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Ciencia - A ciencia a dar cartas em lingua portuguesa

RFI

Uma vez por semana, os temas que marcam a actualidade científica são aqui descodificados.

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Paris, France

Networks:

RFI

Description:

Uma vez por semana, os temas que marcam a actualidade científica são aqui descodificados.

Language:

Portuguese


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Projecto de ADN ambiental marinho assinala presença de 4.500 espécies em sítios protegidos

12/10/2024
O projecto de ADN ambiental marinho levado a cabo pela UNESCO em 21 sítios protegidos um pouco por todo o Mundo tira uma fotografia dos nossos mares que pode ser muito útil para perceber como os oceanos e a biodiversidade evoluem com os efeitos das alterações climáticas. Com 500 amostras de um litro e meio de água do mar de diferentes partes do globo, os investigadores do projecto "Expedições de ADN ambiental" da UNESCO, foram identificadas cerca de 4.500 espécies desde peixes, a baleias, assim como tartarugas e tubarões. Esta técnica não envolve apanhar os animais e retirar amostras, apenas analisar os resíduos biológicos contidos nas amostras, um técnica ética, simples e com menos custos dos que as análises de ADN tradicionais como explicou Fanny Douvere, coordenadora do programa marinho do Centro de Património da UNESCO. "O que é realmente interessante nesta técnica é que não estamos a retirar nada da água, excepto uma amostra de água, cerca de um litro meio. Portanto, não estamos a tocar em nenhuma espécie. É por isso que se trata de uma abordagem ética, porque estamos a deixar o ambiente em paz e estamos apenas a recolher a água e a filtrá-la para extrair o ADN. E para perceber o que lá está, que tipo de biodiversidade existe naquele lugar", disse a representante da UNESCO. Esta técnica inovadora identifica então as diferentes espécies marinhas comparando-as aos registos de ADN já conhecidos, um processo que se assemelha a uma investigação policial como exemplificou Ward Appeltans, que gere o OBIS, o Sistema de Informação da Biodiversidade Marinha. "Penso que podemos ver isto como um género de projecto de polícia de investigação global dos mares, já que apenas com base no ADN, podemos saber se a espécie esteve nestes locais que estudámos ou não. Sabemos que o ADN, em média, sobrevive entre 24 a 48 horas na água antes de se fragmentar e ser destruído. Portanto, se conseguirmos apanhar uma sequência de ADN, sabemos que a espécie passou por aqui muito recentemente", indicou Appeltans. "É realmente uma imagem instantânea. Portanto, sabemos os seres vivos que estavam lá naquele momento específico no tempo. E é por isso que também é muito importante repeti-lo ao longo do tempo. Porque se formos duas vezes por ano ao mesmo local, podemos começar a ver tendências", acrescentou Fanny Douvere. Para conseguir as amostras em 21 locais marinhos protegidos pela UNESCO, foram recrutados 250 mini-cientistas. A UNESCO trabalhou de perto com escolas desde o Banglhadesh, passando pela Austrália ou pelos Estados Unidos, incluindo também o Brasil de forma a incluir crianças a partir dos seis anos na recolha de amostras no mar, despertando o interesse sobre a biodiversidade marinha, mas também incluindo-as na luta contra as alterações climáticas. "Uma das grandes vantagens desta iniciativa foi, de facto, trabalhar com crianças em idade escolar e com os professores. Por isso, contactámos as equipas de gestão locais responsáveis por estas áreas marinhas protegidas na Lista do Património Mundial da Unesco, que estabeleceram contacto com os seus professores dessas regiões. Assim, em muitos destes locais diferentes, os professores começaram por explicar às crianças porque é que íamos fazer aquilo. Também compreenderam que era um projecto não só naquele local, mas que acontecia em simultaneo em outros locais em todo o mundo. E o mais importante de tudo isto é que, sim, há uma grande ansiedade climática entre os jovens e nós estamos aqui para lhes transmitir uma mensagem de esperança. E não se trata apenas de uma história. Não se trata apenas de explicar coisas, mas de sair, ir para o terreno, ir para a água, fazer algo significativo com uma técnica que tem um método científico por detrás, mas é suficientemente simples para ser feita por uma criança de seis anos. No Brasil, por exemplo, quando fomos a Fernando de Noronha, a Área do Património Mundial e tínhamos crianças de seis anos e adoraram. Adoraram sair. Adoraram ser supervisionados...

Duration:00:07:21

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Produtores de petróleo bloqueiam tratado contra poluição de plásticos

12/2/2024
Os mais de 170 países presentes na quinta reunião do Comité Intergovernamental de Negociação das Nações Unidas, em Busan, na Coreia do Sul, não conseguiram chegar a acordo para implementar um tratado global de luta contra a poluição de plásticos. O biólogo cabo-verdiano, Tommy Melo, explica o que falhou nestas negociações, sublinhado que mais uma vez o lobbying do petróleo se impõe às questões ambientais. Após uma semana de negociações em Busan, na Coreia do Sul, os mais de 170 países presentes não foram capazes de alcançar qualquer acordo sobre um tratado global contra a poluição plástica. As divergências entre os países que integram a “Coligação de Altas Ambições” e os países produtores de petróleo- Rússia, Arabia Saudita e Irão quanto ao âmbito do tratado -conduziram à suspensão dos trabalhos que deverão retomar no primeiro semestre do próximo ano. Em entrevista à RFI, o biólogo cabo-verdiano, Tommy Melo, explica o que falhou nestas negociações, sublinhado que mais uma vez o lobbying do petróleo se impõe às questões ambientais. “Falhou o que falha sempre. Tivemos mais de 100 países juntos, num esforço de tentar conseguir chegar a um acordo e um mero punhado de países produtores de petróleo, mais uma vez fizeram o seu lobby funcionar”, denunciou. A delegada das ilhas Fiji, Sivendra Michael- à qual se juntou representantes do México, Ruanda e Panamá- acusou “uma pequena minoria” de Estados está a “bloquear o processo”, defendendo que se esses países não se alinharem “para obter um tratado ambicioso (...) então que se vão embora”. Tommy de Melo alerta para o facto deste impasse ter impacto nos países que não produzem plástico, como é o caso de Cabo Verde, mas que recebem “anualmente centenas de toneladas de plástico através das correntes marítimas”. “[Cabo Verde] sofre muito pelo pacto de não haver uma regulação muito mais forte na produção de produtos de plástico”, explica. Na abertura da cimeira foram mostradas imagens de uma ilha de plástico que se formou, nas últimas décadas, no oceano pacífico, um território marinho descontínuo que já tem a dimensão de três vezes o território da França. Durante uma conferência de imprensa, a ministra francesa da Energia, Olga Givernet, que representou o país nas negociações, afirmou que cada ser humano ingere semanalmente 5 gramas de plástico, ou seja, o equivalente a um cartão de crédito. O biólogo cabo-verdiano reconhece que são imagens “assustadoras, acrescentando que a presença de micro-plásticos é uma realidade e “todos os seres humanos já começam a sentir [os efeitos] na própria saúde”. De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico-OCDE- se nadafor feito, a poluição plástica poderá triplicar em todo o mundo até 2060.

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Cientistas portugueses descobrem molécula que transforma CO2 em combustível

11/29/2024
Cientistas portugueses descobriram uma nova molécula que consegue transformar o CO 2 (dióxido de carbono) em CO (monóxido de carbono) usando a luz solar como fonte de energia. Sabendo-se que a alta concentração de CO2 provoca uma série de alterações climáticas, a revolucionária descoberta dos cientistas Marcos Bento, Sara Realista, Paulo Martinho e Nuno Bandeira, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, pode representar um enorme contributo na diminuição da poluição industrial. Com a descoberta, além da redução da pegada ecológica das indústrias, o monóxido de carbono resultante da transformação pode ser usado na produção de combustíveis ou utilizado para a produção de produtos químicos e farmacêuticos. A RFI esteve nos laboratórios da Faculdade de Ciências para perceber o trabalho desenvolvido que conduziu à descoberta e como esta pode ter efeitos sobre descarbonização da indústria e na utilização sustentável de recursos.

