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Artes - O legado da obra de Christo, genio da arte contemporanea mundial

RFI

Um dia por semana, em média, veja aqui os nossos destaques no mundo da cultura e das artes. Excepcionalmente, em função da actualidade, esta rubrica pode ter vários destaques.

Location:

Paris, France

Networks:

RFI

Description:

Um dia por semana, em média, veja aqui os nossos destaques no mundo da cultura e das artes. Excepcionalmente, em função da actualidade, esta rubrica pode ter vários destaques.

Language:

Portuguese


Episodes
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Toumani Diabaté, “um ícone e uma lenda”

7/23/2024
Toumani Diabaté é um dos mais reconhecidos intérpretes contemporâneos da kora, considerado por muitos como o “rei da kora”, um instrumento de 21 cordas, típico da África ocidental e da cultura mandinga. Toumani Diabaté morreu, na sexta-feira, aos 58 anos, mas deixa uma herança intemporal que alia tradições ancestrais e modernidade. Para o músico guineense Nino Galissa, Toumani Diabaté é “um ícone e uma lenda”. Toumani Diabaté nasceu em 1965 numa família de contadores de histórias e de músicos e começou a tocar ainda em criança. O pai era Sidiki Diabaté, um dos intérpretes no primeiro álbum de kora gravado, o “Cordes Anciennes”, de 1970. Inspirado pelo ambiente onde cresceu e pelo instrumento de vários séculos, Toumani Diabaté tornou-se num embaixador da música africana e tocou com imensos músicos, desde outro virtuoso da kora, o maliano Ballaké Sissoko, e o cantor e guitarrista também maliano Ali Farka Touré. Também se interessou por outras sonoridades, incluindo o flamenco, o jazz, o blues, a pop e tocou com a islandesa Björk, o norte-americano Roswell Rudd, o brasileiro Arnaldo Antunes, o britânico Damon Albarn, o francês M, entre muitos outros. No meio da world music, é enaltecido pelo disco “In the Heart of the Moon”, gravado em duo com o guitarrista maliano Ali Farka Touré, e “Boulevard de l’Indépendance”, à frente da sua Symmetric Orchestra. Neste programa, falámos com o músico guineense Nino Galissa sobre Toumani Diabaté. Para o também tocador de kora, que está a criar uma escola para ensinar este instrumento na Guiné-Bissau, Toumani Diabaté é “um ícone e uma lenda” que conseguia transmitir plenamente “o mistério” da kora.

Duration:00:11:15

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Terminal (O Estado do Mundo) de Inês Barahona e Miguel Fragata em Avignon

7/17/2024
Terminal (O Estado do Mundo) de Inês Barahona e Miguel Fragata é o segundo espectáculo de um díptico que aborda a crise climática. A criação mostra-nos uma “grande crise” que assenta em “desigualdades” e “escolhas políticas e económicas”, num lugar de onde “não há saídas”. A peça pode ser vista até ao próximo domingo, 21 de Julho, no Festival de Avignon. Terminal (O Estado do Mundo) de Inês Barahona e Miguel Fragata é o segundo espectáculo de um díptico que aborda a crise climática. A criação mostra-nos uma “grande crise” que assenta em “desigualdades” e “escolhas políticas e económicas”, num lugar de onde “não há saídas”. “Terminal (O Estado do Mundo)” é precisamente este espaço de tensão entre, por um lado, a aceitação e a resignação e, por outro, o desejo de “mudar o mundo”, rumo a uma saída. Miguel Fragata: Quando nos decidimos lançar nesta aventura de criar, de pensar teatralmente sobre a crise climática, ficou logo muito claro que nos interessava esta dimensão do díptico. Ou seja, por um lado, de pensar como é que se podia falar sobre esta questão tão avassaladora com as crianças e pensá-lo numa escala que fosse mais reduzida, mais intimista, que pusesse também em cena - e essa era a premissa para o primeiro espectáculo - grandes catástrofes naturais numa pequena escala. O espectáculo joga muito nessa dimensão de manipulação de miniaturas, no sentido de criar grandes catástrofes. Depois, criar um segundo espectáculo que fosse para o público adulto e que tivesse uma outra escala e que pudesse abordar a crise climática de uma outra forma. Para o espectáculo “O Estado do Mundo (Quando acordas)” foi muito importante fazermos uma pesquisa em torno de estudos científicos, de uma dimensão objectiva da crise climática, também no sentido de criar um chão comum e democrático para todos. Uma necessidade de que todas as crianças e adultos possam ter domínio sobre o assunto para depois poder falar sobre ele. Esse primeiro espectáculo passa muito por essa premissa. Para o “Terminal (O Estado do Mundo)” interessava-nos muito escutar aquilo que as pessoas no território tinham a dizer sobre a crise climática. Então, ao longo de todo o ano de 2023, nós levamos a cabo uma longa pesquisa em que lançámos muitas propostas diferentes, que envolveram também outros artistas, outros pensadores, outras pessoas de várias áreas do conhecimento, para auscultar os públicos de maneiras muito, muito diversas. Ao longo do ano, íamos fazendo estações, de uma semana em cada local, em que levávamos a cabo uma série de actividades, desde teatro que acontecia sem aviso prévio em lugares não convencionais, em que auscultávamos as pessoas de uma forma directa, interpelando-as. Tínhamos ocupações de rádios locais, bibliotecas itinerantes. Tínhamos a construção de dois documentários que exibimos agora também aqui, no âmbito do Festival de Avignon, no Cinema Utopia, e que são os dois resultados diferentes desse trabalho. Um deles [“Regresso ao Futuro”] tem a ver com a relação de pessoas com lugares e relações emocionais com lugares que se alteram drasticamente ao longo da passagem do tempo, da passagem climática pelos lugares. O outro, os “Improváveis de costas voltadas” é um trabalho em que púnhamos pessoas improváveis de terem uma conversa em conjunto em diálogo. Todo esse trabalho alimentou o pensamento para a construção deste espectáculo. A partir disso tudo, foram 27 localidades por onde passámos entre Portugal e França, reunimos todo esse material e começámos a pensar sobre ele e a construir este espectáculo, sabendo que nos interessava distanciar-nos também desse material. Ou seja, ele está de uma forma muito indirecta, muito imprecisa, através da escolha destas quatro personagens que habitam este lugar, com perspectivas muito diferentes sobre aquilo que é a realidade da crise climática. E é um pouco a partir daí o espectáculo nasce, a partir dessa experiência, a partir da relação com a pesquisa e a partir deste olhar muito mais filosófico,...

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“Os Monólogos da Vagina” discutiram sexualidade feminina em Angola

7/9/2024
A quarta temporada do “Os Monólogos da Vagina” esteve em palco este fim-de-semana, na Casa das Artes de Talatona, em Luanda. O espectáculo discute e desmistifica a sexualidade feminina. A quarta temporada contou com a participação das actrizes Naed Branco, Conceição Diamante, Sunny DIlage e Yolanda Viegas. Além das convidadas especiais Carla Castro e Elsa Marques. “Os Monólogos da Vagina” é uma obra de Eve Ensler, foi adaptada para esta quarta temporada em Angola por Flávio Ferrão, que assume igualmente a pasta de direcção e encenação de mãos dadas com Flávio Ferrão e Marisa Octávio. Esta nova edição contou com “monólogos de continuação”, como explicou à RFI Marisa Octávio, ou seja, o monólogo do mesmo personagem será interpretado por várias actrizes como se fossem uma só: “Vão ter que fazer os mesmos gestos, ter o mesmo timbre da voz, estar com o mesmo adereço de cena. Vai ser só uma pessoa, mas representada por três. É uma adaptação louca do Flávio Ferrão”. A peça discute e desmistifica a sexualidade feminina que continua a ser um tabu para a sociedade, mesmo para a própria mulher. Marisa Octávio que integrou o elenco da peça numa das temporadas anteriores explica que o espectáculo só por ter “vagina” no nome acabou por ver várias portas fechadas: “só o título da peça “Os Monólogos da Vagina” já fez com que fechassem muitas portas para nós em termos de apoio, televisões que não quiseram passar, rádios… por causa do nome vagina. Continua a ser um tabu.” Marisa Octávio sublinha a importância desta peça para desmistificar o termo vagina e lhe dar a devida importância: "Nós fomos todos educados, na minha geração, com ‘o lá em baixo’, não podíamos dizer o nome vagina, que era sujo. Usamos periquita, pombinha, borboleta, só para não dizer a palavra, que é como braço, cotovelo, olho ou nariz. Nós fomos criados numa redoma que vagina é um sítio sujo. Não se pode falar. São asneiras. Estás a dizer disparates."

