Convidado - A viagem rumo ao oeste de Babetida Sadjo-logo

Convidado - A viagem rumo ao oeste de Babetida Sadjo

RFI

De segunda a sexta-feira (ou, quando a actualidade o justifica, mesmo ao fim de semana), sob forma de entrevista, analisamos um dos temas em destaque na actualidade.

Location:

Paris, France

Genres:

Podcasts

Networks:

RFI

Description:

De segunda a sexta-feira (ou, quando a actualidade o justifica, mesmo ao fim de semana), sob forma de entrevista, analisamos um dos temas em destaque na actualidade.

Language:

Portuguese


Episodes
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Timor-Leste: "Esperamos ganhar a primeira medalha olímpica em Paris"

7/25/2024
A comitiva de Timor-Leste que participa nos Jogos Olímpicos de Paris é composta por quatro atletas: Jolanio Guterres e Imelda Belo na Natação, Ana da Costa no Taekwondo e Manuel Ataide em Atletismo. O chefe de missão da delegação olímpica de Timor Leste, Mateus da Cruz, espera Timor-Leste conquiste a primeira medalha olímpica. A delegação timorense chegou a Paris no domingo, 21 de Julho, é composta por 11 pessoas. O chefe de missão da delegação olímpica de Timor-Leste, Mateus da Cruz, espera que os atletas conquistem a primeira medalha olímpica para Timor-Leste. RFI: O que espera da participação de Timor-Leste nestes Jogos Olímpicos? Mateus da Cruz: O Presidente da República timorense pediu aos atletas dedicação e disciplina. Os atletas presentes dos Jogos Olímpicos não estão aqui para passear. Estamos preparados para a competição. Quem são os atletas que representam Timor-Leste? Há três atletas com bolsa estudo do Comité Internacional do Desenvolvimento Olímpico, eles têm bolsas de estudo durante quatro anos. Há cinco atletas com bolsas de estudo, dois deles não se conseguiram qualificar, apenas três conseguiram a qualificação para estar aqui. Chegaram à Aldeia Olímpica no domingo foram bem recebidos. Como é que são as condições? São normais, em todos os lugares é a mesma coisa. Estivemos muito tempo à espera no aeroporto e tivemos de esperar 4 horas aqui pela validação do crachá. A viagem de Timor-Leste a Paris demora 18 horas foi cansativo. Depois de superada essa fase logística mais complicada, entrando dentro da Aldeia Olímpica, as condições são boas? As condições são normais, ainda nos estamos a organizar. Precisamos mais de mesas, cadeiras para criar um espaço de escritório do Comité Olímpico. Não há espaço para que todos os elementos das delegações participem na cerimónia de abertura. Somos 11 pessoas, mas só seis pessoas podem para participar na cerimónia de abertura. Quem não participar não tem televisão para acompanhar a transmissão em directo na Aldeia Olímpica. Quem é que vai participar na cerimónia de abertura? Eu como chefe da missão timorense com outro responsável e os quatro atletas. O que é que se pode esperar da cerimónia de abertura? Eu não sei o que vai acontecer na cerimónia de abertura porque nada foi revelado. Temos uma reunião entretanto para obter informação sobre o que acontece na cerimónia de abertura. Já participou noutros Jogos Olímpicos? Já fui chefe de missão da delegação timorense nos Jogos Olímpicos em Sydney, na Grécia, no Rio de Janeiro, em Londres e no Japão também. Depois de uma viagem cheia de turbulências, os atletas devem estar descansar. Quando é que são os primeiros treinos? Na segunda-feira decidi que não haveria treino, foi um dia para descansar. Os treinos começaram na terça-feira. Temos horários fixos da comissão organizadora. A natação tem o próprio estádio para treinar, existem também horários de treinos e depois transporte. Estamos preparados para a competição, mas sabem que as condições em Timor-Leste são diferentes, por exemplo não existe nenhuma piscina olímpica no nosso país. Os atletas estão na Austrália, na Indonésia, na Malásia. Um deles passou seis meses em França. O objectivo de Timor-Leste é conquistar a sua primeira medalha? Esperamos que Taekwondo tenha a primeira medalha de Timor-Leste. Vamos ver porque a atleta taekwondo já participou em várias competições internacionais e tem projecção nos Jogos asiáticos. Para os atletas timorenses esta é a primeira vez que estão a participar no maior evento desportivo mundial? Sim, são os quatro novos atletas que se estreiam nos Jogos Olímpicos. É também a primeira vez que estão em França.

Duration:00:07:59

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"Estamos a sentir muito mais apoio e interesse por parte dos cabo-verdianos nestes Jogos Olímpicos"

7/24/2024
Os atletas de Cabo Verde já estão instalados na Aldeia Olímpica e os Jogos de Paris marcam a história do desporto no país já que não só houve um número recorde de atletas apurados para a competição, mas também um grande investimento na preparação deste evento. Factores que contribuem para um grande apoio dos cabo-verdianos - incluindo a diáspora em todo o Mundo - nestes Jogos Olímpicos como explicou Léo Moreau, chefe da missão olímpica de Cabo Verde, à RFI. Se nos Jogos Olímpicos, as arenas desportivas são o centro das atenções onde num milissegundo se ganha ou se perde uma medalha, a Aldeia Olímpica é o coração deste evento. A RFI foi até à Aldeia Olímpica dos Jogos de Paris 2024, nos arredores da capital francesa, para entrevistar Léo Moreau, chefe da missão olímpica de Cabo Verde. Para este francês radicado há quase uma década em Cabo Verde, os sete atletas do país estão preparados para fazer a sua melhor perfomance. Integram a equipa olímpica: Samuel Freire (atletismo), Jayla Pina (natação), José Tati (natação), Nancy Moreira (boxe), David Pina (boxe), Victor Alvares d'Oliveira (esgrima) e Djamila Correia e Silva (judo). Para Moreau, o objectivo é que os atletas atinjam ou ultrapassem os seus objectivos pessoais e se houver uma medalha, será um bónus. "Eu acredito que temos atletas que têm chance de competir ao mais alto nível. É muito difícil fazer prognósticos ou colocar qualquer expectativa formal, porque não depende só de nós. O desporto de alto nível é assim, é feito de surpresas boas ou más. Eu acredito que os atletas estão preparados para fazer excelentes resultados. O boxe, de facto é provavelmente a nossa modalidade mais forte este ano, mas não quero depreciar os outros e todos vão competir ao mais alto nível. A medalha não é o único objetivo. Os atletas são os primeiros a colocarem os seus objectivos com os treinadores no nosso trabalho. A nossa missão é colocá-los nas melhores condições para atingirem os objectivos deles. Eles vão tentar fazer o melhor tempo da carreira deles. E daí, se isto significar uma medalha no fim, perfeito", declarou o chefe da missão cabo-verdiana. Pela primeira vez, a equipa olímpica reuniu-se alguns dias antes dos Jogos na Praia e depois teve um estágio em Parthenay, no Oeste da França. Uma prepração que permitiu dar mais "tranquilidade" aos atletas antes de chegarem a Paris. "Só o facto de juntar a delegação na Praia é uma primeira vez. Para o Rio já tínhamos juntado alguns atletas, mas não toda a delegação. Agora para França, de facto, é também a primeira vez que Cabo Verde faz um estágio de aclimatação e de preparação ao país de acolhimento dos jogos. Fomos para uma cidade pequena que se chama Parthenay, no Oeste de França, onde fomos buscar, obviamente, condições favoráveis de treino e de preparação e também uma certa tranquilidade e também para nos preservar e proteger os atletas para que possam treinar e aclimatar-se com muita tranquilidade e sem stress antes da ansiedade da Aldeia Olímpica, onde já há muita gente e muitos cabo verdianos a solicitar a atenção dos atletas", explicou Leo Moreau. Este investimento na preparação da equipa é para o chefe de missão uma prova da maturidade do Comité Olímpico e contribui também para o entusiasmo dos cabo-verdianos em relação aos Jogos Olímpicos de Paris, incluindo a grande comunidade em França e no resto do Mundo. "Acho que o Comité Olímpico cabo-verdiano chegou a este ciclo olímpico com uma certa maturidade que permite fazer o que não tínhamos feito no passado, tanto a nível financeiro como a nível institucional mesmo. Temos patrocínios de empresas nacionais que ajudaram muito a fazer tudo isto. Obviamente, isto é o primeiro ponto. Depois nós tínhamos ambições particulares devido a esta maturidade, porque Paris é relativamente perto de Cabo Verde. Tudo relativo, mas há pouca diferença horária. Estamos a sair de uma Olimpíada em Tóquio, com a pandemia e muita diferença horária. Acho que a população em Cabo Verde não sentiu...

