O Mundo Agora - Trump vive solidao inedita na Casa Branca por erros estrategicos e ataques massivos de adversarios-logo

O Mundo Agora - Trump vive solidao inedita na Casa Branca por erros estrategicos e ataques massivos de adversarios

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Crônica semanal de geopolítica internacional. Os fatos que são notícia no mundo analisados por Thiago de Aragão, direto dos Estados Unidos, e Flávio Aguiar, da Europa.

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Paris, France

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Crônica semanal de geopolítica internacional. Os fatos que são notícia no mundo analisados por Thiago de Aragão, direto dos Estados Unidos, e Flávio Aguiar, da Europa.

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Análise: políticas de refugiados na Alemanha revigoram o fantasma da xenofobia e da discriminação

9/2/2024
O governo alemão decidiu endurecer sua política em relação a refugiados considerados em situação ilegal no país. Na semana passada, já houve a deportação de um primeiro grupo para seu país de origem, o Afeganistão. Flávio Aguiar, analista político A decisão aconteceu na sequência de um atentado a facadas na cidade de Solingen, perto de Colônia e Bonn, a antiga capital da Alemanha Ocidental. O atentado deixou um saldo trágico de três mortos e vários feridos, alguns com gravidade. A polícia deteve um suspeito, um cidadão sírio que havia pedido asilo no país, mas foi negado. O acusado desapareceu, só reaparecendo no trágico incidente em Solingen. Ele foi admitido na Bulgária e de lá passou para a Alemanha. O governo alemão aprovou sua deportação para a Bulgária, que concordou com a decisão, mas ela acabou não acontecendo devido ao desaparecimento do acusado. A organização Estado Islâmico divulgou um vídeo em que reivindicava a autoria de atentado como uma “vingança” pelo que estava acontecendo com os palestinos na Faixa de Gaza. Seguiu-se um tumulto político, em que o líder do principal partido de oposição, Friedrich Merz, da União Democrata Cristã, acusou de negligência o governo do chanceler Olaf Scholz, do Partido Social Democrata (SPD, na sigla em alemão), e propôs uma ação conjunta para solucionar o problema. Surpreendentemente o chanceler aceitou a proposta, o que levantou receios de que sua coalizão de governo, formada também pelo Partido Verde e o Partido Liberal Democrático (FDP, na sigla em alemão), rachasse. Isto não aconteceu, pois os líderes deste partido apoiaram a decisão de Scholz. Na Alemanha, há mais de 50 mil ordens de deportação contra refugiados que tiveram seus pedidos de asilo negados. Entretanto, destas, até o momento, somente pouco mais de 20 mil foram efetivadas. A esmagadora maioria delas atinge originários de nações africanas ou do Oriente Médio, muitos dos quais entraram na União Europeia através de outros países, dirigindo-se depois para a Alemanha. Scholz comprometeu-se a restringir essa possibilidade de acesso, além de agilizar as deportações já aprovadas e o julgamento dos casos pendentes. Avanço da oposição tradicional e da extrema direita O debate e as medidas restritivas ocorrem num momento em que acontecem eleições regionais em estados do antigo Leste alemão, a Turíngia e a Saxônia, e o governo federal se vê acossado pelo crescimento nas intenções de voto da oposição tradicional - a União Democrata Cristã - e da extrema direita, no partido Alternative für Deutschland (AfD), Alternativa para a Alemanha. Este último radicalmente voltado contra imigrantes e refugiados, vem ditando a pauta sobre esta questão no país, assim como acontece em outras nações do continente. Para complicar o cenário, a economia alemã vem se retraindo nos últimos tempos, num processo de desindustrialização, apesar dos esforços por parte do governo de revitalizar a indústria bélica alemã. Neste quadro, à beira do abismo de uma recessão prolongada, a busca de bodes expiatórios prospera. Os candidatos que costumam ser os alvos são os emigrados provenientes do chamado Terceiro Mundo, em particular os muçulmanos, sobre os quais sempre paira a suspeita, na maioria das vezes indevida, de adesão a grupos terroristas. Organizações de defesa dos direitos humanos, como a Caritas, vêm manifestando preocupação de que esta circunstância possa desandar num quadro de discriminação generalizada. Estes últimos episódios na Alemanha se dão em um contexto continental de crescimento das discriminações contra estrangeiros não europeus. Como aconteceu recentemente no Reino Unido, onde um ataque fatal contra crianças, também a facadas, deflagrou uma série de vandalismos contra mesquitas e centros de acolhimento de imigrantes, insuflados por mensagens mentirosas, de extrema direita, sobre a identidade do assaltante, divulgadas na internet. Durante os dez anos e meio do governo da chanceler Angela Merkel, da União Democrata Cristã,...

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Extrema direita usa cada vez mais inteligência artificial para disseminar fake news

8/19/2024
As fake news, que se espalharam rapidamente nas redes sociais, estão na origem da onda de violência anti-imigração que sacudiu o Reino Unido no início do mês de agosto. Os protestos aconteceram após o assassinato de três meninas a facadas, no noroeste da Inglaterra. Flávio Aguiar, analista político No último dia 29 de julho, por volta do meio-dia, na cidade de Southport, no noroeste da Inglaterra, um jovem de 17 anos irrompeu numa festa infantil numa escola de dança e ioga, organizada por uma de suas professoras. Armado de faca, o jovem provocou a morte de três crianças, de 6, 7 e 9 anos, feriu outras oito e mais dois adultos que tentaram protegê-las, inclusive a professora que organizara o evento. A polícia e ambulâncias acorreram em minutos. Preso em flagrante, o jovem foi identificado como Axel Rudakubana, de 17 anos, cidadão britânico, filhos de pais vindos de Ruanda, na África. Como se tratava de um menor de idade, por motivos legais a polícia não divulgou imediatamente sua identidade. Na sequência, as especulações mentirosas começaram a circular nas redes sociais. Em 24 horas, proliferaram 27 milhões de acessos a uma mensagem que identificava o suspeito como muçulmano (o que não era verdade) e dava-lhe um falso nome. Outras mensagens o identificavam como um refugiado ilegal, que chegara à Inglaterra de barco, em busca de asilo. “Influencers” e um site identificado como Channel3Now (que depois se desculparia) disseminaram rapidamente tais mensagens. Um destes “influencers” bradava que “a alma do homem ocidental se dilacera quando invasores matam suas filhas”. Uma outra mensagem - gerada por Inteligência Artificial - punha em cena na plataforma X (antigo Twitter), a imagem de alguns homens que vestiam trajes supostamente muçulmanos, armados de facas, perseguindo uma criança, tendo o Parlamento Britânico ao fundo, com os dizeres “precisamos proteger nossas crianças”. Protestos violentos anti-imigrantes De imediato, em Southport, uma multidão passou a atacar uma mesquita, entrando em confronto com a polícia. Segundo fontes policiais, o protesto foi insuflado por pessoas que não moravam na cidade. Ataques contra mesquitas e centros de acolhimento de refugiados e imigrantes se espalharam por diversas cidades da Inglaterra, inclusive as populosas Londres e Manchester. O caso chamou a atenção de pesquisadores sobre a relação entre grupos extremistas, sobretudo de extrema direita, e o uso da Inteligência Artificial. Pesquisadores do Middle East Media Research, dos Estados Unidos, chamaram a atenção para seu relatório que mapeia dezenas de casos semelhantes. O relatório mostra que tais grupos, valendo-se de ferramentas da Inteligência Artificial, gravam as vozes e as imagens de artistas, políticos e outras pessoas famosas. Depois disseminam mensagens falsas como se fossem deles, afirmando a supremacia branca e atacando negros, muçulmanos e judeus. Segundo o pesquisador do grupo NETLab, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, grupos extremistas de direita disseminam mensagens com instruções que chegam até a ilustrar a fabricação de armas e explosivos, sempre com o uso de ferramentas da Inteligência Artificial. Na América Latina os alvos preferenciais de tais mensagens têm sido o México, a Colômbia, o Equador e a Argentina. Os pesquisadores do tema chamam a atenção para o fato de que este uso da Inteligência Artificial também se dissemina entre organizações terroristas como o Estado Islâmico e a Al Qaïda. Na Inglaterra, os ataques arrefeceram depois que grandes manifestações antirracistas tomaram as ruas de dezenas de cidades britânicas. Pesquisas mostraram que 85% da população rejeitava a violência. Entretanto, 42% dos entrevistados reconheciam a legitimidade de manifestações com aquelas motivações, desde que fossem pacíficas.