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COP29: “Insuficiente face às reais necessidades dos países menos desenvolvidos”

11/25/2024
A COP29 chegou ao fim em Baku, Azerbaijão, com a aprovação do novo acordo de financiamento climático. 300 mil milhões de dólares por ano até 2035. Francisco Ferreira, presidente da ZERO, sublinha que o financiamento decidido em Baku é “pouco ambicioso e insuficiente, face às reais necessidades dos países menos desenvolvidos”. A COP29 chegou ao fim em Baku, Azerbaijão, com a aprovação do novo acordo de financiamento climático. 300 mil milhões de dólares por ano até 2035. A aprovação do novo documento foi feita de forma controversa na sessão plenária de encerramento da Conferência das Partes. Os países pobres e vulneráveis ficaram profundamente insatisfeitos e denunciam “pouca ambição”. A ONU sublinha que “não é momento para celebrações" e destaca “uma montanha de trabalho pela frente”. Para analisar as decisões saídas desta COP29, a RFI ouviu Francisco Ferreira, presidente da organização não-governamental portuguesa ZERO - Associação Sistema Terrestre Sustentável”, que sublinha que o financiamento decidido em Baku é “pouco ambicioso e insuficiente, face às reais necessidades dos países menos desenvolvidos”. Francisco Ferreira critica ainda a presidência azeri da COP, que aprovou o principal tema em discussão, quebrando a regra de consenso. RFI: Antes de nos debruçarmos nas decisões saídas desta COP, que comentário faz à presidência da conferência? Francisco Ferreira: Houve, claramente, dois aspectos críticos em relação à presidência desta COP 29, no Azerbaijão. A primeira, pelos detalhes de vários aspectos na negociação, foi uma presidência permeável à pressão de vários países que efectivamente não querem uma verdadeira e profunda inversão no uso dos combustíveis fósseis. Notou-se, em várias ocasiões, que realmente não era estrutural o pensamento da presidência em relação, por exemplo, a aspectos como a redução de emissões e a mitigação, até quase que chegamos ao cúmulo de retroceder em relação ao que tinha sido decidido o ano passado. Uma presidência é crucial na construção de consensos, na sua antecipação, na presença de documentos a que se dá tempo e oportunidade das partes se pronunciarem e concertarem os diferentes interesses e em que todas, obviamente, tem que ceder. Isso não aconteceu. Tanto não aconteceu que o acordo sobre o financiamento climático, que era o aspecto principal, acabou por passar [em plenária] pela rapidez com que o presidente da conferência bateu o martelo e deu por concluída ou firmada a decisão, porque senão isso não teria acontecido. Quando nós queremos que regras de consenso e de entendimento nestas convenções sejam a norma e temos uma presidência que agiu, até no momento mais crítico, de forma autoritária e fugidia, eu acho que isso traduz bem uma incapacidade de gestão da negociação na sua fase última e mais crítica. A COP29, que era denominada de “COP do financiamento”, termina com 300 mil milhões de dólares de financiamento público até 2035. Um montante que fica muito aquém daquilo que os países em desenvolvimento, os pequenos Estados queriam. É muito insuficiente, porque nós sabemos que as necessidades que estão em jogo são necessidades de biliões de dólares por ano por parte dos países em desenvolvimento, principalmente daqueles que têm menos meios, que menos contribuíram historicamente para o aquecimento global e que mais sofrem as suas consequências. Termos um financiamento de 300 mil milhões a atingir em 2035, mesmo que progressivamente, se contemplarmos a inflação e as grandes diferenças que poderão existir entre o financiamento acordado e a contribuição efectiva, temos aqui uma incerteza enorme. O mesmo devemos dizer do valor total de 1,3 biliões de dólares por ano, porque 75% é financiamento privado, de instrumentos que são diversificados, mas que não dependem dos países que, efectivamente, subscreveram este acordo na COP29. É aí que está um dos grandes problemas deste financiamento. Ou seja, estes 75% vêm do privado, mas podem não vir porque não estão garantidos à partida. E...

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COP29: Alterações climáticas deveriam integrar o currículo escolar

11/19/2024
A Juventude Ecológica Angolana promove a educação e consciencialização ambiental no país. A participar na COP29 que decorre em Baku, Azerbaijão, António Armando, secretário-geral da JEA, defende que a educação ambiental deveria passar pelos manuais escolares. A organização não-governamental procura nestes encontros ferramentas para desconstruir a linguagem complexa e elaborada dos dossiers para que o clima não seja um “assunto elitista”. A sociedade civil desempenha um papel fundamental nas conferências do clima, seja na sua contribuição dos espaços de negociação, nos eventos paralelos ou até mesmo nas acções de protesto, que acabam por ser amplamente reflectidas nos meios de comunicação social. Muitas vezes, também, são as organizações da sociedade civil que trazem para estes fóruns de discussão as grandes preocupações da sociedade, fazendo a ponte entre estas conferências e a população local. Exemplo disso, é a Juventude Ecológica Angolana que tenta simplificar as terminologias complexas aqui utilizadas. Em declarações à RFI, António Armando explicou que a JEA tem uma grande preocupação com a educação ambiental, que deveria constar do plano curricular das escolas do país. A nossa organização vira-se muito para a questão da educação ambiental. Estamos a simplificar novas terminologias. Nós não sabemos até que ponto a população conhece isso das alterações climáticas. Conhece enquanto efeito, mas enquanto conceito? Normalmente, durante estas semanas acompanham através dos órgãos de comunicação públicos que Angola está na COP, mas depois questionamos: todos os anos estamos na COP e o que é que a COP nos traz enquanto cidadãos, de bom ou de mau? Nós procuramos sempre buscar estas perspectivas para podermos, de uma forma mais simples, educarmos ou informarmos os cidadãos. A ideia é aligeirar os conceitos, de como é que podemos levar daqui para Angola as coisas mais importantes da COP. O activista, que tem participado nos eventos paralelos desta cimeira, sublinha a importância da sociedade civil num evento desta grandeza, porém acrescenta que “são poucos” para “uma COP que demanda participação mais activa e engajamento maior da sociedade civil”. António Armando refere que o país tem vindo a dar passos neste dossier, mas lembra que as alterações climáticas não podem ser um “assunto elitista”. É preciso descer mais baixo, formar pessoas, sobretudo activistas para que possam informar com clareza. Quando chamamos alguém a Angola para falar de alterações climáticas, temos cinco, seis ou sete pessoas interessadas, mas o efeito das alterações climáticas é para todos. Logo, não pode ser uma questão de um grupo reduzido. E aqui, quando estamos a olhar para o país, deveríamos colocar as alterações climáticas no nosso currículo escolar, criamos mais debates radiofónicos, mais debates televisivos para que possamos aumentar o nível de consciencialização da população.” Questionado sobre as perspectivas de acordo sobre financiamento nesta COP29, o secretário-geral da JEA é peremptório: Não teremos.(...) os grandes signatários, os mandatários das grandes potências não estão aqui. Isso também vem mostrar o fraco interesse que se tem. Sinto que muitos dos aspectos que foram aqui levantados vão ser levados para o Brasil e o Brasil vai fazer tudo para que a COP30 dê resultados concretos.” A COP29 decorre até dia 22 de Novembro em Baku, capital do Azerbaijão.

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COP29: “Precisamos de soluções de curto a médio prazo” para fazer face às alterações climáticas

11/19/2024
Os ministros dos países membros do Acordo de Paris têm até sexta-feira para definir como financiar um trilião de dólares por ano. O secretário executivo da ONU para o Clima, Simon Stiell, pediu menos “teatro” e mais acção. Nélio Zunguza, economista agrário moçambicano e coordenador executivo da Plataforma Juvenil para Acção Climática YCAC MOZ lamenta que os mais altos representantes das nações tenham escolhido ir ao Brasil, ao G20, em vez de virem à COP29. Os ministros dos países membros do Acordo de Paris têm até sexta-feira para definir como financiar um trilião de dólares por ano. O secretário executivo da ONU para o Clima, Simon Stiell, pediu menos “teatro” e mais acção. Na base da discórdia está o clássico pingue-pongue entre países ricos e o resto do mundo, com o financiamento e os esforços de redução de emissões de gases a serem empurrados de um lado para o outro. Mas se as decisões se querem em Baku, o dinheiro e poder estão concentrados, até esta terça-feira, no Rio de Janeiro, na cimeira do G20, onde o secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu “compromissos” para salvar a COP29. A participar na cimeira do clima, no Azerbaijão, está Nélio Zunguza, economista agrário moçambicano e coordenador executivo da Plataforma Juvenil para Acção Climática YCAC MOZ. Em declarações à RFI, lamenta que os mais altos representantes das nações tenham escolhido ir ao Brasil ao G20, em vez de virem à COP29: Nós vimos o número dos tomadores de decisão, ao mais alto nível que se deslocaram a esta COP, foi um número bastante reduzido para as últimas duas COP’s que eu pude assistir e isso já é um sinal. Mas, entretanto, começou recentemente o G20 e temos a China, os Estados Unidos, ao mais alto nível de representação. Qual é a mensagem que queremos transmitir? Será que as COP’s ainda têm relevância? O que é que se pretende? Se têm, como é que isso se torna efectivo? Numa COP em que o objectivo único é o financiamento, até agora não estamos a ter clareza em termos de estrutura, de como é que esse financiamento estará disponível. E estamos a precisar de recursos para responder aos eventos climáticos extremos. Nélio Zunguza integrou igualmente um painel intitulado “O impacto das políticas climáticas da União Europeia nos países em desenvolvimento: o do CBAM (Mecanismo de ajustamento carbónico fronteiriço) em Moçambique. O encontro teve em foco o CABM e estivemos a conversar com jovens moçambicanos e jovens europeus, sobre quais seriam as implicações reais sob o ponto de vista socioeconómico para a vida dos jovens, mas também olhando para aquilo que é o contrabalanço em termos de ganhos ambientais nesta jornada de transição justa, principalmente para Moçambique. A COP29 decorre até dia 22 de Novembro em Baku, capital do Azerbaijão.