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Investigadora aponta Michelle Obama como “único nome com força para derrotar Donald Trump”

7/22/2024
A pouco mais de 100 dias das eleições presidenciais nos Estados Unidos, o Presidente Joe Biden abandonou a corrida eleitoral e declarou apoio à vice-presidente, Kamala Harris, para ser a candidata do Partido Democrata. Quem se segue? A investigadora Diana Soller diz que “o único nome com força para derrotar Donald Trump é o de Michelle Obama” e sublinha que a renúncia de Biden “era inevitável” e “peca por tardia”. Este domingo, Joe Biden, o mais velho Presidente da história dos Estados Unidos, com 81 anos, anunciou desistir da sua recandidatura e declarou o apoio à sua vice-presidente, Kamala Harris, para ser a candidata presidencial do Partido Democrata. Diana Soller, Investigadora do Instituto Português de Relações Internacionais e coautora do livro “Donald Trump: O Método no Caos”, considera que “o único nome com força para derrotar Donald Trump é o de Michelle Obama”, ainda que sublinhe que “até agora” pareça haver uma preferência por Kamala Harris no Partido Democrata. A investigadora diz que a renúncia de Joe Biden não é uma surpresa porque “era inevitável” e “peca por tardia”. Por isso, o partido tem de se recompor em tempo recorde para poder pesar face ao candidato republicano Donald Trump. RFI: A renúncia de Joe Biden era uma decisão inevitável ou acabou por ser surpreendente? Diana Soller, Investigadora do Instituto Português de Relações Internacionais: “Era uma decisão inevitável. Aliás, é uma decisão que, do meu ponto de vista, peca por tardia. Ou seja, desde o dia 27 de Junho, quando ocorreu o debate entre Joe Biden e Donald Trump, percebeu-se de forma inexpugnável que era preciso um novo candidato democrata, que Joe Biden não tinha capacidade nem para fazer campanha, nem para fazer um novo mandato. E até houve quem perguntasse quem estaria a governar a América nos últimos tempos porque aquilo não aconteceu de um momento para o outro, como é evidente. Portanto, era preciso que Joe Biden renunciasse à sua recandidatura. Não, não tem nada de surpreendente. Houve uma série de pressões, quer relativamente aos senadores, congressistas e governadores que também estão na corrida de 5 de Novembro para que Biden não os representasse porque sentiram que podiam ser prejudicados pela candidatura de Biden. Houve muitas pressões da parte da cúpula do Partido Democrata, nomeadamente os Obama, Nancy Pelosi e outros líderes do Partido Democrata que acharam que Joe Biden não tinha condições para ganhar as eleições. E, finalmente, houve uma grande pressão por parte de um conjunto significativo de doadores que ameaçaram retirar os donativos caso Joe Biden se mantivesse na corrida.” Não é uma surpresa, mas não deixa de ser um sismo político… “Eu acho que a desistência em si não é um sismo político. O sismo político aconteceu precisamente no dia 27 [de Junho]. Agora, evidentemente, que há todo um aparato do Partido Democrata que vai ter que se recompor e que se restabelecer rapidamente. Aparentemente, pelo menos até agora, parece haver uma preferência grande pelo lugar de Joe Biden ser ocupado por Kamala Harris, mas ainda nem disso há a certeza. Há o ‘endorsement’, mas ainda não há certeza.” A Convenção Democrata é em Agosto. Até lá vai-se saber quem é o candidato? Apesar de Joe Biden ter apontado Kamala Harris, quem é que se segue? “Nós não sabemos exactamente quem é que se segue. Aquilo que muitos democratas gostariam que acontecesse é Michelle Obama que, apesar de não ter experiência política, parece que faz nas sondagens o melhor resultado possível para os democratas. Há de haver uma parte do partido - que é a parte do partido que Kamala Harris representa, que é a parte mais radical - que vai querer a manutenção de Kamala Harris e há uma parte do partido que gostaria que o seu representante fosse alguém com mais experiência política que Michelle Obama e com uma posição menos radical perante a política que Kamala Harris. Aí aparecem nomes como o do governador da Califórnia, da governadora da Pensilvânia, que são nomes...

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"Enquanto existir uma criança sem escola ou morrer uma criança à fome, não me calarei!", Luzia Moniz

7/19/2024
"Liberte-se, Sr. Presidente" é o mais recente livro de Luzia Moniz. A obra, que é uma saudação ao centenário de Amílcar Cabral e aos 50 anos da revolução de 25 de Abril, reúne 50 textos centrados na questão da liberdade. No prefácio, Graça Machel identifica Liberte-se Sr. Presidente como "um apelo urgente e necessário dirigido aos líderes africanos, naturalmente, mas também, aos europeus, ocidentais ou ocidentalizados" para que se libertem e liderem as suas nações "rumo a uma liberdade genuína e sustentável para todos." Em "Liberte-se, Sr. Presidente", um título que vem de um texto que a autora dirigiu ao Presidente de Angola, João Lourenço, onde manifestava "tristeza pelo rumo que o país está a seguir.", é de forma clara e acutilante que a socióloga, jornalista e activista angolana Luzia Moniz observa e critica a classe dirigente do país natal e o que identifica como "regime autocrático" de Luanda. Mas ao longo da obra facilmente se percebe que a luta que a autora trava em nome da liberdade, em nome dos mais desfavorecidos, não conhece qualquer tipo de fronteiras. O livro lançado em Portugal pela Nimba Edições, com capa assinada pela artista Dília Fraguito Samarth, divide-se em sete capítulos: África, Pan-africanismo e diáspora; Racismo e paternalismo; Género e Liberdade, Cultura e Educação; Endo-colonialismo e intolerância política; Liberdade de imprensa; Resistência à mudança.

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O debate do género na “Promesse” de Anne Rehbinder e Antoine Colnot com coreografia de Tânia Carvalho

7/19/2024
“Promesse” de Anne Rehbinder e Antoine Colnot com coreografia de Tânia Carvalho é uma peça que debate a questão do género. O espectáculo pode ser visto até ao próximo domingo, 21 de Julho, no Théâtre 11, em Avignon, no âmbito do festival OFF de Avignon. Em palco, cinco bailarinas, uma escritora e um encenador debatem a criação de um espectáculo sobre o género. Uma temática difícil onde cada uma delas se bate contra os limites da identidade, da imposição de papéis, das heranças geracionais. Um espectáculo onde teatro e dança se fundem, como sublinhou ao microfone da RFI o encenador Antoine Colnot: Tínhamos feito um espectáculo com cinco homens. E havia esse assunto do género. Então aceitamos esse tema. Mas é difícil, como um problema que não tem solução. Jogamos com esse tema impossível e fazemos um espectáculo impossível de se fazer. Há muito humor e emoção. A dança da Tânia Carvalho entra em relação com o nosso trabalho. Em palco estão cinco bailarinas e uma escritora, cuja autoridade é questionada pelas intérpretes da peça. “Quando se fala em género, fala-se muito, muitas vezes em poder, nos jogos de poder e também na herança com a qual crescemos: a posição da mulher, a posição do homem. É muito difícil esta desconstrução” acrescenta Antoine Colnot. Tânia Carvalho é coreógrafa convidada deste espectáculo, à RFI explicou a sua contribuição para este “Promesse”: Foi o Antoine Colnot que me contactou. Eu não os conhecia. Fizemos, primeiro, uma conversa por internet e eles explicaram o que queriam fazer e mostraram trabalhos deles. Eles já tinham a ideia toda definida. Eu fiz o trabalho de encontrar aquilo que eles queriam. Também ia propondo mais movimento. Estive muito com eles nos ensaios. Pensei mais na parte coreográfica, a nível de forma. Como é que a forma pode complementar isto? Mas eu não estava a pensar ter que fazer movimentos que retratam o género, estava mais a ver o que é que eles estavam a fazer, que movimentos é que faziam naturalmente já a falar e tentar trazer qualquer coisa para dar mais força às palavras, fossem elas quais fossem. A peça “Promesse” de Anne Rehbinder e Antoine Colnot com coreografia de Tânia Carvalho, pode ser vista até ao próximo domingo, 21 de Julho, no Théâtre 11, em Avignon, no âmbito do festival OFF de Avignon.

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Angola: Movimento cívico denuncia tortura e execuções sumárias

