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RFI
De segunda a sexta-feira (ou, quando a actualidade o justifica, mesmo ao fim de semana), sob forma de entrevista, analisamos um dos temas em destaque na actualidade.
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Sorbonne Nouvelle acolhe ciclo dedicado ao “Cinema de Abril”
11/15/2024
A Universidade Sorbonne Nouvelle, em Paris, acolhe, até Dezembro, um ciclo de cinema intitulado “A Revolução das Imagens – Revolução e Descolonização em Portugal (1974-1977)”. A programação conta com filmes feitos por colectivos de cineastas que registaram os primeiros dias da revolução, mas também acompanharam as lutas operárias e as ocupações de fábricas, a reforma agrária e as campanhas de dinamização cultural e alfabetização, entre outras lutas. As escolhas mostram como “o cinema representou a revolução”, mas também como “os modos de representação foram transformados pelo próprio processo revolucionário”, resume Raquel Schefer, co-organizadora do evento e professora na Sorbonne Nouvelle.
É um salto no tempo a um tempo de lutas. São histórias que fizeram história e esperanças que ficaram, para sempre, em película. Alguns desses filmes estão a ser exibidos na Universidade Sorbonne-Nouvelle, em Paris num ciclo de cinema intitulado “A Revolução das Imagens – Revolução e Descolonização em Portugal (1974-1977)”. A iniciativa começou a 7 de Novembro e vai ter sessões até 19 de Dezembro.
A programação conta com obras feitas por colectivos de cineastas que viveram os primeiros dias da revolução [“As Armas e o Povo”], que acompanharam as lutas operárias e as ocupações de fábricas durante o Período Revolucionário em Curso, [“Applied Magnetics”, “O Caso Santogal” e “Candidinha”], que deram voz aos trabalhadores rurais que protagonizaram a reforma agrária [“A Lei da Terra”] e que acompanharam campanhas de alfabetização [“A Luta do Povo: Alfabetização de Santa Catarina”].
Há, ainda, filmes experimentais como “Revolução” de Ana Hatherly, “Destruição” de Fernando Calhau, “Paredes Pintadas da Revolução Portuguesa” de António Campos e “O Parto” de José Celso Martinez Corrêa e Celso Lucas.
O ciclo aborda, também, as guerras de libertação, com “Adeus, Até ao meu regresso”, de António-Pedro Vasconcelos, e recorda a figura central do capitão, Salgueiro Maia, com “Capitães de Abril” de Maria de Medeiros, o único filme do ciclo que não foi realizado entre 1974 e 1977.
O programa foi organizado pelos investigadores Raquel Schefer, Fernando Curopos e Teresa Castro em colaboração com a Cinemateca Portuguesa e o Instituto Camões. As escolhas dos filmes mostram como “o cinema representou a revolução” e como “os modos de representação foram transformados pelo próprio processo revolucionário”, explica Raquel Schefer.
“Tentámos, de alguma forma, oferecer um panorama da diversidade estilística, mas também da diversidade dos modos de produção. Há bastantes filmes produzidos por colectivos de cinema, cooperativas de cinema que foram fundadas durante esse período em Portugal. Portanto, o ciclo procura restituir um pouco toda essa heterogeneidade do cinema revolucionário português e, ao mesmo tempo, reflectir ou propor uma reflexão sobre a maneira como o cinema representa a revolução. Mas, ao mesmo tempo, os seus modos de representação são transformados pelo próprio processo revolucionário”, conta a professora de cinema na Sorbonne-Nouvelle.
A investigadora sublinha que “o cinema de Abril é, antes de mais, um cinema que procura documentar a revolução”, mas que também vai “reinventar os modos de produção” e “revolucionar as formas cinematográficas”. O impacto é tão forte que “a revolução continua a ter repercussões formais no cinema português até hoje”, acrescenta Raquel Schefer.
O realizador Fernando Matos Silva foi um dos protagonistas dessa revolução no cinema. Começou por trabalhar com Paulo Rocha e Fernando Lopes, ainda sob a ditadura, e o seu primeiro filme, “O Mal Amado” (1974) foi o último filme português a ser proibido pela censura e o primeiro a ser estreado depois do 25 de Abril.
A 25 de Abril de 1974, Fernando Matos Silva estava na rua às primeiras horas da manhã para filmar imagens que ficaram na história e nunca parou. Com o colectivo Cinequipa, documentou os dias da revolução, da multidão no Largo do Carmo às lutas dos trabalhadores...
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"Há um esforço para reduzir um conflito político num assunto apenas de lei e ordem" em Moçambique
11/15/2024
Pelo terceiro e último dia consecutivo, continua hoje a quarta fase de protestos convocados pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane em todas as capitais provinciais, portos e fronteiras de Moçambique, para contestar os resultados das eleições gerais de 9 de Outubro que dão a vitória à Frelimo com um pouco mais de 70% dos votos.
Em cerca de três semanas de manifestações marcadas por uma forte repressão policial, com a sociedade civil a apontar para dezenas de mortos e operadores económicos a mostrar-se preocupados com a quase paralisia das actividades, o país continua mergulhado na incerteza enquanto também espera pela decisão do Conselho Constitucional sobre os resultados do escrutínio.
Para Tomás Vieira Mário, director executivo da Sekelekani, centro de pesquisa de comunicação para o desenvolvimento, o anúncio dos resultados definitivos deverá ser o ponto de partida de uma conferência nacional na qual tem estado a trabalhar juntamente com outras entidades, para restabelecer o diálogo e criar novas bases para um "Estado mais estável e menos socialmente desigual para o futuro".
Questionado sobre a situação actualmente vivenciada pelo país, o estudioso que é também o antigo presidente do Conselho Superior da Comunicação Social, considera que este "é o pior momento que Moçambique vive desde a sua independência, há quase 50 anos."
RFI: O que e pode dizer da situação actual de Moçambique de modo geral?
Tomás Vieira Mário: O que nós podemos dizer da situação em Moçambique é que ela é realmente explosiva e mostra uma sociedade profundamente dividida, profundamente polarizada, em que é preciso muita sabedoria e muita inteligência para repor alguma acalmia na sociedade. Creio que é o pior momento que Moçambique vive desde a sua independência, há quase 50 anos. Do ponto de vista do contexto de diálogo social e do entendimento entre os moçambicanos, como sabem, já tivemos conflitos armados, mas a divisão da sociedade não estava tão forte como está neste momento, a seguir aos resultados das eleições gerais, tal como foram anunciados pela Comissão Nacional de Eleições.
RFI: Como é que avalia a actuação das autoridades moçambicanas?
Tomás Vieira Mário: Na minha opinião, até este momento as autoridades governamentais têm lidado com o conflito pós-eleitoral como se se tratasse apenas de casos de lei e ordem, casos de polícia e não um conflito político muito sério. Penso que há um esforço deliberado de querer reduzir um conflito político em um assunto apenas de lei e ordem, em que se dá a ideia de que é um problema entre desacato a autoridade e a polícia, o que obviamente é uma abordagem que me parece muito problemática, que até agora só contribuiu para piorar o contexto político em Moçambique.
RFI: Por outro lado, como é que avalia a actuação de Venâncio Mondlane, que tem apelado a múltiplos protestos nestas últimas semanas?
Tomás Vieira Mário: Primeiro, não sei dizer que tipo de resultado o candidato Venâncio Mondlane espera, porque ele tem insistido na ideia de que quer a "verdade eleitoral", portanto, a recontagem de votos na sua linguagem. A votação não se negoceia, aprova-se com os votos. Não sei se ele vai conseguir esse objetivo de recontagem dos votos, porque é esse o discurso que ele tem mantido. De qualquer modo, há um efeito político que ele está a conseguir, que é paralisar o país já há quase duas semanas ou um pouco mais e com grandes impactos socioeconómicos Para uma economia frágil como a de Moçambique, qualquer paragem tem um impacto que não teria num outro país com mais robustez económica. Moçambique é um país com uma economia muito frágil, uma economia muito informal e, portanto, nessa perspectiva, ele tem conseguido colocar o governo numa situação delicada, porque o governo tem que responder perante a crise económica que está a ocorrer devido a estas manifestações.
RFI: O poder diz que os manifestantes guiados por Venâncio Mondlane, procuram desestabilizar o país e levar a um golpe de Estado. Julga que de...
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COP29: 75% dos deslocados vivem em países extremamente expostos aos riscos climáticos
11/14/2024
Até dia 22 de Novembro, os países reunidos na COP29 em Baku, no Azerbaijão, tentam encontrar o financiamento necessário para ajudar os países em desenvolvimento na transição energética e adaptação às catástrofes climáticas. Actualmente, os Estados extremamente frágeis recebem apenas cerca de 2 dólares por pessoa em financiamento anual para adaptação climática, um valor muito aquém dos 161 dólares por pessoa atribuídos nos Estados não frágeis.