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"Pirinha" mostra que há esperança para as vítimas depois do abuso sexual infantil

7/3/2024
Em Cabo Verde, o abuso sexual infantil, muitas vezes cometido por familiares ou pessoas próximas das crianças, é um flagelo que toca todos os anos centenas de menores. De forma a mostrar que este é um trauma real e que deve ser denunciado, mas que também é possível ter esperança num futuro melhor, Natasha Craveiro escreveu e realizou o filme-documentário "Pirinha". Só nos primeiros seis meses de 2024, já foram denunciados em Cabo Verde 84 crimes de abuso sexual contra crianças, muitas vezes abusos cometidos dentro das próprias famílias. Para a realizadora Natasha Craveiro trata-se apenas da ponta do icebergue, já que muitas vítimas acabam por não denunciar os seus abusadores, sendo assim necessário começar um debate nacional sobre este tipo de abusos, algo que o filme "Pirinha" quer iniciar no arquipélago. "Os abusos acontecem há imenso tempo. Não é nada novo. O que nós conseguimos agora ver é apenas a ponta do icebergue. As denúncias são só os casos que se sabem, porque há toda aquela outra parte do icebergue que está submerso, que ninguém sabe, que ninguém vê, que fica no segredo das famílias e que ninguém fala. A grande maioria destes abusos em Cabo Verde acontece dentro das famílias ou por pessoas muito próximas. Daí que eu acho que a qualquer momento é importante falar sobre isso, porque continua a ser tabu. As pessoas continuam a denunciar muito pouco. O trabalho que tem sido feito a nível da prevenção para mim, no meu ponto de vista, não tem surtido efeito. Daí que nós temos que falar sobre isso, temos que colocar esse assunto na mesa. E isso passa pela exibição de filmes como este, a ideia é levá lo a todas as ilhas", disse Natasha Craveiro. O filme já passou na ilha de Santiago, na ilha do Maio e até Setembro será mostrado em todas as ilhas do arquipélago em sessões em escolas, universidades e edifícios públicos para abranger o máximo da população. Estas sessões são acompanhadas por um psicólogo, levando a debates entre a audiência. "O filme tem sido muito bem recebido. Nós temos tentado fazer exibições em comunidades nas escolas, onde tentamos criar um espaço seguro para os alunos. Fazemos um debate logo depois do filme, com a presença de um psicólogo ou de uma psicóloga. Quando acontece nas escolas, nós tentamos evitar que os professores façam parte daquele diálogo exactamente para criar esse ambiente de segurança para para os adolescentes. E temos feito junto das comunidades como aconteceu na Ilha do Maio. Inicialmente, as pessoas não querem intervir, não querem começar a falar no debate. Mas depois percebe-se. Eu lembro-me na Calheta, foram as senhoras mais velhas que tomaram a palavra e que trouxeram as preocupações. Portanto, existem essas preocupações. Existe um grande tabu. As pessoas têm receio de falar. Muitas vezes para evitar que a vítima seja novamente vítima da sociedade e das comunidades. Mas tem sido muito bom esse contacto direto com as pessoas quando veem o filme", declarou a realizadora. O filme-documentário "Pirinha" é narrado na primeira pessoa por uma vítima de abuso que conta as dificuldades da superação deste trauma, mostrando momentos ternos da infância com a avó ou a brincar, intercalando com lembranças obscuras dos abusos aos quais foi sujeita. No entanto, a mensagem é de esperança. "A mensagem é que existe vida depois do abuso. Não é suposto acontecer. Não devia ter acontecido, não deve acontecer. Mas quando tudo falha e acontece, ainda há esperança. Ainda é possível ter uma vida. É preciso também ter um sistema preparado para ter todos os elementos necessários para percorrer esse caminho da cura. No filme, vemos aquelas memórias afectivas à volta da avó. Eu fui buscar os recursos internos dela. Foram as memórias afectivas dessa vida com a avó. A vida despreocupada, essa vida normal. A avó com afecto, com cuidado com as coisas que que devem fazer parte da vida de uma criança. Esses elementos têm que estar na vida da vítima. Ela tem que ter alguém para a ajudar a resgatar os recursos...

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Redifusão - As histórias de Cargaleiro na “aldeia dos artistas”

6/30/2024
Manuel Cargaleiro já tinha deixado a sua marca em Paris numa das mais conhecidas estações de metro, a Champs Elysées-Clémenceau, mas a capital francesa pediu-lhe mais. Aos 92 anos, o artista português juntou aos painéis de azulejos instalados em 1995 novas obras que são inauguradas esta segunda-feira. Nesse dia, o pintor e ceramista vai ser duplamente condecorado por Portugal e Paris. Nesta entrevista, realizada em 2017, o "mestre" recorda os tempos iniciais em Paris, quando a cidade era "uma aldeia de artistas". Esta segunda-feira, Manuel Cargaleiro vai inaugurar novos painéis na estação Champs Elysées-Clémenceau, em Paris, e depois vai receber a Medalha Grand Vermeil, a mais alta condecoração da cidade, e a Medalha de Mérito Cultural de Portugal na presença do Primeiro-Ministro português. Galardões que se juntam a outros de um artista que vive em Paris desde 1957, que conviveu com nomes precursores da arte contemporânea como Max Ernst, Hans Arp, Serge Poliakoff, Alfred Manessier, Sonia Delaunay, Zao Wou-Ki, Maria Helena Vieira da Silva, Arpad Szènes, Roger Bissière, Natalie Gontcharova e Michel Larionov, entre muitos outros. Era também vizinho de Picasso mas tinha uma admiração tão grande por ele que não teve coragem de falar com ele… À sua casa, no bairro dos artistas, vinham bater muitos portugueses que chegavam clandestinamente a França… Uma conversa sobre arte, memórias e muito trabalho num ateliê repleto de telas e centenas de desenhos e guaches…

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Humoristas em França são "cada vez mais cuidadosos" após piada levar a demissão na rádio pública

6/25/2024
O humor em França tem uma longa história e tradição, mas nos últimos meses o afastamento de um conhecido humorista, Guillaume Meurice, das antenas da rádio pública devido a uma piada sobre o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu abalou o país. Em entrevista à RFI, o humorista franco-português, Mike de Sá, diz que actualmente os humoristas são "cada vez mais cuidadosos" quando estão em palco. Berço da Declaração de Direitos do Homem de 1789, a França tem uma longa história de liberdade de expressão. Antes desta declaração, foram homens como Moliére ou Voltaire que desafiaram as convenções sociais vigentes para com ironia para chamar a atenção da sociedade para problemas importantes do seu tempo, mais tarde, já nos anos 80, humoristas como Coluche comentavam de forma simples e mordaz a vida francesa. Uma tradição de humor que passa actualmente por comentários na rádios, onde vários humoristas fazem crónicas matinais onde esmiuçam a vida política e a actualidade. Guillaume Meurice, um humorista que intervinha na France Inter, a rádio mais ouvida em França, fazia regularmente programas onde entrevistava vários cidadãos anónimos brincando depois com as respostas sobre as preferências políticas ou posicionamento dos franceses em conflitos internacionais. No final de Outubro de 2023, o humorista fez uma referência ao primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu que levou a duas queixas por referências anti-semitas. Esta queixa foi depois arquivada e Meurice ilibado, com o humorista a fazer a mesma referência no mês de maio. Nesse momento, a direcção da Radio France, grupo público que detém a France Inter, suspendeu-o das suas emissões, tendo-o em seguida demitido por "deslealdade repetida". Esta demissão foi contestada por vários humoristas, com muitos a baterem a saírem também da France Inter. Mike de Sá, humorista franco-português e fundador do espectáculo Portugal Comedy Club, considera que os humoristas em França têm cada vez mais cuidado com as suas piadas e a sua repercurssão na internet. "O trabalho que fazemos é suposto ser, sobretudo, baseado na liberdade de expressão. Mas, de um modo geral, somos cada vez mais cuidadosos. É esse o problema. Já não estamos na época de Coluche ou de Desproges, em que as pessoas tomavam a liberdade de dizer certas coisas que, na altura, também já as penalizavam. Hoje, o que fazemos, o que somos, no fundo, é desdramatizar o que se passa na sociedade. Simplesmente, para mim, se há uma piada de que não gostamos ou que nos magoa, então não é uma boa piada. Desproges até dizia isso, que não se pode rir de tudo e não se pode rir com qualquer um. Mas hoje em dia está tudo nas redes sociais. Fazemos uma piada de um minuto e só vai para as redes uma parte mais escandalosa. Isola-se só a parte que pode ter sido ofensiva. Portanto, hoje está a ficar um pouco complicado. No caso de Guillaume, a piada que deu origem a esta polémica não me fez rir, mas também não me chocou. Agora, ele está num campeonato diferente. Meurice é provocador, muito político. Por isso, não fiquei surpreendido com o que ele fez. Quanto aos outros comediantes que também se demitiram, eu consigo compreender a solidariedade e claro que se sentem ameaçados. Eles sentem quase que têm de se policiar a cada piada. Agora, as piadas é como tudo, não se pode agradar a toda a gente, por isso as pessoas ou gostam ou não gostam", disse o humorista. Por ser uma rádio pública onde, apesar de alguns incidentes, a liberdade criativa parecia assegurada, a demissão de Guillaume Meurice levou a um movimento de solidariedade não só de colegas, mas também de ouvintes, com o comediante a ter feito mesmo uma festa de despedida aberta a todos no final da semana passada. Esta demissão chocou Mike de Sá. "A situação com a France Inter chocou-me um pouco porque ele foi ilibado e o tribunal disse que não houve racismo. É isso é que é doloroso nesta história. A piada dele não foi considerada racista. O que se passou depois, é que houve...