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Análise: festival da ignorância nos Jogos Olímpicos

8/6/2024
Na sequência da abertura dos Jogos Olímpicos em Paris tivemos a oportunidade de assistir um verdadeiro festival de fanatismo, de intolerância confusa e também de ignorância difusa. Um dos quadros apresentados no desfile inaugural provocou uma enxurrada furiosa de críticas, alegando que ele ofendia sentimentos cristãos ao parodiar o quadro “A Última Ceia”, de Leonardo da Vinci. Flávio Aguiar, analista político As críticas vieram de várias fontes, de vários ângulos, e pelo menos de dois continentes: Europa e América, todas preocupadas em proteger a fé religiosa contra a suposta impiedade sacrílega dos organizadores e atores do festim olímpico. Protagonizaram as falas bispos e arcebispos conservadores da Igreja Católica, políticos da extrema direita francesa, italiana e também da brasileira e até o candidato à presidência dos Estados Unidos, Donald Trump, numa entrevista à Fox News. Um detalhe curioso: na entrevista, Trump não menciona o quadro olímpico. Quem o faz é a jornalista que formula as perguntas. Ele se limita a comentar: “um desastre”, “uma desgraça”, etc. Este detalhe sugere que a jornalista está ansiosa por induzir o comentário, o que, de certo modo, já desqualifica a entrevistadora, a entrevista e a opinião do entrevistado. Os críticos sugeriam que, ao parodiar o famoso quadro, o desfile insultava o evento bíblico que ele representa, a narrativa da última ceia de Jesus Cristo com os apóstolos, logo antes da crucificação. No entanto, os críticos demonstraram que não souberam “ler” nem a pintura de Da Vinci, nem o quadro cênico do desfile. Há diferenças substantivas entre eles. Para começo de conversa, no quadro de Da Vinci há treze figurantes, incluindo o Cristo. No quadro olímpico há um número bem maior de personagens, pelo menos 17 somente no primeiro plano. Neste, se no centro da mesa há um personagem com uma espécie de halo prateado em torno da sua cabeça, quem preside de fato a cena, no primeiríssimo plano, é uma representação de deus do vinho - o Dionísio grego ou o Baco dos romanos - cujo corpo está coberto por uma cor azul, coisa completamente estranha ao quadro de Da Vinci. Neste quadro quem preside a cena é o próprio Cristo, cujo corpo, de braços abertos e caídos, representa um triângulo - imagem alegórica da Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo. Também deve-se levar em conta que Da Vinci focaliza um momento específico da Última Ceia, aquele em que Jesus anuncia que um dos apóstolos o trairá. É, portanto, um momento extraordinariamente dramático do evento. Nada disto transparece na representação parisiense. Ela não representa uma ceia, mas um banquete prazeroso e alegre. Não há traição nela. Pelo contrário, há festa e congraçamento. Há um único elemento comum entre ambas as manifestações artísticas: o vinho. Mas em Da Vinci, na sequência do momento focalizado, ele representará o sangue do próprio Cristo. No desfile, ele não é consagrado nem santificado, mas é apresentado pelo deus Dionísio como um símbolo do prazer inebriante. Em resumo, se há uma referência artística por trás do desfile, não se trata da Última Ceia, do quadro “O Festim dos Deuses”, do pintor holandês Jan van Bijlert, do século XVII, hoje no Museu Magnin, em Dijon, na França. Ele representa o banquete do casamento da ninfa ou nereida Tétis com o rei Peleus, pais do guerreiro Aquiles, do poema “A Ilíada”, de Homero. O banquete é presidido pelo deus Apolo, ou Hélios, com um halo luminoso ao redor da cabeça, e tem, no primeiro plano, o deus Dionísio, ou Baco, além de um sátiro dançarino. Convenhamos: este quadro tem mais a ver com a tradição da antiguidade grega, fundadora dos jogos olímpicos clássicos que inspiraram os modernos, do que o quadro de Da Vinci. Porém, o fanatismo religioso dos críticos da extrema direita fundamenta também sua ignorância preconceituosa, comprovando que eles nada entendem de história da arte, nem de jogos olímpicos, muito menos de tradição bíblica. Por último, mas não menos importante,...

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Análise: os possíveis caminhos de Kamala Harris para uma eventual vitória presidencial nos EUA

7/29/2024
Kamala Harris, vice-presidente dos Estados Unidos, agora é a candidata preferida do Partido Democrata para as eleições presidenciais de 2024. Com Joe Biden fora da corrida, surgem várias questões sobre como Harris pode conquistar a vitória e quem poderia ser seu parceiro ideal como vice. Vamos explorar os caminhos possíveis para sua vitória e os nomes que podem fortalecer sua chapa Thiago de Aragão, analista político A vitória de Harris vai depender, como sempre, do desempenho nos "estados-pêndulo" ["swing states", em inglês]. Em 2020, Joe Biden garantiu a Casa Branca vencendo em seis desses estados mais disputados: Michigan, Wisconsin, Pensilvânia, Nevada, Arizona e Geórgia. A exceção foi a Carolina do Norte, que ficou com Trump. Harris tem um desafio específico no Rust Belt (Michigan, Wisconsin e Pensilvânia), onde Biden se deu bem entre os eleitores brancos da classe trabalhadora. Harris pode ter dificuldades com esse grupo, mas tem um trunfo com os eleitores não-brancos, o que abre possibilidades em estados com grandes populações negras (Geórgia e Carolina do Norte) e hispânicas (Arizona e Nevada). Cenários para a Vitória Perdendo os Três Estados do Rust Belt Se Harris perder Michigan, Wisconsin e Pensilvânia, ela precisa vencer nos quatro estados do Sun Belt (Geórgia, Carolina do Norte, Nevada e Arizona) para alcançar 275 votos no Colégio Eleitoral. Isso exige um aumento significativo no apoio dos eleitores negros e hispânicos. Vitória em Michigan, Perda em Wisconsin e Pensilvânia Com os 15 votos eleitorais de Michigan, Harris teria duas opções: vencer tanto na Geórgia quanto na Carolina do Norte, ou uma combinação de Geórgia, Nevada e Arizona. Vitória em Michigan e Pensilvânia, Perda em Wisconsin Nesse cenário, Harris ficaria com 260 votos eleitorais e precisaria vencer em um dos estados do Sun Belt (Geórgia, Carolina do Norte ou Arizona) para garantir a vitória. A escolha do vice-presidente é essencial para complementar a chapa e atrair eleitores dos estados-chave. Vários nomes estão sendo considerados, incluindo governadores de estados swing e figuras moderadas que podem ampliar o apelo de Harris. Josh Shapiro, governador da Pensilvânia, é um dos favoritos. A Pensilvânia é um estado crucial, e Shapiro tem uma sólida reputação como moderado pragmático, o que poderia garantir os 19 votos eleitorais do estado, frequentemente decisivos em eleições presidenciais. Outro nome em destaque é Tim Walz, governador de Minnesota. Conhecido por suas políticas progressistas e por atrair eleitores jovens, Walz tem um histórico de sucesso em questões como a legalização da maconha recreativa, controle de armas e direitos LGBTQ+. Sua presença na chapa poderia energizar a base progressista do Partido Democrata e fortalecer o apoio no Centro-Oeste. JB Pritzker, governador de Illinois, também é uma opção viável. Como uma estrela em ascensão dentro do Partido Democrata, Pritzker traz um histórico de sucesso econômico e políticas progressistas que podem atrair uma ampla gama de eleitores. Seu trabalho em fortalecer a economia de Illinois e em políticas de saúde pública pode servir como um poderoso contraponto aos ataques republicanos e ajudar a mobilizar eleitores em estados-chave. Pete Buttigieg, atual secretário de Transporte e ex-prefeito de South Bend, Indiana, tem uma experiência significativa em campanhas presidenciais e é visto como um nome capaz de atrair eleitores moderados e jovens. Buttigieg se destacou nas primárias de 2020, demonstrando uma capacidade notável de comunicação e engajamento com diversos grupos demográficos. Sua inclusão na chapa poderia ajudar a ampliar o apelo de Harris entre eleitores indecisos e reforçar a imagem de renovação e diversidade do Partido Democrata. Finalmente, o senador Mark Kelly do Arizona é outro nome que está sendo considerado para a vice-presidência. Como ex-astronauta e veterano militar, Kelly traz uma narrativa de serviço público e sacrifício que ressoa fortemente com muitos...

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Existe um “Centrão” na Europa, mas diferente do brasileiro