Até dia 22 de Novembro, os países reunidos na COP29 em Baku, no Azerbaijão, tentam encontrar o financiamento necessário para ajudar os países em desenvolvimento na transição energética e adaptação às catástrofes climáticas. Negociações difíceis numa COP marcada por ausências de peso, como a França, Alemanha ou Estados Unidos e com o ocidente a alegar dificuldades orçamentais.
Actualmente, segundo um relatório do ACNUR apresentado esta semana, os Estados extremamente frágeis recebem apenas cerca de 2 dólares por pessoa em financiamento anual para adaptação climática, um valor muito aquém dos 161 dólares por pessoa atribuídos nos Estados não frágeis.
As alterações climáticas já forçaram milhões de pessoas, em todo o mundo, a abandonarem as suas casas e o aquecimento global do planeta está a agravar as condições já “infernais” enfrentadas por estes deslocados. O alerta é da agência da ONU para os Refugiados e consta do relatório “No Escape: On the Frontlines of Climate, Conflict and Displacement" ("Sem escapatória - Na linha da frente do clima, conflitos e deslocações”, numa tradução livre), apresentado na terça-feira, 12 de Novembro, na COP 29 em Baku.
À margem do segmento de alto nível da Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) aproveitou para lembrar como o aumento das temperaturas e a multiplicação dos fenómenos meteorológicos extremos impactam a vida dos refugiados e dos deslocados. O ACNUR apela a investimentos mais significativos e eficazes.
No documento, a agência das Nações Unidas para os Refugiados sublinha que as alterações climáticas e os conflitos estão interligados, sujeitando as pessoas já em perigo a situações ainda piores, como no Sudão, na Somália ou na Birmânia.
“No nosso mundo em aquecimento, a seca, as inundações, o calor mortal e outros fenómenos meteorológicos extremos criam situações de emergência com uma frequência alarmante”, ressalva o chefe do ACNUR, Filippo Grandi, no prefácio do relatório. “As pessoas forçadas a fugir dos seus lares estão na linha da frente desta crise”, acrescenta.
75% dos deslocados vivem em países fortemente ou extremamente expostos aos riscos climáticos e “à medida que a velocidade e a escala das alterações climáticas aceleram, este número só continuará a aumentar”.
Dados recentes do Centro de Monitorização de Deslocados Internos indicam que os desastres meteorológicos forçaram cerca de 220 milhões de pessoas a fugir dentro dos seus países na última década. O ACNUR lamenta a grave falta de fundos para apoiar os que fogem e as comunidades que os acolhem: “Estamos a ver uma situação que já é infernal a tornar-se ainda mais difícil”.
Até 2040, o número de países em todo o mundo expostos a riscos climáticos extremos deverá passar de três para 65, a grande maioria destes países acolhe populações deslocadas. Até 2050, a maioria dos campos e instalações de refugiados deverá enfrentar o dobro dos dias com temperaturas perigosamente elevadas em comparação com hoje, alerta o relatório do ACNUR. Um perigo imediato para a saúde e a vida dos refugiados, mas também para as colheitas e o gado.
As alterações climáticas vão também piorar a já difícil situação humanitária na África Austral, onde se situam Angola e Moçambique, avança o mesmo relatório.
Isadora Zoni, responsável do ACNUR em Pemba, norte de Moçambique, sublinha que 75% dos deslocados vivem em países forte ou extremamente expostos aos riscos climáticos. Em entrevista à RFI, a responsável da agência da...
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COP29: Amnistia Internacional defende financiamento climático justo
11/13/2024
A Amnistia Internacional defende que os líderes da COP29 devem dar ouvidos às exigências de justiça climática, colocando os direitos humanos no centro das tomadas de decisão. A organização alarga a análise e aponta o dedo ao ataque contínuo do Governo do Azerbaijão à sociedade civil. Diz a Amnistia que deve ser feito mais do que foi feito nos Emirados Árabes Unidos ou no Egipto para garantir a segurança, a protecção e os direitos de todos”
A Amnistia Internacional defende que os líderes da COP29, reunidos em Baku, Azerbaijão, devem dar ouvidos às exigências de justiça climática, colocando os direitos humanos no centro das tomadas de decisão.
A organização alarga a análise e aponta o dedo ao ataque contínuo do Governo do Azerbaijão à sociedade civil. A AI lembra que Baku tem historial “terrível” em termos de respeito pela liberdade de expressão e dissidência e pede aos estados medidas para proteger a liberdade de expressão e de protesto pacífico para todos os participantes na COP29.
Diz a Amnistia que deve ser feito mais do que foi feito nos Emirados Árabes Unidos ou no Egipto para garantir a segurança, a protecção e os direitos de todos”
Em declarações à RFI, Miguel Marujo, director de comunicação da Amnistia Internacional Portugal, avança que a “A Amnistia Internacional espera que nesta COP29, os líderes dos Estados representados, dêem ouvidos às exigências de justiça climática, uma exigência que coloque também os direitos humanos no centro de todas as tomadas de decisão e que haja um compromisso em aumentar massivamente aquilo que é o financiamento climático baseado nas necessidades e apoiando uma eliminação total, rápida, justa e financiada dos combustíveis fósseis em todos os sectores de actividade.”
Ao mesmo tempo, a Amnistia Internacional “espera que haja uma protecção aos direitos e à liberdade de expressão, de associação e de reunião pacífica de todos os participantes nesta COP29, que se realiza no Azerbaijão, que é um país que tem uma prática muito complicada em termos de direitos humanos, onde as liberdades de expressão, associação e reunião pacífica são severamente restringidas e por isso, a amnistia também apela nesse sentido que haja uma protecção à liberdade de expressão e de reunião e manifestação durante a Conferência das Nações Unidas”, acrescenta.
A COP29 decorre até dia 22 de Novembro em Baku, no Azerbaijão.
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Situação em Moçambique é "deplorável" e activistas pedem "solução pacífica" para o país
11/12/2024
Aisha Dabo, co-fundadora do movimento Africtivistes, que reúne activistas dos direitos humanos em cerca de 40 países, falou à RFI sobre a situação em Moçambique e disse que é preciso uma intervenção da SADC e da União Africana que leve ao apaziguamento entre Governo e oposição.
Aisha Dabo, co-fundadora do movimento Africtivistes, esteve em Paris para participar no Forum da Paz, onde falou sobre os perigos da desinformação e como a sociedade civil tenta combater este mal que se acelerou com a disseminação de informação nas redes sociais. Esta activista instalada no Senegal considera que a situação em Moçambique é "deplorável" e que deveria haver transparência em relação aos resultados eleitorais, assim como respeito pelos direitos dos manifestantes que saem diariamente às ruas.
"Estamos a acompanhar a situação com muita preocupação e é realmente lamentável que em 2024 haja uma crise a seguir às eleições, não digo que um grupo está certo ou o outro está errado, mas penso que as eleições devem ser organizadas de forma transparente para evitar situações de questionamento, porque a oposição está neste momento a dizer que houve fraude e que há situações em que os seus representantes não puderam assistir à contagem por diferentes razões. Portanto, esta é de facto uma situação deplorável e esperamos que haja um fim pacífico para a crise. Estamos a apelar à calma porque já existe uma crise com os grupos terroristas em Cabo Delgado. Por isso, não devemos agravar a situação, o que irá desestabilizar ainda mais o país. E é verdadeiramente deplorável que se tenha chegado a este ponto", indicou Aisha Dabo.
O movimento Africtivistes lançou na semana passada um comunicado sobre a situação em Moçambique e Dabo pede agora uma intervenção da SADC, Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, e da própria União Africana para apaziguar o clima de tensão no país, promovendo o diálogo entre Governo e oposição.
"Cada grupo económico regional deve ser o primeiro a tratar dos problemas da sua região. Por isso, a SADC tem de fazer mais para garantir que esta situação seja resolvida e que se ponha fim a esta situação, porque se ela continuar, haverá mais pessoas deslocadas que se tornarão refugiados nos países vizinhos. Por isso, precisamos de um maior envolvimento da SADEC e, claro, da União Africana para podermos falar com os dois grupos, tanto com a oposição como com o partido no poder e os seus representantes", declarou.
Também no espaço lusófono, o movimento Africtivistes está preocupado com a situação na Guiné-Bissau, onde as eleições legislativas foram adiadas. Para Aisha Dabo deve haver uma reflexão profunda sobre o futuro do sistema de governação neste país africana.