7/18/2024
O movimento cívico Mudei apresentou nesta quarta-feira, 17 de Julho, o relatório trimestral sobre violações de direitos humanos nas províncias de Luanda, Bié e Lunda Norte. No documento são relatadas execuções sumárias, torturas, intimidações e detenções arbitrárias ocorridas entre Abril, Maio e Junho, alegadamente executadas por agentes do Serviço de Investigação Criminal. Jaime Domingos, jurista do MUDEI, fala num agravamento das violações dos direitos humanos e na banalização do bem jurídico “vida”. Quais são as conclusões deste relatório? Neste novo relatório, além das intimidações e prisões arbitrárias, presenciamos execuções sumárias e extra-judiciais. Três cidadãos, do município do Cazenga, foram alvejados à queima roupa por um suposto agente do SIC. Seis residentes no município de Quilamba Quiaxi, bairro do Palanca, foram raptados, agredidos de forma severa, que culminou na morte de um deles. Tivemos a outra situação de rapto no município de Cacuaco, bairro Vidrul, adolescentes foram raptados na madrugada e três dias depois os familiares aperceberam-se que os mesmos tinham sido abatidos. Foram raptados, executados sumariamente na via pública, abandonados e três dias depois foram encontrados na morgue do Hospital Maria Pia. Descrevem execuções sumárias, mortes por tortura, intimidações, detenções arbitrárias, pessoas que são convocadas para comparecer junto das autoridades sem acusação formada. Quem são as principais vítimas dessas violações de direitos humanos? As principais vítimas de prisão arbitrária, na província do Bié, são activista cívicos que denunciam o estado crítico que se vive no nosso país. Os casos de raptos e execuções sumárias são cidadãos normais que não fazem parte de nenhum grupo de pressão ou de interesse. São simplesmente cidadãos que foram vítimas de raptos e agressões extrajudiciais. No relatório descrevem que, no passado mês de Junho, pelo menos 10 jovens adolescentes, residentes do bairro do Vidrul, município do Cacuaco, foram raptados por supostos agentes do Serviço de Investigação Criminal. Os jovens que foram encontrados depois numa morgue registados como sinistrados e pertencentes a outro município. Como se explica esta situação? Testemunhas contam que [os jovens] foram raptados e os familiares não sabiam para onde eles tinham sido levados. Então estamos a falar de rapto, não de uma detenção normal. E por não ter havido aviso prévio, nenhuma notificação aparente, a execução sumária ocorreu no município de Viana, um município distante do município do Cacuaco onde foram raptados. Eles foram abandonados no local e foram registados como sinistrado pelos agentes da Polícia Nacional, pertencente ao Comando Municipal de Viana, que fizeram a recolha dos corpos. Todavia, a teoria de sinistrados não faz sentido porque os jovens apresentavam hematomas de agressões físicas e perfurações de balas de fogo. Não se admite que os agentes da polícia falem em sinistros com os instrumentos e mecanismos existentes no nosso país- como a balística, por exemplo. Os casos de pessoas sinistradas têm as suas características e não apresentam perfuração por balas. Esta é a uma forma que [a polícia] encontrou para fugir à responsabilidade. Tiveram de ser ainda os familiares a arcar com todos os gastos pelo tempo que [os jovens] ficaram na morgue do hospital de Luanda. De acordo com o relatório, há ainda o caso dos três membros da mesma família que foram mortos por um agente do Serviço de Investigação Criminal que se encontrava numa festa e que estava embriagado. Este homem já foi identificado? O homem está completamente identificado e é um suposto agente do SIC. É importante referirmos também que é vizinho dos cidadãos que foram [mortalmente] alvejados. É um agente com cadastro, com crimes de execuções sumárias, no município do Cazenga. Então não é um hábito novo. Este homem está a ser investigado? Não, ele está a ser acobertado pelos investigadores. O agente da polícia criminal que está a conduzir a...

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Guiné-Bissau: "Sem presidenciais estamos perante um golpe de Estado palaciano"

7/17/2024
O Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, anunciou por decreto presidencial a marcação de eleições legislativas antecipadas para 24 de Novembro, apesar da falta de consenso com as diferentes forças políticas que defendem, nomeadamente, a realização de eleições presidenciais. Em entrevista à RFI, o activista e jurista guineense Fodé Mané, considera que se não forem realizadas eleições presidenciais ainda este ano o país estará face a um golpe de Estado palaciano. O chefe de Estado guineense ouviu nesta terça-feira os partidos com assento parlamentar e, apesar da falta de consenso entre as forças políticas, Umaro Sissoco Embaló anunciou por decreto presidencial a marcação de eleições legislativas antecipadas para 24 de Novembro. Considera ter sido a decisão correcta? Eu não entendo que o chefe de Estado tenha ouvido os partidos porque, desde dia nove deste mês, Umaro Sissoco Embaló já tinha anunciado que pretendia marcar eleições legislativas, em vez das eleições presidenciais, para o dia 24 de Novembro. Um dos representantes dos partidos [que esteve reunido com o Presidente] referiu que, inicialmente, a reunião devia ter durado cinco minutos, mas o encontro nem chegou a três minutos. Disse que era um facto consumado que ia marcar eleições legislativas no dia 24 Novembro. O nosso sistema prevê diálogos de conversa entre diferentes entidades. Por isso, estabelece órgãos de encontros, como o conselho de Estado, as comissões permanentes, dando essa possibilidade de ouvir e procurar consenso. O que é que diz a lei guineense nesta matéria? O Presidente da República tem ou não poder para marcar eleições legislativas? Tem poderes em termos formais. Agora, é preciso perceber em que condições são marcadas. As eleições legislativas envolvem os partidos políticos e depois o nosso legislador pensou em eleições antecipadas e eleições de fim do mandato dos deputados. Quando são antecipadas, registam-se certos requisitos para a dissolução do Parlamento ou para a demissão do Governo, o que não se verificou. Significa que, já à partida, a lei foi violada. Depois, quando são eleições antecipadas, devem ocorrer dentro de 90 dias e o Parlamento foi dissolvido no dia 4 de Dezembro de 2023. Vai-se fazer eleição, quase um ano depois, estamos novamente perante uma nova violação. A coligação PAI- Terra Ranka, alguns membros do MADEM G15- e a APU PDGB pedem antes a marcação de eleições presidenciais este ano. O PRS e o PTG apoiam a decisão do chefe de Estado de marcar eleições legislativas. A coligação PAI-Terra Ranka defende que antes da marcação das presidências a prioridade deve ser a abertura da Assembleia Nacional para que possa ser eleita uma nova Comissão Nacional de Eleições e exigem ainda eleições no Supremo Tribunal. São estes os passos a adoptar? É o que a lei prevê. Está prevista na nossa Constituição e na Lei eleitoral que a eleição presidencial deve ser realizada 90 dias antes do fim do mandato do presidente em exercício. Se considerarmos que Umaro Sissoco Embaló assumiu o poder no dia 27 de Fevereiro de 2020, isto significa que a 27 de Fevereiro de 2025 o seu mandato acabou e que no dia 28 já não é Presidente, a não ser que seja reeleito. Mas se se marcar a eleição depois de 27 de Novembro, já é fora da data, por isso é que a data prevista, vendo o calendário para a marcação, era precisamente 24 de Novembro de 2024. Se essas datas não forem respeitadas, estamos perante um golpe de Estado palaciano. Como se explica esta relutância do Chefe de Estado em marcar as eleições presidenciais? Basta vermos que, neste momento, a única instituição a funcionar no país chama-se Umaro Sissoco Embaló. A Assembleia Nacional não funciona, mesmo se em caso da dissolução, a Comissão Permanente e o serviço administrativo deviam estar a trabalhar. Neste momento está apenas a Guarda Nacional a impedir a entrada das pessoas. Recentemente, o Supremo Tribunal deu um sinal muito importante de que está sob o controle de Sissoco Embaló. Na sexta...

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UE: novo Parlamento Europeu marca viragem à direita

7/16/2024
Começa a 16 de Julho a nova legislatura europeia, com um hemiciclo em que o grupo centrista Partido Popular Europeu mantém a liderança, seguido pelos Socialistas. A novidade desta nova assembleia é a expansão da extrema-direita, dividida em três grupos que juntos controlam 20% do Parlamento europeu. A campanha eleitoral ficou marcada pela ausência das questões ambientais e pelos debates hostis à imigração. O hemiciclo europeu acolheu a 16 de Julho a primeira sessão plenária e os 720 eurodeputados da nova legislatura, em Estrasburgo. O grupo de centro-direita Partido Popular Europeu (188 assentos) continuará, nos próximos cinco anos, a controlar a maior bancada do Parlamento Europeu. Os Socialistas e Democratas (136) representam a segunda maior força política, apesar de uma ligeira diminuição de mandatos. A novidade desta nova assembleia prende-se com a expansão da extrema-direita, agora dividida em três grupos (mais um do que na anterior legislatura) que, juntos, somam 187 assentos. Nesta ala da direita radical aparecem dois grupos novos: os Patriotas pela Europa (com 84 eurodeputados), composta pelos húngaros do Fidesz, os italianos da Liga, a União Nacional francesa e o Chega português; e o Europa das Nações Soberanas (25) composto essencialmente pela AfD alemã. O grupo já existente dos Conservadores e Reformistas Europeus da família política da Primeira-ministra italiana Giorgia Meloni também conquista novos assentos (78). Entretanto, o grupo dos Verdes encolhe, com apenas 53 eurodeputados, menos 18 do que na anterior legislatura e a Esquerda, apesar de alcançar uns lugares suplementares, conta apenas com 46 assentos. Ausência das questões ambientais na campanha eleitoral Neste contexto, as questões migratórias e ambientais são as duas vítimas colaterais, com um expectável reforço de políticas restritivas em termos de migrações e a ausência quase total das questões ambientais no debate político comunitário. Para Francisco Ferreira, presidente da associação ambientalista Zero, as políticas ecologistas poderão encontrar dificuldades com a viragem à direita do Parlamento europeu. A isto se deve não só "a queda dos Verdes à escala europeia", como também a estratégia dos centristas do PPE "que não vão querer perder votos no centro direita" e poderão, por conseguinte, "vir a fazer cedências consideráveis na política ambiental nos próximos anos", de acordo com o activista. O Pacto Ecológico Europeu, que marcou a última legislatura, impulsionado inicialmente pela grande coligação entre Socialistas e PPE acabou por sofrer "obstáculos" em diferentes áreas, desde a lei do restauro da conservação à lesgislação relativa aos automóveis, o que deixa antever "uma legislatura ainda mais difícil", analisa Francisco Ferreira. A ciência, as associações, as organizações ambientalistas e os partidos políticos mais conscientes da necessidade de políticas sustentáveis poderão ter um papel importante. Para o ambientalista, trata-se de "procurar o diálogo, procurar pontes e soluções", "mesmo com a extrema-direita", mesmo que não sejam medidas "tão desejáveis" como poderiam ser numa outra constituição parlamentar. "Não podemos arriscar um recuo das políticas devidamente estruturadas e fundamentadas das últimas décadas em termos de sustentabilidade das últimas décadas. É crucial percebermos que estão em causa questões fundamentais de preservação do planeta", conclui Francisco Ferreira. "No caso das migrações, o status quo é difícil de mudar" A taxa de participação nestas eleições europeias foi de 51% (dos cerca de 360 milhões de europeus aptos a votar), cerca de um ponto percentual a mais do que em 2019. Estes baixos índices podem ser relacionados, em parte, com o sentimento por parte dos eleitores europeus de que o processo de tomada de decisões na UE é complexo, distante e desconectado da realidade diária. A composição fragmentada do novo Parlamento, incluindo as divisões entre os próprios grupos de extrema-direita, pode reforçar...