7/22/2024
Existe um “Centrão” na Europa? Existe, embora com um sentido diferente do brasileiro. No nosso país a palavra designa um grupo enorme de parlamentares no Congresso Nacional que, entra governo, sai governo, fisiologicamente negociam apoios, favores, verbas e orçamentos em proveito próprio. Mas na Europa a situação é diferente. Flávio Aguiar, analista político, de Berlin O que existe na Europa é um agrupamento de partidos e blocos designados na mídia como centro-direita, centro e centro-esquerda, que, de eleição em eleição, domina o cenário político em diferentes combinações e coalizões. Fazem parte do “Centrão Europeu” partidos considerados conservadores, como o Renaissance de Emmanuel Macron na França ou a União Democrata Cristã na Alemanha, liberais, como o FDP (de Freie Demokratische Partei) na Alemanha, os partidos social-democratas ou até alguns socialistas. Eles governam de acordo com uma cartilha liberal na economia, cultuam uma austeridade fiscal ao lado de programas sociais mais ou menos moderados, manifestam preocupações ambientais, ao lado de um protecionismo agrário em alguns casos, guardam uma fidelidade à OTAN e, mais recentemente, manifestam uma vigorosa hostilidade à Rússia, apoiando vigorosamente o governo de Kiev na guerra contra Moscou. Este bloco central da política europeia sofreu alguns abalos, sobretudo na França e na Alemanha. Do lado francês, o partido do presidente Emmanuel Macron amargou uma derrota contundente para a extrema-direita de Marine Le Pen na eleição para o Parlamento Europeu em junho passado, coisa que fez o chefe do executivo dissolver a Assembleia Nacional, convocando novas eleições. Neste pleito, seu partido demonstrou uma certa recuperação, mas ficou em segundo lugar diante da Nova Frente Popular dos partidos de esquerda, que desta vez atraíram o Partido Socialista. Do lado alemão sucedeu algo semelhante, com o Partido Social Democrata do chanceler Olaf Scholz sendo superado pelo Alternative für Deutschland (AfD), de extrema-direita, embora o partido mais votado, na realidade, tenha sido a tradicional e conservadora União Democrata Cristã. Grande parte da mídia apontou o crescimento da extrema-direita como o fato mais marcante daquelas eleições. Ao mesmo tempo o costume da rotatividade na presidência no Conselho Europeu, órgão que reúne os chefes de estado da União Europeia, fez que ela coubesse agora ao chefe do governo húngaro Viktor Orbán, de extrema-direita. O primeiro-ministro provocou alguns abalos sísmicos na União, fazendo visitas inesperadas a Vladimir Putin (embora precedida por uma ida a Kiev), à China e a Donald Trump nos Estados Unidos. Aquelas balizas consensuais dos blocos dominantes no continente pareciam correr o risco de desmoronar. Mas a reação do que chamamos metaforicamente de “Centrão europeu” não tardou, capitaneada por partidos da direita ou centro-direita convencional. Na semana passada ela propiciou duas vitórias importantes para este grande bloco que, apesar dos pesares, continua hegemônico na União Europeia. A primeira vitória veio com a eleição de Yaël Braun-Pivet para a presidência da Assembleia Nacional francesa. Do mesmo partido do presidente Emmanuel Macron, com 220 votos ela derrotou o comunista André Chassaigne, da Nova Frente Popular, e Sébastien Chenu, do Reunião Nacional de Marine Le Pen, que tiveram, respectivamente, 207 e 141 votos. O partido de Macron conseguiu fazer uma aliança com os conservadores do partido Os Republicanos, preocupados estes em impedir a ascensão das esquerdas ao governo. A segunda vitória veio com a reeleição, no Parlamento Europeu, de Ursula von der Leyen, da União Democrata Cristã alemã, para a presidência da Comissão Europeia, órgão executivo da União. Inicialmente a política alemã ensaiou uma aproximação com a primeira-ministra italiana, Georgia Meloni, de um dos blocos de extrema-direita no Parlamento Europeu. A iniciativa pegou mal. O chanceler alemão, Olaf Scholz, ameaçou retirar seu apoio a ela, caso a...

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Análise: atentado contra Trump é alerta sobre polarização política para todas as nações democráticas

7/15/2024
O recente atentado contra Donald Trump nos Estados Unidos não é apenas um choque para a política americana, mas um alerta global sobre a fragilidade das instituições democráticas. Este incidente, que resultou em uma morte e ferimentos no próprio Trump, ecoa momentos sombrios da história política mundial e nos força a refletir sobre os desafios enfrentados pelas democracias modernas. Thiago de Aragão, analista político Em primeiro lugar, as falhas de segurança que permitiram este ataque são alarmantes. Como é possível que, em 2024, com toda a tecnologia e recursos disponíveis, um atirador consiga se posicionar para atacar um ex-presidente durante um comício público? Esta falha não é apenas um problema para os EUA, mas um lembrete para todas as nações sobre a importância de proteger líderes políticos e o processo democrático. Mais preocupante ainda é o que este atentado revela sobre o clima político atual, não apenas nos Estados Unidos, mas em muitas democracias ao redor do mundo. A polarização extrema, alimentada por anos de retórica inflamatória e desconfiança mútua, tem criado ambientes férteis para a violência política em diversos países. É um fenômeno global que exige atenção e ação coordenada. O ataque a Trump também levanta questões importantes sobre o controle de armas e segurança pública. Enquanto cada país tem suas próprias leis e culturas em relação às armas, incidentes como este destacam a necessidade de um debate sobre como equilibrar liberdades individuais e segurança coletiva. Para os apoiadores de Trump, este atentado provavelmente servirá como um ponto de união, reforçando narrativas de perseguição política. No entanto, é crucial que observadores internacionais resistam à tentação de interpretar este incidente através de lentes partidárias. A violência política é uma ameaça para todas as sociedades democráticas, independentemente de ideologias. Essa tentativa de assassinar Trump mostra, acima de tudo, que a polarização política, seja nos Estados Unidos, França ou Brasil, representa uma vitória da estupidez humana, onde indivíduos enxergam políticos como santos ou demônios, entes sagrados, membros de suas famílias, enquanto o rival é um inimigo. O chamado por unidade e calma após o atentado é louvável, mas palavras sozinhas não são suficientes. O mundo precisa de ações concretas para reduzir tensões políticas, melhorar a segurança de líderes e candidatos, e abordar as raízes da violência política nas sociedades modernas. À medida que os Estados Unidos se aproximam de suas eleições, este atentado serve como um alerta para todas as nações democráticas. A violência política não é um problema isolado de um único país, mas um desafio global que requer uma resposta coordenada. O ataque a Trump é um momento definidor não apenas para a América, mas para todas as democracias. É hora de líderes e cidadãos de todas as nações se unirem em defesa dos valores democráticos e contra a ameaça da violência política. As próprias narrativas eleitorais nos EUA em 2024 representam conteúdos pobres e superficiais, sejam de Trump, Biden ou qualquer um. Este incidente nos lembra que a democracia é um sistema frágil que requer constante vigilância e cuidado. Ele nos convida a refletir sobre como podemos fortalecer nossas instituições democráticas, promover o diálogo construtivo e combater a polarização extrema em nossas próprias sociedades.

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França: esquerdas se uniram e venceram

7/8/2024
Toda mídia comentava que a França faria um “zig” à direita no segundo turno das eleições legislativas. Eis que no domingo ela fez um “zag” à esquerda, para surpresa geral. Flávio Aguiar, analista político Isto quer dizer que a estratégia do presidente Macron, dissolvendo o parlamento nacional depois da derrota na eleição para o parlamento europeu, deu certo? Sim e não. Sim: sua coligação saiu de uma derrota humilhante no primeiro turno para um honroso segundo lugar no turno decisivo. Não: se ele não está às voltas com o projetado governo da extrema direita, ele está agora às voltas com um projetado governo da coligação de esquerda. Como nenhuma coligação obteve maioria absoluta, não se pode dizer que haja um vencedor insofismável na eleição, embora a coligação de esquerda tenha sido a mais votada. Mas fica claro que há um perdedor: o Reunião Nacional (Rassemblement National) de Marine Le Pen e Jordan Bardella, que, de vitorioso no primeiro turno, se viu reduzido a um humilhante terceiro lugar no segundo. Por outro lado, se não conseguiram a maioria absoluta, as esquerdas francesas desenvolveram uma tática claramente bem sucedida. Em primeiro lugar, por se unirem entre si, superando as tradicionais divergências. Em segundo lugar por desenvolverem, sempre que possível, uma frente comum com candidatos e eleitores da centro-direita de Macron, para barrar o caminho da extrema direita. Segundo comentários na mídia francesa, em 134 distritos eleitorais candidatos de esquerda abriram mão da sua candidatura em favor de um candidato da centro-direita melhor colocado, enquanto em outros 82 aconteceu o contrário, com o candidato macronista desistindo, em favor de um candidato de esquerda. O que está por vir? O que acontecerá a seguir? Ainda é cedo para se ter um quadro definido. O presidente Macron declarou que “respeitará o resultado da eleição”. A lógica desta declaração diz que ele deverá chamar a liderança do bloco de esquerda para formar o governo. Como isto vai repercutir em seu próprio partido, o Renaissance (Renascimento), que se mostrava dividido a este respeito? Do outro lado do espectro político, o que fará a direita tradicional, do partido Les Republicains (Os Republicanos), que deve permanecer com algo entre 60 e 65 deputados dos 577 no parlamento? Vão se unir ao Rassemblement para formar um bloco de oposição? Tentarão puxar uma ala de macronistas para seu lado? Muita água ainda vai correr por debaixo destas pontes antes de termos respostas concretas. Uma coisa é certa. O resultado da eleição francesa derrotou o preconceito contra estrangeiros, imigrantes ou refugiados. Logo antes do segundo turno, reportagens na mídia europeia davam conta da importância de temas constantemente veiculados nos meios de comunicação, ligando imigração e violência, para consolidar o apoio às propostas xenófobas do Reunião Nacional, sobretudo nas pequenas cidades do meio rural. Esta vitória do respeito às diferenças é muito significativa na Europa de hoje, aliada à promessa do governo trabalhista recentemente eleito no Reino Unido de suspender a deportação de imigrantes considerados irregulares para Ruanda, na África. A xenofobia, ou seja, o preconceito contra os estrangeiros, é uma ameaça que paira sobre a Europa inteira, dando força aos partidos de extrema direita.