"Devem estar reunidas todas as condições para a realização de eleições pacíficas, livres e transparentes. O Presidente Embaló já deu a entender que não se vai candidatar, o que é positivo. Agora, deve pensar no legado que deixará ao país, assegurando a organização de eleições transparentes, livres, sem violência nem agitação, para que possa partir com dignidade e tranquilidade. E na minha opinião, e esta é a minha opinião pessoal, penso que talvez depois das eleições, as várias instituições na Guiné-Bissau, incluindo a sociedade civil, toda a sociedade civil, sejam confissões religiosas, sindicatos, movimentos, organizações comunitárias, devem decidir se este sistema de governação funciona para eles. Porque não é a primeira vez que há uma crise entre um chefe de Estado e o Parlamento. Se é um sistema que funciona para eles, devem encontrar formas de evitar que as pessoas sofram sempre que há desentendimentos entre o executivo e o legislativo. Se é outro sistema que precisam e querem pôr em prática, tem necessariamente de ser através de um sistema de consulta com todos os cidadãos e decidir que forma de governação querem escolher para si próprios, são eles que decidem. Cabe ao povo da Guiné-Bissau decidir se quer mudar o sistema ou mantê-lo", concluiu a activista.
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COP29: "África não pode ser responsável pelos problemas que outros criaram e não querem resolver"
11/11/2024
Arrancou esta segunda-feira, 11 de Novembro, a Conferência das Nações Unidas para as Alterações Climáticas. A COP 29 decorre este ano em Baku, Azerbaijão. Carlos Lopes, professor na Universidade do Cabo, sublinha a necessidade de se repensar o financiamento climático e defende que os países africanos não deveriam ter de pedir dinheiro emprestado para resolver os problemas climáticos que não causaram.
Arrancou esta segunda-feira, 11 de Novembro, a Conferência das Nações Unidas para as Alterações Climáticas. A COP 29 decorre este ano em Baku, Azerbaijão. Já conhecida como a conferência dos financiamentos, em Baku, espera-se que as partes - mais de 200 países divididos em grupos - acordem um novo montante para ajudar os países em desenvolvimento a se adaptarem e a atenuarem os efeitos das mudanças climáticas.
A cimeira inicia-se duas semanas após a publicação de um relatório da Organização Meteorológica Mundial, que indica que os níveis dos três principais gases com efeito de estufa (GEE) que contribuem para o aquecimento global do planeta - dióxido de carbono, metano e óxido nitroso - voltaram a aumentar em 2023.
África é responsável por apenas 4% das emissões globais de gases de efeito estufa, mas grande parte do financiamento que recebe para transição energética, adaptação e mitigação acontece sob a forma de empréstimos, agravando a dívida dos países.
Carlos Lopes, economista, professor na Universidade do Cabo, África do Sul, sublinha a necessidade de se repensar o financiamento climático e defende que os países africanos não deveriam ter de pedir dinheiro emprestado para resolver os problemas climáticos que não causaram.
O actual momento político de “grandes convulsões”, aliado a um anfitrião da COP29 - Azerbaijão - apenas preocupado em assegurar o bom funcionamento logístico do encontro, faz prever o ‘chutar a bola’ para a COP 30. A verificar-se uma não conclusão deste imbróglio do financiamento climático, Carlos Lopes, que preside o Conselho da Fundação Africana para o Clima, alerta que no próximo ano, no Brasil “a situação vai ser ainda mais complicada”.
RFI: O que é que a África pode esperar desta COP 29?
Carlos Lopes: Temos grandes esperanças de que os posicionamentos da África possam demonstrar que temos uma crise de financiamento climático que precisa de ser resolvida a um outro nível que as promessas que são feitas COP após COP.
Na realidade, depois da COP 28 [Dezembro 2023] há um determinado número de promessas que foram feitas pelos Emirados Árabes Unidos e por outros países intermédios, que não tinham obrigações no Acordo de Paris de contribuir para essas soluções climáticas nos países menos desenvolvidos, que foram cumpridas. Mas, as promessas feitas pelos países que tinham essas obrigações, os países desenvolvidos, nomeadamente membros da OCDE, não se cumpriram e continua a ser um acumular de déficits vários de promessas não cumpridas.
Isto leva a que exista, neste momento, uma situação de tal desconfiança em relação ao sistema multilateral, que seguramente não vai poder ser resolvida em Baku, até porque o Azerbaijão decidiu posicionar-se mais como um hóspede da COP do que um actor para tentar levar a uma conclusão deste imbróglio do financiamento climático.
Em relação ao financiamento, levantam-se várias questões: que tipo de financiamento? Empréstimos? Doações? Investimentos privados? Há falta de clareza. Além da vontade da redefinição dos países doadores e dos beneficiários, os países ditos desenvolvidos querem vincular novos poluidores, como a China, a Rússia, Arábia Saudita ou a Índia, entre outros. E esses países, apesar de já contribuírem, não querem essa vinculação.
O Acordo de Paris é bastante claro nestas matérias, mas tem havido tentativas de reinterpretação do Acordo de Paris que são rechaçadas pelos países em desenvolvimento. Por exemplo, no que diz respeito às promessas de financiamento e os tais 100 bilhões de dólares de contribuições anuais para a questão climática, segundo a OCDE,...
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30ª edição do festival internacional de teatro do Mindelo - Mindelact
11/8/2024
A ilha de São Vicente acolhe até este sábado, o festival internacional de teatro do Mindelo, o Mindelact, que este ano é dedicado ao tema "Pérola", para marcar os 30 anos do maior festival de teatro de Cabo Verde e um dos eventos de artes cénicas mais célebres do continente africano. A RFI conversou, no Centro Cultural do Mindelo, com a actriz, Zenaida Alfama, produtora da 30ª edição do festival de teatro Mindelact. Zenaida Alfama disse que os 30 anos do evento são muito especiais.
“É edição especial porque estamos a fechar um ciclo, digamos assim. 30 anos, não é brincadeira, tendo todas as dificuldades, mas temos conseguido manter o festival, mesmo na época mais difícil que foi a época de Covid, é um festival que não parou, fizemos o festival mesmo com todas as dificuldades. Este ano é um sabor maravilhoso porque é como ver algo a crescer a cada dia que passa, mesmo se temos sempre algumas dificuldades, porque somos ilhas, para trazer pessoas. Ás vezes as pessoas ficam retidas, qualquer dificuldade que temos, mas é sempre uma satisfação depois ver o público alegre, o público a relembrar. Fizemos uma exposição que é dos 30 anos do festival e as pessoas a relembrar, eu vi, eu já lembro, e é como ver uma criança que cresceu e agora está num patamar de adulto. Agora a esperança é que continue sempre nesse patamar e que melhore as condições de espaço e essas coisas que precisam ser melhoradas, que consigamos melhorar tudo isso para que o festival continue. Essa exposição que está ali a marcar os 30 anos, em foto, fica aqui com alguma nostalgia, é essa ideia mesmo de tocar o coração das pessoas”, disse Zenaida Alfama.
A responsável do Festival também deu conta da satisfação que é ter artistas de vários países a passarem pelos palcos do Mindelact,“como uma senhora de 81 anos de idade que veio do Brasil para apresentar um espectáculo, já que está com previsão, do próximo ano, voltar na trilogia, no final da trilogia, porque já o primeiro foi só uma actriz, agora é dois, no trilogia vão ser três actrizes. Então é isso, o construir de toda uma equipa, de todo um público, de todo um espectáculo, de uma rede, de saber que o Festival Mindelact na África é um dos mais reconhecidos a nível internacional, é saber que voam a um festival, a um outro festival, em um encontro de contador de história, por exemplo, que as pessoas falam, é do Mindelact. Então é criar essa vontade das pessoas virem para o Mindelact, ver o espectáculo e participar no festival”.
A actriz brasileira de 81 anos referenciada por Zenaida Alfama, produtora da 30ª edição do festival de teatro Mindelact é Dja Martins que fez a sua estreia internacional, em Cabo Verde, com a peça “Mãe baiana” que conta a história de uma avó que sofre a dor da perda do filho. Dja Martins partilhou a alegria de estar no continente africano.
“Eu estou estreando internacionalmente com 81 anos e eu acho que isso não é para qualquer um, eu sou uma abençoada. Vim para a minha terra de origem, me senti aqui indo na casa da minha tia, vou ali na casa da minha tia Antónia, me senti assim aqui, como se eu estivesse o tempo todo aqui na África”, afirmou a actriz Dja Martins
Também, no festival internacional de teatro do Mindelo, o Mindelact, há espectáculos nas praças da cidade, uma medida para socializar cada vez mais o teatro, aquele teatro feito para o povo, que vai onde o povo está. Assim, desde 2017, o Festival Mindelact aposta em levar o teatro às praças da ilha de São Vicente, todos os dias do evento.
Na ponta da areia, kontam um storia! (conta-me uma história em português) Do núcleo teatral Arte33, de Portugal foi um dos espectáculos apresentados na Praça Amílcar Cabral no centro da cidade do Mindelo no festival de teatro - Mindelact. Uma peça constituída por 6 caixas de Teatro Lambe Lambe (três histórias recolhidas junto da comunidade da Trafaria e histórias recolhidas e contadas por gente de São Vicente). Uma história contada de forma animada como explica actriz Ana Nave do Núcleo...