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Portugal "revelou-se" ao grande público no Festival de Animação de Annecy

6/19/2024
O Festival de Cinema de Animação de Annecy bateu recordes de participação com Portugal como país convidado. Uma forma de um público alargado descobrir a animação portuguesa, já muito premiada neste e noutros certames. Entre 9 e 15 de Junho, milhares de pessoas estiveram em Annecy para a edição número 65 do Festival de Animação. Este ano, o certame bateu recordes com mais de 17.400 profissionais e estudantes acreditados e outras tantas milhares de pessoas que encheram as salas de manhã à noite, como explicou o director deste certame, Marcel Jean, em entrevista à RFI. "O Festival de Annecy está a ser mais frequentado por mais pessoas do que nunca. Temos um número recorde de visitantes e tivemos também as salas cheias durante toda a semana. Este ano, chegámos a ter sessões muito cedo, às 8h30 da manhã, e as salas estavam cheias. Portanto, desde as 8h30 da manhã até à meia-noite. Estamos muito satisfeitos com isso", explicou. Esta fidelidade do público, assim como a importância dos filmes aqui mostrados que todos os anos fazem evoluir o cinema de animação em todo o Mundo tornam-no numas das mais importantes mostras a nível global. "No que diz respeito a filme de animação, este é de longe o maior evento do mundo e o que contribui para o sucesso de Annecy é a qualidade do seu público. É um público maioritariamente composto por profissionais e jovens profissionais. Ou seja, há vários milhares de estudantes que vêm a Annecy todos os anos, estudantes de animação que vêm sobretudo da Europa, mas também de todo o mundo. E estas pessoas têm uma capacidade de reconhecer o trabalho que implica o cinema de animação e uma sede de aprender, uma sede de conhecimento que explica por que razão sessões como making of, as masterclasses e os work-in-progress fazem tanto sucesso em Annecy, tal como as projecções de filmes acabados", disse Marcel Jean. Este ano, Portugal foi o país convidado deste encontro. Um convite óbvio para Fernando Galrito, director do Festival Monstra, em Lisboa, já que o cinema de animação português tem dado provas da sua qualidade em Annecy e em todo o Mundo. "O cinema de animação português é considerado, em termos internacionais, como um dos melhores da Europa. Para não dizer até, se calhar do mundo. Só para lhe dar uma ideia, o cinema português mais premiado internacionalmente é o cinema de animação. Cerca de 70% dos prémios que já foram atribuídos ao cinema português são de animação. Ou seja, aquilo que nós fazemos em termos de animação é de muito boa qualidade e é apreciado no mundo inteiro. Depois também faz todo o sentido, porque também a nossa história aqui com o festival de Annecy já é longa. Nós já tivemos Cristal de Ouro, já tivemos vários filmes premiados, muitos filmes na competição, tivemos na última edição do festival, tivemos duas longas metragens, o que nem sempre acontece com países, pelo menos com a dimensão de Portugal. Isto revela uma qualidade e uma quantidade de trabalho que é feito, especialmente do ponto de vista autoral, muito forte e muito bom. Daí que eu acho que temos mais do que reunidas todas as condições necessárias para podermos ser um dos países convidados do Festival da Annecy. Pelo que eu vou ouvindo nas reacções do público, dado que tenho apresentado muitas das sessões retrospectivas, as pessoas adoram aquilo que foram vendo e aquilo que é a nossa participação no festival", relatou Fernando Galrito. A participação portuguesa acabou por se traduzir num prémio, com as realizadoras portuguesas Alexandra Ramires e Laura Gonçalves a levarem para Portugal o prémio Cristal na categoria de melhor curta-metragem. A excelência do cinema de animação português é também uma evidência para Marcel Jean, com o país a abrir-se e revelar-se ao grande público. "Ter Portugal como país convidado é uma aposta que este ano deu frutos, na medida em que o cinema português se desenvolveu bastante nos últimos 25 anos. A animação desenvolveu-se bastante e o público teve muita curiosidade em ver o que se está...

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Bailarinos moçambicanos celebram dança em Paris

6/12/2024
A faltar pouco mais de um mês para o arranque dos Jogos Olímpicos de Paris, o coreógrafo francês Benjamin Millepied orquestrou 'A cidade dançada'. Os bailarinos invadiram a capital francesa para celebrar a dança. Ao todo, onze espaços, doze coreógrafos em diálogo com a cidade. Idio Chichava apresentou dois espectáculos "Vagabundos" e "Dzuda". O coreógrafo moçambicano conta-nos que sentiu, durante os espectáculos, a confirmação de que "o mundo precisa de mais abertura e de mais partilha". Vagabundos é uma "peça sobre viagem e sobre como entrar e experimentar em cena", começa por explicar o coreógrafo, acrescentando que a ideia é "mostrar as nossas experiências, enquanto bailarinos e tocar essas experiências faz parte de uma viagem, daquilo que nos constituem enquanto bailarinos. Vagabundos faz sentido para mim porque estamos sempre à procura de um destino ou de um melhor momento... Estamos sempre à procura de melhorar ou de chegar a algum lugar com o nosso corpo, com as nossas emoções, com a nossa energia. É por isso que esta peça se chama vagabundos". Em palco estão 13 bailarinos que dançam e cantam, em simultâneo, Idio Chichava explica que se trata de uma experiência que passa pela experiência do corpo; "cantamos e dançamos porque isso faz parte da nossa formação como bailarinos tradicionais. Em Moçambique, um bailarino tradicional tem de cantar também. Não tem que cantar com eficiência, com muita técnica, mas tem que cantar para reforçar o grupo. Neste vagabundos, olhei para o lugar onde o canto e a dança podem encontrar-se e criar aquilo que eu chamo de presença total ou de corpo global". O coreógrafo explica-nos o que quer dizer por corpo global; "é cantar e dançar. Perceber como a voz e o movimento podem criar juntos uma espécie de expressão intensa, uma espécie de energia que possa atravessar o público de forma simples e natural, mas com muita presença, muita voz e muito corpo dos bailarinos". A maior parte dos cantos ou das composições são tradicionais. Idio Chichava prefere que a composição seja construída a partir do corpo, "a partir da necessidade do corpo respirar, criando variações, silêncios e todas as suspensões. A composição musical é feita a partir do corpo, não a partir do canto, e da necessidade de comunicar com outros corpos". O coreográfico explica que a maior parte dos movimentos não são movimentos inventados, uma vez que"fazem parte de um repertório ou do nosso vocabulário de danças tradicionais de Moçambique". O espectáculo Dzuda foi apresentado na tarde de sábado no telhado da Filarmonia de Paris, um espaço aberto com vista para a cidade de Paris. "Dzuda é uma tradução directa do changana que quer dizer vasculhar. É um termo que se usa no mercado popular em Maputo, no mercado de Xiquelene. Esse mercado diz muito daquilo que é a população contemporânea de Moçambique, composta por uma emigração nacional ou emigração local de dentro para dentro. É uma espécie de amplificação daquilo que é a cor ou que são as sonoridades da cidade de Maputo, da periferia da cidade de Maputo. Isso de vasculhar é mais ou menos no interior, no interior de nós, enquanto moçambicanos que têm essas variedades de sons, de línguas", explica. Em Paris o espectáculo criou um momento de harmonia, "uma viagem em direcção à felicidade, à alegria, à partilha. O telhado da Filarmonia foi um cenário totalmente feito para Dzuda porque contempla o espaço, contempla a perspectiva visual e cria uma possibilidade de querer chegar em algum lugar. Uma certa forma de esperança, questionando: 'porque não celebrar? Porque não dançar? Porque não dançar?", questiona o coreógrafo. "Na Filarmonia tive uma sensação confirmada de que o mundo precisa realmente de mais abertura e de mais partilha. Senti que o público queria entrar no espaço e dançar com a equipa. Aqui na pista de patinagem confirmou-se a mesma coisas. Este foi um espaço feito para este espectáculo Vagabundos. Um lugar popular, um lugar de encontro, um lugar de baile, um lugar onde...