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Brasil continua comprando agrotóxicos produzidos na Europa mas de uso proibido no bloco europeu

6/24/2024
Reportagem recente publicada pela agência de notícias Deutsche Welle (Matheus Gouvea de Andrade, “Exportação de agrotóxicos banidos na U. E. segue em alta”, 19/06/2024) denuncia que vários pesticidas proibidos na União Europeia continuam a ser produzidos em países-membros para serem exportados para o Sul Global. E o Brasil está entre os maiores consumidores desses produtos perigosos. Flávio Aguiar, analista político Em 2020 a Comissão Europeia, órgão executivo da União, comprometeu-se a promover o banimento dessa produção. Entretanto, especialistas e ONGs que atuam sobre o tema apontam que aparentemente este compromisso foi “esquecido”. E a produção e a exportação continuam volumosas e lucrativas. Estudo publicado em abril deste ano (“EU Pesticides Ban. What could be the consequences?” - “O banimento dos pesticidas da União Europeia. Quais seriam as consequências?”) revela que 36% dos pesticidas importados da União Europeia pelo Brasil são proibidos na Europa. No caso do México e do Peru este percentual chega a 50%. No nosso país a campeã deste tipo de importação e uso nocivos é a soja, produzida pelo agronegócio de norte a sul e de leste a oeste no país. Um dos produtos produzidos na U.E. e importados pelo Brasil é a atrazina que, além de usada na soja, é utilizada também na produção de milho. Uma concentração excessiva deste produto pode prejudicar as glândulas e órgãos do sistema endócrino, que produz hormônios para o organismo, afetando a capacidade reprodutiva, podendo causar alguns tipos de câncer. Além disto, a atrazina pode contaminar a água e afetar por meio desta a vida dos insetos, como as abelhas. Ela está proibida na União Europeia desde 2004, mas o Brasil continua a importação do produto em larga escala. Junto com os glifosatos ela é um dos produtos mais importados pelo país, a partir da União Europeia, chegando a 200 toneladas por ano. Segundo relatório da ONG Public Eye, somente em 2018 a União Europeia exportou quase 82 mil toneladas de 41 pesticidas proibidos em seu território. Os campeões desta exportação foram pela ordem, Itália, Alemanha, Holanda, França, Espanha e Bélgica. No caso da Alemanha, 8,2% de suas exportações de agrotóxicos eram de produtos proibidos na União Europeia. Em 2022, a Alemanha exportou 18.360 toneladas de pesticidas proibidos na União. Segundo João Camargo, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e co-autor do estudo sobre exportações europeias de agrotóxicos proibidos no continente, isto demonstra um comportamento decepcionante por parte do Partido Verde, que integra o atual governo de Berlim. Brasil importa produtos proibidos em outros países A pesquisadora Márcia Montanari, da Universidade Federal do Mato Grosso, aponta que 30% dos pesticidas usados no Brasil estão proibidos em outros países. São 40 substâncias perigosas, 11 das quais provêm da União Europeia. Reportagem também da Deutsche Welle, publicada em 2022, afirma que a cada 2 dias morre um brasileiro por contaminação com agrotóxicos, sobretudo crianças e adolescentes de até 19 anos, segundo dados da ONG Friends of Earth Europe. A pesquisadora da Universidade de São Paulo Larissa Mies Bombardi, hoje vivendo na Europa, autora dentre outras obras do livro “Agrotóxicos e colonialismo químico”, publicado em 2023, corrobora o dado, lembrando que as maiores vítimas deste tipo de envenenamento são crianças, mulheres, indígenas e camponeses. Segundo ela, o Brasil padece também de subnotificações sobre o tema. Para cada caso notificado, lembra, pode haver até outros 50 não notificados por serem seus efeitos menos dramáticos ou não identificados corretamente. Por fim, cabe ressaltar que estas exportações europeias de produtos nocivos à saúde têm também um efeito bumerangue. Muitos produtos, como a soja, importados de outros países, trazem de volta para a Europa os efeitos nocivos das contaminações.

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Trump lança coalizão para conquistar eleitorado negro nos EUA: sinceridade ou cálculo político?

6/17/2024
Donald Trump, em um movimento ousado, lançou uma coalizão destinada a atrair eleitores negros. A iniciativa "Americanos Negros por Trump" foi inaugurada com uma mesa redonda comunitária em Detroit, apresentando figuras proeminentes como o deputado da Flórida Byron Donalds e o ex-secretário de Habitação e Desenvolvimento Urbano Ben Carson. Ambos são cotados como possíveis companheiros de chapa de Trump, que não hesitou em sugerir suas perspectivas de vice-presidência durante o evento. Thiago de Aragão, analista político Apesar dessa aproximação, a sinceridade da campanha de Trump é questionável. Suas alegações de conquistas sem precedentes para os americanos negros durante sua presidência são, no mínimo, imprecisas. Embora Trump tenha alcançado taxas recordes de desemprego e pobreza entre os negros durante seu mandato, esses recordes foram superados sob a administração de Biden. Mas a sugestão de Trump de que essas conquistas são incomparáveis sob Biden é enganosa e omite convenientemente dados recentes que mostram um desempenho melhor sob seu sucessor. Além disso, o histórico de comentários inflamados de Trump sobre cidades predominantemente negras e suas críticas bem documentadas a essas áreas contradizem seus esforços atuais. Ele O ex-presidente rotulou Baltimore como um “lugar nojento, infestado de ratos e roedores” e, mais recentemente, descreveu Milwaukee como “horrível” em uma reunião privada, supostamente referindo-se a questões de crime e fraude eleitoral. A estratégia de Trump parece se basear na exploração de uma insatisfação percebida entre os eleitores negros com o Partido Democrata. Apesar do contínuo apoio majoritário de Biden entre os eleitores negros, há uma queda notável em suas avaliações de aprovação, particularmente entre os homens negros mais jovens. As pesquisas indicam que o apoio negro a Biden caiu de 94% no início de seu mandato para 55% em pesquisas recentes. Simultaneamente, o apoio a Trump entre os eleitores negros mostrou um ligeiro aumento, com algumas pesquisas sugerindo até 17% de apoio, um aumento significativo em relação aos 8% que ele obteve em 2020. No entanto, essa mudança não é necessariamente um endosso a Trump, mas sim um reflexo de uma insatisfação mais ampla com o Partido Democrata. Líderes negros proeminentes criticaram a administração Biden por não comunicar efetivamente suas conquistas políticas às comunidades negras, levando a uma lacuna de percepção que a campanha de Trump busca explorar. Em um paradoxo revelador, Trump enfatiza suas realizações econômicas, mas ignora o impacto negativo de suas próprias políticas sobre as comunidades negras. Durante seu mandato, cortes em programas sociais e a falta de apoio a políticas de reforma criminal afetaram negativamente muitos americanos negros. Além disso, sua retórica divisiva e a frequente demonização de cidades de maioria negra contrastam com sua atual tentativa de conquistar esses eleitores. Em última análise, a aproximação de Trump com os eleitores negros é uma mistura complexa de política estratégica e desinformação. Embora seus esforços possam influenciar um segmento do eleitorado, as implicações mais amplas de suas táticas e seu alinhamento com sua retórica passada permanecem controversas e sujeitas a escrutínio. À medida que a eleição se aproxima, o impacto dessas manobras no voto negro será um fator crucial nos estados decisivos.

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Qual será o novo mapa político da União Europeia?

6/10/2024
Na primeira semana de junho de 2024 dois acontecimentos balizaram o que poderá ser o novo mapa político da União Europeia pelos próximos anos. O primeiro foi a comemoração dos 80 anos do desembarque dos aliados ocidentais na Normandia, em 6 de junho de 1944, durante a Segunda Guerra Mundial. O outro foi a eleição do novo Parlamento Europeu, de 6 a 9 de junho, nos 27 países membros da União. Flávio Aguiar, analista político As estrelas do primeiro evento foram o presidente norte-americano Joe Biden e o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, convidado especial para a ocasião. O chefe da Casa Branca discursou durante 12 minutos na praia batizada como Omaha, do alto do penhasco de Pointe du Hoc, imortalizado cinematograficamente no filme “O resgate do soldado Ryan”. Em seu discurso Biden elogiou os soldados que ali “defendiam a democracia”, dizendo que hoje se deveria honrar sua memória e valor. Foi como se, num jogo de vôlei, levantasse a bola para Zelensky bater. Em seu discurso, o presidente ucraniano comparou o presidente russo, Vladimir Putin, a Hitler, fazendo um paralelo entre a Alemanha nazista e a Rússia de hoje. Definiu-se assim um dos vetores principais do mapa político da União Europeia. Cabe à União seguir a diretriz norte-americana, corporizada na OTAN, que define a Rússia como seu alvo principal no momento, através do apoio financeiro e logístico ao governo de Kiev, contra Moscou. Nos últimos dias de maio, o primeiro-ministro alemão, Olaf Scholz, seguindo a diretriz de Washington, autorizou o governo de Kiev a atacar alvos em território russo com o armamento fornecido por Berlim, escalando a participação alemã na guerra. No dia 5 de junho, o ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, do SPD, dirigindo-se ao Bundestag, o Parlamento Federal, afirmou que, devido à ameaça russa, a Alemanha deve preparar-se para a guerra até 2029, defendendo também a volta do serviço militar obrigatório. Europa crescentemente militarizada Estes são sinais de uma Europa crescentemente militarizada. Alemanha, França, Polônia e outros países estão incrementando seus arsenais militares. Por ora estas armas estão apontadas para o definido inimigo comum, a Rússia. Qual serão os caminhos futuros desta militarização? Aqui entra em cena o segundo acontecimento deste começo de junho: a eleição do novo Parlamento Europeu. A se confirmarem as previsões, os blocos de extrema-direita deverão crescer substancialmente: o “Identidade e Democracia”, liderado pelo Rassemblement francês e a Lega italiana, e o “Conservadores e Reformistas”, onde pontifica o Fratelli d’Italia, da primeira-ministra Georgia Meloni. Com seu nacionalismo de estilo europeu, xenófobo e excludente, eles poderão dar as tintas nas pautas do parlamento eleito, mesmo que juntos não definam uma maioria. Serão um termômetro de tendências futuras em eleições nacionais. O conservador Bloco Popular Europeu, que reúne representantes dos partidos da direita tradicional, define a “autodefesa da Europa” como uma de suas prioridades. A Aliança Progressista de Socialistas e Democratas e o Bloco dos Verdes/Aliança Livre têm, entre suas prioridades, o isolamento de Putin e de sua Rússia. O Bloco chamado de Renew Europe (assim mesmo, em inglês) nada diz sobre questões militares. O Bloco de Esquerda, minoritário, é o único que ousa colocar, entre suas palavras de ordem, a de “Paz”. Pode-se assim prever, por este termômetro, que a militarização do continente terá amplos ventos favoráveis no futuro próximo e de médio prazo. E o currículo pregresso de uma Europa militarizada não é nada animador. Já aconteceu de um fanático isolado encontrar um arquiduque e sua esposa pela frente e, assassinado-os, deflagrar um conflito com 20 milhões de mortos e outros tantos de desaparecidos, feridos e mutilados.