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Resgate da identidade cultural de Angola, Guiné-Bissau, Moçambique e Timor-Leste
11/8/2024
Marimba é o nome de um instrumento e é também o nome de um projecto que visa impulsionar o resgate da identidade cultural de Angola, Guiné-Bissau, Moçambique e Timor-Leste.
É através da pesquisa, digitalização, promoção e distribuição de produtos fonográficos dos artistas dos países parceiros que o projecto Marimba pretende valorizar a produção musical, promover o emprego e gerar rendimento.
Um projecto todo-o-terreno, que vai desde a formação de profissionais até à apresentação de um produto final, onde a inclusão socioeconómica das mulheres é merecedora de uma atenção particular.
Para se conhecer melhor o projecto Marimba, os diferentes campos de acção, como está a ser implementado e qual o balanço que se pode fazer do seu impacto, a RFI falou com Miguel Ângelo, Administrador da SoundsGood, que faz a coordenação geral do Projecto Marimba.
Site do projecto Marimba: https://marimba.art/
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No curto prazo "não haverá qualquer apaziguamento" em Moçambique
11/8/2024
Após um dia de mais caos e manifestações por todo o país, que terão feito pelo menos três mortos e dezenas de feridos, não há ainda abertura para qualquer negociação por parte da Frelimo, com Venâncio Mondlane, candidato apoiado pelo Podemos, a continuar a apostar nas manifestação e o MDM a pedir a recontagem dos votos ou a anulação das eleições.
Após mais um dia de protestos e a determinação da oposição de se manter nas ruas, o politólogo João Feijó não antevê para já a possibilidade de acalmia nas ruas moçambicanas, já que esta é a única forma de exercer pressão sobre o Conselho Constitucional, o órgão máximo do país que vai decidir brevemente sobre a legitimidade dos resultados das eleições gerais de 09 de Outubro.
"Eu acho que no curto prazo não vai haver nenhum apaziguamento. Vai persistir esta pressão nas ruas que Venâncio Mondlane está a criar, com vista a equilibrar a pressão sobre o Conselho Constitucional. Em qualquer parte do mundo estes órgãos supremos são bastante politizados, não é? Os tribunais de primeira instância geralmente são mais técnicos e mais independentes, mas quando chegamos aos níveis mais supremos, a interferência política é mais evidente e Moçambique não é excepção. Até porque o nível de partidarização das instituições aqui é mais evidente. Então, consciente que as decisões do Conselho Constitucional serão de validar legalmente estes resultados que transmitem inúmeras dúvidas à população, a reacção de Venâncio Mondlane é colocar o povo na rua para tentar equilibrar essa pressão", explicou o investigador em entrevista à RFI.
Mesmo contabilizando mais de 30 mortos em todo o país e e centenas de feridos durante várias manifestações nas últimas semanas, para João Feijó a Frelimo continua sem abertura ao diálogo, havendo apenas apelos ao respeito das instituições - instituições essas controladas pelo própria Frelimo.
"Não houve até agora nenhuma vontade política de haver um diálogo assertivo e construtivo capaz de enfrentar o cerne do problema que está aqui em causa. O Presidente da República continua sem fazer um único discurso à Nação. [...] Depois houve um discurso do Presidente Chissano e da Graça Machel, em que fazem um pequeno vídeo que circula nas redes sociais e quer ser um discurso de reconciliação, mas nem toca na violência da polícia nem no assassinato de 30 indivíduos devido à violência policial. Não fazem nenhum apelo ao funcionamento das instituições de investigação criminal, não fazem nenhum apelo à investigação de fraudes eleitorais que omitem por completo e fazem apenas um apelo ao respeito pelas instituições, que são o problema central. Mas a reconciliação implica a verdade e, portanto, qualquer tentativa de fazer uma reconciliação tem que partir sempre da verdade, depois vem a reconciliação", concluiu Feijó.
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“Despertámos do sono profundo que o autoritarismo nos causou”
11/6/2024
Maputo é esta quinta-feira o epicentro de uma marcha popular e o símbolo de uma semana de greve geral e manifestações. Há receios de “um banho de sangue”, depois de mais de uma dezena de pessoas terem morrido nos protestos de contestação eleitoral. Quitéria Guirengane, activista política e social e membro da Geração 18 de Março, pede ao Estado para pedir desculpas aos moçambicanos e “evitar banhos de sangue com uma mensagem de reconciliação e a reposição da verdade”. A activista não acredita que o povo esteja na rua apenas “porque houve uma convocação de Venâncio Mondlane”, mas porque a população “despertou do sono profundo do autoritarismo”.
Esta quinta-feira, Maputo é palco de uma mega-concentração, depois de uma semana de greve geral e de protestos convocados pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, naquela que ele chamou de “terceira etapa” da contestação aos resultados das eleições gerais de 09 de Outubro, anunciados pela CNE. Outros protestos tinham sido realizados nos dias 21, 24 e 25 de Outubro.
Quitéria Guirengane é activista política e social, lidera o Observatório das Mulheres, é membro da Geração 18 de Março e dirige uma linha de recepção de apoio às vítimas da violência policial. É também uma voz muito seguida nas redes sociais, onde tem partilhado testemunhos que lhe chegam de todo o país.
RFI: Como é que encara, antes de mais, este 7 de Novembro?
Quitéria Guirengane, activista política e social: Com uma dor muito forte no coração, com uma apreensão pelo número de vidas humanas, pela quantidade de sangue que se está a jorrar e que vão marcar de forma indelével a bandeira e a história de Moçambique. Como cidadãos moçambicanos e, acima de tudo, como parte de uma geração que não viveu a luta de libertação nacional, que não viveu a guerra dos 16 anos, viver este período difícil da nossa história é, sem dúvida, um abalo, mas, ao mesmo tempo, é uma convicção inabalável de que estamos diante de ausência de Estado e de ausência de liderança porque a existência de uma liderança é para que nos momentos difíceis saiba o que deve ser feito, saiba ouvir a voz do povo e saiba evitar banhos de sangue com uma mensagem de reconciliação, mas acima de tudo, com a reposição da verdade para que não tenhamos que chegar a estes níveis.
O que é que o povo espera destas manifestações e desta marcha para Maputo esta quinta-feira? Recorde-nos porque é que o povo está na rua?
O povo está na rua porque percebeu que nós estamos a viver uma colonização disfarçada, um sistema autoritário que é incapaz de dialogar. Eu não creio que o povo esteja na rua apenas porque houve uma convocação de Venâncio Mondlane, apesar de estar claro para todo o cidadão moçambicano que Venâncio Mondlane teve uma prestação na urna que foi negada, uma verdade que foi pisoteada e escamoteada. Diferente de anos anteriores, as redes sociais permitiram que os cidadãos acompanhassem ‘in loco’ a manipulação da verdade. Os cidadãos estão cansados da arrogância e, acima de tudo, do emburrecimento, da forma humilhante como têm sido tratados.
Disse que o regime não é capaz de dialogar, mas o Presidente de Moçambique disse, na terça-feira, que não tem dificuldades para dialogar e que é preciso esperar pela validação dos resultados eleitorais pelo Conselho Constitucional. Para evitar o “banho de sangue” de que você falou, porque é que não se opta pela via do diálogo? Porque é que não se espera pelo pronunciamento do Conselho Constitucional?
Eu não convoquei estas manifestações, mas eu percebo a indignação geral dos cidadãos moçambicanos. Moçambique vive um terrorismo eleitoral que não começou este ano. Vou-lhe trazer o exemplo das eleições do ano passado. Durante muito tempo se dizia que a oposição reclamava da fraude eleitoral, mas não trazia provas desta fraude. No ano passado, eu participei na elaboração de vários recursos eleitorais e foram entregues ao Conselho Constitucional evidências, vídeos feitos por cidadãos, de polícia a disparar dentro da assembleia de...
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Eleições americanas: "O projecto de Trump é um projecto autocrático"
11/6/2024
Contra todas as expectativas, com analistas a anteverem dias de incerteza quanto aos resultados das presidenciais de ontem nos Estados Unidos, o candidato republicano Donald Trump venceu o escrutínio com um resultado nítido, acima do patamar simbólico dos 270 grandes eleitores necessários para garantir a vitória face à candidata democrata Kamala Harris.
Quatro anos depois de sair da Casa Branca em atmosfera de insurreição, após o assalto ao Capitólio, Donald Trump regressa vitorioso para quatro anos na presidência da República. Quatro anos durante os quais, já disse que pretende operar uma série de reformas a nível da administração do seu país e da sua economia, sendo que ele anuncia igualmente uma inflexão da sua política externa, nomeadamente no que tange à Ucrânia, ao Médio Oriente, ou ainda à questão do meio ambiente.