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Ataque a Donald Trump mostra “polarização extrema” nos Estados Unidos

7/15/2024
O ataque deste sábado contra Donald Trump mostra a “polarização extrema” da sociedade norte-americana. A imagem que fica para a história é a de um ex-Presidente de punho erguido, com um fio de sangue no rosto, ao lado de uma bandeira americana. Um “símbolo fotográfico”, na análise do investigador Álvaro de Vasconcelos, para quem a campanha dos republicanos ficou “muito facilitada” com Trump “transformado numa espécie de mártir sob protecção divina”. Já o actual Presidente Joe Biden “ganhou a possibilidade de aparecer como o homem que reconcilia a América”. A imagem correu mundo e é "histórica", como escreve o jornal francês Libération. Donald Trump, de punho erguido, com um fio de sangue no rosto e ao lado de uma bandeira americana, após um ataque a tiro em plena campanha, este sábado à noite, na cidade de Butler, na Pensilvânia. Este ataque poderá alterar o curso da campanha eleitoral e ter um impacto no resultado das eleições presidenciais de Novembro? Foi o que perguntámos ao investigador português Álvaro de Vasconcelos, antigo director do Instituto de Estudos de Segurança da União Europeia. Álvaro de Vasconcelos considera que Trump sobreviveu ao ataque com uma imagem de “mártir sob protecção divina” e que a campanha dos republicanos ficou “muito mais facilitada”. Por outro lado, o investigador pensa que o Presidente Joe Biden pode ganhar fôlego como “o homem que reconcilia a América”, mas, para ganhar as eleições, o Partido Democrata teria de investir uma candidata que desse “novo alento” aos militantes. RFI: Comecemos com a imagem do fotojornalista Evan Vucci, em que Donald Trump aparece com um fio de sangue no rosto, levanta o punho e há uma bandeira americana… Em termos de leitura política, o que significa esta imagem no contexto de campanha eleitoral? Álvaro de Vasconcelos, Investigador: "No fundo, essa imagem vem valorizar, dar um símbolo fotográfico forte àquilo que tem sido a campanha de Trump e como é que os ‘trumpistas’, os membros do movimento MAGA (Make America Great Again) vêem o seu candidato e antigo Presidente como homem combativo, símbolo de uma América poderosa, de uma América patriótica - aí está a bandeira - de uma América pronta para o combate. Aliás, acompanharam essa imagem as palavras de Trump: ‘Fight! Fight! Fight!’ Houve ali um instinto político de Trump. Trump foi ele mesmo e reafirmou a sua visão de masculinidade, de combatividade, mas também deste poder de uma América combativa, de uma América que recusa o declínio." Numa altura em que de Joe Biden, o actual Presidente, teve de passar os últimos tempos a garantir que estava de boa saúde e numa altura em que a sua idade, 81 anos, três anos a mais que Trump, é um tema de campanha, Donald Trump pode capitalizar com o ataque de que foi vítima? Pode criar essa tal imagem de força? Ou, por outras palavras, o punho erguido de Trump após o tiro é o fim da campanha democrata? "Bem, eu poria as questões talvez um bocadinho diferentes. Naquele momento, essa afirmação da força de Trump e da sua visão da América pode ter triunfado e é a imagem que vai ser utilizada durante a campanha, certamente, pelo Partido Republicano. Mas não é a única. Já ontem surgiu outra, também muito significativa, uma imagem que foi divulgada por uma das noras de Trump - que é, aliás, uma alta personalidade do Partido Republicano - e que mostrava Trump com “a mão de Deus” a protegê-lo. Trump não só é o homem que procura essa imagem da velha América do Oeste, da América guerreira, mas também está muito ligado ao movimento evangélico e vai aparecer a ideia que ele foi salvo por vontade divina. Isso é um aspecto que é importante. O outro - para Trump e ainda muito mais para Biden ou quem for o candidato do Partido Democrata – é que vai ser necessário ser o candidato que reconcilia a América, que combata esta polarização extrema que levou até a uma tentativa de assassinato, mas que levou também ao assalto pelos ‘trumpistas’ do Capitólio na recusa de reconhecimento dos...

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“Hécube, pas Hécube”, a reivindicação do direito à justiça dos mais vulneráveis

7/14/2024
Decorre até ao próximo domingo, 21 de Julho, a 78a edição do Festival de Avignon. A segunda edição dirigida pelo português Tiago Rodrigues, que assina igualmente a peça “Hécube, pas Hécube”. Uma peça interpretada por actrizes e actores da Comédie Française e que entrelaça a tragédia grega com a vida pessoal de uma actriz, Nadia, na vida como no palco luta por justiça. Uma peça baseada num escândalo de maus tratos a crianças autistas que aconteceu em Genebra, na Suíça. "Inspirei-me de um escândalo de maus tratos de crianças autistas que aconteceu em Genebra e continua, aliás, nos tribunais e de que tive conhecimento pelos jornais. Mas também descobri, mais tarde, que uma actriz com quem eu trabalhava era mãe de uma das crianças que tinha sido maltratada e liderava, por assim dizer, uma queixa contra o Estado no tribunal. Algum tempo mais tarde, quando convidado pela Comédie Française para criar uma peça, essa história, a memória dessa história, continuava a interpelar-me ou a inquietar-me... a dar-me vontade de fazer qualquer coisa, na realidade e, na altura, com a autorização, obviamente dessa pessoa, inspirei-me muito livremente, nesse caso, para escrever uma história de uma actriz que é também mãe de uma criança que infelizmente foi maltratada numa instituição do Estado e que faz queixa, exigindo justiça para o seu filho. Nessa altura, pensando no que é que poderia ser essa ficção, perguntava-me que peça é que esta actriz ficcional pode estar a ensaiar no teatro? E rapidamente a resposta foi Hécube, porque é uma tragédia grega de Eurípides, que, talvez melhor que qualquer outra peça que eu conheça desde há 25 séculos, descreve a cólera, a raiva de uma mãe por amor do seu filho, exigindo justiça, reclamando justiça para o seu filho. E esse superpoder, que é essa raiva que vem do amor incondicional, que permite às vezes a uma mãe de mover um carro só com um dedo para salvar o seu filho. E essa força, associada à reivindicação do direito à justiça e o direito à justiça dos mais vulneráveis, neste caso uma criança e, ainda por cima, no outro caso, na ficção que eu destilo a partir de casos verídicos de crianças maltratadas e autistas. Há uma entrada do Eurípides neste trabalho, porque eu precisava de uma peça que pudesse dialogar com esta ficção inspirada num caso verídico e que permitisse, de alguma forma, que atravessar um sofrimento pudesse ser iluminado de alguma maneira pela representação do sofrimento. O que é que eu quero dizer com isto? Uma actriz, como qualquer artista ou qualquer pessoa em contacto com a arte, também procura pôr em relação a representação, por exemplo, do sofrimento com o sofrimento e, por vezes, o que eu observei, por exemplo, é que actores, actrizes atravessam sofrimentos na sua vida, mas também os representam em palco e que a representação do sofrimento em palco pode ajudá-los a atravessar o sofrimento na vida. Lavam as lágrimas ali no palco? Como nós quando atravessamos qualquer coisa na vida e a vemos mais ou menos representada, mesmo de uma forma longínqua, sentimos, enquanto espectadores, que aquilo que acabámos de ver nos diz, no mínimo, que não estamos sós, que o nosso sofrimento é um sofrimento partilhado noutros lugares, noutros tempos, também pela espécie humana. Nesse sentido, o Eurípides serve para compreendermos melhor o que é que acontece no nosso quotidiano e o nosso quotidiano ajuda-nos a compreender melhor o Eurípides. E é esse ir e vir que na peça é muito presente, em que saltamos em permanência de uma cena que se passa no teatro, nos ensaios com texto do Eurípides, para uma cena que se passa no gabinete de um procurador e que tem a ver com a história desta personagem. Às vezes uma cena que já nem sabemos bem onde é que se passa, porque aquilo é um labirinto e os dois mundos começam a misturar-se porque a ficção está sempre presente nas nossas vidas também. Mas esse vai e vem na peça também é feito pelo trabalho de luzes. As luzes do Rui Monteiro, que tive um grande...