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Extrema direita europeia cresce nas intenções de voto, mas não forma um bloco coeso

5/27/2024
O crescimento da extrema direita nas intenções de voto em vários países europeus, aliado à organização sistemática de encontros de seus líderes, dá a impressão de que seus partidos formam um bloco coeso. Na verdade não é bem assim. Eles têm, é claro, bandeiras comuns, que também se manifestam com nuances e variantes em outros continentes, como no caso de Donald Trump nos Estados Unidos, Javier Milei e Jair Bolsonaro na América Latina. e Benjamin Netanyahu e seu governo em Israel. Flávio Aguiar, analista político Entres essas bandeiras comuns estão: o nacionalismo xenófobo, que se volta contra imigrantes e refugiados, sobretudo os que vem de fora da Europa; a crescente islamofobia, substituindo na Europa, mas nem sempre, o antissemitismo; uma desconfiança acentuada em relação à União Europeia, pelo menos em seu estado atual; um discurso que se apoia num moralismo retrógrado e não raro em argumentos religiosos; oposição a movimentos identitários, como feminismo, valorização da diversidade cultural e outros; ações e discursos de ódio e violência contra aqueles que consideram ser seus adversários e inimigos; condenação da política e dos políticos tradicionais, sejam conservadores, liberais ou de esquerda. Ter bandeiras comuns não significa necessariamente ter um programa comum, nem mesmo uma identidade histórica compartilhada. “A Europa para os europeus”, eis um slogan que mobiliza as extremas direitas, da Ucrânia a leste até Portugal a oeste, do Círculo Polar ao norte até o Mediterrâneo ao sul. Mas as “Europas” do Chega português, do Vox espanhol, do Reunião Nacional (RN) francês, da Liga e do Irmãos da Itália em Milão ou Roma, do AfD (Alternativa para a Alemanha) na Alemanha, para citar alguns exemplos, não têm o mesmo significado, nem as mesmas raízes históricas Crise do bloco de extrema direita no Parlamento Europeu Um atestado desta diversidade, que pode ser conflituosa, está na recente crise que se abateu sobre o bloco de extrema direita no Parlamento Europeu, o “Identidade e Democracia”, às vésperas da eleição para aquela casa legislativa continental, prevista para acontecer de 06 a 09 de junho. A crise começou com uma entrevista dada por Maximilian Krah, um dos principais deputados do AfD alemão no Parlamento Europeu e candidato à reeleição, ao jornal italiano "La Repubblica". Nela o deputado declarou que um membro da antiga SS, a principal organização paramilitar nazista, “não era necessariamente um criminoso”. A declaração caiu como uma bomba no bloco. A líder francesa Marine Le Pen, do RN, retrucou imediatamente que se recusaria, dali por diante, a trabalhar em conjunto com membros do AfD. Com apoio da Liga italiana, todos os membros do AfD terminaram sendo literalmente expulsos do bloco parlamentar. Dentro do próprio partido alemão houve um terremoto: a direção decidiu que Krah não poderia mais participar de seus comícios e da campanha para o Parlamento, embora o tenha mantido como candidato. A crise mostra, de um lado, como a declaração do deputado alemão pode prejudicar o esforço de Le Pen para se aproximar do centro político e apagar a pecha de antissemitismo do partido fundado em 1972 por seu pai, Jean-Marie Le Pen, como Frente Nacional. Esse mesmo esforço de se aproximar do centro é compartilhado pela Liga italiana. Também evidencia o temor do próprio AfD de cair mais nas intenções de voto, que já foram de 23% e hoje estão em torno de 15%, ainda confortáveis, mas numa queda considerável. Pautas conservadoras O Chega português cultiva a memória do salazarismo; o Vox espanhol, a do franquismo. Muitos partidários do Vox se vêem como herdeiros dos Cavaleiros Templários da Idade Média, acentuando um conteúdo fortemente religioso. O mesmo não se pode dizer da Liga ou do Irmãos da Itália, embora este compartilhe bandeiras com movimentos conservadores católicos, como a do antiaborto ou a do anticasamento de pessoas do mesmo sexo. A religião em si também não faz parte do menu principal do francês RN, nem...

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Plano de Trump para deportação em massa de imigrantes seria catastrófico para EUA

5/20/2024
As promessas inflamáveis de deportação em massa do ex-presidente Donald Trump ecoam novamente à medida que a eleição presidencial de 2024 se aproxima. Embora sua retórica anti-imigração possa ressoar com certos eleitores, uma análise mais profunda revela as potenciais repercussões catastróficas para a economia americana. Thiago de Aragão, analista político da RFI em Washington As políticas de Trump ameaçam agravar a inflação, exacerbar a escassez de trabalhadores e mergulhar o país em uma espiral de dívida federal insustentável. A visão de Trump de uma América com 15 a 20 milhões de imigrantes a menos ignora a realidade demográfica e econômica do país. Os imigrantes desempenham um papel vital na manutenção de indústrias-chave e no preenchimento de lacunas críticas no mercado de trabalho. Deportações em massa desencadeariam uma onda de perturbações, deixando empresas lutando para preencher vagas e forçando-as a aumentar salários e preços. Essa escassez de mão-de-obra alimentaria novas pressões inflacionárias, minando a recuperação econômica e frustrando os americanos já sobrecarregados pelo alto custo de vida. Ironicamente, as mesmas preocupações com a inflação que impulsionam o apelo de Trump seriam exacerbadas por suas próprias políticas. Apesar de algum alívio recente, os efeitos persistentes da inflação elevada continuam a pressionar os orçamentos familiares, com os custos de habitação, alimentação e transporte permanecendo obstinadamente altos. No entanto, em vez de oferecer soluções substantivas, a agenda de imigração de Trump ameaça intensificar esses mesmos problemas de acessibilidade. Custos astronômicos As implicações fiscais das políticas de imigração de Trump são igualmente alarmantes. Deportar milhões de imigrantes custaria centenas de bilhões de dólares, potencialmente ultrapassando US$ 1 trilhão em uma década. Esses custos astronômicos viriam em cima dos planos de Trump de tornar permanentes os cortes de impostos de 2017 e reduzir ainda mais as taxas corporativas, medidas que poderiam adicionar trilhões à dívida nacional. Sem um plano claro para compensar esses déficits, os Estados Unidos arriscam uma crise fiscal que poderia desestabilizar a economia global. Economias regionais vibrantes como Califórnia e Texas, onde os imigrantes compõem uma parcela significativa da força de trabalho, seriam particularmente atingidas pelas políticas de Trump. Setores inteiros enfrentariam paralisações e cidades poderiam experimentar um colapso econômico, com consequências em cascata que são difíceis de quantificar completamente. Em uma era de desafios econômicos complexos, as políticas de imigração e fiscais de Trump oferecem respostas simplistas que ameaçam aprofundar os problemas que ele afirma resolver. Ao ignorar o papel crucial dos imigrantes na economia americana e promover planos fiscais insustentáveis, Trump arrisca mergulhar o país em uma espiral de inflação crescente, escassez de mão-de-obra e dívida federal insustentável. Naturalmente, a imigração ilegal é um problema sério e deve ser contido pelo governo dos EUA. No entanto, as propostas e ideias de Trump são simplistas, populistas e eleitoreiras.

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Discurso e ações de ódio da extrema direita crescem na Alemanha às vésperas de eleições europeias