Aspectos que abordamos com Álvaro Vasconcelos, antigo director do Instituto de Estudos de Segurança da União Europeia, com quem começamos por analisar a dimensão da vitória de Trump, inclusivamente com os votos de camadas da sociedade que habitualmente votam nos democratas.
RFI: Como se pode explicar que Trump tenha beneficiado nomeadamente dos votos de camadas da sociedade como os afro-americanos, o eleitorado latino e as mulheres?
Álvaro Vasconcelos: As primeiras análises mostram que os afro-descendentes, em particular as mulheres, votaram por Kamala Harris em larga maioria. O Trump progrediu no sector dos afro-descendentes e progrediu porque eles também são vítimas da inflação. Também há muitos afro-americanos que são sexistas, que vêem com preocupação o aumento dos direitos das mulheres. Nós estamos a assistir àquilo que eu tenho chamado uma "contra-revolução cultural", ou seja, todos aqueles direitos que foram conquistados desde a Segunda Guerra Mundial, em particular desde os anos 70, da igualdade dos direitos reprodutivos das mulheres, o direito ao aborto. Todas essas conquistas extraordinárias que desconstruíram a sociedade patriarcal afectam as convicções, as tradições, a identidade, de homens que não são necessariamente todos brancos. Também os afro-americanos sentem essa transformação da sociedade. Também foram educados numa sociedade patriarcal. E quando a inflação e o covid -porque lembremos que Biden foi presidente também ainda com o covid- quando o convite e a inflação atingem esse sector da sociedade, eles sentem-se reforçados na sua oposição àqueles que, estando no poder, defendem direitos que eles consideram que diminuem os seus direitos. O que é extraordinário é que o Trump aparece ao lado de Elon Musk, como um candidato libertário, aliás, como a Milei na Argentina, ou a extrema-direita europeia, até em França. Fala-se de liberdade de expressão. E qual é a liberdade de expressão? é a liberdade para ser racista, para ser sexista. E tudo isso, acho eu, explica que não basta ser negro para votar contra o racismo.
RFI: Um dos projectos de Donald Trump é reformar completamente aquilo que ele chama de 'Deep State'. Mudar todas aquelas camadas intermédias da administração americana. Para já, isto é concretizável? E o que é que isso pode implicar?
Álvaro Vasconcelos: Isso é o que torna ainda mais inquietante esta segunda vitória de Trump. É que da primeira vez que Trump foi eleito, Trump tinha que lidar com um Partido Republicano que, no essencial, era tradicional. Nem era trumpista. Trump era um candidato anti-sistema, anti-sectores poderosos do Partido Republicano e que foram contrapoderes em relação a Trump, inclusive na sua própria administração. Lembre-se que o vice-presidente de Trump, o Mike Pence, um conservador, opôs-se ao que o Trump tentou a 6 de Janeiro (de 2021), quando perdeu as eleições, o assalto ao Capitólio, e o chefe do gabinete de Trump deu uma entrevista recentemente a dizer que Trump era um fascista. Ou, portanto, os sectores do Partido Republicano com quem Trump teve que se relacionar em 2016 eram sectores do Partido Republicano que não eram trumpistas. Hoje, Trump...
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Eleitores luso-americanos divididos entre Kamala Harris e Donald Trump
11/5/2024
Na Pensilvânia está tudo empatado nas sondagens entre Kamala Harris e Donald Trump. Quem tiver mais votos consegue 19 votos para o Colégio Eleitoral que decide o Presidente. De todos os estados de desfecho incerto é o que vale o maior número de votos. O jornalista José Pedro Frazão esteve no clube português mais antigo da Pensilvânia onde encontrou as mesmas divisões que existem no país.
Com 94 anos, o mais antigo clube de portugueses da Pensilvânia ainda é um local de encontro da comunidade, mas a política fica fora das conversas, mas não por falta de interesse destes imigrantes.
"Nós, tentamos, especialmente amigos, nós tentamos sempre manter os políticos um bocadinho à parte aqui, porque senão havia até, se calhar, havia aqui barulho. O nosso clube sempre foi bom nisso. O nosso clube sempre manteve um pouco de silêncio", diz Mário Fernandes, 76 anos.
Este cidadão luso radicado nos Estados Unidos conta que o regulamento do Clube Português de Bethlehem tem mesmo uma regra que proíbe a instituição de expressar apoio a políticos. A conversa junta também José Carlos, o presidente que mais tempo esteve à frente do clube, numa zona tradicionalmente democrata. Hoje, a comunidade portuguesa reflecte a divisão do país entre os dois campos políticos.
"Eu penso que é 'metade-metade'. Às vezes eu penso que é um bocadinho talvez de maioria republicanos, mas outras vezes eu penso que não", diz Mário Fernandes.
"Eu penso que é o contrário. Eu penso que até recentemente tem sido a maioria. Os democratas, são maioria. Agora estou a começar a ver mais republicanos", considera José Carlos.
Foi Donald Trump que começou a dar a volta às preferências dos portugueses. Quem apoia o antigo Presidente diz que a sua passagem pela Casa Branca deixou saudades, explica Ana Viçoso, que também presidiu ao clube.
"Quando ele foi Presidente, a América correu melhor. As pessoas puderam guardar dinheiro. Pudemos comprar casas. Hoje, as casas, tudo está tão caríssimo", queixa-se Ana Viçoso que passou o testemunho a Arnaldo Jorge, de 52 anos, um apoiante declarado de Donald Trump. As contas feitas em casa tornaram a sua decisão muito fácil de tomar.
"Porque a minha mulher tem um salão de cortar cabelo e o Trump estava na Casa Branca naqueles quatro anos que ele esteve lá. A gente nunca teve que subir os nossos preços, porque o nível de vida está mais barato. E agora, estes quatro anos agora passados, já tivemos três aumentos dos preços, porque tudo está mais caro. A electricidade, a água, o produto que ela tem, lá no salão, para pintar o cabelo das mulheres", diz o dirigente do clube.
Relativamente à questão da imigração. Uma das maiores críticas dos apoiantes de Trump, como José Carlos, passa por uma alegada facilitação da entrada de imigrantes por parte da administração Biden, onde Camila Harris foi peça-chave.
"É totalmente errado o que esta o que esta presidência fez. Totalmente errado abrir as portas das fronteiras. (...) Isto é difícil. Nós também fomos imigrantes. Nós viemos legalmente e tem muita gente em Portugal e noutras partes do mundo que, precisam de ter um visto. Você tem que esperar dez, 15 anos. Portanto, eu não sou contra a imigração, mas não da maneira como está", diz José Carlos.
A forma de Trump se expressar é, apesar de tudo, um problema para muitos eleitores, mesmo se não for o próprio a ir longe nas palavras. Nesta zona da Pensilvânia caiu muito mal a crítica aos porto-riquenhos num comício de Trump. Ana Viçoso é a prova de que são sobretudo as mulheres que não aceitam a forma como o candidato a elas se dirige.
"Ele talvez seja bom para a nação. Mas a língua dele estraga tudo. Eu não aguento a língua dele. Ninguém gosta da maneira de ele falar, como ele fala sobre mulheres", diz Ana Viçoso.
A maioria das mulheres apoia Kamala Harris. Apesar de ser democrata desde sempre, Ana permanece indecisa. Admite, contudo, que talvez acabe por votar a favor de Kamala Harris. "Não sei. Eu vou votar para ela quando chegar a hora. Eu penso...
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Adiamento das eleições "vai traduzir-se no aumento de violações dos direitos humanos"
11/4/2024
O Presidente guineense decidiu adiar a data das eleições legislativas antecipadas, alegando "não haver condições". Umaro Sissoco Embaló visitou este domingo os oficiais do ministério do Interior, em Bissau, onde prestou declarações aos jornalistas a prometer que vai "permanecer no poder até 2030 e tal". O jurista e professor na Faculdade de Direito e activista de direitos humanos, Fodé Mané, acredita que o adiamento das eleições "vai traduzir-se no aumento de violações de direitos humanos".
RFI: Em Setembro, o Presidente guineense começou por dizer que não se iria candidatar às presidenciais, mas poucos dias depois disse estar disponível para se manter no cargo, caso fosse realmente a vontade dos eleitores. Agora, afirma que se vai "manter no poder até 2030 e tal". Como é que interpreta esta afirmação do Presidente?