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COP29: Transformar atmosfera e oceanos em património comum

11/12/2024
Segundo dia da Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas a decorrer em Baku, no Azerbaijão. Paulo Magalhães, Investigador do Centro de Investigação Interdisciplinar em Justiça da Faculdade de Direito da Universidade do Porto, a assistir ao encontro, sublinha que mais uma vez “as condições necessárias para um controlo efectivo das alterações climáticas não estão postas em cima da mesa”. Na sessão de abertura, esta terça-feira, 12 de Novembro, o presidente do Azerbaijão, Ilham Aliev, defendeu o direito dos países a explorarem os seus recursos petrolíferos e de gás. Por seu lado, o secretário-geral da ONU, António Guterres, apelou a novos impostos sobre o transporte marítimo e de aviação para ajudar os países pobres a financiar a transição climática. Na conferência, Paulo Magalhães, Investigador do Centro de Investigação Interdisciplinar em Justiça da Faculdade de Direito da Universidade do Porto e director executivo da Casa Comum da Humanidade, vai defender a limpeza da atmosfera: “Além de haver uma política de controlo de emissões, de redução de emissões e de neutralização das emissões actuais, deve criar-se uma outra linha de acção que é relativamente à realização de remoções positivas, isto é, remoções de CO2 que não geram direito a novas emissões nem servem para neutralizar emissões e com isto criar uma economia de limpeza da atmosfera”. Paulo Magalhães acrescenta que desta COP podemos esperar “Mais do mesmo daquilo a que temos assistido”, uma vez que “as condições estruturais que seriam necessárias para haver uma política efectiva de controlo das alterações climáticas não estão postas em cima da mesa”. Em Baku, a Casa Comum da Humanidade vai levar a cabo dois eventos, no pavilhão de Portugal, “sobre a necessidade absoluta de, para além de haver uma política de controlo de emissões, de redução de emissões e de neutralização das emissões actuais, se criar uma outra vertente, outra linha de acção que é relativamente à realização de remoções positivas, isto é, remoções de CO2 que não geram direito a novas emissões nem servem para neutralizar emissões e com isto criar uma economia de limpeza da atmosfera”. A Casa Comum da Humanidade sublinha que “o Acordo de Paris nunca será suficiente neste formato, porque é apenas uma tentativa de tentar pôr menos lixo na lixeira. O problema aqui é que, como em qualquer edifício, o sistema precisa de manutenção. Tem que haver regras quanto à apropriação do bem comum e regras quanto à provisão de bem comum.” Paulo Magalhães acrescenta que “nenhum país consegue assegurar aos seus cidadãos um futuro minimamente digno apenas dentro do seu próprio território, daí a necessidade de conciliar um bem comum que é intangível e global e que não ameaça a soberania como a única forma de garantir o futuro para as próximas gerações. Os países que mais contribuíram para o problema devem entender que a única forma de continuarem a ter economia é continuarem o próprio projecto do país no futuro, depende do restauro de ecossistemas no seu país e nos outros países que têm os ecossistemas mais determinantes no balanço do funcionamento do sistema climático.” Há três anos, Portugal tornou-se no primeiro país do mundo a enquadrar legalmente o clima, o clima estável como património comum da humanidade. Desde essa altura que tem a obrigação jurídica de promover esse reconhecimento junto das Nações Unidas. Primeiramente, “estamos a trabalhar com os países de língua portuguesa para depois começar a alargar ao resto dos países e introduzir isto na discussão, nos temas internacionais, como uma questão essencial para se poder abordar a questão climática de forma eficaz.” Em relação aos PALOP, a questão já foi abordada já o ano passado. Começou no Lubango, em Angola, foi discutida também na COP28, no Dubai e este ano no Brasil. “Neste momento São Tomé e Príncipe tem a presidência da CPLP e a próxima reunião dos Ministros do Ambiente será em São Tomé e Príncipe e nós queremos participar neste processo...

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Portugal: Açores criaram maior área marinha protegida do Atlântico Norte

10/29/2024
A Assembleia legislativa do arquipélago português dos Açores aprovou a 17 de Outubro a criação daquela que seria a maior área marinha protegida do Atlântico Norte. Numa altura em que a COP16 decorre até 1 de Novembro na cidade colômbiana de Cali, a Conferência das partes da ONU sobre biodiversidade. Na perspectiva da meta de 2030, até essa data os territórios dispersos pelo mundo deveriam avançar com planos de áreas protegidas até 30% da respectiva superfície. Foi neste contexto que o arquipélago português dos Açores acaba de aprovar um dispositivo criando um parque marítimo tido como o maior do Atlântico Norte. Uma área de 300 000 kms que deve garantir a preservação de cadeias de montanhas subaquáticas e de ecossistemas marinhos vulneráveis, incluindo corais de águas profundas, fontes hidrotermais e espécies marinhas. Bernardo Brito e Abreu é conselheiro para assuntos marítimos do governo regional dos Açores. Ele começa por apresentar este dispositivo que tem dado nas vistas à escala internacional. O nosso Parlamento da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores aprovou o novo Parque Marinho e, portanto, estamos a falar não de uma área marinha, mas de uma rede de áreas marinhas que formam o Parque Marinho e que protege legalmente 30% de Zona Económica Exclusiva nacional em redor do arquipélago. Portanto, estamos a falar de 30% de quase 1 milhão de quilómetros quadrados de mar, o equivalente a uma rede com 287.000 quilómetros quadrados e, portanto, no Atlântico Norte neste momento não existe uma rede tão grande. Devo salientar que o nível de protecção desta rede só terá, pelo menos dentro da Zona Económica Exclusiva. Só terá áreas marinhas de protecção ou não é permitida qualquer actividade extrativa e áreas marinhas protegidas de proteção elevada. Portanto, apenas algumas artes de pesca mais selectivas é que são autorizadas e em toda a rede, as actividades que não são extractivas: marítimo ou turística ou a ciência todas são reguladas. Esta rede também cumpre com os "standards internacionais" da IUCN [União internacional para a conservação da natureza]. Neste momento, os líderes mundiais estão reunidos na Colômbia, em Cali, na COP 16, na Conferência das Nações Unidas para a Biodiversidade, a discutir exactamente como vamos proteger 30% do nosso território terrestre e marítimo. E neste momento, os Açores, cerca de seis anos antes do limite, já o fizeram dentro da sua competência político-administrativa. Eu devo salientar que a designação das áreas marinhas é um primeiro passo de um processo que, normalmente, é mais longo até estas áreas estarem efectivamente geridas. E, portanto, este diploma que os Açores aprovou portanto além do Parque Marinho e das novas áreas marinhas, também define um quadro legal muito concreto, com medidas e prazos bastante específicos para que esta implementação seja feita num espaço de tempo curto. Para não designarmos estas áreas, e que elas apenas existam no papel e, portanto, os próximos passos legais que têm de ser feitos são, nomeadamente, a definição de uma estratégia e de um plano de acção, de estratégia e de gestão. Estas áreas têm que ter todas planos de gestão e planos de ordenamento. E temos mais outra etapa, que é a revisão das áreas marinhas costeiras. Parque Marinho neste momento apenas engloba as áreas marinhas que são longe de terra. Portanto, nós temos uma outra série de áreas marinhas mais pequenas junto à costa, e essas terão de ser revistas e incluídas nesta rede até três anos, a partir da entrada em vigor. Isto vai mexer, portanto, com a Guarda Costeira com biólogos, para que esta execução ocorra com a celeridade a que faz referência ? Todo este processo que foi agora aprovado, decorre de um processo bastante longo, com cerca de cinco anos, em que se começou o programa "Blue Azores", que é uma parceria do Governo Regional que lidera o programa com dois parceiros, a Fundação Oceano Azul e o Instituto Waitt que, no fundo, serviu para acelerar um processo...