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Moçambique e África do Sul no coração do novo romance de Eduardo Pires Coelho

7/13/2024
O navio cargueiro português Angoche foi encontrado a arder ao largo de Moçambique sem ninguém a bordo. O facto aconteceu em 1971 e inspirou Eduardo Pires Coelho a escrever o "thriller" histórico "O Segredo de Lourenço Marques". No romance, o mistério e as surpresas enredam-se a um ritmo trepidante numa sequência que leva o leitor além de Moçambique. Num espaço temporal que abrange desde o fim do século XIX até ao presente, a acção, que passa também por Portugal, pode conduzir-nos, por exemplo, até Cabo Verde, África do Sul, Angola, Zâmbia, Uganda ou Tanzânia. Depois de O Segredo da Flor do Mar, livro centrado na presença portuguesa em Malaca, e Taprobana, cuja acção decorre maioritariamente no Sri Lanka, Eduardo Pires Coelho acaba de lançar, em Portugal, O Segredo de Lourenço Marques, o primeiro romance que escreve sobre África.

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O olhar dos 'contratados' cabo-verdianos sobre o século XX em São Tomé e Príncipe

7/12/2024
São Tomé e Príncipe assinalou hoje 49 anos de independência. Por esta ocasião, o Presidente cabo-verdiano deslocou-se àquele país com o qual os elos são fortes, dada a grande comunidade de origem cabo-verdiana que está radicada no arquipélago, desde o princípio do século XX. Nessa altura, milhares de cabos-verdianos juntaram-se a trabalhadores de Angola ou de Moçambique nas roças, mediante contratos cujas condições eram pouco melhores do que a escravatura que atinha sido abolida em 1875. No âmbito dos encontros que o Presidente José Maria Neves tem mantido com as populações de origem cabo-verdiana no país, um dos descendentes desses trabalhadores 'contratados', Venâncjio dos Santos, conhecido como 'Joãozinho', produtor de café e fundador de uma associação que apoia os residentes de origem cabo-verdiana, foi condecorado com a ordem de 2a classe da Medalha do Vulcão pelo trabalho que tem desenvolvido. Em declarações à RFI, Venâncio dos Santos recordou o seu percurso. "Trabalhei na roça e na plantação. Trabalhei na oficina e na agricultura. Na época, não havia essa liberdade. Como sabe, a gente estava sob o jugo colonial. A gente não tinha tanta expressão como dizem agora. Aquilo tinha um horário que tinha que respeitar. Era um bocadinho mais forçado. Às vezes davam tarefa que você não cumpria toda e não ganhava o dia. Não havia aquela liberdade. Depois, com o conhecimento, fui comerciante, fui condutor de praça. Depois dediquei-me à agricultura, café e transformação. Depois de 25 de Abril pensámos em criar uma associação. Dado o ambiente que estava a passar, pensámos, unimo-nos com algumas pessoas, criamos uma associação, a Kê Morabeza", conta o descendente de 'contratados' cabo-verdianos. Questionado sobre a condecoração que recebeu de Cabo Verde, Venâncio dos Santos diz que lhe dá alento para continuar empenhado junto da sua comunidade. "Se houver possibilidades para fazer mais, eu vou fazer. Normalmente há sempre pessoas que precisam de uma mão, precisam de medicamentos. Precisam de alimentação, mais do que dinheiro, eles não têm dinheiro. Um bocadinho que eu tenho, às vezes ajuda para medicamentos e outras coisas essenciais", diz o líder associativo. 'Contratados' cabo-verdianos chegam a São Tomé e Príncipe no começo do século XX Calcula-se que cerca de 8% da população de São Tomé e Príncipe tenha origem cabo-verdiana. Chegados em massa no princípio do século passado, foram para as roças e trabalharam sob o chamado regime de 'contratação'. A historiadora são-tomense Nazaré Ceita que tem pesquisado sobre este período e que ultimamente tem trabalhado juntamente com outros estudiosos dos PALOP na elaboração de uma obra sobre as lutas de libertação nacional, evocou com a RFI a história dos 'contratados', em particular os trabalhadores que deixaram para trás as ilhas de Cabo Verde. Ao recordar que após a abolição da escravatura, verificou-se "uma terrível falta de mão-de-obra" e os antigos escravos, doravante livres, "correm para a cidade de São Tomé," muitos deles tornando-se sapateiros ou agricultores independentes, a estudiosa explica que começam a contratar pessoas vindas de fora para dar continuidade ao trabalho nas roças de cacau de que o país, naquela época, era um dos grandes produtores. Chegam de Angola, Moçambique e até da China, segundo a historiadora que, relativamente a Cabo Verde, de onde vieram boa parte dos trabalhadores, refere que "havia agentes de contratação naquele país. A partir de lá, já eram direccionados para diversos patrões em São Tomé e Príncipe. Mas por causa desta avalanche de gente, nem sempre os cabo-verdianos que vinham já tinham patrão. À chegada, todos eram encaminhados para a antiga curadoria geral dos serviçais e colonos. E aí havia um barracão onde todos se concentravam no sentido de, a partir deste barracão, como um lugar de trânsito onde ficavam", até serem encaminhados para as roças onde iriam trabalhar. "Os próprios contratos estabeleciam quais eram as regras. Este contrato...

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"A França tem uma falta de cultura democrática parlamentar muito grande"

7/11/2024
O Presidente francês endereçou ontem, quarta-feira, uma carta aos seus concidadãos que foi publicada na imprensa regional. Nesta missiva, Emmanuel Macron considera que "ninguém saiu vencedor" das legislativas de domingo em que nenhum bloco obteve maioria absoluta. Neste sentido, ele apela as forças políticas a "encontrarem consensos" para construir uma "maioria sólida" capaz de governar. Esta carta não deixou de suscitar comentários, nomeadamente na extrema-direita (RN) cuja líder, Marine Le Pen, denunciou um "circo indigno", dizendo que "Emmanuel Macron propõe fazer uma barragem contra a França Insubmissa, que ele ajudou a eleger há três dias e graças ao qual os deputados do seu partido foram eleitos, também há três dias". No bloco dos partidos de esquerda, são vários os apelos para que Macron "aceite a derrota", o dirigente da França Insubmissa (LFI), Jean-Luc Mélenchon, considerando que a carta do Presidente marca "o regresso do direito de veto da realeza sobre o sufrágio universal". Do lado da direita tradicional, o tom já menos crítico. Apesar de avisar o Presidente de que "não se brinca com a República", Gerard Larcher, Presidente republicano do Senado, disse concordar com o chefe de Estado relativamente à opção de dar tempo à formação de coligações. Contudo, a mão estendida não funciona de forma automática: no seio do aparelho dos republicanos (LR), considerados possíveis aliados do campo presidencial, Laurent Wauquiez, líder parlamentar dessa formação, rejeitou uma "coligação governamental", evocando apenas a possibilidade de um "pacto legislativo". Ao observar que existe efectivamente alguma proximidade de ideias entre os republicanos e o partido do Presidente Macron, o historiador Victor Pereira não deixa de apontar algumas fragilidades no campo conservador que saiu dividido destas eleições. Por outro lado, o estudioso considera que a pressão que Macron está a fazer sobre os partidos no sentido de encontrar consensos poderia incitar ainda mais a esquerda a unir-se e apresentar rapidamente um candidato a Primeiro-ministro. RFI: Desde domingo, tem havido negociações entre o campo presidencial e os republicanos, o partido de Macron parecendo privilegiar um consenso à direita. Victor Pereira: Há um discurso bastante comum da parte da coligação à volta do Emmanuel Macron e dos republicanos. Todos dizem que é inconcebível formar um governo que integra ministros da França Insubmissa e alguns até vão mais longe dizendo que é inconcebível ter um governo com pessoas dos Verdes, dos ecologistas. Então vê-se que há uma certa convergência entre republicanos e, no entanto, os republicanos, o presidente deles (Eric Ciotti) saiu do partido. Então, não sabemos muito bem para onde é que vai esse partido e ele não tem assim tanta força. Alguns estão prestes a colaborar, outros recusam qualquer colaboração. Mas de facto, parece que Macron pensa que ainda é possível governar, nem tanto à esquerda, mas talvez mais à direita. Ele avistou-se já duas vezes nos últimos tempos com Gérard Larcher, que é Presidente do Senado, que é uma das figuras dos republicanos e parece que vai tentar encontrar uma solução desse lado. A carta é um bocadinho ambígua porque é dirigida aos franceses, mas ele não se dirige tanto aos franceses como aos responsáveis políticos na Assembleia. RFI: No meio disto tudo, a esquerda ainda não propôs um nome para Primeiro-ministro. Isto não é um pouco complicado para a esquerda nesta altura, com a pressão do Presidente, por um lado, e o facto de não se entenderem sobre o nome de um Primeiro-ministro? Victor Pereira: Sim, de facto parece. Quando Emmanuel Macron dissolveu a Assembleia da República, ele não estava à espera de todo que a esquerda se unisse tão rapidamente e conseguisse em apenas quatro dias encontrar um programa comum e aceitar que haja uma unidade nos candidatos, que não haja vários candidatos da esquerda. Agora, acho que a aposta dele é, mais uma vez, a mesma. Isto é, que a LFI, os ecologistas, os...