Fodé Mané: Nós temos um país em que há um único chefe, não há parlamento, não há um Supremo Tribunal, não há um governo legítimo, que saiu de eleições e nem há um programa com um orçamento aprovado. Temos um país a funcionar ad hoc. Apesar de estar na ilegalidade, uma das saídas era a realização de eleições gerais justas e transparentes. Convocaram-se eleições sem respeitar todas as condições, mas foi convocado. Nesta condição é claro que não haverá eleições justas, livres e transparentes. Chegámos neste momento em que se vai adiar de uma forma muito amadora. Porque se for marcado um acto eleitoral através de um decreto presidencial no qual, além do cumprimento de determinadas formalidades e determinada solenidade para que seja marcada quando vai ser adiada, deve seguir o mesmo procedimento. Não foi o que aconteceu, os partidos ou os cidadãos estavam convencidos que até o dia dois, se não fossem anunciadas nova datas mantinha-se a data de 24 de Novembro. Para isso, os partidos marcaram o início da campanha e o que veio a acontecer e é importante realçar os modos como o Umaro Sissoco Embaló envia mensagem para o país e para a classe politica.
Sempre que vai ao quartel, aparece fardado junto aos militares, depois ataca o adversário e depois anuncia alguma coisa. Na quinta-feira, esteve com o chefe de Estado maior, com alguns membros do governo, no sábado, a Guarda Nacional e no domingo a polícia de Ordem pública. Tudo aparece fardado, mostrando, até alegando que é um chefe militar, que em si é uma violação da Constituição. Vendo a forma, o lugar, a circunstância em que foi feito. Mostra que reuniu aquelas condições para continuar a navegar fora da legalidade. Isso quer dizer que é possível, num ambiente em que nos encontramos, sem Supremo Tribunal, há uma pessoa que faça do presidente que utiliza aqueles expedientes apenas para legitimar. Temos uma parte da comunidade internacional, principalmente a CEDEAO, o seu representante que está a ser muito contraditório na sua isenção. Lembro-me em 2019, José Mário devia terminar o mandato em Março. Não marcou eleições na data anterior e a CEDEAO disse que como está para além do seu mandato, já não é nosso interlocutor e o governo que saiu foi indigitado pelo partido que ganhou as eleições e passou a ter o Aristides Gomes como seu interlocutor. E o que é que nós vimos? É o mesmo sentado à frente de um representante de CEDEAO a dizer que a Constituição é uma emanação ocidental, não corresponde à nossa realidade. A nossa realidade é que deve haver um único chefe a mandar aquilo que pretende e todo o mundo deve obedecer.
Aquando da visita aos oficiais do ministério do Interior em Bissau, o Presidente guineense afirmou que existem "mais oficiais nas forças de defesa e segurança do que soldados". Apontou que existe um problema estrutural nas Forças Armadas. Quais é que podem vir a ser as consequências desta desproporção para a segurança nacional e para a estabilidade política da Guiné-Bissau?
Quem ouviu a recente entrevista do Chefe de Estado Maior é uma situação que foi assumida como uma situação normal, que não vai dar em nada, a não ser um peso para o orçamento geral do...
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Mia Couto: "A relação colonial entre Europa e África mantém-se actual"
11/1/2024
"A Cegueira do Rio" é o mais recente romance de Mia Couto lançado em Portugal. Uma obra onde o escritor moçambicano partilha "o registo de uma outra maneira de ver o mundo, um outro sentimento do mundo".
Considerando ser "vital no momento de hoje" a "disponibilidade para ouvir outras sabedorias", com "A Cegueira do Rio" Mia Couto oferece a visão de uma cosmogonia, um saber que vai além de um modelo único de ser.
Em "A Cegueira do Rio", um rio que "é a tinta que nos permite comunicar pelo mundo inteiro", um evento algo mágico, um tanto apocalíptico, acontece: A tinta acaba, desaparece dos documentos, as pessoas perdem a capacidade de escrever e quem resta com esse saber são apenas alguns, poucos, indígenas africanos.
Num desafio para que a História seja "escrita em conjunto", o autor inverte a hierarquia, altera a posição de centro e periferia.
"A Cegueira do Rio" foi o pretexto para a entrevista de Mia Couto à RFI, mas a liberdade na literatura africana, as conotações políticas na literatura ou a relação colonial entre Europa e África também foram alguns dos temas da nossa conversa com o autor.
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Kiluanji Kia Henda: "A liberdade é uma base indispensável"
11/1/2024
Kiluanji Kia Henda deu na sexta-feira, 25 de Outubro, uma masterclass sobre memória e espaço público na Universidade Sorbonne, em Paris. O artista angolano tem vindo a desenvolver um trabalho em torno de memórias e narrativas históricas, usando a ficção como meio para questionar e reinterpretar o passado. Kiluanji Kia Henda alerta para o facto de "faltar acesso ao conhecimento histórico [em Angola]".
RFI: Cria obras de arte, performance, filmes. Aqui usou da palavra para partilhar a sua história e partilhar o que o inspirou a fazer os seus projectos. Disse que falta contar tudo. Podemos dizer que o seu trabalho liberta memórias?
Kiluanji Kia Henda: Acho que mais do que pensar sobre libertar memórias, é preciso activa-las, mas activa-las não no sentido de tentar ser fiel à memória ou ao passado, mas tentar encontrar uma interpretação que seja fiel a narrativas já existentes. Existe mais uma tentativa de olhar para a ficção, de como podemos fantasiar e de como podemos questionar certos episódios de passado, certos episódios que são centrais na nossa história, usando o campo da ficção para que isso possa acontecer. Para mim sempre foi importante esse questionamento da história através da ficção.
Fala da ficção, mas baseia-se na realidade e do que observa à sua volta?
Sim, é necessário para mim essa observação. Sou uma pessoa extremamente observadora, mas no momento em que trago para aquilo que é a minha criação, já obedece outra forma de estar. Existe uma maior liberdade. Eu gosto da liberdade que os campos da ficção me permitem, embora possa criar essa relação com a realidade, tentar criar ali uma linha ténue entre ficção e realidade do que é o documentário e do que é a liberdade poética. Mas para mim, é importante pensar sobre os campos da liberdade que a ficção que a poesia permitem, no sentido de que não me cria um compromisso com que a realidade. Isso permite me também poder viajar sobre distintas temporalidades que eu acho muito importante do contexto de onde venho, do país de onde venho, do continente de onde sou. Essa capacidade de poder viajar em distintas temporalidades é para mim uma das vantagens de ser um artista. Para mim é esse poder que a arte me atribui, poder viajar em diferentes temporalidades.
Na masterclass disse que "não existe Angola sem projecto colonial, que os ciclos de violência trouxeram o vazio no país, trouxeram a falta de acesso à história, uma incapacidade de projectar um futuro". Fez referência, nomeadamente, à pobreza, condição que impede que as pessoas se consigam projectar para o dia de amanhã, uma vez que os problemas existem no tempo presente e no dia-a-dia. É isso que o leva a pensar na história?
Sim, é exactamente isso. Quando falei sobre essa viagem entre distintas temporalidades, como criar uma ponte entre passado e futuro, mas rejeitando o presente. Poder fazer esse exercício dentro da criação artística é necessário num lugar onde toda a questão da violência histórica e de toda a dificuldade que ainda se vive e se agarra nos muito ao presente. Eu penso que olhamos para todas as grandes sociedades. São aquelas que têm acesso à história e têm a capacidade de projectar o seu futuro.
Os angolanos não têm acesso à história?
É muito débil esse acesso porque primeiro vem de uma situação de sistemática destruição das suas referências históricas, que foi causada pela colonização e, segundo, ainda hoje, não existe um verdadeiro investimento nessas estruturas que lhe permitam preservar e também que permitam ter o acesso a esse conhecimento histórico. Claro que quando falo que não existe Angola sem colonização também é referindo a importância de pensarmos sobre toda essa diversidade cultural étnica que muitas vezes desaparece quando tudo se torna um discurso hegemónico, que tem como a sua base a colonização.
Além de que, como referiu, "o pior da censura é o polícia que vive dentro de nós". Há uma herança também desse polícia?
Existe uma herança, claro, à escala global. Existe polícia de...
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Especialista de relações internacionais, Osvaldo Mboco lança livro sobre diplomacia angolana
11/1/2024
Osvaldo Mboco, especialista em Relações Internacionais ligado à Universidade Técnica de Angola e voz conhecida da RFI pelas suas análises, lança no próximo dia 6 de Novembro, o seu novo livro, "Política externa de Angola, Principais marcos, desafios e perspectivas".
Nesta obra que vem no seguimento de outros livros como “Os desafios de África no século XXI – um continente que procura se reencontrar”, publicado em 2021 ou ainda "As eleições em Angola, de 1992 até aos nossos dias" lançado em 2022, Osvaldo Mboco evoca designadamente a evolução das relações do seu país com os seus parceiros nos Estados Unidos, Rússia, China ou ainda França, passando em revista os momentos-chave da diplomacia angolana desde a independência, em 1975, até aos dias de hoje.