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Moçambique: Reserva do Niassa observa um aumento dos animais de 107%

10/21/2024
Em Moçambique, a Reserva Especial do Niassa é a maior área protegida do país. Conta com cerca de 42 000 km quadrados e a maior população de elefantes do país (cerca de 4 500), mas também leões e leopardos. A 17 de Outubro celebraram-se os 70 anos da Reserva, as comemorações contaram com a presença do chefe de estado moçambicano Filip Nyusi que protagonizou um dos gestos primordiais para a conservação dos chamados "Big Five", elefantes, búfalas, leões, leopardos e rinocerontes, através da colocação de coleiras nestes animais. Veremos, entre outros, porque é que este gesto, em aparência tão simples, é tão essencial para, nomeadamente, lutar contra a caça ilegal ou minimizar os conflitos entre homens e animais. A colocação dos colares é essencial para a preservação das especies faunísticas. Em entrevista à RFI, Afonso Madope, director da Wildlife Conservation Society Moçambique (WCS), a ONG que gere, com outros actores, a Reserva, lembrou a importância do gesto protagonizado pelo chefe de Estado Filip Nyusi durante a celebração dos 70 anos da Reserva. "Tem sido muito útil" a colocação dos colares, refere Afonso Matope, porque a monitorização dos animais assim tornada possível "ajuda de forma substancial a fazer o controlo de migração do animal ou da espécie, mas também ajuda a prevenir qualquer conflito entre homens e fauna". Quando os animais começam a migrar ou que uma manada se aproxima das aldeias e das áreas de agricultura das populações locais é despachada uma unidade de fiscais, treinados, capacitados, e baseados na Reserva do Niassa, por decisão do governo, que participa na gestão deste espaço. A luta contra a caça furtiva também tem se torna mais eficaz com a colocação destes colares. A aplicação destes colares permite uma melhor fiscalização da caça ilegal. Como explica Afonso Matope, os dados estão agregados numa plataforma universalmente utilizada, que recebe os sinais de migração dos animais e torna-se possível monitorá-lo. Na Reserva do Niassa observa-se um crescimento dos animais, a exemplo dos elefantes, na ordem dos 107%, graças, nomeadamente, à luta contra a caça furtiva. Para tal, a Reserva do Niassa conta com o apoio do exército moçambicano, através da disponibilização pelo governo de uma unidade da intervenção rápida. Por fim, outro factor resultante no aumento da população de elefantes prende-se com uma conjuntura internacional. "O crime de caça furtiva de espécies icónicas como o elefante, o leão, o rinoceronte e o pangolim não é determinado pela abundância ou raridade do animal dentro do território naiconal, mas sim pela demanda do mercado internacional. Então, quando há uma grande procura no mercado internacional, aumenta a caça furtiva e nos últimos tempos tem-se registado uma redução da demanda", analisa o director da WCS Moçambique. Para ouvir ainda a forma como homens e animais partilham o mesmo espaço de vida, na Reserva do Niassa, outros desafios que pesam sobre a protecção da biodiversidade e os mecanismos imaginados pelos gestoers desta área protegida, ouça a entrevista completa aqui:

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Bióloga moçambicana integra programa da Fundação Albert II

10/15/2024
A moçambicana Denise Nicolau integra a lista de seleccionados da segunda edição do programa RE.GENERATION da Fundação Príncipe Albert II do Mónaco. Ao microfone da RFI, a bióloga afecta à União Internacional para a Conservação da Natureza, falou do seu trabalho na protecção do Oceano Índico e na missão da Grande Muralha Azul. A moçambicana Denise Nicolau integra a lista de seleccionados da segunda edição do programa RE.GENERATION da Fundação Príncipe Alberto II do Mónaco. Treze pessoas de menos de 35, da ciência ao activismo passando pelos media ou empreendedorismo. Juntos na protecção do ambiente e dispostos a construir um futuro sustentável. Ao microfone da RFI, Denise Nicolau, afecta à União Internacional para a Conservação da Natureza, falou do seu trabalho na protecção do Oceano Índico e na missão da Grande Muralha Azul. A bióloga moçambicana afirma ser “um grande orgulho” poder integrar este programa da Fundação Príncipe Albert II do Mónaco. Quando fui seleccionada, foi uma grande surpresa. Eu sabia que estava a concorrer com, pelo menos, mais de 100 potenciais candidatos. Dei um pulo! Representa, de facto, um momento muito importante, é a primeira oportunidade de fazer um mergulho profundo naquilo que é a minha identidade e naquilo que eu acho que são as ferramentas ou a chave para o meu desenvolvimento pessoal e também o desenvolvimento de carreira. Tudo o que faço é representar a voz das mulheres, representar a voz das mulheres africanas num programa da fundação do Príncipe Alberto é, sem dúvida, um grande orgulho para nós. Denise Nicolau trabalha para a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), é responsável da região ocidental do Oceano Índico, como gestora regional para assuntos costeiros e marinhos, com especial destaque para a Great Blue Wall. A Grande Muralha Azul é um plano estratégico, nascido na região do Oceano Índico Ocidental e liderado por África, lançado oficialmente na COP26 (Cimeira das Nações Unidas para as Alterações Climáticas), em Glasgow. Tenho a responsabilidade de estar a conduzir um dos pilares de desenvolvimento da iniciativa, que é a Great Blue Wall ou a Grande Muralha Azul. Também faço parte da comunidade de práticas a nível da IUCN para os assuntos oceânicos, criando um espaço para desenvolvimento de novas iniciativas, explorar a inovação, mas também acções concretas de restauração de ecossistemas costeiros e marinhos. Estou baseado em Moçambique, em Maputo, mas estou a trabalhar com Moçambique, Tanzânia, Quénia, Comores e Madagáscar. A Grande Muralha Azul está a trabalhar com muito mais países nesta região do Oceano Índico. Portanto, estou no pilar de natureza azul, que é sobre soluções baseadas na natureza para adaptação climática.

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Angola: Agência Francesa para o Desenvolvimento financia protecção da Palanca Negra Gigante

10/7/2024
Deve começar no primeiro trimestre de 2025, um projecto de protecção da Palanca Negra Gigante em Angola. A iniciativa é dirigida ao Parque Nacional da Cangandala e à Reserva Natural Integral do Luando. Vladimir Russo, director da Fundação Kissama, sublinha que o projecto poderá, “ trazer grandes ganhos com o reforço da capacidade de fiscalização e investimento em comunicações e salas de controlo de operações, essenciais para o patrulhamento e conservação da Palanca”. Deve começar no primeiro trimestre de 2025, um projecto de protecção da Palanca Negra Gigante em Angola. A iniciativa é dirigida ao Parque Nacional da Cangandala e à Reserva Natural Integral do Luando, ambos habitats naturais desta espécie angolana. No programa consta a construção de infra-estrutura, nomeadamente postos avançados, formação de novos fiscais e capacitação dos actuais. Avaliado em 3,6 milhões de euros, por um período de quatro anos, o financiamento fica a cargo da Agência Francesa para o Desenvolvimento em parceria com o Instituto Nacional da Biodiversidade e Áreas de Conservação. Sobre o estado actual da Palanca Negra Gigante, a RFI ouviu Vladimir Russo, director da Fundação Kissama, que sublinha que o projecto a concretizar-se poderá, “de facto, trazer grandes ganhos à Palanca e principalmente às áreas onde a Palanca existe, a reserva do Luando e o Parque da Cangandala, uma vez que, de acordo com o que está previsto na proposta, haverá um reforço da capacidade de fiscalização - que é essencial para a protecção da palanca -, haverá um investimento em comunicações e salas de controlo de operações, que são essenciais para parte do patrulhamento e conservação da palanca”. A fiscalização e patrulhamento são as principais armas contra os caçadores furtivos que são a principal ameaça à espécie. A Palanca Negra Gigante é um antílope que só existe em Angola. Tem estatuto de protecção internacional, actualmente possui o estatuto de criticamente ameaçada. Nos anos 1970 estimava-se uma população total de cerca de 2500 palancas. Actualmente, o número total fica-se pelos 10% da população original. A Fundação Kissama deu início ao projecto de conservação da Palanca Negra Gigante há mais de 20 anos, participando em campanhas de captura, tratamento veterinário e remoção de armadilhas. Durante vários anos foi a organização que geriu o Parque da Cangandala, até à transferência para o governo e tem estado na Reserva do Luando desde 2015.