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NATO: "EUA e Alemanha são contra um compromisso que defina data para a entrada da Ucrânia"

7/10/2024
Decorre desde esta terça-feira e ainda até amanhã, em Washington, a Cimeira da NATO que marca o 75° aniversário da sua existência. Criada depois da segunda guerra mundial com o objectivo de garantir da defesa do bloco ocidental perante o então bloco soviético, a Aliança Atlântica encontra-se num momento complexo, com os desafios colocados pela guerra na Ucrânia na sequência da sua invasão pela Rússia em Fevereiro de 2022. No âmbito desta cimeira que é, uma vez mais, dominada pelo conflito ucraniano, Kiev recebeu desde já a garantia de que Washington e outros parceiros vão fornecer-lhe sistemas de defesa antiaéreos, conforme vinha pedindo nestas últimas semanas. Num plano mais lato, contudo, Volodymyr Zelensky poderia continuar sem perspectivas claras quanto a uma eventual adesão do seu país à NATO. Para já, Berlim e Washington não pretendem comprometer-se neste aspecto e o contexto de eleições presidenciais incertas nos Estados Unidos também faz com que as perspectivas da presente cimeira sejam pouco encorajadoras para a Ucrânia, do ponto de vista de Carlos Gaspar, investigador do Instituto Português de Relações Internacionais, em Lisboa. RFI: Considera que uma vez mais a Ucrânia não vai obter garantias quanto a uma possível adesão à NATO? Carlos Gaspar: Para o bem e para o mal, essa é uma certeza que nós temos, porque os Estados Unidos e a Alemanha são contra qualquer tipo de compromisso que defina uma data ou um contexto específico para a entrada da Ucrânia na NATO. Com certeza que haverá e já estão aprovados, de resto, em quadros bilaterais pelos Estados Unidos, armamentos adicionais e apoios adicionais à Ucrânia, também do lado da União Europeia e dos aliados europeus. Mas esses apoios tenderão a diminuir. Não é, como já aconteceu, aliás, ao longo dos 6 primeiros meses deste ano e poderão diminuir muito radicalmente se os norte-americanos elegerem o Presidente errado em Novembro deste ano. Portanto, há que fazer previsões de certa maneira, não apenas materiais, mas também políticas e diplomáticas, para fazer face a essa possibilidade, que é uma possibilidade real. RFI: A sombra de Donald Trump, no fundo, está a pairar sobre a cimeira da NATO? Carlos Gaspar: É uma cimeira de campanha. Claramente é uma cimeira de campanha. Ela segue-se a um debate presidencial entre Donald Trump e Joe Biden, que correu mal ao Presidente dos Estados Unidos e que desencadeou um debate dentro do Partido Democrata em que está em causa quem vai ser, finalmente, na Convenção de Agosto, o candidato presidencial. Neste momento, o candidato presidencial é Joe Biden, mas a sua posição pode ser posta em causa. Está a ser objecto de um debate dentro do seu próprio partido. E, nesse quadro, inevitavelmente, a cimeira da NATO para lá da Ucrânia é uma etapa decisiva na campanha eleitoral norte-americana. RFI: Esta cimeira da NATO é também a primeira em que participam enquanto membros de pleno direito, tanto a Finlândia como a Suécia. Isto, de certa forma, não será também, apesar de tudo, um símbolo forte para a NATO? Carlos Gaspar: Muito forte, muito importante para a NATO. A Suécia é um dos estados neutrais mais antigos da Europa. A Finlândia tinha uma posição de neutralidade imposta durante a Guerra Fria pela União Soviética, mas os dois responderam à invasão da Ucrânia pela Rússia com uma decisão de integrar a Aliança Atlântica, que é muito importante para a NATO e para a defesa europeia e também importante para a União Europeia, na medida em que, neste contexto, há apenas quatro Estados membros da União Europeia que não fazem parte da Aliança Atlântica e isso reforça as relações cada vez mais importantes entre a NATO e a União Europeia, entre os dois pilares da Comunidade Europeia e transatlântica. RFI: Esta cimeira decorre numa altura em que o actual Presidente do Conselho Europeu, Viktor Orban, acaba de efectuar visitas tanto a Kiev como a Moscovo e também a Pequim. Carlos Gaspar: Visitas bilaterais, não visitas como presidente do Conselho...

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Guiné-Bissau: "Realização, neste ano ainda, de presidenciais é única via de retorno à normalidade"

7/9/2024
O Presidente da Guiné-Bissau anunciou nesta segunda-feira que tenciona marcar eleições legislativas antecipadas no próximo dia 24 de Novembro e que quando regressar da visita que efectua esta semana à China, vai conduzir consultas políticas no sentido de formalizar a marcação do escrutínio. Esta decisão surge numa altura em que o país deixou de ter um parlamento a funcionar desde a dissolução decidida por Umaro Sissoco Embaló em Dezembro do ano passado, depois de acontecimentos que ele qualificou de "tentativa de golpe de Estado". Esta decisão surge também e sobretudo depois de os chefes de Estado e de governo da CEDEAO terem recomendado, em cimeira no passado fim-de-semana na Nigéria, que o executivo guineense "acelere o processo de realização de novas eleições legislativas para restabelecer a Assembleia Nacional Popular e permitir a eleição de membros da Comissão Nacional de Eleições". Uma recomendação que vem, de certo modo, contrariar os pedidos de esclarecimentos dos partidos guineenses com assento parlamentar que, para além de reclamarem -sim- a realização de presidenciais ainda este ano, argumentando que o mandato presidencial termina oficialmente em Fevereiro de 2025, também pretendiam obter um posicionamento da CEDEAO sobre a eleição de uma nova direcção para a CNE e para o Supremo. Estes foram alguns dos aspectos que focamos com Sumaila Djaló, membro da plataforma da sociedade civil 'Frente Popular' com quem abordamos igualmente a situação de divisão no seio do PRS, bem como as iniciativas que a organização a que pertence tem vindo a tomar ultimamente. RFI: Quais são os seus comentários à decisão presidencial de marcar legislativas antecipadas para o dia 24 de Novembro? Sumaila Djaló: É, mais uma vez, um sinal da continuidade da crise política na Guiné-Bissau, iniciada em Dezembro de 2023, com a dissolução inconstitucional da Assembleia Nacional Popular, por um decreto assinado por Umaro Sissoco Embaló, que vai contra todas as orientações da Constituição da República da Guiné-Bissau. Como se disse na altura, a Assembleia não podia ser dissolvida a menos de 12 meses das últimas eleições legislativas, nem poderia, nos últimos seis meses do mandato do Presidente da República em que estamos agora a entrar também. Mas Umaro Sissoco Embaló fez o que fez, e o país há seis meses está com a Assembleia Nacional Popular a não funcionar por uma decisão ilegal, e a crise política a agudizar-se cada vez mais, com consequências na vida das populações. Mas agora, marcar eleições legislativas para o mês de Novembro coincide com um outro acto também importante, no sentido de agravar a situação política e social no país, que é a CEDEAO adoptar uma resolução vinda da última cimeira dos chefes de Estado e do Governo, a também orientar para a realização das eleições legislativas antecipadas ainda neste ano, o que é uma forma de a organização sub-regional homologar a dissolução contra constitucional da Assembleia Nacional Popular, e mais uma vez, a não contribuir para a democratização de um Estado-Membro e a demonstrar-se cada vez mais incapaz de monitorar os Estados membros, a consolidar as suas democracias e também a debater-se com diferenças com outros países da sub-região. E a Guiné-Bissau é um caso que se torna cada vez mais paradigmático, porque a CEDEAO tem vindo a revelar-se incapaz de, de facto, ajudar o país a orientar-se para a democratização. RFI: Relativamente a outro anúncio feito ontem, o Presidente da República, uma vez mais, deu a entender que as presidenciais seriam no ano que vem e não ainda este ano, conforme é reclamado por uma série de partidos políticos. Quais são os seus comentários? Sumaila Djaló: Estamos, mais uma vez numa situação em que Umaro Sissoco Embaló reafirma o seu desdém para com a Constituição da República e a legalidade democrática. A Constituição ordena que o mandato do Presidente da República cesse depois dos cinco anos em que esse mandato deve acontecer. Em Novembro próximo, nós vamos...