RFI: Relativamente aos marcos históricos da diplomacia angolana de 1975 até aos dias de hoje, como é que poderíamos resumir em poucas palavras a evolução da diplomacia angolana nesses anos? Partimos de um país recém-independente de cariz socialista, para um país que agora multiplica as parcerias com países que até são antagónicos no plano internacional.
Osvaldo Mboco: Nós, neste livro, entendemos dividir a política externa de Angola em seis épocas importantes. De 1975 até 1979, marca, ao nosso entender, a primeira fase da política externa de Angola. Depois de 1979 a 1989: porque aqui em 79, estava a entrar um novo Presidente que é o Presidente Eduardo dos Santos e de facto não alterou em grande medida aquilo que eram os pilares estruturais da política externa de Angola, porque nós tínhamos uma política externa voltada neste período ao marxismo-leninismo. A nossa relação era muito mais próxima para os países comunistas ou socialistas nesta época. Esse período termina em 89 e é a queda do Muro de Berlim. O país começa a fazer reformas importantes do ponto de vista da abertura da economia de mercado, mas ainda um país que tinha assente pilares naquilo que era a ideologia marxista-leninista. E depois há o terceiro período, que é de 1989 até 1992. Nesse período, onde também o país foi obrigado, até certo ponto, a abrir-se para o multipartidarismo e começar também a se relacionar com outros Estados. Depois de 92 até 2002, que é um período marcado fortemente pelo conflito civil, onde a estratégia da política externa de Angola era muito mais voltada para o objectivo de encurtar as linhas de apoios e abastecimento que a Unita tinha. É uma política de boa vizinhança também com os países vizinhos, no sentido de a Unita ser entendida não como um grupo de guerrilha, mas como um grupo rebelde. Esse foi um trabalho também da nossa diplomacia. Depois, teve o quinto período, que é de 2002 até 2017. Nesse período, um período pós-guerra, um período em que o país se abriu, vai buscar novas perspectivas. Depois, o outro período é de 2017 até aos nossos dias, que já é um período marcado pela presidência do Presidente João Lourenço. Agora, claramente que nós também trouxemos aqui neste livro o nosso actual reposicionamento no sistema internacional, enquanto país que hoje vai buscando várias alianças, até com aqueles países que no passado eram antagónicos. Tudo indica que está a existir uma mudança da política externa de Angola do eixo Pequim-Moscovo para o eixo Bruxelas-Washington. E isto tem estado de facto a criar muitos debates, também ao nível da Academia. E olhando para esta reconfiguração da política externa angolana, onde condena actos nas Nações Unidas, por exemplo, a anexação das quatro províncias da Ucrânia pela Rússia, a intenção que o Estado angolano tem também de adquirir equipamento militar americano. Quando olhamos para grande parte do equipamento militar angolano hoje que é do Pacto de Varsóvia, arrisco-me a dizer que em Angola não existem cinco generais, pelo menos um, que têm estudos ou formação na Rússia. E como é que fica a descontinuidade disto? Quanto tempo levaria, quais são os gastos que nós teríamos? E os treino, etc. Agora, os Estados, no sistema internacional, eles competem...
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Nas eleições nos Estados Unidos da América "tudo pode acontecer"
10/31/2024
A eleição do próximo presidente dos Estados Unidos está cada vez mais próxima e o resultado é incerto, com Donald Trump e Kamala Harris a aparecerem empatados em quase todas as grandes sondagens norte-americanas. Uma tendência que se repete desde 2016, com os estados indecisos, ou swing states, a parecerem alinhar desta vez na sua maioria com o antigo Presidente Donald Trump.
Em entrevista à RFI, Germano Almeida, jornalista e autor de vários livros sobre as eleições e os presidentes norte-americanos, considera que esta proximidade entre os dois candidatos é normal, já que a sociedade norte-americana está cada vez mais polarizada - uma tendência que acontece desde 2016, altura em que Trump se candidatou pela primeira vez.
"Os Estados Unidos são uma sociedade hiper polarizada, pois está muito dividida. As últimas duas ou três eleições já tinham sido bastante equilibradas. Esta está a ser ainda mais porque se eventualmente Biden tivesse sido o candidato e não tivesse o problema da idade avançada, eu diria que apareceria como favorito. Mas Kamala Harris não foi as primárias. Era uma vice-presidente impopular, herda uma administração impopular e difícil. No caso de Donald Trump, é alguém que tem há muitos anos, de forma consistente, uma grande desaprovação. Então são dois candidatos com problemas para ganhar. Eu diria que Trump tem o caminho mais facilitado para ganhar, porque há muitos americanos descontentes, sobretudo com a herança económica. Já Kamala precisa de uma super mobilização, o que até pode acontecer", explicou o especialista nas eleições norte-americanas.
É essa mobilização que pode ajudar Harris na recta final desta eleição, especialmente nos sete estados indecisos, ou swing states, onde Donald Trump domina face há quatro anos, em que Biden ganhou seis em sete destes estados.
"As sondagens mostram que o número de indecisos já é muito baixo nos estados indecisos. As sondagens apontam para que haja de 5% a 7% indecisos, não mais. Kamala ainda não desistiu de convencer alguns republicanos que rejeitam Trump. São alguns. Não são muitos, mas até podem ser importantes nalguns estados. Mais importante do que isso, é mesmo a mobilização. Para Kamala Harris é completamente diferente se os negros votarem 50% ou 70%. Se votarem a 50% ela não ganha. Se votarem a 70% ela ganha com essa diferença", indicou o jornalista.
O pós-eleições, especialmente após a tomada do Capitólio há quatro anos aquando a tomada de posse de Jor Biden, fazem temer o pior em termos de estabilidade política para os Estados Unidos independentemente de quem saia vencedor das eleições de 05 de Novembro. Um país "
"Estamos numa fase em que o lado que vier a perder não vai aceitar o outro lado. É um cenário mesmo muito complicado, porque o campo de Trump não só não vai aceitar como vai achar mesmo que ganhou. Portanto, tudo pode acontecer. A situação é de grande risco e vai ser de grande stress e tensão para o sistema", concluiu Germano Almeida.
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Coreia do Norte e Rússia reforçam aliança político-militar, em vésperas de eleições nos EUA
10/29/2024
A Coreia do Norte enviou cerca de 10 mil soldados para treinar na Rússia. A informação foi confirmada esta segunda-feira 28 de Outubro pelo Departamento de Defesa norte-americano. Algumas tropas norte-coreanas poderão já estar a deslocar-se para a frente de batalha na Ucrânia, de acordo com os serviços de inteligência da Coreia do Sul. A cooperação com Moscovo poderá representar, para Pyongyang, "uma abertura ao mundo", considera Álvaro Vasconcelos.
A aliança político-militar entre a Coreia do Sul e a Rússia, reforçada desde o início da invasão russa da Ucrânia em 2022, adquire uma nova dimensão com o envio de tropas norte-coreanas para combater no campo de batalha.
Numa altura em que Vladimir Putin procura desenvolver e liderar uma possível aliança anti-ocidental, "Pyongyang tem todo o interesse em sair do seu isolamento", analisa o especialista em relações internacionais Álvaro Vasconcelos. A Coreia do Norte é um dos países mais isolados do mundo, recorda o analista. Mantém relações com a China, "embora a China seja um aliado sempre crítico de algumas das acções da Coreia do Norte".
Neste contexto, a Coreia do Norte tenta inserir-se na nova dinâmica internacional que a Rússia procura desenvolver de uma aliança anti-ocidental, contando nomeadamente com a China, o que daria a Pyongyang uma "abertura para o mundo". De acordo com Álvaro Vasconcelos, o centro de gravidade desse objectivo de aliança anti-ocidental é, precisamente, a guerra na Ucrânia.
Por outro lado, ao reforçar a cooperação com Moscovo, a Coreia do Norte "não só se reforça militarmente", como passa a contar, em troca, com o apoio militar da Rússia, o que "tem evidentemente um impacto muito grande", diz Álvaro Vasconcelos. Uma das principais razões é a situação na península coreana, na fronteira com a Coreia do Sul.
"Seúl está extremamente preocupada com a possibilidade de a Coreia do Norte encontrar neste contexto e sobretudo, se Trump ganhar as eleições, uma oportunidade para criar tensões mais graves na fronteira com a Coreia do Sul", explica o analista.
As eleições norte-americanas serão decisivas, já que é conhecida a proximidade entre Donald Trump e Kim Jong-Un, e entre Donald Trump e Vladimir Putin.
Se o candidato republicano à Casa Branca for eleito, "uma eventual aliança anti-ocidental, protagonizada por Putin e contando com Kim Jong-Un deixaria de ser vista como um problema" por Donald Tump para os Estados-Unidos, avança o investigador.