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Cantora cabo-verdiana Verónica Lii lança single sobre a saúde mental

6/5/2024
Verónica Lii, cantora de 33 anos, de ascendência cabo-verdiana, lançou, no passado mês de maio, um novo single intitulado "Mi só", que aborda a temática da saúde mental, com especial destaque para a depressão. A artista ingressou no mundo da música em 2005, canta essencialmente kizomba e um dos seus grandes objectivos futuros é conseguir a internacionalização da sua carreira, começando primeiro pelos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa. Em entrevista à RFI, Verónica Lii, cujo nome real é Vera Semedo, falou-nos sobre o amor que nutre pela música e também sobre as suas origens cabo-verdianas. Para além disso, a artista explicou-nos um pouco mais sobre o seu mais recente single que pretende consciencializar a sociedade para a depressão, uma doença cada vez mais recorrente nos dias actuais.

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Bailarina Mai-Júli Machado volta a homenagear “força da mulher”

5/28/2024
“Amelle” é o segundo projecto a solo da bailarina e coreógrafa moçambicana Mai-Júli Machado que invoca as suas memórias de passagem de menina a mulher e denuncia as restrições impostas às bailarinas cujos corpos não cabem em normas. A peça foi apresentada, este sábado, na 3ª edição do evento “1 Km de Danse”, na região de Paris e volta a falar da “força da mulher” e da necessidade de as artistas se expressarem “sem medo” e de quebrarem silêncios em palco. Cerca de um mês depois de ter apresentado “Sinais Particulares” em Paris e quase um ano depois de se ter estreado em França na peça “Black Lights” de Mathilde Monnier, a bailarina e coreógrafa Mai-Júli Machado foi convidada pelo Centre National de la Danse para mostrar um novo projecto durante o festival "1 Km de Danse”, em Pantin. Foi neste sábado que a moçambicana levou a um jardim público a peça "Amelle" que fala sobre a “força da mulher” e a necessidade de se quebrarem silêncios em palco. RFI: Como é que nos poderia descrever o espectáculo Amelle? Mai-Júli Machado, Coreógrafa e bailarina: O espectáculo "Amelle" fala sobre a mulher – eu gosto muito de falar sobre as mulheres - e eu convido as mulheres a despertarem a "Amelle" que existe dentro delas. O que é a Amelle? "Amelle" [A.M.E.L.L.E] quer dizer Atitude, Maturidade, Elegância, Legado, Liberdade e Esperança. São seis palavras-chave em que eu me inspiro para convidar todas as mulheres a despertarem a Amelle que existe dentro delas. Essas palavras são muito fortes e o espectáculo é também um manifesto pela liberdade, como têm sido até agora os espectáculos em que tem participado, sobretudo pela liberdade das mulheres. Neste espectáculo, você diz “porque não?” e repete a palavra “Não” constantemente. O que quer dizer este "Não"? Este é o meu segundo projecto e eu sempre busco coisas ou experiências que aconteceram comigo. Realmente isto também me aconteceu… É o seu segundo projecto em nome próprio, mas estreou-se em França num espectáculo de Mathilde Monnier, que esteve no Festival de Avignon e que já falava sobre a violência feita às mulheres… Sim, talvez por ter sido a primeira peça em que eu participei, motivou-me sempre a falar da mulher. Não é que eu seja feminista, mas sinto-me inspirada. Eu começo o espectáculo a dizer que há uma pequena história no meu país, Moçambique, onde quando estás na fase da adolescência, quando estás a sair dos 11 para os 12 anos, começam a sair os peitos. Tem um mito que diz que a nossa irmã mais velha tem que nos varrer, com uma vassoura de palha mesmo, “varrer o peito”, que é para o peito não crescer. Eu fiz isso, por exemplo. Eu era bailarina e tinha esse complexo de ter que saltar e os meus peitos sempre a mexerem e olhava para o lado e a minha colega com os peitos pequenos estava à vontade. Eu afirmo “porque não?”, ou seja, porque é que eu, com os meus peitos, não posso dançar à vontade e não posso saltar? Também a mulher africana que dizem que tem um corpo um bocadinho avantajado, que tem uns peitos maiores, a bunda também, quando salta, ela sempre tem os peitos a abanar. Então é por isso que eu digo “porque não?”. Porque é que não pode? Por que é que não pode ser normal dançar ballet, por exemplo, e os peitos também saltarem. É um jogo de pesquisa sobre porque é que não pode ser. Porque é que a mulher não tem mais liberdade e porque é que a bailarina não pode dançar, seja que corpo tiver? Exactamente, e sem nenhum complexo também. O projecto Amelle parte daí e ainda é um projecto que está a começar. Como é que começou o projecto? Foi um convite para vir a este festival, “1 Km de Danse”, do Centro Nacional de Dança de Pantin, que levou ao nascimento do projecto ou já vinha de antes? Este projecto começou no Senegal. Eu fiz uma formação na École des Sables, era um grupo de dez africanos e disseram-nos para cada um fazer qualquer coisa. As minhas peças sempre começam assim mesmo, alguém que diz “faz qualquer coisa”. Coloquei lá uma música de ópera e porquê ópera? Não...

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Palco do Pompidou acolhe espectros e rituais de Catarina Miranda

5/15/2024
ΛƬSUMOЯI é um espectáculo que cruza dança, teatro, instalação sonora e instalação visual e que se afirma como “uma construção de arte contemporânea”. A obra de Catarina Miranda é apresentada, a 17 e 18 de Maio, no centro de arte contemporânea Pompidou, em Paris. A história parte de uma peça japonesa de teatro Noh, do século XV, em que o fantasma de uma criança-guerreira deambula pelo campo de batalha. A peça fala de espectros e rituais e mostra como a dança pode tornar visível o invisível. ΛƬSUMOЯI é apresentada como “uma peça de dança para um quinteto e um palco luminoso”, mas os palcos de Catarina Miranda mobilizam movimento, teatro, instalação sonora, instalação visual, histórias visíveis e rituais invisíveis. A criadora resume que ΛƬSUMOЯI é “uma construção de arte contemporânea”, inspirada na peça japonesa de teatro Noh de título homónimo, em que o fantasma de uma criança-guerreira, morta em combate, deambula por um campo de batalha. A inspiração surge da formação em teatro Noh, no Kyoto Art Center, no Japão, depois de se ter licenciado em Coreografia pelo Instituto Internacional de Coreografia/Centro de Montpellier e em Artes Visuais pela Escola Superior de Belas-Artes do Porto. ΛƬSUMOЯI é uma peça também definida como apotropaica, ou seja, uma dança que afasta o mal e que convoca o invisível. O resultado é um espectáculo em que se cruzam espectros e sombras, danças ancestrais e linguagens futuristas. O espaço cénico oscila entre a penumbra e reflexos fosforescentes, nos quais os corpos se dissolvem e se revelam, ao ritmo de uma composição sonora também ela "apotropaica". ΛƬSUMOЯI estreou a 27 de Abril no festival Abril Dança Coimbra e foi apresentado a 30 de Abril no Festival Dias da Dança no Porto. A 17 e 18 de Maio, a peça vai estar no Centro Pompidou, em Paris, onde Catarina Miranda apresentou, em Março de 2022, o espectáculo “Cabraqimera” e a instalação vídeo “Poromechanics”. Catarina Miranda: "Não é só dança, é arte contemporânea" RFI: A Catarina Miranda está no Centro Pompidou pela segunda vez. O que significa para si, artista visual, mas também coreógrafa? Catarina Miranda, Artista: “Eu penso que enquanto artista ou arquitecta de palco, é super entusiasmante apresentarmos estes espectáculos em diferentes palcos e com diferentes públicos. Para mim, vir ao Pompidou - e vir uma segunda vez a convite da Chloé [Siganos] - é de uma importância extrema porque durante todo o meu percurso eu nunca me senti artista visual ou coreógrafa ou música. Eu senti-me sempre uma artista de arte contemporânea, uma criadora de arte contemporânea. Mais do que artista, eu sou criadora e o Pompidou para mim também é a confirmação de que o trabalho que eu desenvolvo - e que desenvolvo sempre com equipas- é uma construção de arte contemporânea, não fica preso no formato da dança. Para mim, o Pompidou, que é um espaço a que eu vim muito nova, em que estudei as peças, que é dos museus com o maior espólio de arte contemporânea, obviamente, é um grande apreço estar cá porque sinto que estou no local correcto para apresentar este género de trabalho. Porque não é só dança, é arte contemporânea.” O que significa ΛƬSUMOЯI? "ΛƬSUMOЯI é o título homónimo de outro espectáculo de uma peça de teatro Noh, que eu estudei em 2018, num programa que se chama Traditional Theater Training, em Kyoto. Foi uma peça que, de certa forma, criou algum afecto comigo em algumas questões e eu pensei que seria interessante usar o mesmo título. Em termos de tipografia está manuseado, mas mesmo a palavra é o nome de um fantasma, de uma criança-guerreira que voltou ao campo de batalha para se vingar da sua própria morte. Depois foi uma personagem ficcionada e popularizada porque era uma criança aristocrata, era poeta, músico, artista. Então, era uma pessoa que não estava de todo preparada para enfrentar uma guerra e que acaba por ser morta e ser apanhada num conflito entre território e poder, que é uma temática que podemos rapidamente transpor para hoje, para...