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França: "É impossível governar sem uma negociação entre pelo menos dois partidos"

7/8/2024
A nova frente popular venceu as eleições legislativas deste domingo. A coligação de esquerda elegeu 182 deputados. O movimento presidencial juntos pela república elegeu 168 deputados, a União Nacional e aliados conquistam 143 lugares no parlamento. A participação foi de 66,6%. "Estamos numa situação muito complicada, numa tripartição da vida política francesa e vamos viver um momento de experimentação", defende o professor auxiliar na Universidade de Paris-Nanterre, Christophe Araújo. RFI: Que leitura se pode fazer, venceu a frente republicana ? Christophe Araújo: É uma leitura um pouco complicado com esta nova configuração que nunca conhecemos durante a V República Francesa. Temos de um lado, uma curta vitória dos partidos de esquerda que se uniram nesta Nova Frente Popular, que é uma criação muito recente. Vemos aqui o sucesso da Frente Republicana que uniu as forças centrais com as forças de esquerda contra a extrema-direita. Mas, ao mesmo tempo temos de considerar e de olhar que as conclusões vão ser complicadas porque há uma parte do centro que não quer governar com a esquerda. A esquerda não quer também governar com o centro, mas vemos muito bem que há uma impossibilidade, porque para encontrar uma maioria absoluta vai ser sempre necessário negociar, que é um hábito pouco francês desde o início da V República, onde havia quase sempre uma maioria absoluta ou então pelo menos um partido com o qual era possível fazer uma forma de coligação. Aqui estamos numa situação muito complicada de uma tripartição da vida política francesa e vai ser um momento de experimentação política da qual ainda não sei muito bem como é que vai resultar este cenário. Um mês depois da dissolução do Parlamento, o Chefe de Estado está perante uma Assembleia ingovernável? Se continuarmos na maneira com a qual foi sempre praticada a vida política francesa com maiorias é ingovernável. A única solução seria propor, como já foi o caso na Itália, mas nunca foi o caso em França, creio eu, um governo técnico além dos partidos, para conseguir continuar a vida política sem que haja um bloqueio do lado da Assembleia legislativa. Mas não sei se será algo de muito viável e isto irá daqui um ano, no mínimo, já que não podemos ter novas eleições antes de um ano, novas eleições e de novo uma forma se calhar de incerteza. Não sabemos muito bem como é que vamos conseguir sair desta situação, tirando esta necessária cooperação entre os partidos, quer do centro quer da esquerda, para encontrar uma plataforma de ideias para encontrar uma maneira de governar. Nenhum partido consegue uma maioria absoluta. Para isso seria necessário eleger 189 deputados. Nenhum partido pode governar sozinho. A nova configuração parlamentar pode criar um risco de 'paralisia' e a Constituição da V República foi feita para que fosse possível governar sem maioria, nomeadamente com artigos como o 49,3? Sim, é uma situação muito difícil. Estamos muito longe dos 289 deputados. A situação anterior era uma minoria, um governo sem maioria absoluta. Os centristas conseguiram encontrar com muitas dificuldades, uma maneira de negociar, quer com a direita, quer com a esquerda. Aqui estamos numa situação ainda mais complicada porque o primeiro partido só tem 182, com os outros deputados de esquerda, que são os 12 dá 190 e então faltam quase 100 deputados para conseguir esta maioria absoluta. É impossível encontrar uma maneira de governar sem ter uma negociação entre pelo menos dois partidos dessas grandes coligações que foram criadas; a nova Frente Popular, Renascença, que é o partido centrista, ou então também a extrema-direita. Mas mesmo assim, quer do lado da União Nacional, não há possibilidade, até com os partidos de direita, de encontrar esses 289 deputados. É uma complicação e vai ser algo de mesmo difícil de governar. O primeiro-ministro entregou a demissão ao Presidente esta manhã. Emmanuel Macron pediu a Gabriel Attal para que fique fica à frente do governo mais um tempo. Isto...

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Franceses nas urnas para defenderem valores da "liberdade, igualdade e fraternidade"

7/7/2024
Em França, decorre hoje a segunda volta das eleições legislativas com a extrema-direita a ter a dianteira em muitas dos 501 círculos eleitorais que ainda falta apurar. Em Bernes-sur-Oise, uma aldeia de cerca de 2.500 habitantes, vota-se numa triangular em que a extrema-direita tem a dianteira, algo que chocou a população. Em Bernes sur Oise, uma aldeia na extremidade norte da região de Ile de França, a região de Paris, é um dia importante para Jocelyne Borges de Carvalho, franco-cabo-verdiana, que hoje veio votar para impedir a chegada ao poder da extrema-direita no seu cículo eleitoral. "É extremamente importante votar hoje, este domingo, na segunda volta das eleições legislativas, porque é importante pelo menos para alguém que nasceu e cresceu em França, com pais cabo-verdianos, é importante defender os valores da liberdade, da igualdade e da fraternidade, que são valores franceses, mas também o valor da diversidade. Por isso, eu própria não tenho necessariamente uma cor política, mas convido realmente as pessoas a virem votar para que possamos viver todos serenamente", disse a eleitora em entrevista à RFI. É no 1º círculo eleitoral da região de Val d'Oise que acontece uma das 89 eleições triangulares onde três candidatos disputam a segunda volta das eleições. Aqui, em Bernes sur Oise, a candidata da União Nacional, Anne Sicard, chegou em primeiro lugar há uma semana, com 33,65% dos votos. O candidato da Nova Frente Popular, Maximilien Jules-Arthur, em segundo, e Emilie Chandler, do campo do Presidente, decidiu não desistir e continuar na corrida. O aumento dos votos na extrema-direita face às eleições de 2022 chocou uma parte da população. "O que marcou mais as pessoas aqui em Bernes sur Oise foi a ascensão da extrema-direita, um partido que defende valores que são contra a diversidade e contra os direitos das mulheres. Portanto, espero realmente que as pessoas venham votar contra este partido", constatou. Esta manhã, por volta das 13:00, já tinha votado 38% da população, mais do que a média nacional que se situava por volta dos 26%. Com 34 anos, e tendo crescido em cidades multi-culturais entre a região parisiense e Amies, Jocelyn vê-se agora confrontada com um discurso de ódio e uma agressividade que diz nunca ter visto até agora em França. "É verdade que este discurso de ódio e racista está a crescer cada vez mais. Antes, em todo o caso, a União Nacional, antiga Frente Nacional, não tinha esta força. Desde que vivemos nesta crise e neste período de grande inflação, as pessoas estão a ter dificuldade em sobreviver e já não acreditam no que lhes é oferecido, por isso tendem a ir para um partido porque não conhecem. Mas também se esquecem de onde vem esse partido. Portanto, acho que as pessoas estão muito preocupadas por tudo o que afecta a sua vida quotidiana e querem mesmo mudar", declarou. Para esta franco-cabo-verdiana, o que a assusta mais são os valores com os quais o filho será confrontado caso a extrema-direita triunfe. "Tenho muito medo destas convulsões porque, hoje, não sabemos o que vai mudar. Mas eu preferia que o meu filho crescesse num país que defende a liberdade e a diversidade, onde todos podem viver juntos, tanto mais que ele também cresceu em Sarcelles, uma cidade muito cosmopolita onde todas as nacionalidades vivem juntas. E eu quero realmente que ele cresça num ambiente são, sem ódio, mas que também respeite estes valores ligados à igualdade, uma igualdade que lhe permita dizer que aqui é possível, e se ele quiser ser Presidente, pode ser Presidente, sem se sentir limitado pelas escolhas politicas deste país", concluiu. A preocupação estende-se a toda a comunidade cabo-verdiana, com alguns membros a ponderarem mesmo um regresso ao país de origem ou país de origem dos seus pais, embora esta seja uma volta difícil para quem viveu toda a sua vida em França. As pessoas partilham os seus medos, os seus receios de ter obstáculos aos seus direitos em França. Por isso, inevitavelmente, estamos...

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Os Republicanos: "Não damos hipótese de monopolizarem discursos extremistas"

7/5/2024
Termina esta sexta-feira, 5 de Julho, a campanha para a segunda volta das eleições legislativas francesas. À segunda volta concorrem 1094 candidatos em 501 círculos eleitorais. O partido d'Os Republicanos foi o único a não dar indicação de voto aos seus eleitores. "Não queremos dar hipótese aos extremos que tentam monopolizar o discurso extremista", justifica o vice-presidente da câmara municipal de Aulnay-sous-Bois, na região parisiense, Paulo Marques. RFI: O que espera do escrutínio de domingo? Paulo Marques: Esta segunda volta, no que diz respeito aos Republicanos, obviamente, vão ser poucos os candidatos em França. Vai haver escassos candidatos, esperando que haja perto de uns 80 que possam ser eleitos dos 577 deputados à Assembleia da República Francesa. Esta é uma segunda volta que permite, nomeadamente de ter em vez de ter as 300 triangulares, isto é com três candidatos por circunscrição, nomeadamente, houve vários que se desistiram, mais de 200 desistiram, permitindo uma escolha binária, escolher entre dois candidatos. Estamos a falar de umas eleições onde não se fala de um programa, mas de se colocar contra um ou outro candidato. Isso é muito mau e não facilita, nomeadamente a leitura de um próximo governo e da próxima Assembleia da República. O risco é precisamente esse, do país ficar ingovernável? Sim, Emmanuel Macron tinha uma maioria muito escassa na Assembleia da República. O que pode suceder é que haja uma coabitação, mas quem nomeia o primeiro-ministro é o Presidente da República. E, sabendo-se que não vai haver maioria clara, Emmanuel Macron escolherá muito provavelmente um primeiro-ministro que lhe seja mais favorável ou não. Também pode depender do resultado da União Nacional e aí iremos ver qual será a iniciativa. Mas não esquecer que o regime presidencialista de França e as directivas de orientações do governo são feitas pelo Presidente da República e, óbvio, se ele escolher o candidato mais votado no próximo domingo, terá o que nós dizemos uma coabitação. Coabitação essa que não permitirá que na Assembleia da República se possa construir um programa que foi, aliás, divulgado durante esta campanha escassa. De frisar também que quem estiver a governar irá trabalhar com a Assembleia da República e com o Senado, cuja maioria é d'Os Republicanos. Aqui está a grande dificuldade em que haver novas leis e o exercício democrático das nossas instituições será facilitado. Em sete círculos eleitorais, os candidatos do partido Os Republicanos não desistiram para evitar que a extrema-direita chegue ao poder, como o fez, por exemplo, a coligação de esquerda, a Nova Frente Popular, ou coligação presidencial Juntos pela República. Pergunto-lhe por que motivo estes sete candidatos não desistiram? Houve desistências só que foi, nomeadamente, do Éric Ciotti. Aí é que se vê o que é que é um indivíduo fascizante; o presidente d'Os Republicanos decidiu unilateralmente aliar-se com a União Nacional da Marine Le Pen. Nós verificamos aí que ele nem às bases solicitou para essa medida. Ele hoje está só e os republicanos de França, obviamente, em função do lugar onde estão, de território em território, fizeram ou não a possibilidade de se retirarem. Nós temos, nalguns distrito e nalguns territórios, a França Insubmissa contra outro candidato da França Insubmissa. Temos também noutros lugares também a União Nacional contra Os Republicanos. Esta é uma eleição local, é uma eleição com candidatos uninominais que não é de lista. É óbvio que a realidade territorial faz com que haja uma diversidade de acordos ou não acordos, mas não são os acordos nacionais que permitem uma realidade depois no terreno. Pode se dizer que existe um braço-de-ferro entre duas alas do seu partido, do partido d'Os Republicanos? Não, não há duas alas. O presidente decidiu estar sozinho e fazer um acto fascista, decidindo unilateralmente o que nós, militantes, deveríamos fazer. O que nos diz respeito é que não temos Éric Ciotti como presidente, já não é o...