Em causa, estariam "as áreas onde a aliança liderada por Putin procura avançar, ou seja na Ucrânia, na Geórgia, na Moldávia, no Sahel, e talvez no Médio Oriente", analisa Álvaro Vasconcelos, que conclui: "Evidentemente que a estratégia de Putin seria favorecida, de uma forma claríssima, pela vitória de Trump".
De acordo com cálculos da agência France-Presse, baseados nos dados fornecidos diariamente pelo Instituto para o Estudos da Guerra (ISW), Moscovo controla actualmente cerca de 18,2% do território da Ucrânia.
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“Moçambicanos da diáspora pedem justiça, transparência e paz para Moçambique”
10/29/2024
“Os moçambicanos da diáspora pedem justiça, transparência e paz para Moçambique” - esta é a mensagem do recém-criado movimento Os Indignados que junta moçambicanos residentes em vários países europeus. O grupo tem denunciado, através de comunicados, a violência pós-eleitoral em Moçambique e promete uma manifestação em Bruxelas, junto à Comissão Europeia, em breve.
RFI: Como nasceu este movimento da diáspora e quais os objectivos?
Laura Chirrime, moçambicana residente em França há 20 anos: A diáspora criou um movimento que se chama Os Indignados, que é um grupo de moçambicanos que não estão afiliados a nenhum partido político. É um movimento que se criou no dia 15 de Outubro face à violência que aconteceu logo a seguir às eleições. Todos os moçambicanos na diáspora ainda não fazem parte do grupo porque alguns apoiam partidos políticos e têm outras convicções. Então, nós somos um grupo de moçambicanos que estamos a querer justiça e transparência nas eleições de Moçambique.
Quantos são até agora?
Até agora somos 70 moçambicanos da Itália, Alemanha, Croácia, Bélgica, Holanda, Portugal, Inglaterra e Espanha.
O que é que pedem os moçambicanos da diáspora?
Os moçambicanos da diáspora pedem justiça, transparência e paz para Moçambique.
E poderem manifestar?
E poder manifestar à vontade.
Até agora, o que têm feito e quais são as próximas acções previstas?
Até agora, nós estamos a agir em silêncio, como se diz. Temos estado a enviar cartas para as diversas instituições governamentais e internacionais a reportar o que está se a passar em Moçambique. Falámos com a Comissão Europeia, Amnistia Internacional, Liga dos Direitos Humanos, a ONU, e temos estado a informar a imprensa estrangeira sobre o que está a acontecer em Moçambique, enviando comunicados de imprensa para os jornalistas.
O que é que dizem nesses comunicados de imprensa?
Pedimos justiça e transparência nas eleições em Moçambique. Somos moçambicanos residentes em vários países da Europa e estamos indignados com o que está a acontecer em Moçambique depois das eleições. O que é que nós estamos a reivindicar? Nós estamos a reivindicar o direito à transparência. Estamos a reivindicar o direito à palavra dos moçambicanos, o direito à manifestação pacífica que os moçambicanos solicitam. Estamos a pedir, estamos a implorar que não se façam assassinatos por causa destas eleições porque depois das eleições foi assassinado um advogado, Elvino Dias, que era um advogado que trabalhava com um candidato presidencial da oposição, e foi assassinado um representante do partido da oposição, o mandatário do Podemos. Foi um crime muito violento, um crime que chocou o país inteiro. Ninguém estava à espera desse crime e não percebemos porque é que houve esse crime.
Além dos comunicados, fizeram outras acções?
Fizemos uma acção ao pé da Embaixada de Moçambique em Paris. Fomos pôr uma coroa de flores e fizemos uma oração em nome do advogado e do representante do Podemos que foram assassinados em Maputo.
Estão a preparar mais acções?
A nossa primeira fase foi uma manifestação silenciosa que foi enviar cartas para instituições. Sempre damos a saber a Moçambique o que estamos a fazer porque as cartas têm sempre em cópia o Ministério dos Negócios Estrangeiros. Se é possível, as Embaixadas também recebem as cartas. Agora estamos a organizar uma acção concreta que é irmos à Comissão Europeia. Temos uma manifestação prevista para daqui a alguns dias na Comissão Europeia, onde estarão moçambicanos vindos de várias partes da Europa. Pedimos para sermos recebidos na Comissão Europeia para manifestarmos a nossa indignação perante os crimes que estão a acontecer em Moçambique.
E querem ser recebidos concretamente por quem? Vai haver uma manifestação às portas da Comissão?
Gostaríamos de ser recebidos pela presidente ou um mandatário da presidente da Comissão Europeia ou alguém que tenha disponibilidade para nos receber. Nós gostaríamos de entregar em mão as nossas manifestações para podermos...
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"Há todas as condições para eclodir um conflito armado em Moçambique" - analista
10/28/2024
Em Moçambique, a situação política continua incerta depois do anúncio na passada quinta-feira dos resultados das eleições gerais de 9 de Outubro, em que Daniel Chapo, candidato presidencial da Frelimo no poder foi dado como vencedor com um pouco mais de 70% dos votos, contra cerca de 20% para Venâncio Mondlane, apoiado pelo partido extraparlamentar Podemos.
Estes resultados foram rejeitados pela oposição que prometeu contestar junto dos órgãos competentes. Ontem, domingo, o Podemos apresentou um recurso junto do Conselho Constitucional, instância judicial que tem a última palavra sobre os resultados eleitorais. Afirmando basear-se em 70% das actas e editais originais, o partido que apoia Venâncio Mondlane diz que ele venceu as presidenciais com um pouco mais de 53% dos votos e que as suas estruturas obtiveram 138 mandatos nas legislativas, contra 91 para a Frelimo.
Neste sentido, esta formação reclama uma nova contagem dos votos, à semelhança de outras entidades, nomeadamente o CIP, Centro de Integridade Pública, que no seu mais recente boletim -publicado ontem- diz ter identificado pelo menos 170 mil votos falsos a favor da Frelimo e do seu candidato Daniel Chapo.
Paralelamente, apesar de uma relativa acalmia, depois das violências ocorridas durante os dois dias de protestos, quinta e sexta-feira, ONGs tendo contabilizado 11 mortos e cerca de 500 detenções, o fim-de-semana não deixou de ser marcado pelo baleamento de 6 a 7 simpatizantes do Podemos no sábado, no distrito de Mecanhelas, na província do Niassa, no extremo noroeste do país, à margem da comemoração da vitória da Frelimo pelos seus apoiantes.
A ocorrência foi noticiada nomeadamente pelo Centro de Integridade Pública, cujo editor Lázaro Mabunda, falou com a RFI sobre as possíveis evoluções políticas dos próximos dias, nomeadamente com a abertura para o diálogo expressada pela Frelimo, o activista começando todavia por referir-se ao que sucedeu em Niassa.
RFI: Este fim-de-semana foi marcado, designadamente pelo baleamento de seis a sete militantes do Podemos, um baleamento de que o CIP teve conhecimento e detalhou no seu boletim.
Lázaro Mabunda: O que aconteceu é que em todos os distritos, o partido (Frelimo) organizou-se e saiu à rua para celebrar a sua vitória. E em Mecanhelas aconteceu a mesma coisa. Estaria lá, nessas celebrações de cabeça-de-lista para a Assembleia provincial que vai automaticamente ser governadora da província de Niassa. Aconteceu que o Podemos também tinha uma marcha marcada. A marcha do Partido Podemos coincidiu com a concentração da Frelimo para a celebração da sua vitória, e a Frelimo estava concentrada no seu comité distrital. A trajectória da marcha do Podemos passava justamente em frente do Comité Distrital do partido Frelimo. O que acontece é que esses militantes do Podemos traziam pneus, traziam paus, traziam pedras e quando chegaram ali, onde estava o partido Frelimo, queimaram pneus, fizeram fogo ali com os paus que tinham e consta que ali começou-se a atirar algumas pedras. A polícia fez um cordão para proteger os elementos da Frelimo que estavam concentrados. Depois de um tempo, a polícia, para dispersar os membros do partido, começou a disparar para o ar, mas foi uma sequência de tiros disparados mais ou menos um ou dois minutos seguidos. Os membros do Podemos começaram a fugir. A polícia começou a persegui-los. Nesses disparos, a polícia usou balas verdadeiras e atingiu os simpatizantes do Podemos, dois dos quais, segundo a informação que tive, foram evacuados para a cidade de Cuamba, que é a segunda cidade mais importante de Niassa. Parece que pela gravidade, foram transferidos para Nampula.
RFI: Consta que durante estes incidentes, também houve jornalistas que estavam a cobrir estes acontecimentos, que viram os seus telefones celulares a serem confiscados.
Lázaro Mabunda: Sim, foram confiscados os seus telemóveis e foram ameaçados durante a confiscação dos telemóveis, porque um dos jornalistas estava a recusar-se a...
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