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Floresto do Miombo: "A única solução é parar com o uso dos fósseis”

9/30/2024
O chefe de Estado de Moçambique, Filipe Nyusi, anunciou a angariação de “mais de 500 milhões de dólares”, durante o diálogo de alto nível sobre a Iniciativa do Miombo, floresta que abrange 11 países da África austral, que decorreu na semana passada, em Nova Iorque, nos Estados Unidos. A directora da organização Justiça Ambienta, Anabela Lemos, alerta para o facto destes fundos se basearem em créditos de carbono e sublinha que a única solução “é parar com o uso dos combustíveis fósseis”. O executivo moçambicano, que lidera o projecto, disse que estes fundos serão aplicados no mapeamento e recuperação das regiões mais afectadas pela desflorestação, bem como a monitorização de projectos capazes de gerar rendimentos alternativos à exploração florestal. A directora da organização Justiça Ambienta, Anabela Lemos, alerta para o facto destes fundos se basearem em créditos de carbono e sublinha que a única solução “é parar com o uso dos combustíveis fósseis”. RFI: O chefe de Estado de Moçambique, Filipe Nyusi, anunciou a angariação de “mais de 500 milhões de dólares. Não é a primeira vez que são anunciados fundos para a protecção da Floresta do Miombo. O que tem estado a ser feito? A directora da organização Justiça Ambienta, Anabela Lemos: Andamos a tentar ver no terreno como é que está a situação, mas tem sido muito difícil termos uma informação. Quais são as dificuldades, vêm de quem? No terreno não vemos o que esperávamos em termos de reflorestamento, pelo menos na questão dos mangais. Quando pedimos informação é muito escassa e tudo o que conseguimos chega-nos através dos órgãos de comunicação ou está na internet. Consideramos que não é com milhões de dólares que se vai resolver este problema [ protecção da Floresta do Miombo]. A principal preocupação da sociedade civil e das organizações, em Moçambique, é o recorrente corte ilegal de árvores e os crimes ambientais, sem que haja um controlo dessas situações. Será muito difícil aplicar este dinheiro se não houver uma estrutura, ou competência para canalizar [este fundos] e fazer o que está certo. As autoridades afirmam que este dinheiro será aplicado no mapeamento e na recuperação das regiões mais afectadas. Se diz que não é possível ver o que está a ser feito terreno, como é que as autoridades vão justificar -diante dos doadores- que vão avançar com estas medidas? Os exemplos que temos até agora mostram que não conseguimos ver aquilo que dizem os responsáveis. Mas, além disso, a nossa maior preocupação é que muitos destes fundos são baseados em créditos de carbono. Ou seja, estamos aqui a dizer que vamos resolver e minimizar os impactos do clima, mas fazemos disso uma solução falsa. Continuamos a poluir e depois vamos pagar para conservar as florestas. Acreditamos que a única solução para as mudanças climáticas é parar com o uso dos combustíveis fósseis. É claro que não se pode parar de um dia para outro, mas temos de começar. Com estas soluções estamos apenas a atrasar todo um processo que está a criar vários problemas, principalmente no sul global. A ideia das autoridades é também desenvolver projectos que sejam capazes de gerar rendimentos alternativos à exploração florestal. São florestas que atravessam vários países Angola, Moçambique, Botswana, Malawi e Congo, República Democrática do Congo, Namíbia, África do Sul, Tanzânia, Zâmbia e Zimbábue. Como é que se chega a um consenso quando há tantos países envolvidos? Eu acredito que esses países chegarão a um consenso no que refere à distribuição desses fundos. Quanto à aplicação dos mesmos, em Moçambique pode não correr, mas num outro país pode correr. A meu ver, só os Governos podem explicar como é que esses fundos vão ser geridos e distribuídos. Todavia, enquanto se mantiverem estes créditos de carbono, a implementação destes projectos não vai ajudar absolutamente em nada. São discursos falsos, porque temos consciência que verdadeiro problema das mudanças climáticas [ é a utilização dos fósseis] e isto não é nada...

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Dois em cada dez homens angolanos têm cancro da próstata

9/23/2024
O cancro da próstata é um dos tipos de cancro mais comuns nos homens a nível global. África não é excepção. A doença, quando detectada precocemente, tem elevadas taxas de tratamento. Dois em cada dez homens angolanos têm cancro da próstata. Estudos indicam que os homens de ascendência africana têm um risco significativamente maior de desenvolver cancro da próstata em comparação com outros grupos raciais. A próstata é uma glândula presente no sistema reprodutor masculino e o cancro da próstata acontece quando há um crescimento anormal das células nessa glândula, que pode acabar por se espalhar para outras partes do corpo se não for tratado a tempo. Dois em cada dez homens angolanos têm cancro da próstata. Quem o diz é Heriberto Araújo, médico urologista ligado à Clínica Sagrada Esperança em Luanda. No início, os sintomas e sinais de alerta podem não ser evidentes, é uma doença silenciosa, o que torna o rastreio precoce essencial. À medida que a doença progride, aparecem sintomas como dificuldade em urinar, aumento da frequência e diminuição do fluxo urinário, sangue na urina ou no sémen, dor ou desconforto na região pélvica, sensação de bexiga cheia, disfunção eréctil, entre outros sintomas. Estudos indicam que os homens de ascendência africana têm um risco significativamente maior de desenvolver cancro da próstata em comparação com outros grupos raciais. O especialista angolano aconselha os homens, com mais de 40 anos, a fazerem um rastreio anual. O exame médico de despistagem consiste no toque rectal, que permite, num primeiro período, verificar o tamanho da próstata. Caso neste exame o tamanho da próstata esteja acima do normal, ao paciente ser-lhe-ão pedidos outros exames, como análises de sangue - PSA, Antigénio Prostático Especifico, ou mesmo uma biópsia. O objectivo é detectar a doença o mais cedo possível para se evitarem mortes. “O controlo anual é um rastreio que significa uma consulta de urologia, fazer o PSA, o toque rectal, uma ecografia e quando houver alteração de um desses três parâmetros, aí solicitar uma ressonância. Se a ressonância tiver alguma alteração patológica, é preciso fazer uma biópsia. É a biópsia que vai dar o verdadeiro resultado”, explica Heriberto Araújo. Se o diagnóstico precoce é importante, a ocupar igual relevância neste campo está o estilo de vida. Especialistas defendem que os hábitos alimentares e a ausência de exercício estão na base do aumento do cancro da próstata. Desde Junho deste ano que em Angola é possível o recurso à cirurgia robótica em caso de cancro da próstata. No contexto do cancro da próstata, trata-se da prostatectomia robótica (remoção radical da próstata), um procedimento menos evasivo - que resulta em menos dor, menos cicatrizes e uma recuperação mais rápida - e com menos complicações - reduz o risco de danos aos tecidos circundantes, o que pode diminuir o risco de complicações como incontinência urinária e disfunção eréctil, frequentes em cirurgias tradicionais de próstata.