5/13/2024
Muito se fala sobre o “discurso do ódio” no Brasil, associado quase sempre a ações de militantes de extrema direita contra seus adversários políticos. Nestas manifestações, por vezes parece que esta violência pertence exclusivamente à sociedade brasileira. Não é verdade. Flávio Aguiar, analista político Dentro de um mês se realizarão as eleições para o Parlamento Europeu e nota-se um crescimento do “discurso e das ações de ódio” na Alemanha, também por parte de militantes de extrema direita, contra quem considerarem ser adversários políticos. Recentemente houve alguns incidentes graves desta natureza nas cidades de Dresden e Berlim. Em Dresden houve dois incidentes. No primeiro, a política Anne-Katrin Haubold, do Partido Verde, foi hostilizada por um grupo de jovens enquanto afixava cartazes de propaganda para a votação do Parlamento Europeu. A agressão foi filmada, e vê-se o grupo investir contra os cartazes que ela pregava, além de a agredirem verbalmente. O segundo episódio foi mais grave. Aparentemente o mesmo grupo - de quatro jovens - atacou o político do Partido Social-Democrata Matthias Ecke, também enquanto este fazia campanha para a eleição de junho. Matthias Ecke ficou ferido com alguma gravidade, sofrendo fraturas no osso facial e numa de suas cavidades oculares. A polícia identificou os quatro agressores, de idade entre 17 e 18 anos, e pelo menos um deles já era conhecido por suas ideias de extrema direita. Em Berlim, na terça-feira (7), a atual secretária da Economia da Prefeitura (aqui chamada de “Senado”) e ex-prefeita da cidade Franciska Giffey, do Partido Social-Democrata, foi agredida dentro de uma biblioteca no bairro de Rudow. Um homem de 74 anos atacou-a pelas costas, e bateu em sua cabeça e em seu pescoço com uma sacola pesada. Giffey sofreu ferimentos leves e o agressor foi detido. A polícia declarou ainda desconhecer os motivos da agressão. Max Reschke, porta-voz do Partido Verde no estado da Turíngia, na antiga Alemanha Oriental, declarou que ameaças e ataques contra militantes de seu partido e de outros de esquerda ou de centro-esquerda são constantes. Detalhou que durante manifestações dos agricultores da região, que, dentre outras reivindicações, pediam o afrouxamento das exigências ambientais, tornou-se comum encontrar estrume nas portas dos gabinetes de políticos do partido. Muitas vezes esses gabinetes tiveram suas janelas quebradas por pedradas e também suas caixas de correio foram destruídas. O porta-voz declarou que agora é norma que políticos em campanha não andem nem viajem desacompanhados. Aumento da violência A pedido da Fundação Körber de Proteção à Democracia, a agência Forsa realizou uma pesquisa com 6.400 prefeitos ou presidentes de câmaras municipais na Alemanha sobre o tema da violência política. Duas mil e quinhentas delas ou deles afirmaram que ou já sofreram violência e ameaças ou sabem de casos que aconteceram na sua jurisdição. Sven Tetzlaff, dirigente regional da Fundação Körber, ressaltou que este aumento da violência não se restringe à Alemanha, mas é observado em toda a Europa e nos Estados Unidos, motivado por ressentimentos e frustrações contra políticos e a política de um modo geral. Quanto à Alemanha especificamente, há analistas que ressaltam a semelhança deste crescimento com o que aconteceu nas décadas de 1920 e 1930 do século passado, durante o período conhecido como República de Weimar, cidade onde se reuniu a Constituinte alemã depois do fim da Primeira Guerra Mundial e da queda da monarquia. Naquele momento, grupos paramilitares de extrema direita patrocinaram uma violência crescente contra seus adversários até a ascensão do governo e do regime nazistas no começo de 1933. Apesar das analogias, notam-se algumas diferenças entre as duas situações, pelo menos de momento. Por exemplo, em maio de 1933 o subprefeito do bairro de Kreuzberg, em Berlim, o social-democrata Carl Herz, tio-avô do político brasileiro Tarso Genro, ex-prefeito de Porto Alegre e...

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Trump busca candidato a vice-presidente que tenha talento político e estratégico

5/6/2024
A busca do ex-presidente Trump por um candidato a vice ganhou destaque, com um recente encontro em seu resort Mar-a-Lago, fornecendo insights sobre possíveis escolhas. O evento, que também serviu para arrecadação de fundos, recebeu uma variedade de concorrentes, cada um mostrando seus pontos fortes e recebendo atenção de Trump e sua equipe. Thiago de Aragão, analista político As avaliações de Trump, reveladas em uma gravação de áudio, refletem um processo de escolha estratégica. Senadores como Marco Rubio e Tim Scott receberam comentários positivos, destacando sua habilidade política e eficácia como representantes. Enquanto isso, figuras como J.D. Vance e a deputada Elise Stefanik foram notadas por seus relacionamentos em evolução com Trump e sua crescente influência dentro do partido. O processo de seleção não se resume apenas ao talento político, mas também a considerações estratégicas. O encontro de doadores e legisladores republicanos destaca a importância da habilidade de angariar fundos, uma característica notada em potenciais candidatos como o senador Tim Scott e o governador da Dakota do Norte Doug Burgum. Além disso, considerações sobre diversidade, como sugerido pelo comentário de Trump sobre o deputado Byron Donalds, adicionam camadas à matriz de tomada de decisão. No entanto, a busca pelo vice-presidente não é sem complexidades. Preocupações com desafios legais, como os relacionados à elegibilidade do senador Rubio devido a questões de residência, adicionam uma dimensão jurídica às deliberações. As divagações de Trump sobre escolhas potenciais fora do comum também sugerem a imprevisibilidade da decisão final. À medida que o processo de seleção do vice-presidente se desenrola, o cenário político continua a evoluir, apresentando tanto oportunidades quanto desafios para os candidatos em potencial. Por exemplo, os esforços agressivos da governadora de Dakota do Sul, Kristi Noem, têm sido objeto de escrutínio, especialmente em relação a piadas controversas (para se dizer o mínimo) em seu livro, e declarações atrapalhadas sobre encontros com líderes estrangeiros. Tais incidentes destacam o delicado equilíbrio que os candidatos devem encontrar entre projetar força e evitar controvérsias que possam prejudicar sua viabilidade como companheiros de chapa. Além disso, o julgamento criminal em andamento envolvendo o ex-presidente Trump adiciona outra camada de confusão à busca pelo vice-presidente. Depoimentos de testemunhas-chave e a análise de batalhas legais anteriores destacam as considerações legais e de reputação em jogo. Embora os desafios legais de Trump possam não afetar diretamente o processo de seleção do vice-presidente, eles contribuem para a narrativa mais ampla que cerca sua administração e podem influenciar a percepção pública dos potenciais companheiros de chapa. Nesse contexto, a seleção do vice-presidente se torna não apenas uma jogada política estratégica, mas também um reflexo das batalhas legais em curso de Trump e das dinâmicas mais amplas dentro do Partido Republicano.

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Europa tenta encontrar solução para fluxo de refugiados e migrantes clandestinos

4/29/2024
Na semana passada, o Parlamento do Reino Unido aprovou, depois de uma longa batalha, a lei que permite a deportação de refugiados e migrantes considerados ilegais para Ruanda, na África Central, uma ex-colônia alemã e belga. O primeiro-ministro Rishi Sunak, do Partido Conservador, se empenhou na aprovação da lei, retida durante meses num impasse entre a Câmara Baixa, ou dos Comuns, e a Câmara Alta, ou dos Lordes, e também entre governo e partidos de oposição, além de ser alvo de uma crítica constante por parte de ONGs de defesa dos direitos humanos. O ministro do Interior (Home Secretary), James Cleverly, saudou a aprovação da lei como “um marco no esforço para deter o afluxo de barcos” que tentam trazer refugiados do continente para o Reino Unido através do Canal da Mancha, e também como uma “afirmação da soberania britânica” contra “bloqueios impostos por tribunais europeus”. Já Denise Delic, da seção do Reino Unido do Comitê Internacional de Ajuda aos Refugiados, considerou a medida “ineficaz, desnecessariamente cruel e demasiadamente cara”. Ela argumentou que seria melhor aprimorar a rede de proteção aos refugiados e seus familiares, estabelecendo, por exemplo, rotas legais e seguras. Já há uma lista de 350 possíveis deportados e o primeiro voo para Ruanda está previsto para o mês de julho. Cada candidato a ser deportado receberá uma carta comunicando-lhe esta condição, e deve se seguir uma série de possibilidades de recursos até a decisão definitiva por parte de um tribunal. Há estimativas de que com todos os procedimentos legais e a compensação devida a Ruanda, cada deportado custará cerca de 180 mil libras esterlinas aos cofres britânicos, o equivalente a quase R$ 1,2 milhão. Os críticos da medida lembram que nos anos 90 do século passado Ruanda foi palco de uma guerra civil e do genocídio contra a etnia Tutsi, com uma estimativa de até 800 mil mortos e de até 500 mil mulheres estupradas. O atual governo de Ruanda pede, como condição para aceitar os refugiados, que o Reino Unido deporte para lá cinco acusados de participarem deste genocídio. A medida do governo londrino vem na esteira de uma série de iniciativas discutíveis e polêmicas na Europa sobre a questão dos refugiados e imigrantes. No ano passado a Comissão Europeia e o governo italiano tentaram negociar com a Tunísia um esforço por parte de seu governo para conter as levas de refugiados que passam por seu território em busca dos barcos no Mediterrâneo que os levem para o continente europeu, em troca de uma ajuda financeira para equilibrar as contas do país. A iniciativa não prosperou, mas foi suficiente para levantar uma série de críticas por parte dos defensores dos direitos humanos. No começo de abril deste ano o Parlamento Europeu aprovou por estreita margem um chamado Novo Pacto sobre Migração e Asilo envolvendo os países da União Europeia. A resolução compreende um conjunto de cinco leis visando agilizar e uniformizar os procedimentos para concessão ou rejeição de asilo, além de prever uma sistemática e relocação dos aceitos entre os países da União, com objetivo de aliviar a carga concentrada nos países do sul do continente. Abre também a iniciativa de negociar medidas de contenção com os países africanos que estão na rota dos migrantes, como novamente a Tunísia, além da Mauritânia, Marrocos e Egito. ONGs criticam a medida, dizendo que ela vai mais restringir do que proteger direitos de pessoas em situação de vulnerabilidade. A controvérsia vai continuar. Em 2023 a Europa recebeu 1,14 milhão pedidos de asilo. Além disto detectou 380 mil migrantes em condições consideradas como “irregulares”. Destes, 105 mil receberam ordem de deportação, e apenas 28 mil foram de fato deportados. No Reino Unido há quem preveja que aquela nova lei de deportação aprovada vai implicar uma verdadeira fuga de candidatos a sua aplicação para a clandestinidade, evitando o recebimento das intimações. No fim de semana, o primeiro-ministro Rishi Sunak afirmou,...