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Quinzena dos cineastas de Cannes destaca cinema português

5/14/2024
Começa nesta quarta-feira a Quinzena dos cineastas, prestigiosa mostra paralela do Festival de cinema de Cannes de 2024. Uma edição com forte presença lusófona: uma longa metragem brasileira, outra portuguesa e duas curtas metragens lusas. Caso de "O Jardim em Movimento" de Inês Lima. Trata-se de uma visita da Serra da Arrábida, reputada região natural ao sul de Lisboa, que inclui um Parque natural. Uma visita pouco convencional, porém, entre a atracção pelas flores ou pelos corpos. A realizadora Inês Lima refere-se à alegria de ter sido seleccionada para Cannes, num certame com tanta presença portuguesa. "Naturalmente, com muita felicidade e muita alegria. Por várias razões, porque foi um filme que demorou cerca de dois anos a concluir que foi auto-financiado, que teve muitos constrangimentos financeiros e acho que, quer para mim, quer para toda a equipa que investiu muito no filme, acho que é mesmo e uma felicidade para todos nós poder ver este reconhecimento." Ainda por cima num certame em que nesta edição de 2024 vai haver uma grande visibilidade do cinema lusófono e português, nomeadamente com um filme em competição na seleção oficial das longas metragens, outro nas curtas metragens e também no que diz respeito à Quinzena dos Cineastas, a uma ou outra curta metragem portuguesa, "Quando a Terra foge", de Frederico com o Lobo. Então, algum prazer especial efetivamente a partilhar de alguma forma os holofotes de Cannes com este cinema made in Portugal? "Claro, claro, com certeza. Acho que é muito positivo ver esta presença em peso do cinema português e fico muito curiosa por ver todos estes trabalhos que ainda não tive oportunidade de ver e acho que também é uma forma de nos podermos reunir e também estar juntos nesta ocasião. Portanto, fico mais do que contente de partilhar estes holofotes." E acha que este festival, ainda é diferente de outros mais se tivesse sido selecionada para Locarno, para Berlim ? Cannes é diferente a seu ver ? "Eu não tenho uma experiência destes festivais, portanto este é o primeiro festival deste encargo em que eu passo um trabalho meu. Eu vejo estes festivais todos como festivais que são prestigiados e que têm cinema de qualidade e ficaria feliz de passar em qualquer um deles. Portanto, nesse sentido, acho que não. Acho que não, não. Não distingo o Festival de Cannes deste outros festivais que são também maravilhosos." E então falemos um pouco do jardim em movimento. Em que medida é que estamos aqui a falar da embriaguez ou do poder das flores, da sensualidade floral que é aqui colocada também, frente à sensualidade corporal? O que é que pretendeu efectivamente com "O jardim em movimento" ? Como é que você interpreta esta obra? "Este filme foi, sobretudo, uma das muitas possíveis interpretações ou hipóteses de retratar um espaço que eu conheço muito bem, porque nasci e cresci em Setúbal e, portanto, a Serra da Arrábida é um espaço que eu habitei desde que nasci. E, portanto, a forma como eu vejo este espaço está moldado por todas estas experiências que eu lá passei, quer de criança, quer como adulta. E que, para mim, é um espaço que vive numa dicotomia muito grande entre, por um lado, ter esta beleza idílica e que atrai muita gente e que é um espaço seguro. Mas por outro lado, é um espaço que à noite tem os seus perigos. E a crescer também foram-me contadas histórias de certas coisas, da dimensão do oculto que se passam lá por ser um sítio considerado mais místico. E, portanto, para mim é inevitável ver este espaço sem ser dentro desta polarização. E por isso é que a mim sempre me interessou e acho que não conseguiria falar de outra forma. É uma Serra da Arrábida dentro de moldes, digamos, da fábula, porque acho que é um sítio que está vivo, de muitas formas. E que mais do que nós, olharmos para ela, para esta paisagem que normalmente é isso que nós pensamos de nós próprios, que nós somos os únicos observadores. Eu queria retratar. Tinha a intenção de colocá-la também a olhar para...

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“Sinais Particulares” da bailarina moçambicana Mai-Júli Machado

5/7/2024
A bailarina moçambicana Mai-Júli Machado apresentou, na semana passada, na livraria 7L, em Paris, o seu primeiro solo “Sinais Particulares”. Uma performance sobre mutilação genital feminina e casamentos forçados. A luta do que é ser mulher em África que partiu de uma memória de infância. A bailarina moçambicana Mai-Júli Machado apresentou, na semana passada, na livraria 7L, em Paris, o seu primeiro solo “Sinais Particulares”. Uma performance sobre mutilação genital feminina e casamentos forçados. A luta do que é ser mulher em África que partiu de uma memória de infância. “Sinais Particulares” de Mai-Júli Machado sobre novamente ao palco na próxima terça-feira, 14 de Maio, pelas 18h00, no Théâtre Public de Montreuil. Que peça é esta? Esta peça chama-se “Sinais Particulares” e fala sobre a mutilação genital feminina e a exploração sexual da mulher em África. É o seu primeiro solo? Sim, é o meu primeiro solo, o meu primeiro desafio, a primeira vez que eu desafiei-me a fazer uma peça e está a ter bons resultados. Porquê esta temática? Tem uma pequena história que eu conto no início, que é da minha família, que é uma história muito pessoal minha. Não é uma história que eu levei de alguém, mas é a minha história que eu tento não defender, tento só colocar na mesa e procurar respostas para o que eu não tive quando era criança. Que história é essa? Quando eu era mais nova, tinha o sexo um bocadinho… a minha família dizia que era diferente, eu não sei se é verdade. Então, fizeram-me muitas questões, queriam saber o que era e fui buscando isso. Esta memória é associada à mutilação genital feminina e à exploração da mulher, da criança em casamentos precoces. E falo mais das temáticas que existem com a mulher em África. É uma imagem antiga, é uma memória. Porquê ir buscar esta memória? Há uma necessidade também de ter respostas para si, de encontrar uma paz ou de pôr a questão em cima da mesa? Eu acho que é para encontrar uma paz, porque foi o meu primeiro desafio. Foi em Moçambique. Disseram-me que queriam que as jovens mulheres criassem algo e eu não tinha ideia. Tinha muito receio, tinha muito medo porque nunca tinha criado nada. Então surgiu esta ideia de ir buscar esta memória e poder falar, colocar na mesa e sem julgamentos, sem defesas. Mas para encontrar uma paz e respostas. É uma temática que traz muito a peito? Sim, muito. Estando aqui na França, agora, vejo muita coisa que acontece em Moçambique que passa despercebido, mas que também é violência. Então é um tema que não termina por aqui. Eu ainda estou a investigar, porque a cada dia vou aprendendo e vou descobrindo mais coisas. Além da questão da mutilação genital feminina, também fala dos casamentos forçados e dos casamentos infantis. Sim, em Moçambique a mutilação até que não é tão presente. Talvez lá no norte. Eu sou do sul e nunca fui ao norte. Tanto que até tive um bocadinho de dificuldades no início de encontrar material para defender esta mutilação. Mas baseei-me na internet. Mas a questão dos casamentos ainda acontece. Nas zonas mais recônditas ainda acontecem estes casamentos forçados. A mulher, que é a criança, que é forçada a casar em troca de bens, os pais praticamente vendem as filhas. Isto ainda acontece. Ainda continua a ser difícil ser-se mulher, de uma forma geral no mundo, em África, muito mais? Com certeza, em África muito mais. Há muita pressão, muita pressão. Eu, por exemplo, sou bailarina, viajo muito e sempre que vou a Moçambique vejo as minhas amigas ou têm um filho ou casaram. Não é só por isso, mas é uma pressão também por ser mulher. As exigências… aqui na Europa é um bocadinho diferente. Ajuda-me porque tenho a oportunidade de abrir a minha mente e conhecer outra realidade que não só a da África. Mas ainda é um desafio e ser uma mulher bailarina que viaja é sempre um desafio, mas estamos aqui e vamos continuar a lutar. Sobre esta performance específica aqui, numa biblioteca, rodeada de livros, e ao mesmo tempo com o público...

