os atletas para as competições
5/28/2024
Esporte é saúde, mas praticado profissionalmente exige, além de treinamento, resistência física e mental. A menos de dois meses do início das Olimpíadas, como os atletas fazem para se recuperar e manter o ritmo intenso das competições e prevenir as lesões?
Os campeões olímpicos têm à disposição uma equipe de preparadores físicos e médicos que criam programas específicos. Eles incluem, além dos exercícios e da alimentação, a gestão psicológica do stress e até a adaptação ao fuso horário. Segundo o médico do Esporte francês Jean-Marc Sène, que trabalhou com a equipe francesa de judô, os atletas se preparam o ano todo, mas participar das Olimpíadas exige um treinamento “sob medida”.
“Existem exigências específicas, como ter mais assiduidade, por exemplo. Talvez os atletas precisem ser ainda mais assíduos ou se concentrar mais nas competições. Esses são dois parâmetros que entram em jogo.”
A preparadora física Anne-Laure Morigny atua no Instituto Nacional do Esporte francês (INSEP) desde 2009. Seu trabalho no dia a dia consiste em ajudar os atletas a ultrapassarem seus próprios limites, levando em consideração o risco de lesões ou seu gerenciamento, quando elas já existem.
“A preparação física é transversal e complexa. Para se ter um bom desempenho, o atleta deve ser capaz de repetir esse desempenho. Isso requer manter a integridade física e limitar o risco de contusões, que podem interromper a carreira de um atleta”, explica.
Exercícios diários
Incluir no cotidiano a prática de exercícios para atingir esse objetivo é essencial, diz a preparadora física francesa, e garantirá um bom desempenho no dia da competição.
“O papel do médico do Esporte é muito importante, além dos fisioterapeutas e dos osteopatas”, completa. “Juntos, a equipe e o atleta vão identificar o que deve ser trabalhado, quais são os pontos fortes e fracos, e incluir no cotidiano uma rotina preventiva para limitar o risco de contusão o máximo possível”, reitera.
A preparadora física francesa compara o trabalho realizado com os atletas olímpicos à alta costura: ele deve ser feito “sob medida”, com testes individualizados. O limite é estabelecido pelo médico, observa Jean Marc-Sène.
Em caso de problema, e após a realização de exames, a questão que se coloca, explica, é como lidar com o prognóstico do atleta. “A primeira pergunta que o treinador deve fazer é por quanto tempo o atleta deve parar e como as coisas deverão ser adaptadas. É um trabalho contínuo e o médico tem o papel de coordenador entre o fisioterapeuta, os treinadores e outros profissionais. Esse é um trabalho diário”, afirma.
Para a preparadora física, o trabalho feito em torno do atleta hoje é muito mais estruturado do que há 15 anos, quando ela iniciou sua carreira no INSEP. “Temos ‘preparadores mentais’, nutricionistas, temos realmente muitas pessoas em torno dos atletas”, explica.
Saúde física e mental
O judoca francês Walide Khyar, classificado na categoria de menos de 66 quilos nos Jogos Olímpicos de Paris, competirá no dia 28 de julho. Ele se descreve como uma “criança que sempre foi hiperativa e pensava em muitas coisas ao mesmo tempo”, o que teve incidência na sua prática.
Desde 2017 ele tem um preparador mental, com quem o atleta estabeleceu uma série de objetivos para aprender a focar no "que realmente interessa". “Eu tinha tendência a pensar em tudo ao mesmo tempo e me concentrar em coisas sem importância. Aprendi a priorizar e colocar o judô no centro de tudo”, conta.
A dieta, que é extremamente importante para os judocas, também é um ponto de vigilância constante para que Walide possa se manter no peso da sua categoria. Por isso o judoca francês é acompanhado por uma nutricionista que, com o apoio de exames que medem a massa muscular, vai adaptar sua alimentação. Ele come o que tem vontade apenas uma refeição por semana.
O Instituto francês conta hoje com um setor de psicologia do Esporte para ajudar os atletas. “Isso é essencial. Muitas vezes a preparação mental é vista...
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