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Guiné-Bissau: Jovem lança “Puder di Bentana” para combater insegurança alimentar

9/11/2024
Combater a insegurança alimentar, reduzir o êxodo rural e mitigar as mudanças climáticas são os grandes objectivos do “Puder di Bentana”, um projecto recentemente criado na Guiné-Bissau por Dembo Mané. “Puder di Bentana” significa o “poder da tilápia” e traduz-se na produção, processamento e comercialização de tilápia, peixe ciclídeo de água doce. Em Dezembro de 2023, através do Programa de Jovens Líderes Africanos, Dembo Mané participou da 28ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, COP 28, que decorreu no Dubai. Esse foi o ponto de viragem para este empreendedor de 31 anos, que já tinha frequentado uma acção de reforço de competências em agro-negócio voltada para a piscicultura, promovida pelo Pnud, no Benim, em 2022. Em entrevista à RFI, Dembo Mané explica que “é um projecto que visa essencialmente combater a insegurança alimentar, o êxodo rural e as mudanças climáticas. Surgiu após a publicação do relatório das Nações Unidas, dizendo que a insegurança alimentar aumentou no continente africano devido a guerra na Ucrânia e os desafios da Covid-19. Lançaram o desafio aos jovens africanos no sentido de apostarem no agro-negócio como uma alternativa às mudanças climáticas e à insegurança alimentar. E logo eu, enquanto jovem, decidi começar a pensar numa alternativa e de poder ajudar a minha comunidade a combater a fome, com base neste projecto que visa criar transformação e comercialização do peixe." A rampa de lançamento acabou por ser a COP 28, que aconteceu no final de 2023 no Dubai, Emirados Árabes Unidos. “Na COP foram abordados alguns assuntos ligados à alimentação, à agricultura e eu acho que é um desafio enorme. Após a minha participação, senti-me ainda mais motivado para poder fazer crescer o projecto, porque na COP tive a oportunidade de conhecer alguns parceiros e alguns jovens. Trocamos experiências e achamos que é importante cada um trabalhar na sua comunidade para poder impactar vidas e provocar mudanças.” Dembo Mané lembra que na sequência das alterações climáticas, aumenta a acidificação dos mares e, por isso, “a piscicultura é uma das alternativas. Fazer o cultivo dos peixes além do mar, para poder abastecer o mercado e combater a insegurança alimentar. Quando estamos a utilizar a piscicultura, não recorremos a nenhum componente químico e é também uma forma de reduzir a sobrepesca, a pressão dos oceanos, para que possamos ter mais comunidade saudável. Do outro lado, a insegurança alimentar, na minha aldeia, a comunidade não tem acesso aos recursos básicos para a sobrevivência e a minha comunidade não tem peixe de qualidade. Os peixes que lá consomem não são saudáveis. Eu acho que a produção de tilápia na comunidade poderá impactar e oferecer à comunidade peixes saudáveis, 100% bio que vão combater a insegurança alimentar. Porquê? Porque o peixe que nós estamos a cultivar, a tilápia, é uma das maiores fontes de proteína animal. Tem ómega três que reduz problemas cardiovasculares, é uma fonte de proteína. Consumir este produto poderá melhorar a qualidade de vida da população, porque é um produto 100% bio, muito saudável, muito acessível e de acordo com a possibilidade da própria comunidade.” A tilápia é comercializada fresca ou desidratada, em forma de farinha e passa por um processo laboratorial de controlo de qualidade. O jovem guineense prepara-se agora para levar o projecto a Nova Iorque, Estados Unidos, onde vai participar na Cimeira do Futuro, “vou participar como delegado jovem da Guiné-Bissau e da África para impulsionar a agenda em prol da juventude. Como é que a comunidade ou a juventude pode ser envolvida e como é que nós podemos influenciar agendas em prol da nossa comunidade? Porque o futuro depende da juventude, nós somos o presente e a continuidade. A minha participação é importante para poder dar mais força à minha geração, à minha juventude e ao meu país em geral." A Cimeira do Futuro, um evento organizado pelas Nações Unidas, decorre de 22 a 23 de Setembro de 2024,...

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Investigador português recebe financiamento ERC de 1,9 milhões de euros

9/5/2024
Foi atribuído ao investigador português Rafael Galupa um financiamento por parte do Conselho de Investigação Europeu no valor de 1,9 milhões de euros. O montante vai permitir a este investigador português estudar mecanismos envolvidos na evolução e regulação dos nossos genes, em particular do cromossoma X. Foi atribuído ao investigador português Rafael Galupa um financiamento por parte do Conselho de Investigação Europeu (European Research Council), no valor de 1,9 milhões de euros. O montante vai permitir a este investigador português - que lidera uma equipa de investigação no Centro de Biologia Integrativa (CBI), em Toulouse, França, - estudar mecanismos envolvidos na evolução e regulação dos nossos genes, em particular do cromossoma X. Ao microfone da RFI, Rafael Galupa diz ter ficado “surpreso” com o financiamento que significa “um óptimo reconhecimento da nossa investigação e do nosso laboratório que está a começar e, por isso, fiquei super contente com este financiamento que nos vai permitir desenvolver um projecto nos próximos cinco anos, em que podemos estar focados só a fazer este projecto e não temos que nos preocupar com pedir outros financiamentos”. O financiamento do Conselho de Investigação Europeu vai servir para o recrutamento, para os próximos cinco anos, de duas pessoas em doutoramento e uma terceira em pós-doutoramento. Trata-se de um financiamento exclusivo “portanto, durante este período não teremos outro tipo de financiamentos, mas que nos deixa confortável para podermos fazer todo o tipo de experiências associadas ao projecto.” Além disso, o “valor também vai ser aplicado para cobrir todas as despesas, os reagentes e os equipamentos necessários para o projecto. Está também envolvida a compra de um equipamento que nos permite separar células individualmente, células únicas, mediante as suas características. Este equipamento também é relativamente caro e, portanto, todo este bolo vai-nos permitir isso, para além de despesas com participação em congressos internacionais e com a publicação dos nossos resultados em revistas científicas”. O investigador português explica, ainda, que este projecto “foca-se num dos nossos cromossomas, o cromossoma X. Os indivíduos femininos têm dois cromossomas X e os masculinos, tipicamente, um cromossoma X e um cromossoma Y. E há um processo, muito curioso, que acontece nos mamíferos durante o desenvolvimento embrionário, que tem a ver com o facto de haver esta diferença de número de cromossomas X entre um sexo e o outro. E acontece que nos indivíduos com dois cromossomas X, há um deles que está inactivo. Portanto, em algumas doenças sabemos que esta inactivação do X fica desregulada, mas não sabemos quais são os genes que estão por trás disso. É uma pergunta complexa de se investigar e porque não tínhamos, até há pouco tempo, as técnicas necessárias para identificar esses genes. Mas neste momento temos, e foi isso que eu propus ao Conselho Europeu de Investigação, desenvolver um projecto para identificar estes genes utilizando técnicas de ponta na genética e na biologia molecular e utilizando o ratinho como modelo.” Rafael Galupa é investigador e lidera uma equipa de investigação no Centro de Biologia Integrativa de Toulouse. Além disso, tem uma posição de investigador permanente através do CNRS, o Centro Nacional de Pesquisa Científica francês. Em paralelo com a actividade profissional científica exerce uma actividade voluntária também ligada à ciência, na direcção da Cartas com Ciência e da Native Scientists, duas associações de cariz social que actuam junto de crianças e jovens de comunidades menorizadas e sub-representadas no meio científico.

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"Falta de capacidade financeira" condiciona melhorias na qualidade da água de Moçambique - activista

9/2/2024
Na semana passada, a ONU divulgou um relatório pouco auspicioso sobre a qualidade da água a nível mundial. De acordo com este documento, "a metade mais pobre do mundo contribui com menos de 3% dos dados mundiais sobre a qualidade da água". Ou seja, quase 4 mil milhões de pessoas repartidas nomeadamente pela Ásia e a África têm falta de dados sobre a água que consomem. Para termos uma noção, sobre as cerca de 250.000 análises feitas em fontes de água doce a nível mundial, apenas 4.500 fornecem informações sobre a qualidade da água das regiões mais desfavorecidas. Neste sentido, a ONU refere que a falta de dados e os "fracos níveis de vigilância" podem ter uma incidência sobre o cumprimento dos objectivos de desenvolvimento sustentável até 2030. Até lá, segundo o relatório, "mais de metade da Humanidade vai viver em países que não dispõem de dados suficientes para tomar decisões esclarecidas quanto à luta contra a seca, as inundações, os impactos dos caudais de águas usadas e da actividade agrícola". Efectivamente, as Nações Unidas apontam as mudanças climáticas, as actividades industriais, mineiras e agrícolas, como alguns dos factores para a degradação da qualidade de água, que se estabelece em 50% a nível mundial. Daí que os autores do documento recomendem que se desenvolvam programas de vigilância no sentido de estancar a falta de informações em determinadas regiões do mundo. Foi neste contexto que a RFI evocou o caso de Moçambique. No passado mês de Agosto, o Presidente Nyusi constatou melhorias neste aspecto, referindo que neste momento cerca de 60% da população moçambicana tem acesso à água potável. O activista ambiental moçambicano Rui Silva também dá conta de progressos, referindo que determinadas zonas, como Maputo, beneficiam de uma vigilância constante da qualidade da sua água, sendo que noutras zonas do país, isto já não é tão sistemático. "No caso particular de Moçambique, obviamente que existem problemas em determinadas zonas. Em Maputo, especificamente, as águas da região de Maputo têm um controlo muito apertado, pelo que não tem havido problemas em termos da qualidade da água. Nesse aspecto têm feito um bom trabalho e o controlo é feito diariamente, várias vezes ao dia. Agora, a qualidade de água neste momento, não só em termos de Moçambique, mas em termos de África, passa muito, primeiro, pelas más condições com que as pessoas têm estado. Se formos pensar nos meios mais recônditos, em qualquer país da África, uma boa parte das pessoas tem os seus furos de água. O que é que acontece, não só com as questões das mudanças climáticas, mas também com o desmatamento das florestas, as queimadas, tudo isso está intervir na qualidade da própria água", começa por esclarecer o especialista. Questionado sobre os diversos desafios enfrentados por Moçambique no que tange à qualidade da sua água, Rui Silva cita o impacto da actividade mineira e também a falta de latrinas apropriadas. "Tem sido muito discutido neste momento aqui em Moçambique, a questão da zona de Tete, mais precisamente em Moatize, onde a exploração de minas de carvão a céu aberto, em que de facto a água é completamente impossível de ser consumida, completamente impossível não só água como até o ar que as pessoas vão respirando. Isto, na minha modesta opinião, tem a ver muito com a falta de alguma fiscalização por parte das entidades centrais. Porque esta mina, por exemplo, quando esteve na posse de outra empresa (a brasileira Vale), os efeitos não eram tão graves como estão a ser neste momento (a mina passou a ser explorada pela empresa de capitais indianos Vulcan em 2022). A questão de haver água contaminada por causa das fezes, etc, passa também pela falta de condições que as pessoas têm, nomeadamente nos meios mais pequenos, em que têm as suas próprias latrinas que vão directamente para os solos e que nomeadamente em termos de urina, depois com as chuvas, etc, vão se infiltrando nos solos e podem eventualmente criar problemas, se calham em apanhar...