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Fraturas internas na política americana influenciam apoio em ações internacionais

4/22/2024
Em um momento de polarização política aguda nos Estados Unidos, a recente aprovação pela Câmara dos Representantes de um pacote de ajuda externa de US$ 95 bilhões de dólares para Ucrânia, Israel e Taiwan reflete não apenas a complexidade da diplomacia internacional, mas também as tensões internas que fervem no coração da política americana. Thiago de Aragão, analista político A medida, que também inclui uma possível proibição nacional do aplicativo TikTok, marca uma tentativa audaciosa do presidente da Câmara, Mike Johnson, de consolidar apoio bipartidário, mesmo colocando seu cargo em risco diante da ala anti-intervencionista de seu partido. O pacote de ajuda, que contempla US$ 60 bilhões para a Ucrânia, 26 bilhões para Israel e 8 bilhões para a região do Indo-Pacífico, não apenas reafirma o compromisso dos EUA com seus aliados, mas também ajusta o foco na política externa americana para uma postura mais assertiva contra adversários como Rússia e Irã. A inclusão de medidas para o confisco de ativos russos congelados e novas sanções contra o Irã amplia o alcance deste pacote, posicionando os Estados Unidos firmemente contra o que muitos veem como agressões autoritárias que desafiam os valores ocidentais. No entanto, o que realmente captura a atenção é o teatro político que se desenrolou no plenário. Democratas acenando bandeiras ucranianas e republicanos de extrema-direita vaiando ilustram a divisão visceral sobre o papel dos EUA no mundo. Essa cena reflete uma luta interna dentro do Partido Republicano e destaca um dilema significativo para os políticos americanos: até que ponto eles estão dispostos a apoiar ações externas em um momento em que a política interna está tão fraturada? A abordagem de Johnson, desafiando a ala mais dura de seu partido e contando com o apoio dos democratas para aprovar a medida, é particularmente reveladora. Ele representa uma facção dentro do Partido Republicano que vê a necessidade urgente de apoiar aliados globais como um imperativo moral e estratégico, contrapondo-se à crescente influência de figuras como Marjorie Taylor Greene, que veem tais medidas como um desperdício de recursos que poderiam ser melhor utilizados internamente. Soberania nacional x responsabilidade global Esta legislação também levanta questões críticas sobre o equilíbrio entre soberania nacional e responsabilidade global. Por um lado, há uma clara necessidade de apoiar nações que compartilham os ideais democráticos e enfrentam ameaças significativas à sua soberania. Por outro, as ações dos EUA são vistas por alguns como uma imposição de sua vontade sobre outros, com pouco respeito pelas consequências a longo prazo para os países receptores da ajuda. Além disso, a dinâmica interna dentro dos EUA sugere uma potencial reconfiguração das políticas de ajuda externa. A forte oposição interna ao pacote e a subsequente necessidade de compromissos destacam a complexidade de governar uma nação tão diversificada e dividida. Essa divisão é um microcosmo das tensões globais, onde as ações dos EUA são tanto um catalisador para a cooperação quanto um ponto de contenda. Em resumo, enquanto o pacote de ajuda de US$ 95 bilhões é uma declaração de intenções significativa, também é um prisma através do qual as lutas internas e os desafios externos dos Estados Unidos são vividamente ilustrados. Esta é uma era em que os ideais americanos de liberdade e democracia estão sendo tanto promovidos quanto questionados, tanto dentro quanto fora de suas fronteiras. O resultado dessas tensões não apenas moldará o futuro da política externa americana, mas também definirá o papel dos Estados Unidos no palco mundial nos próximos anos.

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Condenação da Suíça por Tribunal Europeu atesta que clima saudável é direito fundamental

4/15/2024
Na semana passada o Tribunal Europeu para Direitos Humanos, com sede em Estrasburgo, na França, condenou o governo suíço por não tomar medidas suficientes contra as mudanças climáticas em curso no planeta. O processo foi iniciado pela Associação de Senhoras Suíças Idosas sobre o Clima (tradução mais que livre para KlimaSeniorinnen Schweiz) e mais quatro mulheres independentes. A Associação representa cerca de 2.000 idosas com 64 anos ou mais. Flávio Aguiar, analista político A decisão dos 17 juízes e juízas do tribunal é bastante complexa. Seu acórdão tem mais de 300 páginas. A sentença recusou a representação das quatro mulheres independentes, alegando que elas não tinham caracterizado suficientemente seu status de vítimas. Entretanto reconheceu esta condição e a representatividade coletiva da Associação. Na sentença, que não é passível de apelação, o tribunal condenou o governo suíço por não tomar medidas suficientes para cumprir seu próprio objetivo de reduzir em 50% as emissões de gás carbônico na atmosfera até 2030, em relação às emissões na última década do século passado. Entre as alegações consta a de que o governo suíço sequer criou um orçamento específico para a questão. Quais serão as consequências da decisão? Eis outra matéria complexa. A Agência Federal de Justiça da Suíça, que representa o governo, afirmou que estudará as medidas necessárias para cumprir a decisão. É complicado, pois em 2021 um plebiscito no país rejeitou as medidas que vinham sendo tomadas, por julgá-las demasiado severas. Por outro lado, caso o governo não tome as medidas necessárias, poderia ser condenado ao pagamento de multas e outras sanções. Espera-se que haja impacto sobre a construção civil, o sistema de transporte, a circulação de veículos e o fornecimento e consumo de energia. Uma porta-voz das “Vovós Suíças”, apelido carinhoso da Associação, afirmou que espera também medidas reguladoras de empresas do sistema financeiro que apoiam atividades danosas ao meio ambiente. Impacto internacional? Como o clima não tem fronteiras, espera-se também que a decisão do Tribunal de Estrasburgo, a primeira no mundo inteiro no gênero, tenha um impacto internacional. Em 2021 uma resolução da ONU reconheceu que um clima saudável é um direito humano universal e inalienável. A Suprema Corte da Índia já tomou uma resolução semelhante, afirmando que faz parte dos direitos da cidadania o de “permanecer livre dos efeitos negativos das mudanças climáticas”. Aliás esta foi a alegação da Associação das Senhoras Suíças, afirmando que as ondas de calor decorrentes dessas mudanças colocam em risco suas vidas devido à sua idade e ao seu gênero. Espera-se também um impacto em outras áreas relativas ao meio ambiente. Por exemplo, há um caso em curso contra uma decisão do governo da Noruega autorizando novas concessões para exploração do petróleo no mar a partir de 2035. Efeitos no Brasil Segundo a agência de notícias Reuters, especialistas europeus afirmaram também que a decisão pode ter efeitos imediatos em outros países, citando, especificamente, a Austrália, o Peru, a Coreia do Sul e… o Brasil. Fica aberto, portanto, o convite para que advogados, juristas, juízes, professores e estudantes de Direito, ONGs do meio ambiente e de direitos humanos, além de demais interessadas e interessados, se debrucem de imediato sobre as implicações da decisão em nosso país.

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O reforço militar do Japão e a luz verde dos EUA

4/8/2024
Em um cenário global de tensões geopolíticas em um ponto crítico, as nações são compelidas a reavaliar e fortificar suas estratégias de defesa. O Japão, tradicionalmente conhecido por sua postura pacifista pós-Segunda Guerra Mundial, está passando por uma transformação significativa em sua postura de defesa, impulsionado pelas pressões crescentes da China e pelos imperativos estratégicos de manter a estabilidade regional. Thiago de Aragão, analista político As recentes falas e ações do primeiro-ministro Fumio Kishida sublinham um pivô histórico do Japão, visando uma capacidade de defesa reforçada e uma aliança aprofundada com os Estados Unidos. As declarações do primeiro-ministro evidenciam a urgência com a qual o Japão encara o panorama geopolítico atual. Citando a agressão na Ucrânia, as persistentes tensões no Oriente Médio e a situação no leste asiático, Kishida anunciou a decisão do Japão de reforçar fundamentalmente suas capacidades de defesa, marcando uma mudança significativa na política de segurança do país. Esse movimento é uma resposta direta ao "ponto de virada histórico" que o Japão enfrenta, impulsionado por pressões externas, particularmente a agressão marítima da China e disputas territoriais nos mares do Leste e do Sul da China. A iminente cúpula entre Kishida e Biden é retratada como uma oportunidade histórica para modernizar a aliança Japão-EUA, um pilar de paz e estabilidade na região do Indo-Pacífico. Essa aliança está se tornando cada vez mais vital em meio a ameaças regionais, incluindo os testes de armas da Coreia do Norte e as ações assertivas da China em relação a Taiwan e no Mar do Sul da China. A parceria visa não apenas contrapor essas ameaças, mas também apoiar o papel expandido do Japão em questões de segurança global e regional. Sob a liderança de Kishida, o Japão desviou-se de sua Constituição pacifista pós-guerra, com planos de aumentar os gastos com defesa para 2% do PIB até 2027 e adquirir capacidades de contra-ataque. Essa mudança estratégica é uma reação direta ao "ambiente de segurança severo e complexo" que o Japão enfrenta, cercado por nações que aprimoram suas capacidades militares e se engajam em atos agressivos que ameaçam a estabilidade regional. Capacidade de dissuasão e resposta Um aspecto crucial do reforço militar do Japão é o desenvolvimento de suas capacidades de inteligência, vigilância e reconhecimento (ISR). Essenciais para ataques de longo alcance, as capacidades ISR permitem uma eficaz identificação de forças inimigas, um componente crítico na manutenção da postura de defesa do Japão contra ameaças. O investimento do governo japonês em mísseis de ataque terrestre Tomahawk, baterias de projéteis hipervelozes e mísseis de ataque ao solo de longo alcance Joint destaca a prioridade dada à capacidade de dissuasão e resposta. Diante desses aprimoramentos estratégicos, Kishida enfatiza a importância da cooperação internacional e de uma comunidade internacional forte baseada no estado de direito. O objetivo não é apenas contrariar ameaças, mas fomentar uma atmosfera de cooperação em vez de divisão. Essa visão inclui aprofundar os laços com outros aliados dos EUA, como as Filipinas, e reforçar o papel do Japão na garantia da paz, estabilidade e prosperidade da comunidade internacional. À medida que o Japão fortalece suas capacidades de defesa em resposta às pressões regionais, especialmente da China, o mundo observa atentamente esse movimento. O resultado da cúpula Kishida-Biden e a trajetória futura da aliança Japão-EUA serão fundamentais na formação da paisagem de segurança do Indo-Pacífico. O pivô histórico do Japão do pacifismo para uma postura de defesa mais assertiva, respaldado por capacidades ISR aprimoradas e cooperação internacional, sinaliza um novo capítulo em seu cálculo estratégico, reconhecendo as complexidades do ambiente geopolítico atual e o papel indispensável das alianças.