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Louvre mostra como académicos trabalharam em conjunto para criar os Jogos Olímpicos modernos

5/1/2024
Os Jogos Olímpicos em Paris preparam-se a todo o vapor na capital francesa. No entanto, Paris não quer que se trate de um evento meramente desportivo e toda a cidade está mobilizada à volta desta competição. Assim, o Museu do Louvre, maior museu do Mundo, não escapa a esta febre dos Jogos Olímpicos, organizando a exposição "L'Olympisme, une invention moderne, un heritage antique" ou o Olimpismo, uma invenção moderna, uma herança antiga, que vai estar patente até dia 16 de Setembro. Esta exposição mostra como no final do século XIX, arquéologos, historiadores e políticos de várias nações, mas especialmente em França e na Grécia, se uniram para criar os Jogos Olímpicos modernos, como nos explicou Christina Mitsopoulou, arqueóloga e comissária desta exposição no Louvre. "A ideia de reactivar os Jogos Olímpicos foi o resultado de um período, nos anos 1880 e 90, que coincidiu com o período das grandes escavações arqueológicas na Grécia. Foi um período em que se descobriram grandes complexos arqueológicos - a Acrópole de Atenas, Olímpia, Delfos, Maratona, etc. Assim, esta dinâmica arqueológica enriqueceu os conhecimentos precisos que tínhamos sobre a Antiguidade, que entraram em contacto com os textos que há muito tínhamos sobre o mundo antigo, mas que agora se concretizavam graças às descobertas arqueológicas. Assim, quando um grupo de pessoas teve a ideia de recriar os Jogos Olímpicos de Atenas em 1896, foi de facto uma oportunidade de mostrar ao mundo a realidade do desporto antigo, mas reinterpretada de acordo com as necessidades e os conhecimentos adquiridos na altura, que nem sempre foram plenamente realizados", afirmou. A realização dos primeiros jogos moderno em 1896 não foi uma tarefa fácil e mobilizou várias figuras de grande relevância internacional, incluindo Pierre de Coubertin, um historiador e pedagogo francês que se batia pela reforma do sistema de educação em França e que queria que o desporto, fonte de higiene de vida, estivesse mais presente na vida dos cidadãos. "A realização dos Jogos Olímpicos modernos foi uma história muito longa, porque Pierre de Coubertin tinha, de facto, começado muito cedo a trabalhar no seu ideal de integrar o desporto na vida dos cidadãos do seu tempo. Já na década de 1870, esta era uma ideia na qual pensava. Foi necessário um enorme esforço e o aproveitamento de todas as suas ligações sociais para chegar finalmente a Paris, em 1894, com este enorme anfiteatro cheio de pessoas convencidas da importância desta causa. Foi sobretudo através do pacifismo que este grupo se uniu à volta do desporto. Mas a ideia de início nem era fazer os Jogos em Atenas. Essa ideia só surgiu durante o congresso de Paris ao ouvir o hino de Apolo, que tinha sido descoberto dois anos antes pelos franceses em Delfos. Aí pensou-se: Seria ótimo organizar os Jogos Olímpicos em Atenas. Só mais tarde é que Pierre de Coubertin visitou a Grécia para explicar aos gregos o que deviam organizar, e era bastante complicado. Ele próprio não pensou logo nas modalidade e tudo que se devia fazer para recriar os Jogos, isso só aconteceu mais tarde, à volta dos Jogos Olímpicos de Atenas, que tiveram lugar na Grécia", disse a comissária. Assim, logo depois do Congresso de 1984 começaram os esforços para a realização dos Jogos daí a dois anos. No entanto, muitos desportos da antiguidade como o lançamento do disco não eram praticados desde as últimas Olímpiadas que tinham aconteciado no ano 393 d.C. com o Imperador romano Teodósio a ter banido completamente os Jogos no ano seguinte. Coube então aos historiadores e arqueólogos de estudar como se praticavam estas modalidades através da observação de taças de barro da antiguidade e frisos gregos e romanos. "Tínhamo-nos esquecido completamente de como se lançava um disco, ou como se lutava antigamente. Assim, de facto, foram os arqueólogos e os historiadores que leram os textos e os arqueólogos que olharam para as imagens de obras antigas, esculturas, moedas ou vasos figurativos,...

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BD em francês conta “Revolução dos Cravos” às crianças

4/16/2024
A banda desenhada “La Révolution des Oeillets - 25 Avril 1974 - Le Jour de la Liberté” [“A Revolução dos Cravos - 25 de Abril de 1974 – O Dia da Liberdade”] conta a história da ditadura portuguesa e do golpe militar que a derrubou a 25 de Abril de 1974. A obra, da autoria de Sandra Canivet da Costa e com ilustrações de Jay Ruivo, está escrita em francês, é destinada a leitores a partir dos seis anos e sai a 24 de Abril em França e na Suíça. RFI: O que conta esta banda desenhada? Sandra Canivet da Costa, Autora da BD “La Révolution des Oeillets - 25 Avril 1974 - Le Jour de la Liberté”: "Quis fazer uma amostra às crianças do que era o salazarismo, a ditadura porque para as crianças que nasceram num país livre como a França ou a Suíça é difícil imaginar o que era. No início, a Matilde, nascida em França, está sempre a fazer comparação entre França e Portugal porque ela foi educada em França. Ela pergunta se o 25 de Abril é como a tomada da Bastilha. Então o avô vai explicar que não havia Bastilha como em França, mas efectivamente houve presos políticos que foram libertos. O avô vai explicar que no salazarismo não se podia ler o que queríamos. Não se podia dizer o que queríamos. Até o Ruben reage quando o avô diz que as mulheres não podiam viajar sem autorização do marido e o Ruben, que nasceu no Luxemburgo, diz que a mãe não teria gostado. Então, é mostrar as realidades do dia-a-dia do salazarismo e depois contar o que aconteceu, como é que os capitães se organizaram. É uma banda desenhada que também dá os factos, hora por hora, desse famoso dia, como esses capitães eram jovens e mostrar às crianças como é que em 24 horas a ditadura acabou. É assim uma viagem para as crianças." Fez uma banda desenhada destinada a crianças, que também é contada por crianças. Em quem se inspirou para fazer a Matilde e o Ruben? E porque é que decidiu contar esta história com duas crianças que viajam no tempo com o avô para perceber como é que era Portugal há mais de 50 anos? "O Ruben e a Matilde nasceram em 2020 e são os heróis do meu primeiro livro, “A Extraordinária História de Portugal”. A Matilde foi desenhada com uma fotografia da minha prima, mas sou eu porque eu fui uma criança da terceira geração aqui em França, e fui uma criança curiosa da história, mas que não tinha muitos livros em português. É por isso que as analogias que sempre faz a Matilde entre a França e Portugal sou eu porque eu sempre fiz assim. O Ruben, que nasceu no Luxemburgo e que é o herói também da “Extraordinária História de Portugal”, foi desenhado com fotografias do meu filho. Mas ele, como não nasceu em França, era para sair desta análise, sempre francesa, porque há portugueses também no Luxemburgo, na Suíça, na Alemanha... E às vezes tenho de pensar o que é que pensaria uma criança nesses países não influenciada pela educação francesa. Então nasceram assim as duas crianças." Foi também uma tentativa de preencher, de certa forma, um vazio na edição juvenil francófona? Fala-se sobre a história de Portugal na literatura juvenil francófona? "Pouco. É justamente isso. Quando escrevi o meu primeiro livro, “A Extraordinária História de Portugal”, foi devido a uma vontade de explicar a história às crianças em francês e procurei livros na internet. Fui ver até em Portugal se havia qualquer livro traduzido em francês e não encontrei. É por isso que agora estou a pensar com a editora Cadamoste Éditions, a minha editora…" Cadamoste Éditions é a editora que a Sandra fundou. "Sim, que fundei para o primeiro livro e quero mesmo especializar a Cadamoste Éditions em livros para crianças. Este, por exemplo, “A Revolução dos Cravos”, vai ser o primeiro de uma colecção que se vai chamar “L'Histoire du Portugal avec Matilde et Ruben” [“A História de Portugal com Matilde e Ruben”]. Este é o primeiro número, vai haver dois ou três por ano e também vamos publicar livros para ensinar as crianças a falar português. Então vamos começar com os pequenotes, a aprenderem palavras...