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África enfrenta nova variante de Mpox

8/23/2024
A Organização Mundial da Saúde declarou o surto de Mpox como uma emergência global, com casos confirmados em vários países de diferentes continentes e com uma nova variante em circulação. E esta nova variante preocupa os especialistas. Tudo indica que é mais perigosa e mais contagiosa. Walter Firmino, oficial de emergência dos escritórios da OMS em Angola, sublinha a mensagem de tranquilidade divulgada pela organização. RFI: A nova variante descoberta na República Democrática do Congo pode alterar os planos que estavam previstos até agora para conter a doença? Walter Firmino: Sim, vai exigir que o país intensifique as actividades de vigilância epidemiológica, tanto nas áreas sanitárias como nas comunidades. Vai também intensificar a comunicação e o envolvimento com as comunidades para sensibilizar a população sobre os sintomas e formas de transmissão. Portanto, exige mais esforço no nosso sistema de saúde. Como é que funciona a coordenação entre a OMS e os diferentes governos ? Como é feita essa ligação e comunicação? Quando foi declarada a emergência de importância internacional, a OMS activou o sistema de gestão de incidência que obriga os países a trocar informações. E também criou um dashboard, onde as pessoas ou os países podem ter acesso em tempo real a informações sobre a notificação de casos. É um sistema que ainda podemos melhorar. Muitos países não notificam em tempo real, mas existe um mecanismo de coordenação e de troca de informações no âmbito do Regulamento Sanitário Internacional. Neste momento, África continua a ser o principal foco de preocupação. Sim, é o principal foco. O Mpox já é endémico em África. Temos países como a República Democrática do Congo e outros na região. Mas a mutação, que é mais infecciosa e com transmissão fácil, passou as fronteiras do Congo e afectou outros países vizinhos. Alguns países que nunca notificaram casos estão agora a notificar, como o Burundi e a África do Sul. E há países que já tiveram casos há muito tempo e voltaram a notificar, como a Costa do Marfim. Em relação à Europa, neste momento, a OMS envia mensagens de tranquilidade. Porque é uma doença que não se transmite facilmente de forma rápida como uma infecção respiratória. É uma doença que se transmite por contacto. Pode ser por pessoas afectadas, que têm feridas e lesões na pele. Há uma nova forma de transmissão que é a via sexual. Mas mesmo assim, é uma doença que não provoca um número elevado de casos por dia, como outras doenças respiratórias. Quem tiver sintomas ou suspeita de Mpox deve detectar de forma precoce e fazer o rastreio dos contactos para controlar a progressão da doença a nível das comunidades. Em relação ao contágio, têm surgido informações diferentes. No princípio, surgiu a informação de que o Mpox pode ser transmitido por secreções como gotículas de saliva ou respiratórias. As últimas informações falam de contacto físico próximo, incluindo o contacto sexual. É possível ter certezas em relação à forma de contágio? O contágio cientificamente comprovado é por contacto com um doente com secreções que saem da ferida ou das lesões da pele e por via sexual. Também através do consumo da carne de macacos. Por via aérea ainda não está comprovado. As pessoas têm acesso à informação sobre a doença? Como é que a comunidade está a reagir a esta nova variante? No caso de Angola, onde estou neste momento, está a reagir normalmente e com tranquilidade. Criámos um plano de contingência para envolver as comunidades, dar informações correctas, explicar sintomas e também dizer o que podem ou devem fazer quando suspeitam que alguém tem sintomas. Estudos apontam que a nova vacina contra a varíola humana é cerca de 85% eficaz na prevenção da doença. Como é que vai ser feita a gestão das vacinas? Quais são os grupos prioritários? O Mpox está a ser transmitido com sintomas mais graves nas pessoas imunocomprometidas e nas crianças. Há poucas vacinas, estão a ser produzidas neste momento. Ser forem introduzidas em...

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População de Moatize, norte de Moçambique, denuncia poluição por mina de carvão

8/19/2024
Na semana passada, no dia 13 de Agosto, um grupo de habitantes de vários bairros da cidade de Moatize, na província de Tete, no norte de Moçambique, dirigiu uma carta às autoridades locais e à empresa de mineração Vulcan, estabelecendo o prazo de 30 dias para que sejam tomadas medidas contra a poluição provocada pela exploração do carvão por esta entidade na região. Os autores da carta que referem reservar-se "o direito de tomar todas as medidas legais de protesto e de tutela efectiva dos seus direitos individuais e colectivos" se nada for feito, queixam-se de estar mergulhados em poeiras de carvão, por causa das actividades da Vulcan que, segundo ONGs no terreno, trabalha cada vez mais perto das comunidades locais. A problemática do impacto ambiental da exploração do carvão em Moatize não é de hoje. A brasileira Vale explorou a mina durante uma dezena de anos até cedê-la por cerca de 253 milhões de Euros à mineradora de capitais indianos Vulcan em finais de 2021. Durante a época em que a Vale explorou a mina, houve nomeadamente denúncias de poluição da água com impacto na saúde da população mas também nas actividades económicas locais. Contudo, segundo Pinho Pires, membro da Rede Africana Juvenil em Moatize, a situação tem vindo a piorar desde que a mina está a ser explorada pela Vulcan. Ao descrever o cenário actualmente vigente na região, o activista social que tem dado apoio às comunidades afectadas pela poluição, mostra-se céptico quanto à resposta da Vulcan e das autoridades locais. "O principal problema é a poluição mesmo do ar. Há muitas poeiras que acabam afectando as comunidades. A mineradora está mais próxima das comunidades. Então toda a operação que se faz dentro da mina, todas as poeiras dela se estendem para as comunidades", refere o activista ao explicar que neste contexto, "não se consegue deixar a roupa fora, não se consegue consegue deixar a água fora, deixar a farinha branca fora, assim como os outros utensílios domésticos" e que as partículas entram inclusivamente nas casas, mesmo fechadas. "A comunidade é obrigada a fazer sempre limpeza em circunstâncias em que o distrito não tem água" e "outro problema são as detonações que criam problemas, por exemplo, de habitação, rachas, infiltração, às vezes desabamento mesmo", descreve ainda Pinho Pires. Para além do impacto ambiental, o activista também detalha os problemas provocados pela actividade de mineração na saúde da população de Moatize. "Não há pesquisas muito maiores pelas quais possamos ter evidências em relação à saúde, mas pelos vistos temos muitos problemas ligados à respiração, constipação, problemas de gripe. E as pessoas que sofrem já de asma acabam sendo mais vulneráveis", refere o membro da Rede Africana Juvenil ao explicar que "as comunidades locais não têm condições de sair de um lugar para outro". Questionado sobre o período que antecedeu a chegada da Vulcan na região há dois anos, Pinho Pires considera que "agora está pior", o activista referindo que enquanto a Vale esteve a explorar a mina, "já se estava a minimizar a situação, já se estavam a usar novas tecnologias para reduzir os impactos". Ao explicar que a população tem tentado fazer chegar as suas reclamações à Vulcan através das autoridades moçambicanas, Pinho Pires diz que a população local acha que elas "não têm uma decisão forte sobre isso" e que "não há nenhuma actuação, nenhumas sanções, não acontece nada." Perante esta situação, a RFI tentou contactar a Vulcan que até ao momento não deu resposta às suas solicitações. Na sua página internet, a empresa que sublinha ter sido em 2023,"pelo segundo ano consecutivo, o Maior Exportador de Grandes Projectos", comunica também sobre a sua responsabilidade social e ambiental. Destaca as actividades que tem desenvolvido a favor da agricultura local, a segurança alimentar, o abastecimento de água, a reciclagem de materiais descartados pelas suas estruturas, o seu programa de gestão do ruído e vibrações, ou ainda o apoio às franjas...