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Por que Bolsonaro foi dormir na embaixada da Hungria?

4/2/2024
Atualmente duas hipóteses cercam esta pergunta que não quer calar. A defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro alega que ele dormiu lá para “manter contato com autoridades daquele país”. Convenhamos que é uma alegação inverossímil. Para manter tais contatos ele nem precisaria ir à embaixada, quanto mais dormir nela por duas noites, em pleno carnaval. Bastaria telefonar, marcar um zoom, skype, ou algo parecido, mesmo que encriptado. Flávio Aguiar, analista político A outra hipótese, mais provável, diz que, com o passaporte apreendido, ele executou o que em xadrez se chama de um “roque preventivo”. Naqueles dias de incerteza, temendo ser preso, recolheu-se ao teto amigo, onde, em caso de necessidade, poderia pedir asilo político. Mas vá lá: qualquer que seja a hipótese aceita, a resposta àquela pergunta é: Viktor Orbán, o primeiro-ministro da Hungria, seu correligionário de extrema-direita, com quem costuma trocar elogios. Mas afinal, quem é e o que pretende Viktor Orbán? Para começo de conversa, no poder há 14 anos, Orbán é o segundo governante mais longevo no cargo no continente europeu, só perdendo para Alexander Lukashenko, da Belarus, na presidência de seu país desde 1994. Analistas de variadas tendências apontam que ele é um político que ostenta uma formação universitária complexa e sofisticada e, ao mesmo tempo, é capaz de gestos simbólicos como o de se juntar a bombeiros e trabalhadores braçais, amontoando sacos de areia para deter uma enchente. Também se aponta sua habilidade em escolher alvos de fácil identificação como inimigos preferenciais de seu país. Um deles, por exemplo, foi o bilionário e conterrâneo George Soros, caracterizando-o como uma espécie de Mágico de Oz disposto a controlar a Hungria desde os bastidores da política. Através desta manobra, Orbán se opôs ao liberalismo político que dominava a cena europeia no século XXI e consolidou a ideia de que pretende criar um regime que caracteriza como “iliberal”. Nesta esteira avançou seu controle sobre a mídia e o parlamento. Conseguiu expulsar para Viena, na Áustria, a maior parte das atividades da universidade que Soros financiara em Budapeste, a capital húngara. Orbán fundou o partido Fidesz, que lidera até hoje, ainda quando era estudante universitário, prometendo lutar pela “liberdade” depois do fim dos regimes comunistas na Europa Oriental. Entretanto, seus críticos o apontam como o líder autoritário e autocrático de sucesso mais proeminente e duradouro na Europa de hoje. Além de Soros, Orbán apontou para seu público uma série variada de inimigos: o imigrante ou refugiado do “Sul do Mundo” e o muçulmano, que acusou frequentemente de trazer “tendências terroristas” para a Europa. “A Europa para os europeus, a Hungria para os húngaros”, é um de seus slogans preferidos. Referência para a extrema direita Orban apresenta-se como um defensor de valores cristãos e da família heterossexual, condenando qualquer outro tipo de relação sexo-afetiva. Com tal folha de serviços pretende fazer de si e da Hungria uma referência internacional para políticas de extrema direita. Além de Bolsonaro, é amigo de Benjamin Netanyahu e é considerado o líder europeu mais próximo de Vladimir Putin, sendo crítico em relação ao apoio dado pelo Ocidente à Ucrânia, defendendo que esta não tem condições de vencer a Rússia na guerra ali travada. Ele compareceu à posse de Javier Milei na Argentina e é admirador de Donald Trump, a quem dá conselhos. Leva pelo menos uma vantagem sobre o norte-americano: prestes a completar 61 anos, parece um “jovem” diante dos 77 de Trump. Além destas “afinidades eletivas”, há mais um fator importante na preferência de Bolsonaro pela embaixada da Hungria. Em novembro de 2018, o ex-primeiro-ministro da pequena Macedônia do Norte, o direitista Nikola Gruevski, estava prestes a cumprir pena de prisão, condenado por atos de corrupção. No dia em que deveria se apresentar para cumprir a pena, não o fez. Três dias depois apareceu em Budapeste, na...

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Ataque contra casa de shows perto de Moscou mostra vulnerabilidade do regime de Putin

3/25/2024
O recente ataque no Crocus City Hall em Moscou, que deixou ao menos 137 mortos na sexta-feira (22), marca um momento decisivo para a liderança do presidente Vladimir Putin, principalmente diante de sua recente vitória eleitoral. Este trágico incidente não apenas expõe falhas gritantes na segurança nacional, mas também levanta questões sobre possíveis vulnerabilidades no regime russo. Thiago de Aragão, analista político Os Estados Unidos já haviam alertado sobre o risco de um ataque do grupo Estado Islâmico (EI) na Rússia, inclusive publicando no site da embaixada americana em Moscou. Putin, no entanto, talvez subestimando a gravidade da situação, descartou esses avisos e os consderou meras provocações. Especificamente, Washington tinha informações sobre potenciais atividades extremistas visando grandes aglomerações em Moscou - deixando claro que uma casa de shows, como a Crocus City Hall, eram possíveis alvos -, mas parece que as autoridades russas não deram a devida atenção a essas advertências. O fato de militantes do grupo EI terem conseguido executar este ataque logo após a reeleição de Putin, quando ele prometia reforçar a segurança nacional, levanta sérias questões sobre a segurança nacional russa. Este incidente abala a imagem de uma Rússia forte e segura sob a liderança de Putin. O Kremlin tentou rapidamente atribuir a culpa à Ucrânia, sem apresentar provas concretas, o que levanta ainda mais suspeitas sobre a transparência e a responsabilidade do governo Putin. Essa estratégia de desviar a atenção não resolve as falhas de segurança interna expostas pelo ataque. Consequências além das fronteiras russas A aparente desconsideração de Putin pelos avisos dos Estados Unidos não agrava as já tensas relações entre os dois países, especialmente em um contexto de discórdia global, mas cria um constrangimento pesado para Putin. Isso destaca a complexidade da colaboração internacional de inteligência e a importância de levar a sério ameaças críveis, independentemente de sua origem. No fim das contas, o ataque ao Crocus City Hall coloca em xeque a imagem de controle e segurança cultivada por Putin, revelando a ameaça persistente do terrorismo e a necessidade urgente de operações de inteligência eficientes e cooperação global no combate às ameaças à segurança. Este evento pode ter um impacto duradouro na popularidade do líder russo e na percepção de solidez de seu governo. O ataque em Moscou sinaliza também um ressurgimento perturbador das atividades do grupo EI, elevando os riscos de segurança para a Ucrânia e a Europa. Ele destaca a contínua capacidade e intenção dos jihadistas de atingir a Rússia, em parte como retaliação pelas ações militares russas na Síria e na Chechênia, e pelos conflitos históricos em regiões de maioria muçulmana, como o Afeganistão. Os engajamentos militares passados da Rússia, especialmente os brutais conflitos chechenos e seu apoio ao regime sírio, alimentaram animosidades e forneceram ao movimento jihadista munição propagandística para justificar seus ataques antirrussos. A histórica influência de Moscou na Síria, antigo reduto do grupo EI, coloca a Rússia no topo da lista de alvos. Essa escalada pode desencadear uma estratégia de segurança russa mais agressiva, com o potencial de piorar ainda mais a situação já tensa na Ucrânia. A Rússia pode intensificar suas respostas militares ou de segurança, colocando em risco a estabilidade da Europa Oriental. Afinal, se Putin não conseguir demonstrar força contra um inimigo das sombras, como o grupo EI, essa ira será direcionada para o alvo mais imediato: a Ucrânia. Além disso, esse grande ataque em Moscou pode encorajar o movimento jihadista e suas filiais a expandir suas atividades pela Europa, trazendo à tona lembranças de seus ataques letais anteriores em cidades como Paris e Nice. Conflito checheno-russo Soma-se a isso a história do conflito checheno-russo, marcada por duas guerras brutais após a dissolução soviética, que perpetuou a...

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