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Documentário francês conta história e bastidores da “Revolução dos Cravos”

4/15/2024
O documentário “La Révolution des Œillets” [“A Revolução dos Cravos”], de Bruno Lorvão e Paul Le Grouyer, conta a história e os bastidores da “Revolução dos Cravos”, recorrendo inteiramente a imagens de arquivo. O filme sai no mês em que se celebram os 50 anos do 25 de Abril de 1974 e faz um retrato de Portugal sob a ditadura, recorda a conspiração do Movimento dos Capitães e mostra como foi o dia do golpe militar que derrubou 48 anos de ditadura. O filme “La Révolution des Œillets” [“A Revolução dos Cravos”], de Bruno Lorvão e Paul Le Grouyer, é exibido, esta segunda-feira, em Sciences-Po, o Instituto de Estudos Políticos de Paris, seguido de um debate com o historiador francês Yves Léonard a propósito dos 50 anos do 25 de Abril. O documentário, de 52 minutos, da produtora francesa Cinétévé e com o apoio da France Télévisions, já foi difundido, este sábado, no canal belga RTBF, e vai passar, em Abril, no canal francês France 5 e no canal português História. Em entrevista à RFI, Bruno Lorvão sublinha que “o 25 de Abril é um momento bonito e é um legado universal”, por isso, “é uma história muito bonita que vale a pena ser contada, não só na Europa, mas fora do continente”. RFI: Qual é o ângulo deste filme, em poucas linhas. Bruno Lorvão, Realizador: "Em poucas linhas, fala da conspiração, de como é que essa conspiração aconteceu e por que razões é que os capitães decidiram derrubar o regime de Estado Novo." Porque é que decidiu fazer este documentário? "Como franco-português, tenho-me esforçado ultimamente em utilizar os meios franceses de produção audiovisual para contar histórias portuguesas, sabendo que em Portugal é mais complicado. Filmes de História, feitos a cem por cento de arquivos, são filmes que custam, que são complicados a montar e, por essa razão, chegando os 50 anos do 25 de Abril, não havia outra opção senão escrever e financiar a história." No ano passado também já realizou um documentário sobre Salazar e a Segunda Guerra Mundial… "Exacto e é uma história desconhecida de muitos, da maior parte dos portugueses, saber o que aconteceu exactamente durante meses." Dos portugueses ou dos franceses? "Dos franceses e portugueses, não conhecem a história de Portugal durante a Segunda Guerra Mundial, do que aconteceu exactamente. O discurso oficial é dizer que Salazar nos salvou. A questão do filme é saber se ele se salvou a si próprio ou ao povo português." Relativamente a este filme, “Revolução dos Cravos”, o filme conta, antes de mais, como era Portugal antes do golpe militar que derrubou a ditadura. Como é que era esse Portugal que reconstituem no documentário? "Portugal era um país pobre. Não era um país livre, simplesmente. Era um país pobre, com pouca formação, pouca educação..." Vocês dizem que um português em cada três não sabia ler. "Sim. Exacto. E Portugal era realmente o último país implicado numa guerra colonial." Falam do último grande império colonial também. Como é que era esse império? Vocês falam do lado real e do lado da propaganda… "Segundo a propaganda, sem as colónias, Portugal não podia sobreviver e Portugal não podia ser uma nação forte. Na realidade, o Império era feito com pouco mais de 150 mil soldados. Não havia muitos portugueses nas colónias e o Império português gastava mais do que rendia." Além do dia da Revolução dos Cravos, o filme reconstitui, como dizíamos, o que era viver em Portugal e nas antigas colónias. Fala das guerras de libertação, dos bairros de lata em Lisboa, do analfabetismo, da emigração em massa, de como era viver na ditadura. Tudo isto é contado com imagens da altura e há imagens que espantam porque parece que nunca as vimos ou muito pouco. De onde é que saem estas imagens? "Saem da Cinemateca Portuguesa, algumas da RTP e saem também de media estrangeiros, da televisão belga. Encontrámos coisas na televisão belga, particularmente no que toca a combates militares. As imagens de violência da guerra são imagens do estrangeiro e depois os testemunhos e...

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Soprano Ana Vieira Leite e ópera "Medeia" estreiam-se em Paris

4/10/2024
A cantora lírica Ana Vieira Leite estreia-se esta quarta-feira, 10 de Abril, na Ópera de Paris na adaptação de “Medeia” de Marc-Antoine Charpentier, sob a direcção musical de William Christie. A encenação é de David McVicar que transporta a acção para o período da II Guerra Mundial. A soprano portuguesa interpreta o papel de Creusa, numa ópera em cinco actos. "Medeia" foi escrita em 1693 e chega pela primeira vez ao palco do Palácio Garnier. RFI: Para resumir esta história que atravessou mais de três séculos, Medeia é filha do rei Eetes, do reino da Cólquida, será também a filha da deusa Hécate. Medeia tem poderes mágicos, um dia apaixona-se por Jasão, que tem como missão recuperar o velo de ouro do pai de Medeia. Medeia trai o pai, mata o irmão e foge com Jasão para a Grécia. Aqui começa a ópera de Medeia de Charpentier. Como é que descreveria a história? Ana Vieira Leite: É uma história muito dramática, é verdade. Aqui começamos com a chegada de Jasão e Medeia à Grécia, onde encontram o rei e a Creusa, o Créuse. Aí Jasão apaixona-se pela princesa, pela jovem princesa. É aí que começa a grande trama da história, porque Medeia sente-se extremamente traída, enganada, enfurecida e planeia toda uma vingança. Começa com um envenenamento de um vestido que acaba por dar à morte da princesa. Entre esta história surge uma personagem que é o Oronte, que é alguém que tem interesses políticos com o rei, que tenta casar com Creusa, mas ela está perdidamente apaixonada por Jasão. O amor ali é completamente cego, acaba com ela morta. Jasão, extremamente triste com isto tudo, perdido. Para agravar mais esta história, Medeia acaba por matar os seus próprios filhos e foge para Atenas, enquanto deixa Jasão extremamente miserável e sem nada. Medeia mata o irmão, mata o pai de Creusa, os filhos, mata a amante de Jasão, Creusa, papel que interpreta. Como é que apesar disto tudo, sentimos empatia com esta personagem? Acho que é muito humano. Medeia tem muitas fases. Nós temos todos muitas fases e nós conseguimos sentir esta empatia de que nem sempre está tudo bem e nós estamos sempre a ser enganados constantemente. Como é que nós podemos lidar com essa traição, com o facto de sermos de parte; eu acho que é isso. É a nossa parte humana, a nossa parte de nós queremos sempre vingar-nos por tudo e nunca sabemos até que ponto é que podemos lidar com a desilusão, com a traição. Por muito que que a minha personagem seja bastante.... Inocente? Eu acho que ela é inocente, mas neste caso ela está extremamente apaixonada e não consegue ver nada. Ela não consegue ver nada, o que ela quer é o que ela vê. Então tudo o que está ao lado Medeia, ela não repara. Ela é uma criança, tem 16 anos, por isso é o primeiro amor. .. é tudo. Ela não consegue sequer reparar que existe uma mulher e que existe uma família por trás. E isso acontece todos os dias, não é, infelizmente. Esta ópera de Medeia tem uma narrativa movida por emoções. Todas as personagens se movem, cantam, actuam com emoções que são levadas até à exaustão? O libreto é riquíssimo e é incrível... O libreto Thomas Corneille É incrível; está muito bem escrito. As emoções estão todas muito bem descritas, mas a música, que neste caso não é uma música comum francesa porque normalmente estamos habituados a um Rameau, Lully que têm uma forma muito mais normal, entre aspas, de expor uma ópera. Charpentier pega numa tragédia musical e tenta exprimir ao máximo as emoções que estão em libreto sem floreados, sem nada de mais, simplesmente há uma cama musical a todas estas emoções, todos estes sentimentos. Um texto rico, uma música que não se sobrepõe ao texto, mas que só ajuda... Completa-se... Completa-se, sem dúvida. Isso acontece na escrita musical de Charpentier porque Charpentier sempre foi renegado pelo rei Luís XIV que gostava muito do seu compositor Lully, o seu compositor favorito. Charpentier acaba por escrever Medéia sete anos depois da morte de Lully. Eu acho que a música de Charpentier difere...

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"Presentes!" os afroportuenses pela lente de José Sérgio

4/3/2024
“Presentes! Africanos e Afrodescendentes no Porto”, partiu da desconstrução do Porto como uma cidade branca, mostrou-se pela primeira vez numa exposição realizada em 2020 no Mira Fórum, em Campanhã, no Porto, saltou e multiplicou-se agora para as páginas de um livro. “Presentes!” do fotojornalista moçambicano José Sérgio é o registo de pessoas de diferentes latitudes, portuenses provenientes de vários países africanos, Brasil e Cuba. Da invisibilidade das ruas às paredes do Mira Fórum e agora em suporte livro. “Presentes! Africanos e Afrodescendentes no Porto”, partiu da desconstrução do Porto como uma cidade branca, mostrou-se pela primeira vez numa exposição realizada em 2020 no Mira Fórum, em Campanhã, no Porto, saltou e multiplicou-se agora para as páginas de um livro. “Presentes!” do fotojornalista moçambicano José Sérgio é o registo de pessoas de diferentes latitudes, portuenses provenientes de vários países africanos, Brasil e Cuba. Era um sonho para dar visibilidade a esta comunidade, à qual também pertenço, e para não ficar no esquecimento, era digno de merecer um registo, porque, na verdade, não há estudos nem estatísticos, não há nada à volta deste tema. Acho que trazer essa visibilidade registada em livro, é também uma maneira “forçada” de não cair neste esquecimento. São africanos e afrodescendentes de Portugal. Aos retratos, José Sérgio acrescentou os contextos, ampliou o universo e contou com a escrita da jornalista Mariana Duarte para pintar as histórias destes rostos e corpos. Ao assumir o Presentes! significa o presente do presente, mas também presentes de afirmação. Aqui, [no livro] porque fui acompanhando estas vidas, já não fazia muito sentido no que queria mostrar, continuar com a pose. “Presentes!” contrasta com a ausência de registos qualitativos e quantitativos sobre estas comunidades, por isso mesmo José Sérgio defende que, por exemplo, nos Censos deveria existir uma questão sobre a origem étnico racial.