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Paris quis ser durante os Jogos Olímpicos "exemplo de sustentabilidade" para o Mundo

8/12/2024
A sustentabilidade esteve no centro das preocupações da organização dos Jogos Olímpicos 2024 em Paris, mas nem assim ficou livre de críticas. Um dos pontos emblemáticos de investimento neste evento foi a despoluição do rio Sena, com um dos autarcas de Paris a defender que os mergulhos neste curso de água são mesmo possíveis. A candidatura de Paris como cidade organizadora dos Jogos Olímpicos tinha uma grande componente de sustentabilidade e luta contra as alterações climáticas. Nesse sentido, Paris quis banir durante a competição o uso do plástico de utilização única, como explicou Antoine Guillou, vereador da câmara de Paris responsável pela redução de lixo e reciclagem em declarações à RFI. "A nossa ambição era limitar o mais possível o plástico de utilização única, porque isso tem um impacto ambiental muito maior em termos de resíduos. Mas o que também é digno de nota é que os edifícios da Aldeia Olímpica, por exemplo, onde se conseguiu reduzir a pegada de carbono para metade em comparação com os padrões normais de construção. Por isso, estamos realmente a dar o exemplo em termos de construção, sendo a reutilização de materiais extremamente importante. Portanto, de facto, é a prova de que podemos construir de forma diferente hoje em dia. E isso é interessante, penso eu, para todo o mundo", declarou. Uma parte do orçamento atribuído a Paris para os Jogos Olímpicos serviu para levar a cabo projectos há muito ambicionados como a requalificação adiada de alguns bairros mais degradados, mas sobretudo a limpeza do rio Sena, até agora orçada em 1,4 mil milhões de euros. "Muitos projectos foram significativamente acelerados pelos Jogos Olímpicos. Entre eles, a requalificação de certos bairros, como Porte de la Chapelle, que era um dos bairros mais desfavorecidos de Paris e que foi completamente transformado, inclusive em termos de vegetação, por exemplo. Isto foi claramente acelerado pelos Jogos Olímpicos. Podemos também falar do Sena, um rio que está poluído há décadas em Paris e na região da Ile-de-France porque lhe virámos gradualmente as costas. Era sobretudo um local de actividades de logística e de actividades industriais. Mas pensamos nele agora mais como um ambiente natural e, graças aos Jogos Olímpicos, conseguimos reunir todos à volta da mesa e fazer os investimentos necessários para que o rio ficasse suficientemente limpo para que as pessoas pudessem nadar nele. E vamos continuar a fazê-lo nos próximos anos. Este é um exemplo claro. Graças aos Jogos Olímpicos, ganhámos dez anos em termos de limpeza do Sena", indicou. Os Jogos Olímpicos vieram acelerar também a crise do alojamento em Paris, onde é cada vez mais difícil encontrar casas disponíveis para alugar que não seja por curtos períodos como em plataformas como o AirBnb, empresa que patrocinava mesmo os Jogos Olímpicos. O alojamento de qualidade, unido às mudanças climáticas estão no topo das prioridades de Barbara Gomes, conselheira de Paris, como referiu em entrevista à RFI. "O nosso objectivo é que Paris seja uma cidade diversa com todas as classes sociais, portanto as casas que foram construídas para os Jogos Olímpicos são em prioridade para as pessoas com rendimentos modestos, mas também classe média como enfermeiros ou professores, e também para os estudante porque temos muitos estudantes e eles precisam de rendas mais baixas", concluiu esta conselheira de Paris.

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Investimento no desporto é a chave para ganhar mais medalhas nos Jogos Olímpicos

8/5/2024
O segredo para ganhar medalhas nos Jogos Olímpicos? O investimento dos países no desporto, quer seja para afirmação internacional, quer seja para resolver problemas internos. A resposta é do investigador e docente universitário Pedro Forte que estuda os impactos do treino desportivo e o desempenho dos atletas em provas desportivas. Nos Jogos Olímpicos há a festa do público, a alegria da prática do desporto e depois, claro, as medalhas. A França, por exemplo, nestes Jogos Olímpicos em casa já bateu o recorde do número de medalhas acumulando até agora 44 medalhas entre ouro, prata e bronze. Nos lugares cimeiros do pódio das medalhes estão ainda China, Estados Unidos da América ou Austrália. Para obter estes resultados, Pedro Forte, professor coordenador do Instituto Superior de Ciências Educativas do Douro, disse em entrevista à RFI que o mais importante é dar as condições necessárias aos atletas de alto nível não só para treinar, mas também para conseguirem um bom equilíbrio entre a vida pessoal e a prática desportiva. "É preciso investimento. Quando nós vemos países extremamente desenvolvidos a liderar os pódios olímpicos, isto só pode dizer que existe uma boa captação de investimento para o desporto. Mas o desporto é um fenómeno mais do que de rendimento ou de afirmação pela competência física ou desportiva, é um fenómeno social. Nós temos assistido aos pódios olímpicos a serem essencialmente nações que têm uma intenção de afirmação de identidade ou, neste caso, de afirmação da sua posição mundial. E quando nós vemos países como China, como Estados Unidos, como a Austrália, são países que procuram uma afirmação mundial através do desporto", explicou Pedro Forte. Em Paris, vários episódios menos agradáveis têm sido relatados pelos atletas como a falta de conforto na Aldeia Olímpica, a má qualidade da comida servida aos atletas e ainda os polémicos mergulhos no rio Sena, recém-despoluído, que têm levado ao adiamento das provas. Tudo factores que afectam o desempenho dos atletas, como atesta Pedro Forte. "Quando nós olhamos para os desempenhos dos atletas e percebemos que uma milésimo de segundo pode ser o suficiente para definir uma medalha de ouro ou uma medalha de prata ou uma medalha de bronze, todos os aspectos vão contribuir para não só o rendimento desportivo do atleta em si, mas também para o seu bem-estar. Se um atleta tem uma determinada rotina de descanso e esta rotina é de certo modo afectada, a sua prontidão para a prova ou para a competição também será algo afectada. Aliás, nós tivemos um exemplo nestes Jogos Olímpicos do adiamento de uma prova de águas abertas e que tem implicações enormíssimas na preparação dos atletas", indicou Pedro Forte. Pedro Forte é um dos investigadores mais prolíferos ao Mundo em termos de treino desportivo e já acompanhou atletas como Mário Trindade, atleta de atletismo paralímpico. Para este investigador, é importante ver o atleta como um ser humano em todas as suas dimensões, tal como acontece actualmente como Simone Biles, atleta norte-americana, que depois dos Jogos de Tóquio falou sobre a sua saúde mental e voltou a vencer agora em Paris. "A comunicação social tem tido um papel muito importante naquilo que é a divulgação do ser humano nos atletas. A sociedade está muito habituada a olhar para os atletas como uma ferramenta para atingir uma posição social ou uma afirmação nacional. Mas na verdade, nós estamos a lidar com pessoas e essas pessoas também acabam por ter todas as actividades de vida diária a gestão familiar, a gestão emocional e eles tendem a estar sujeitos à pressão e não é fácil de gerir as expectativas dos treinadores, deles próprios, da família e dos amigos. Quando se abdica de tempo com com estas pessoas todas em prol de um resultado ou em prol da performance, às vezes lidam com desilusões ou lidam se com aspectos menos positivos que acabam por ter impacto a longo prazo na vida da pessoa", concluiu o investigador.

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