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França/Legislativas: "Na segunda volta as pessoas nem sempre confirmam o descontentamento"

7/4/2024
Os franceses são chamados às urnas, novamente este domingo para a segunda volta das eleições legislativas francesas. Philippe Pereira, vereador em Nogent-sur-Marne, arredores de Paris, e militante do partido presidencial Renascença (Renaissance) reconhece que a complexidade do panorama nacional e relembra que estão fora de questão alianças ou coligações com a extrema-direita. Os franceses são chamados às urnas, novamente este domingo para a segunda volta das eleições legislativas francesas. Na corrida à Assembleia Nacional estão, essencialmente, o partido de extrema-direita União Nacional, Rassemblement National, favorito nas sondagens, a aliança das esquerdas na Frente Popular e a lista presidencial juntos, Ensemble. Philippe Pereira, vereador em Nogent-sur-Marne, arredores de Paris, e militante do partido presidencial Renascença (Renaissance) reconhece que a complexidade do panorama nacional e relembra que está fora de questão alianças ou coligações com a extrema-direita. Quais são as expectativas para a segunda volta das eleições no domingo? Expectativas para quem? Para mim, para o nosso partido? Para si e para o partido que também representa? Estou actualmente a conduzir a campanha de um candidato da Renascença (Renaissance) na minha circunscrição. Estamos com algumas esperanças, mas a lutar até à última hora para confirmarmos o resultado da primeira volta e numa triangular com o Rassemblement National (União Nacional), o que não facilita as coisas. No que diz respeito aqui à circunscrição, tudo leva a crer que o Rassemblement National (União Nacional) não vai alcançar os objectivos. A nível nacional, temos que reconhecer que a situação está muito complicada. Não acredito que a Rassemblement National (União Nacional) chegue à maioria absoluta. Na segunda volta, as pessoas nem sempre confirmam o descontentamento que tinham na primeira volta e também tomam consciência da gravidade que seria termos uma maioria absoluta primeiro, e depois um Governo formado pelo Rassemblement National (União Nacional), pela extrema-direita. Equaciona a possibilidade do seu partido, o partido presidencial, poder vir a formar Governo? Pelo que temos agora à nossa frente, não acredito que consigamos por nós próprios formar um Governo maioritário ou, pelo menos, alcançar uma maioria que nos permita ter um Governo sozinhos. Governo de coligação, com certeza. E acho que é a única hipótese imaginável a partir do dia 08 de Julho, tendo em conta a situação do país. A nossa esperança tem de ser essa. Mas coligação com quem? Tem que ser com as forças republicanas e com os candidatos republicanos que tenham sido eleitos no dia 07 de Julho. Quando digo republicanos, não estou a pensar nos LR [Os Republicanos, Les Republicans, partido de direita tradicional] propriamente dito. Estou a pensar nos candidatos, que apesar de serem do novo Front Populaire [Frente Popular, aliança de esquerda] sejam oriundos dos partidos mais dispostos a governar o país. Os seus deputados que não sejam da França Insubmissa [esquerda-radical]? Exactamente. O facto de nem o primeiro-ministro Gabriel Attal, nem o Presidente da República Emmanuel Macron, darem uma indicação de voto clara e explícita, não pode deixar os eleitores do seu partido confusos? Sim, à primeira vista, pode ser a impressão que temos de não haver instruções claras a nível nacional, mas acho que, apesar de tudo, trata-se, obviamente, de eleger os deputados da nação, mas também se trata de ter uma análise local em cada circunscrição. Nem sempre o contexto é o mesmo e nem sempre as equações são as mesmas. Parece-me ainda necessário poder haver alguma análise de caso por caso. Acho que é indispensável. Mas numa disputa entre Rassemblement National, União Nacional, e a Frente Popular, em quem é que votam os eleitores do Juntos (Ensemble), a lista presidencial? Até agora, deste ponto de vista, a mensagem tem sido clara. Vale mais votar pela Frente Popular e convém votar Frente Popular, quando os...

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"A França governada pelo nosso partido [União Nacional] será a verdadeira França"

7/3/2024
Virgínia de Oliveira é candidata da União Nacional e concorre no 3º círculo eleitoral de Loir-et-Cher. A luso-descendente acredita que a "França governada pelo nosso partido [União Nacional] será a verdadeira França". No domingo, a candidata de origem portuguesa quer levar o maior número de eleitores a votar na segunda volta das legislativas francesas. No domingo, 7 de Junho, decorre a segunda volta das eleições legislativas em França em mais de 500 círculos eleitorais. No 3º círculo eleitoral de Loir et Cher há dois candidatos Virgínia de Oliveira, candidata da União Nacional, que conquistou 40% dos votos e Christophe Marion da coligação Juntos pela República que se apresenta como candidato do partido Renascença e que obteve 36% na primeira volta. Em entrevista à RFI, Virgínia de Oliveira, luso-descendente, defendeu que o seu partido não é de extrema-direita, mas sim um "partido patriótico e de direita" e esclareceu que Jordan Bardella só aceita ser primeiro-ministro caso o seu partido consiga uma maioria absoluta. RFI: Quais é que são as expectativas para a segunda volta das eleições no domingo? Virgínia de Oliveira: Bem, as minhas perspectivas para esta segunda volta são as de conseguir o maior número possível de pessoas a votar. Nesta segunda volta, é preciso entender que enfrento um político macronista cessante, o Senhor Christophe Marion, que aceita -pelo menos, é a minha leitura - formar uma aliança com a Nova Frente Popular. Não compreendo de todo esta postura, mesmo a nível nacional em aceitar trabalhar com estes indivíduos e estas pessoas. Porque quando se conhece bem as ideologias e, especialmente, aquilo de que são capazes fico indignada... fico mesmo indignada. E digo, cá para mim, se esta é a sua única forma de quererem manter o seu lugar, não é nada bom. Estão prontos para governar com e sem maioria absoluta? Penso que Jordan Bardella deixou isso bem claro. Ele aceita ser primeiro-ministro só no caso de conseguirmos uma maioria absoluta. A França passa a ser uma país diferente com um governo da União Nacional? Não.. quer dizer, a França governada pelo nosso partido não será nem mais nem menos França, mas será a verdadeira França. É isto. Temos de manter e preservar a nossa identidade. E penso que mesmo eu, oriunda da imigração, quando os meus pais chegaram, e posso até recuar mais longe porque na minha família foi o meu bisavô veio para França durante a Primeira Guerra Mundial, penso que nos assimilámos... Não gosto da palavra assimilar, apenas soubemos adaptar-nos com normalidade porque este é um país que nos acolheu e porque respeitámos as regras deste país. Acho que toda a gente deveria fazer o mesmo. Há que respeitar o país em que se vive e, sobretudo, no que diz respeito à minha família, respeitámos o país que nos acolheu e que nos permitiu, a mim de ir à escola, aos meus pais de se desenvolverem profissionalmente em bons empregos, uma vez que o meu pai foi director de uma empresa. É o respeito antes de tudo e posso garantir-vos que, se chegarmos ao poder, não vai haver problemas nem para as pessoas de oriundas da imigração, nem para qualquer outra coisa. Há que respeitar o país, há que respeitar as regras, e nós não temos qualquer problema com isso. Por isso, esse rótulo, se quiserem, de racista. Não há racismo no nosso movimento. Pronto ! Como é que explica o aumento substancial de eleitores nestas eleições legislativas deram a vitória à União Nacional, que votaram no seu partido nesta primeira volta? É muito simples, penso que os franceses estão fartos! Querem acções reais e medidas concretas. Penso que lhes mentiram muitas vezes, lhe mentiram demasiadas vezes. Como já dissemos, e como já disso o presidente do nosso movimento, Jordan Bardella, temos de ser transparentes com os franceses e ser capazes de lhes dar respostas a todas as suas perguntas e a todos os seus problemas. E é por isso que a nossa prioridade é o poder de compra dos franceses e a sua segurança, porque, de qualquer forma,...

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