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Mayra Andrade de regresso a Paris com "Reencanto" na bagagem

3/26/2024
"Reencanto" é um espectáculo de Mayra Andrade, onde a cantora cabo-verdiana divide o palco apenas com seu guitarrista Djodje Almeida, em torno de músicas que ela compôs ao longo dos cinco álbuns que já tem no activo. Ela passou a 23 de Março pelo Festival Chorus, em Boulogne Billancourt, no recinto de "La Seine Musicale", muito perto de Paris. A oportunidade para voltar a uma cidade onde viveu ao longo de 14 anos, agora, após a sua primeira experiência da maternidade. Mayra Andrade está baseada há oito anos em Portugal, após uma infância passada entre Cabo Verde, mas também Senegal, Angola e Alemanha. Aos 17 anos veio para França estudar canto e resididu em Paris ao longo de 14 anos. Temas de sobra para conversarmos com Mayra Andrade, que, embora nascida na Havana, muito tem cantado Cabo Verde mundo fora. Estive aqui há menos de dez anos, também já a promover o "Manga", que foi o meu último disco de estúdio. Fizemos um concerto no palco lá fora, portanto, mais uma vez, voltar a esta casa é um prazer muito grande para já. Sempre cantar em Paris, que é uma cidade que foi casa para mim durante 14 anos. E este projecto é muito especial, porque eu apresento me ao meu público de uma forma extremamente despida e extremamente íntima para apresentar-lhes estas canções que são todas da minha autoria ou que eu escrevi sozinha e compus, ou em parceria com alguém. Mas são todas canções que nasceram de mim e que, no fundo, ao longo dos anos, vêm contando a minha história, histórias que me tocaram. E acho que é muito diferente as pessoas ouvirem um disco com os arranjos e verem num palco com banda e de repente dizer "Ok, mas há canções que eu ouço há 20 anos ! Mas o que é que é esta canção?" Portanto, este espectáculo oferece um pouco a génese, a essência de cada música, da forma como elas nasceram, que é eu e o meu violão. Acompanha-me um exímio guitarrista que se chama Jorge Almeida, que é meu conterrâneo e que é um músico incrível e que a cada espetáculo cresce cada vez mais. Portanto, estou muito, muito feliz de continuar a partilhar o palco com ele. Eu vi alguns dos concertos na fase em que você estava grávida e de repente foi mãe. Todos nós sabemos e nos lembramos, por exemplo, do que tinha escrito para a sua mãe e a relação filial que tem com ela. Imagino que esta maternidade possa também trazer aí muita inspiração pela frente. Se calhar para um sexto álbum ? Acho que você acredita e acredita bem. Não posso dizer que já se tenha traduzido numa música ou em várias, mas já se traduz às vezes em momentos de inspiração, em que eu pego no meu telefone e gravo uma melodia em que falo da minha filha. Eu fico sempre muito emocionada em dizer minha filha, porque eu fui mãe aos 38 anos. Sonhei com ela durante muitos anos e o que eu posso dizer é que eu ainda estou no olho do furacão ! A maternidade é uma experiência completamente revolucionária, uma experiência que deixa... tudo se movimenta, tudo muda de lugar. Eu acho que é talvez a maior transformação que um ser humano viva. E muitas vezes é uma transformação silenciosa. As pessoas não se dão conta, ou seja, há aquela parte mais superficial, mais fácil de se observar. Mas só quem é muito atento, muito sensível e muito aberto à empatia é que percebe o que uma mulher vive quando se torna mãe e o que é aprender a ser mãe e como é que isto movimenta as nossas crenças, os nossos medos. Quando digo que eu estou no olho do furacão é que eu ainda estou a tentar, digamos, estar de pé. é um tsunami. É um , é um tsunami diário que acontece: ser uma mulher que está na estrada e que cria e que trabalha, não é ? Lidando com tudo isto: vivo longe da minha família também. E dizem "It takes a village to raise a child" [É precisa uma aldeia para criar uma criança]. E eu realmente hoje percebo muito bem isso e pronto. E tento recriar lá onde eu vivo, uma aldeia de amigos, de pessoas que me possam criar esta rede de apoio e de amor à minha volta e à volta da minha filha. O Manga foi bastante...

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Paris acolhe em Novembro grande espectáculo internacional de magia

3/20/2024
Paris e o teatro Folies Bergère acolhem de 7 de Novembro a 1 de Dezembro o espectáculo "Luís de Matos IMPOSSIBLE Sur Scène". Uma referência ao mágico português Luís de Matos que concebeu um grande programa de magia, na companhia de quatro outros mágicos de notoriedade mundial, oriundos da França, Bélgica, Coreia do Sul e Estados Unidos. A apresentação à imprensa ocorreu na semana passada. Luís de Matos levanta-nos o véu sobre como será o espectáculo, começando por se referir à relação que mantém com Moçambique, onde nasceu e onde viveu os primeiros anos de vida. Eu vim para a metrópole de então, vim celebrar os meus quatro anos de idade. Eu acredito recordar-me de imensas coisas de Lourenço Marques, hoje Maputo. Acredito, porém, há uma incerteza. Porque eu não sei se me recordo realmente dessas coisas ou se algumas dessas coisas me foram avivadas pelo facto do meu pai fazer filmes comigo. E, portanto, há todo um ambiente da nossa vida lá que se me reaviva na memória cada vez que esses filmes me passam pela frente. Em todo o caso, já voltei três ou quatro vezes a Moçambique, a Maputo, quer em viagens pessoais, quer para fazer espetáculos. E é sempre uma alegria imensa ! E é uma energia incrível eu regressar ao local que me viu nascer, visitar aquela incrível igreja da Polana, andar por aquelas ruas. E depois, a somar a tudo isto que uma primeira vez que fui nem sequer caí em mim. Não esperava ! Mas como lá também se acompanha há muitos anos as emissões da RTP [Rádio e Televisão de Portugal], de repente eu tinha pessoas na rua que me conheciam e que sabiam exatamente isso, Sabiam quem eu era profissionalmente, mas também sabiam que eu tinha lá nascido e que estava lá. E, portanto, tudo isso dá reações redobradas, carinho redobrado que tornaram todas as minhas viagens a Moçambique um prazer imenso e, portanto, na primeira oportunidade eu sou daqueles que dirá sempre: "Sim, ok, vamos então, amanhã !" Porque é uma cidade inacreditável, altamente inspiradora, onde eu gosto de quase tudo ! Só não gosto quando vejo nas notícias que há pessoas a sofrer e que às vezes, enfim, o dia-a-dia dos que lá vivem não é necessariamente o mais agradável. A minha relação com Maputo é de absoluta paixão, como é evidente. Vi que já aos 16 anos tinha conseguido alcançar um prémio. Como é que de repente, a magia surgiu de forma tão precoce na sua vida? Eu acho que a magia surge de forma precoce na vida de quase todos os miúdos. Ou seja, quando somos miúdos, há um dia em que queremos ser astronauta, noutro dia médico, depois bombeiro, depois jogador de futebol, depois mágico. Ora bem, alguma destas coisas há de ficar e fica. Há miúdos que sonham ser bombeiros e acabam a ser bombeiros e que sonham ser médicos e acabam ser médicos e astronautas e o que quer que seja. No meu caso, esse gosto foi ficando durante mais tempo. Converteu se num hobby, numa obsessão. Foi algo que eu fui mantendo, sempre em simultâneo com os meus estudos, e com a minha progressão académica. De repente, começou a ficar mais sério e há uma altura em que me obriga a fazer uma escolha. Mas nasceu pela paixão e nasceu pelo facto de ser um hobby muito presente na minha vida, de forma continuada e reiterada. Para si, a magia era uma evasão da realidade ? Não, Eu acho que a magia permite, como permitem todas as formas de arte, permite criar mundos paralelos onde a fantasia pode acontecer, onde o impossível acontece, onde nós podemos sonhar e conhecer mundos que nem sequer existem. Porém, a magia tem um lado absolutamente fascinante que torna mais facilmente consumível essa fantasia e esse transpor para tal realidade paralela do que qualquer outra forma de arte. Porquê? Porque vamos ver, por exemplo, a literatura. A literatura que nos transporta para outros mundos. Há uma barreira. O livro tem que estar escrito numa língua que eu entenda ou a música... depois eu tenho que perceber a letra ou a dança contemporânea. Se eu nunca tivesse sido exposto à dança contemporânea,...

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